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Análise Psicológica
versão impressa ISSN 0870-8231
Aná. Psicológica v.28 n.4 Lisboa out. 2010
O envolvimento paterno de crianças a frequentar o jardim-de-infância
Mauro Pimenta (*), Manuela Veríssimo(**), Lígia Monteiro (**), Inês Pessoa E Costa (**)
(*) FCT-SFRH/BD/24348/2005; UIPCDE, ISPA-IU, Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149-041 Lisboa; E-mail: mauropimenta@sapo.pt.
(**) UIPCDE, ISPA-IU, Rua Jardim do Tabaco, 34, 1149-041 Lisboa.
RESUMO
A presente investigação teve como objectivo analisar se a participação do pai, relativamente à da mãe, varia consoante o tipo de actividade analisada, nomeadamente os Cuidados Directos e Indirectos; Ensino/Disciplina; Brincadeira; e Lazer no Exterior. 338 famílias bi-parentais, a viver na região de Lisboa, participaram no estudo. As características individuais dos pais (idade e habilitações literárias), da criança (idade, género, se é primogénito, existência de irmãos), e variáveis de contexto/suporte social (número de horas que os pais passam no emprego, número de horas que as crianças passam no Jardim de Infância e idade em que a criança começou a frequentar o estabelecimento de ensino), foram analisadas como possíveis factores explicativos do nível e tipo de envolvimento do pai. O estudo procurou ainda verificar a possibilidade de existência de diferentes grupos de envolvimento. Os resultados apontam no sentido de um envolvimento paterno que flutua de acordo com a actividade em causa, sendo que a participação paterna tende a diminuir nos domínios dos Cuidados, onde as mães assumem maior responsabilidade, e a aumentar nos restantes, onde se regista um envolvimento partilhado. Existem associações entre o envolvimento paterno e o número de horas que a mãe despende no emprego, as habilitações literárias maternas e a idade da criança. Dado que o aumento destas tende a potenciar a participação paterna. Com base em Análises de Clusters obtiveram-se 3 tipos de grupos consoante o tipo e nível de envolvimento: o Activo, o Intermédio e o Tradicional Analisou-se ainda a concordância parental tendo em conta os três grupos referidos ao nível do envolvimento, discutindo-se as possíveis consequências no funcionamento do sistema familiar.
Palavras chave: Concordância e discordância parental, Envolvimento parental.
ABSTRACT
The aim of the study was to understand fathers’ participation in different types of activities: Direct and Indirect Care; Teaching/Discipline; Play; and Outside Leisure. 338 bi-parental families from Lisbon/Portugal, participated in the study. Associations between fathers/mothers individual characteristics (e.g., age and educational level) as well as children’s (e.g., age, gender, order of birth and number of brothers), as well as context/social support variables (e.g., working schedule, number of hours children spend at pre-school) and father’s type and amount of involvement were analyzed. The study also sought to find the possibility of the existence of different groups of involvement. The results indicate that a father’s involvement usually fluctuates depending on the activity, however also decreasing in fields such as care, where mothers assume more responsibility but increase in other fields where there is a shared involvement. The input of paternal responsibility has also been noted to increase based on several differences such as the number of hours the mother spends at work, the maternal qualifications and child’s age. Results also showed the existence of different groups of involvement (paternal and maternal), particularly those such as the Active, Intermediate and the Traditional where characteristics were studied as well as agreements between both parents.
Key words: Father and mother agreement, Father’s Involvement, Types of involvement.
O ENVOLVIMENTO PATERNO
O interesse pelo envolvimento paterno no desenvolvimento da criança, tal como a sua influência no contexto familiar, tem aumentado de forma sustentada nas últimas três décadas (Monteiro, Fernandes, Veríssimo, Pessoa e Costa, Torres, & Vaughn, 2010). As profundas alterações, entretanto sofridas na economia, na política, na cultura e no domínio sócio-demográfico acarretaram mudanças na estrutura tradicional da família e nas expectativas acerca dos papéis a desempenhar pelas figuras parentais (Cabrera, Tamis-LeMonda, Bradley, Hofferth, & Lamb, 2000; Lamb, 2004; Parke, 1996; Torres, 2004).
A entrada massiva da mulher no mercado de trabalho é um exemplo disso. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (2007), em 2006, a taxa de actividade feminina em Portugal foi de 55.8% face a 69% dos homens. Um incremento substancial do número de crianças em cuidados não maternos não é alheio a este aumento. Na educação pré-escolar a frequência subiu de 12,6% no final da década de 70 para 77% em 2004/05, segundo o Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (2007).
O progenitor, providenciador de outrora, vai-se diluindo num pai mais presente e afectuoso, que pode combinar características típica e tradicionalmente masculinas, como a disciplina e a autoridade com especificidades usualmente atribuídas ao género feminino, tais como a demonstração de afectos ou a prestação de cuidados (Cabrera, Tamis-LeMonda, Lamb, & Boller, 1999; Cabrera, Tamis-LeMonda, Bradley, Hofferth, & Lamb, 2000; Deutsch, 2001).
Não é só a mulher quem cada vez mais tem de se adaptar a múltiplas funções, também o homem se vê forçado a fazê-lo, aproximando-se de um domínio que à partida se poderia julgar, lhe seria desconcertantemente estranho, assim como aconteceu com a mulher relativamente ao domínio profissional, com os resultados que tão bem conhecemos (Brazelton, 2005). Emerge assim um novo ideal de “partilha parental”, onde a divisão de tarefas centrada no género se tornou obsoleta (Cabrera et al., 1999, 2000; Deutsch, 2001).
Neste sentido, Balancho (2004) comparou as representações acerca da paternidade entre duas diferentes gerações, referentes a pais e avós, constatando que as representações destes últimos correspondem a uma imagem de um pai mais tradicional, que se afigura através da autoridade e da disciplina ao mesmo tempo que se distancia emocionalmente da criança. Pelo contrário, a geração actual – encarnada pelos pais – realça a capacidade de ser sensível, compreensivo e dialogante, de se envolver afectivamente com a criança, partilhando a autoridade, emergindo assim de modo descontraído e lúdico. Neste sentido, numa amostra de pais portugueses, Gouveia et al. (1991) observaram um elevado grau de participação nos cuidados prestados aos filhos no 1º ano de vida.
Porém, nem sempre estas representações correspondem a uma realidade livre de ideias agrilhoadas a representações mais tradicionalistas, como comprovou Wall (2005). De acordo com o inquérito internacional “Famílias e papéis de género”, de 2002, coordenado pela autora, apesar de 93% dos portugueses considerarem que tanto a mulher como o homem devem contribuir para o rendimento familiar, 78% acredita que as crianças sofrem quando a mãe trabalha e 43% da população defende que as mães deveriam ficar em casa até os filhos terem 6 anos de idade, percepcionando o trabalho materno como tendo um impacte negativo no estabelecimento das relações afectivas com a criança.
Na perspectiva de mães e pais portugueses, com crianças entre 1 e 6 anos de idade, Monteiro, Veríssimo, Castro e Oliveira (2006) constataram que é quase sempre a mãe a responsável pelas actividades relacionadas com as rotinas de cuidados prestados à criança, assumindo o pai um papel de suporte, quando tal é necessário.
Na sociedade Ocidental, a mulher continua a assumir maiores responsabilidades nas áreas dos cuidados, relegando o pai, nesses domínios, para uma posição subalterna de onde apenas sai quando é necessário (Deutsch, 2001; Rohner & Veneziano, 2001). Associada a esta imagem paterna surge a representação de companheiro de brincadeira (Monteiro et al., 2006; Monteiro, Veríssimo, Santos, & Vaughn, 2008), aproximando o pai de actividades lúdicas, enquanto o afasta de tarefas do foro dos cuidados (Rohner & Veneziano, 2001).
Como se a crença na existência de uma predisposição materna desequilibrasse a balança em desfavor do desejado envolvimento paterno (Craig, 2003), no que à prestação de cuidados concerne, apontando-lhe defeitos e incapacidades relativamente a uma figura materna que se arvora, de acordo com essa crença, de modo inato e evidente como mais competente.
Também convirá não reduzir a participação do pai, ou mesmo o cuidar partilhado, a benefícios constantes para a criança (Lamb, 1987), registando-se estudos onde não se verificou qualquer associação ou relatou-se mesmo uma interacção negativa entre as variáveis em causa (e.g., Brown, McBride, Shin, & Bost, 2007; Cox, Owen, Henderson, & Margand., 1992; Easterbrooks & Goldberg, 1984). Há pais que são forçados a assumir a responsabilidade pelos cuidados dos filhos (e.g., quando o pai perde o emprego e a mãe o mantém), embora tal não seja reflexo do seu desejo ou do da mãe. Por isso apesar das actividades/contextos de participação do pai apontarem no sentido da promoção do desenvolvimento da criança, como o demonstram diversos estudos (Brown, McBride, Shin, & Bost, 2007; Pleck & Masciadrelli, 2004), mais do que a quantidade de envolvimento, é a qualidade ou a relação entre quantidade e qualidade que parece ter maior impacte no desenvolvimento da criança.
Emerge, assim, uma imagem da paternidade algo confusa, dada a flutuação entre uma perspectiva modernista e tradicionalista, sendo que esta última não parece desvanecer-se mesmo quando ambos os pais trabalham (Bailey, 1994; Craig, 2003; Peitz, Fthenakis, & Kalicki, 2001). Talvez por isso Arendell (1996) constate, que embora alguns homens se evidenciem como mais participativos nas actividades com os filhos, relativamente aos seus próprios pais, no cômputo geral poucas são as mudanças que se concretizam, afirmando-se, assim, como mais modestas do que as crenças populares poderiam eventualmente aludir (Lamb & Tamis-LeMonda, 2004; Parke, 1996; Pleck & Masciadrelli, 2004).
Para Parke (1996) é importante efectuar duas distinções. A primeira, de alguma forma já abordada, contingente aos contextos e tipos de interacção, designadamente ao nível do envolvimento nas tarefas de cuidados prestados à criança e nas actividades de brincadeira/lazer. O que possibilita analisar de forma mais particular os papéis parentais e a sua relação com o desenvolvimento da criança. E a segunda, respeitante ao nível de envolvimento absoluto e relativo, defendendo que as famílias cujo envolvimento relativo das mães é semelhante ao dos pais, originam ambientes claramente distintos para as crianças, comparativamente com aquelas em que o nível relativo de envolvimento é francamente díspar.
Diversas investigações (e.g., Bailey, 1994; Deutsch, 2001; Levy-Shiff & Israelashvili, 1988; Monteiro et al., 2006; Monteiro, Veríssimo, Santos, & Vaughn, 2008) identificam a existência de diferentes padrões de responsabilidade e participação paterna em função do tipo de actividade, dado que, como referido, as tarefas de organização/cuidados (Práticas) eram normalmente desempenhadas pelas mães, enquanto as actividades de brincadeira/lazer (Lúdicas) eram partilhadas de modo igualitário por ambos os pais (e.g., Bailey, 1994; Beitel & Parke, 1998; Monteiro, Veríssimo, Santos, & Vaughn, 2008; Pleck & Masciadrelli, 2004), o que aliás vem ao encontro de outros trabalhos desenvolvidos com crianças em idade pré-escolar (e.g., Peitz et al., 2001).
Todavia, de acordo com alguns autores (e.g., Monteiro et al., 2010; Parke, 1996; Tamis-LeMonda, 2004) se dentro dos cuidados prestados à criança, considerarmos os Cuidados Directos e Indirectos, também poderemos encontrar diferenças quanto à participação paterna. Nos Cuidados Directos, respeitantes às interacções quotidianas directas, a autora verificou uma partilha igualitária, ao contrário do observado em diferentes trabalhos (e.g., Monteiro et al., 2006; Monteiro, Veríssimo, Santos, & Vaughn, 2008; Tamis-LeMonda, 2004; Torres, 2004), onde o pai se limitava a assumir um papel de suporte ou de ajuda quando necessário.
No que aos Cuidados Indirectos concerne, relacionados com a organização/planeamento de actividades respeitantes à criança, mas que podem prescindir da sua presença ou se demarcam das suas necessidades imediatas, a autora confirmou uma vez mais uma divisão tradicional, voltando a mãe a assumir-se como principal responsável.
O envolvimento parental pode relacionar-se com algumas características dos pais, das próprias crianças, assim como, com variáveis de contexto, que tanto podem exercer constrangimento de modo isolado como podem agir em conluio (Arendell, 1996). O grau de envolvimento paterno, em famílias onde o pai e a mãe estão presentes, depende do facto da mãe estar ou não a trabalhar (Lamb, Plack, Charnov, & Levine, 1987). Convém sublinhar também, que a maior discrepância não diz respeito nem à interacção directa com as crianças, nem ao tempo em que se encontram disponíveis para as mesmas, mas sim na responsabilidade, frequentemente associada ao domínio materno. No caso da mãe trabalhar, tal como o pai, a participação deste, relativamente à mãe, nas actividades das crianças, é significativamente maior, pelo menos se comparada com famílias onde a mãe está em casa (Bailey, 1994). Assim, o aumento do número de horas passadas pela mãe no trabalho parece promover a participação paterna, embora esta também seja condicionada pelo número de horas de trabalho do pai.
No entanto, neste domínio, os resultados não deixam de ser contraditórios, uma vez que de acordo com Laflamme, Pomerleau e Malciut (2002), o emprego materno parece ter pouco impacte na percepção que pai e mãe têm sobre a partilha da responsabilidade parental. Desta forma, embora se registe um aumento do envolvimento paterno, relativamente à mãe, não se comprovam as suas razões ou qualidade, podendo tal justificar-se muito simplesmente através de um decréscimo (quantitativo) do tempo materno dedicado aos filhos (Bailey, 1994; Cabrera et al., 2000; Lamb, 1987).
Além disso, segundo Lewis e Lamb (2003), no caso de as mães trabalharem tendem a estimular mais os filhos, se comparadas com as mães que não trabalham, assim como parecem ser mais activas do que os pais.
O emprego por si só poderá não ser uma justificação suficiente para o tipo de envolvimento paterno, pois de acordo com Levy-Schiff e Israelashvili (1988) as atitudes do pai e a percepção que este tem do seu papel são factores incontornáveis na medida do envolvimento paterno.
Para McBride e colaboradores (2005), os pais com mais idade tendem a envolver-se menos nos cuidados prestados à criança, o que talvez se possa ficar a dever ao aspecto geracional e a uma perspectiva mais tradicional do seu papel, relegando para a mulher a responsabilidade da gestão da vida familiar (Balancho, 2004). Pelo contrário, Lima (2005) verificou que eram os pais mais velhos os que assumiam maiores responsabilidades. Enquanto noutras amostras portuguesas (e.g., Monteiro et al., 2006) não se descortinaram quaisquer associações entre o envolvimento paterno nestas tarefas e a idade do pai.
Paquette (2004), associou a partilha de responsabilidade parental às classes média e média alta. Por seu lado Gouveia et al. (1991) observaram, numa amostra portuguesa, uma menor participação paterna nas classes sociais mais extremadas, ou seja, nas mais baixas e nas mais altas. Grossman, Pollack e Golding (1988) salientam que o constructo de classe social é complexo e por vezes vago, aglutinando diferenças relevantes em dimensões económicas e psicológicas.
O acesso a informação também poderá intervir no envolvimento parental, uma vez que é possível encontrar diferenças significativas entre os níveis de escolaridade dos pais (aspecto preponderante na definição do estatuto sócio-económico), ao nível das Actividades Práticas e Lúdicas. O facto dos pais com habilitações superiores associarem as actividades de brincadeira a uma estimulação às aprendizagens cognitivas e sociais dos filhos pode ajudar a compreender o seu maior envolvimento nesta área (Monteiro et al., 2006).
Neste sentido, a estes pais, que podem aceder com maior facilidade à informação existente, também poderão corresponder representações dos papéis dos géneros mais flexíveis, que permitem uma postura mais participativa nas Actividades Práticas (Levy-Shiff & Israelashvilli, 1988).
Por outro lado, às habilitações literárias superiores poderão associar-se mais frequentemente profissões mais liberais, que poderão caracterizar-se por uma maior flexibilidade de horários, o que poderá contribuir para uma mais fácil conciliação entre o trabalho e as actividades familiares (Monteiro et al., 2006). Para além disso, as mulheres com habilitações literárias superiores tendem a investir mais nas suas carreiras profissionais, permitindo e desejando que os pais se envolvam mais na organização e prestação de cuidados (Monteiro et al., 2006).
De acordo com Pleck (1982) não só as atitudes dos pais face ao envolvimento paterno sofreram alterações, também as mães, embora lentamente, parecem caminhar nesse sentido, ostentando, cada vez mais, um agrado crescente com a extensão e o tipo de actividades em que o pai se encontra implicado. Estas alterações poderão relacionar-se com as crenças, atitudes e expectativas das mães face à maternidade e ao papel e competências dos pais. Alguns autores (e.g., Allen & Hawkins, 1999; Fagan & Barnett, 2003; McBride, Brown, Bost, Shin, Vaughn, & Korth, 2005; Schoppe-Sullivan, Brown, Cannon, Mangelsdorf, & Sokolowski, 2008) referem o conceito de gatekeepers, insinuando que as mães através da sua acção podem definir e restringir os papéis e responsabilidades desempenhados pelos pais no contexto familiar.
Outro elemento a ter em consideração no tipo de envolvimento paterno será naturalmente a criança, as suas características também afectam a forma como o pai interage, o que poderá auxiliar a compreender a variabilidade desse envolvimento no contexto familiar. Levy-Shiff e Israelashvili (1988) constataram um tratamento diferencial mais acentuado por parte dos pais nas Actividades Lúdicas, do que nas de prestação de Cuidados. No entanto, Bailey (1994) não observou qualquer tratamento diferencial dos pais durante o período pré-escolar, o que se encontra em sintonia com Pleck e Masciadrelli (2004), que vincam uma menor influência do género sobre o envolvimento paterno relativamente a décadas anteriores.
No que respeita à idade e de acordo com Lamb (1987), os pais, tal como as mães, despendem mais tempo nas tarefas de Cuidados com as crianças mais novas. Pelo contrário, Bailey (1994) apurou um aumento do envolvimento paterno na área da prestação de Cuidados entre o primeiro e o quinto aniversário das crianças. Por sua vez, o envolvimento do pai nas actividades de brincadeira e no exterior de casa mantém-se estável entre os 9 e os 15 meses (Laflamme, Pomerleau, & Malciut, 2002).
De acordo com Monteiro et al. (2006) não parece haver qualquer relação entre a idade de entrada na creche/jardim-de-infância e a partilha parental nos dois tipos de actividades, não acontecendo o mesmo relativamente ao número de horas que a criança passa na instituição. Quanto maior é o número de horas passadas no estabelecimento de ensino, maior é a partilha parental nas Actividades Práticas (na perspectiva de ambos os pais) e Lúdicas (embora aqui apenas na perspectiva do pai).
Tendo em conta os diferentes estudos tratados, assim como as respectivas contradições, responsáveis por alguma ausência de consenso em relação à forma como as características dos pais, das crianças e do próprio contexto social podem estar associadas a partilha de responsabilidade parental é pertinente voltar a averiguar se no quadro dos diferentes tipos de actividades ponderadas (cuidados e socialização) a existência de uma participação tradicional ou igualitária (Monteiro et al., 2010). Um outro objectivo é analisar os diferentes factores associados ao envolvimento parental: variáveis dos pais (idade e habilitações literárias) da criança (idade, género, se é primogénito, existência de irmãos) e do contexto/suporte social (número de horas que os pais passam no emprego, número de horas que as crianças passam no Jardim de Infância e idade em que a criança começou a frequentar o estabelecimento de ensino).
Tendo em conta a literatura existente que coincide na divergência face à concepção unidimensional e do papel do pai (Lamb, 1987, 2004; Parke, 1996) pretendemos, ainda, identificar e descrever possíveis modelos/tipos de envolvimento parental, assim como compreender a relação de concordância entre esses diferentes grupos paternos e maternos.
MÉTODO
Participantes
Neste estudo participaram 338 famílias biparentais, casados ou em união de facto. As crianças tinham idades compreendidas entre 31 e 78 meses (M=56.21, DP=10.32), sendo 169 do sexo feminino e 160 do sexo masculino. 210 eram filhos primogénitos e 123 tinham pelo menos um irmão. O início de frequência da creche oscilou entre os 3 e os 63 meses (M=22.76, DP=14.29) e as crianças passavam entre 3 e 12 horas por dia (M=8.36, DP=1.29) em contexto escolar. As mães tinham idades compreendidas entre os 23 e 48 anos (M=34.66, DP=4.43) e os pais entre os 23 e os 62 (M=36.99, DP=5.88). As habilitações literárias das mães variavam entre os 4 e os 22 anos de escolaridade (M=13.31, DP=3.76) e a dos pais entre 4 e 19 anos de escolaridade (M=12.34, DP=3.81). Em média, as mães passavam 7.89 horas diárias no local de trabalho, enquanto os pais despendiam diariamente 8.64 horas. As crianças frequentavam Jardins-de-Infância do Distrito de Lisboa, tendo as famílias sido recrutadas para o estudo através dos mesmos.
Escala de envolvimento parental: Actividades de cuidados e de socialização (Monteiro, Veríssimo, & Pessoa e Costa, 2008)
A Escala de Envolvimento Parental: Actividades de Cuidados e de Socialização (Monteiro, Veríssimo, & Pessoa e Costa, 2008) é uma reformulação do questionário de Monteiro, Veríssimo, Santos e Vaughn (2008), Crouter, Perry-Jenkins, Huston e McHale (1987), Hawng e Lamb (1997), na qual se procurou avaliar a participação de pais e mães em diferentes tarefas relacionadas com a criança, quer no domínio dos cuidados, quer da socialização.
O questionário é composto por 26 itens, que remetem, essencialmente, para cinco dimensões: cuidados directos – itens 1, 2, 3, 4 e 6 (e.g., “quem dá banho ao seu filho” e “quem vai deitar o seu filho”); cuidados indirectos – itens 5, 7, 8, 23, 24, 25 e 26 (e.g., “quem é responsável pela ida ao médico do seu filho” e “quem leva e traz o seu filho à escola”); ensino e disciplina – itens 15, 16, 17, 18 e 19 (e.g., “quem ensina ao seu filho novas competências” e “quem faz cumprir as regras”); brincadeira – itens 11, 12, 13, 14 e 22 (e.g., “quem brinca com o seu filho” e “quem lê histórias ao seu filho”); actividades de lazer no exterior – itens 9, 10, 20 e 21 (e.g., “quem leva o seu filho às festas de anos” e “quem leva o seu filho ao parque infantil”). As respostas deveriam ser dadas numa escala de cinco pontos – (1) sempre a mãe, (2) mais frequentemente a mãe, (3) tanto a mãe como o pai, (4) mais frequentemente o pai, (5) sempre o pai – e avaliadas numa perspectiva relativa, ou seja, a participação é analisada por comparação com a outra figura parental.
RESULTADOS
Os Alfas de Cronbach para as cinco dimensões apresentam valores aceitáveis de fiabilidade para ambos os pais como ilustra a Tabela 1. Como se pode observar na mesma tabela, as Médias das dimensões relativas aos Cuidados Directos e Indirectos são mais frequentemente responsabilidade da mãe. Enquanto se verifica uma partilha das actividades expostas nas restantes dimensões: Ensino/Disciplina, Brincadeira e Actividades de Lazer no Exterior.
TABELA 1
Média, desvio-padrão e alfa de Cronbach das respostas maternas e paternas quanto ao envolvimento parental
Variáveis sócio-demográficas
Através do Coeficiente de Correlação de Pearson verificou-se que não existem correlações significativas entre a idade da mãe e as diferentes dimensões do envolvimento, o mesmo se verificando em relação ao pai. Não existem correlações significativas entre as habilitações literárias da mãe e do pai e as dimensões do envolvimento. Finalmente, encontramos uma correlação significativa e positiva entre o número de horas de trabalho da mãe e o envolvimento parental (na opinião da mãe) para os cuidados indirectos (r=0.23; p<0.01), para o ensino/disciplina (r=0.16; p<0.05) e para o Lazer (r=0.18; p<0.05). Estes resultados indicam que quanto mais horas a mãe despende no trabalho mais o pai colabora nos diferentes cuidados à criança. Analisando a perspectiva do pai, encontramos uma correlação positiva e significativa entre a idade da criança e o envolvimento do pai, nas actividades relativas à Brincadeira (r=0.12, p<0.05).
Concordância entre as representações parentais
Utilizando o Coeficiente de Correlação de Pearson, obtiveram-se os seguintes valores de concordância entre as respostas maternas e paternas para as cinco dimensões do questionário: Cuidados Directos (r=0.78, p<0.0.001), Cuidados Indirectos (r=0.73 p<0.0.001), Disciplina (r=0.59 p<0.0.001), Brincadeira (r=0.68 p<0.0.001) e Actividades de Lazer no Exterior (r=0.73 p<0.001). Regista-se assim concordância entre as respostas de ambos os pais, embora com valores mais discretos na área da Disciplina.
Tipos de envolvimento materno
De seguida realizámos uma análise de cluster (método de Ward) para classificar as mães de acordo com as dimensões contempladas no questionário de envolvimento. A análise hierárquica de clusters permitiu, assim, dividir a amostra em grupos, fornecendo uma análise detalhada dos mesmos nas dimensões reflectidas nos itens do questionário. O dendograma permitiu identificar 3 grupos distintos. Uma análise de variância distinguiu os 3 grupos ao nível dos cuidados directos [F(3,325)=53.18, p<0.01], cuidados indirectos [F(2,326)=44.96, p<0.01], Disciplina [F(2,326)=10.91, p<0.01], Brincadeira [F(2,326)=24.71, p<0.01], e Actividades de Lazer no Exterior [F(2,326)= 51.71, p<0.01]. Análises post hoc utilizando o teste de Scheffé demonstraram diferenças significativas entre todos os grupos para todas as dimensões.
No primeiro grupo (intermédio) constituído por 219 sujeitos, e segundo a opinião das mães, estas parecem assumir de modo inequívoco maior participação nas tarefas relacionadas com os Cuidados directos e indirectos, não se verificando o mesmo com a Disciplina, onde esse predomínio se esbate claramente, e nos dois domínios restantes (Brincadeira e Lazer), onde se regista uma partilha das tarefas entre ambos os pais.
No segundo grupo (activo) constituído por 89 sujeitos, sob o ponto de vista das mães, os pais assumem um papel mais activo, adoptando mesmo maior responsabilidade nas tarefas relativas ao domínio da Brincadeira, registando-se uma partilha das actividades realizadas no âmbito dos Cuidados Directos, do Lazer, e embora de modo mais discreto no domínio da Disciplina, onde as mães assumem maior responsabilidade, que se acentua claramente no domínio dos Cuidados Indirectos.
No terceiro grupo (Tradicional) constituído por 21 sujeitos, e de acordo com as mães, estas assumem um papel francamente mais presente face aos pais, algo claramente avocado nas tarefas desenvolvidas no âmbito dos Cuidados, onde a presença paterna é praticamente residual. Esta maior responsabilidade materna tem continuidade nas três restantes áreas, embora de forma atenuada, especialmente no domínio da Brincadeira, área onde os pais mais parecem colaborar do ponto de vista materno.
FIGURA 1
Classificação dos grupos de mães em função das dimensões consideradas no questionário de envolvimento
Tipos de envolvimento materno e variáveis sócio-demográficas
Uma análise de variância demonstrou a existência de diferenças significativas entre os três tipos de envolvimento na perspectiva da mãe e as habilitações literárias da mãe [F(2,335)=3.47, p<0.05] e o número de horas que passam no emprego [F(2,335)=3.56, p<0.05]. No entanto, uma análise Post hoc com o teste de Scheffé, demonstrou a inexistência de diferenças entre o grupo Activo e o grupo Intermédio. As mães do grupo Tradicional apresentam menos habilitações literárias e passam menos horas no trabalho do que as mães dos outros dois grupos.
Tipos de envolvimento paterno
Realizou-se o mesmo procedimento relativamente aos pais. Uma análise de variância permitiu distinguir os 3 grupos ao nível dos Cuidados Directos [F(3,325)=117.01, p<0.01], Cuidados Indirectos [F(2,326)=75.15, p<0.01], Disciplina [F(2,326)=19.51, p<0.01], Brincadeira [F(2,326)=66.02, p<0.01] e Actividades de Lazer no Exterior [F(2,326)=103.25, p<0.01]. Análises post hoc utilizando o teste de Scheffé demonstraram diferenças significativas entre todos os grupos, excepto para as dimensões cuidados indirectos e Lazer entre os grupos Intermédio e Activo.
No Grupo Intermédio, o primeiro, constituído por 239 sujeitos, tendo em conta a perspectiva dos pais, estes parecem assumir menor responsabilidade ao nível dos Cuidados, quer Directos, quer Indirectos. Em relação aos restantes domínios, o equilíbrio parece ser dominante, registando-se um envolvimento de ambos os pais.
No Grupo Activo, o segundo, composto por 26 sujeitos, os pais parecem estar mais presentes, assumindo maior envolvimento nos domínios da Brincadeira e dos Cuidados Directos. Assinalando-se uma partilha das tarefas entre ambos os pais nas áreas da Disciplina e do Lazer, do ponto de vista paterno. Porém, no que diz respeito aos Cuidados Indirectos o menor envolvimento paterno parece ser a nota dominante.
No Grupo Tradicional, o terceiro, constituído por 64 sujeitos, o menor envolvimento paterno parece caracterizar transversalmente as áreas consideradas. Todavia, esse domínio torna-se mais discreto, do ponto de vista paterno, na área do Lazer e em ambas as áreas dos Cuidados, onde se parece agravar. Neste grupo, o menor envolvimento paterno, de acordo com os pais, atenua-se apenas nos domínios da Disciplina e da Brincadeira, onde se aproxima da partilha de tarefas.
FIGURA 2
Classificação dos grupos de pais em função das dimensões consideradas no questionário de envolvimento
Tipos de envolvimento paterno e variáveis sócio-demográficas
Uma análise de variância demonstrou que, contrariamente aos dados maternos não existem diferenças significativas entre os três tipos de envolvimento na perspectiva do pai e as habilitações literárias paternas [F(2,335)=2.17, p<0.05], o número de horas que passam no emprego [F(2,335)=1.6, p<0.05] e a idade do pai [F(2,335)=1,97, p<0.05].
defendem uma partilha onde o pai parece estar menos presente. Porém, em cinco dos casos onde a mãe adopta uma postura coerente com as características do Grupo Tradicional, o pai discorda, julgando-se mais envolvido (Grupo Intermédio). Não se verifica nenhum caso de discórdia mais extremado, onde a mãe defenderia um menor envolvimento do pai (Grupo Tradicional), enquanto segundo a opinião paterna, o pai estivesse francamente mais presente (Grupo Activo).
TABELA 2
Concordância entre os grupos Intermédio, Activo e Tradicional de ambos os pais
Num total de 329 casais, 219 mães fazem parte do Grupo Intermédio, verificando-se que 185 destas mães estão de acordo com o pai quanto ao envolvimento de ambos. No entanto, em 34 dos casos considerados os pais não se encontram de acordo, pois enquanto as mães assumem uma partilha cujas características se enquadram no Grupo Intermédio, 23 pais julgam-se claramente mais envolvidos (Grupo Activo), enquanto 11 parecem adoptar uma atitude mais tradicional.
Das 89 mães conotadas com uma partilha onde o pai está mais presente (Grupo Activo), apenas 3 encontram eco na opinião dos pais, Nos restantes casos, os pais assumem uma posição de evidente discórdia, uma vez que de acordo com 49 pais, a partilha não se afirma de modo tão evidente, estando assim integrados no Grupo Intermédio, desfasagem que é potenciada nos 37 pais, cuja opinião os inclui no Grupo Tradicional, correspondente a um menor envolvimento paterno.
As opiniões dos pais voltam a convergir no terceiro grupo, o Tradicional, onde 16 casais
DISCUSSÃO
As diversas transformações ocorridas, especialmente na segunda metade do último século, não puderam deixar de interferir na ecologia familiar, alertando para uma aproximação dos papéis paterno e materno, face à prestação dos cuidados diários e ao estabelecimento de interacções sociais com os filhos.
Procurando responder ao primeiro objectivo gizado, aquilatar a existência de uma participação igualitária ou tradicional nos diferentes tipos de actividades, ao mesmo tempo que se pretende compreender como essas transformações se concretizaram no contexto familiar, verificou-se que o envolvimento dos pais oscila consoante as actividades ponderadas.
Das cinco dimensões consideradas, e de acordo com a opinião geral dos casais estudados, as mães assumem mais frequentemente responsabilidades nas áreas dos Cuidados Directos e Indirectos. Algo que não se verifica nos restantes três domínios, designadamente na Disciplina, na Brincadeira e no Lazer no Exterior, onde os pais assumem um envolvimento mais activo, partilhando com a mãe as respectivas responsabilidades.
Estes resultados corroboram as conclusões de Monteiro et al. (2006), que identificam a existência de diferentes padrões de participação paterna em função do tipo de actividade, dado que, como referido, as tarefas de organização/ cuidados (Práticas) eram normalmente desempenhadas pelas mães, enquanto as actividades de brincadeira/lazer (Lúdicas) eram partilhadas de modo igualitário por ambos os pais, o que aliás vem ao encontro de outros trabalhos desenvolvidos com crianças em idade pré-escolar (e.g., Bailey, 1994; Peitz et al., 2001).
A imagem cultural da mulher como primeira prestadora de cuidados e o pai como figura substituta, que intervém apenas quando necessário, ou apenas como companheiro de brincadeira, é ainda uma convicção enraizada na sociedade Ocidental (Deutsch, 2001; Rohner & Veneziano, 2001). Não há muito tempo (uma década) parecia mais fácil tolerar a colagem do pai a actividades lúdicas (Monteiro et al., 2006; Monteiro, Veríssimo, Santos, & Vaughn, 2008) que a actividades relacionadas com a prestação de cuidados, consideradas pouco masculinas (Rohner & Veneziano, 2001). Aspecto ao qual não será alheia a crença de que as crianças mantêm com as mães um laço afectivo especial, o que poderá levar alguns pais a acreditar que não podem cuidar delas do mesmo modo (Beitel & Parke, 1998; Russel, 1983).
Outro aspecto relevante poderá ser as pressões sociais exercidas, que oscilam consoante o alvo é o pai ou a mãe, pois parece haver uma tendência social para aliviar o homem em relação às exigências referentes aos cuidados prestados aos filhos, esperando-se deste um maior investimento ao nível profissional, enquanto, para a mulher as expectativas de desempenho profissional são menores, dado que, socialmente, é aceite ser ela a responsável directa pela família (Torres, 2004).
Também é certo que às actividades lúdicas surgem mais frequentemente associados horários (mais) flexíveis, que por isso se moldam mais facilmente à disponibilidade dos pais, para além de poderem ser intervaladas com outras actividades, ao contrário do que acontece com os cuidados, orientados pelas necessidades imediatas da criança. Assim sendo, são as mães quem tem de gerir a sua disponibilidade, vendo-se frequentemente forçadas a realizar tarefas em simultâneo, procurando desta forma, não penalizar o tempo dispendido em actividades mais valorizadas, como conversar, brincar ou ler. Por seu lado os pais gastam mais tempo a realizar estas actividades em exclusivo (Craig, 2003, 2006).
Bem entendido, estes resultados parecem apontar para uma alternância entre uma participação tradicional ao nível dos cuidados e uma participação partilhada nas actividades de socialização, isto é, na prática, e apesar das crenças de que os papéis parentais devem ser partilhados, as alterações afiguram-se mais morosas, persistindo ainda um padrão específico, assente no género (Lamb & Tamis-LeMonda, 2004; Monteiro, Veríssimo, Santos, & Vaughn, 2008; Pleck & Masciadrelli, 2004).
Porém estes primeiros resultados, não convergem apenas no sentido de uma imagem paterna mais tradicionalista, que até poderia sair reforçada caso nos debruçássemos sobre o domínio da Disciplina, cuja partilha e consequente maior envolvimento paterno poderiam facilmente associar-se a uma representação do pai que se impunha através da autoridade e da disciplina ao mesmo tempo que se distanciava emocionalmente da criança (Balancho, 2004).
Porém, há que considerar que esta interpretação revelar-se-ia algo redutora, dado o vincado envolvimento paterno nas áreas da Brincadeira e do Lazer no Exterior, que com certeza não corresponderão a um distanciamento emocional face à criança. Esta maior actividade paterna não terá forçosamente de colidir com a constatada menor partilha da parte do pai no que às áreas dos Cuidados concerne, uma vez que de um modo geral esta também não será inexistente, embora se manifeste de modo francamente mais discreto.
Outra possível explicação para o assimétrico envolvimento paterno, em função das diferentes actividades, passará pelo peso histórico-cultural que cada uma carrega, travando ou acelerando dinâmicas ou alterações, que também por esse motivo poderão ocorrer a velocidades distintas, refreando, sem estancar, o movimento de aproximação do pai aos domínios dos Cuidados, e impelindo-o mais vigorosamente para qualquer uma das restantes áreas (e.g., Rohner & Veneziano, 2001; Torres, 2004).
As diferentes velocidades com que os pais vão aderindo aos domínios considerados poderão ajudar a justificar porque grande parte da amostra encaixou nas características do Grupo Intermédio, não cabendo nem no Grupo Tradicional, onde o pai se demite inequivocamente das tarefas relacionadas com as áreas dos Cuidados, nem no Grupo Activo, onde este se revela mais participativo. Talvez esta caracterização possa traduzir um movimento, pouco ou nada complacente face a designações mais estáticas ou justificações mais simplistas e que por isso se poderia aproximar de uma representação mais confusa da paternidade, que oscilaria entre duas perspectivas antagónicas, uma mais tradicionalista e outra mais moderna (e.g., Bailey, 1994; Craig, 2003).
A ênfase na morosidade e timidez ou, pelo contrário, no movimento ou dinamismo com que os pais se parecem aproximar dos domínios dos cuidados poderá ser objecto de estudo em trabalhos futuros.
Tendo em conta o segundo objectivo delineado, respeitante à relação entre as variáveis sócio-demográficas ponderadas e o envolvimento parental, do ponto de vista da mãe os pais parecem mais envolvidos quando estas despendem um maior número de horas no emprego, no que diz respeito às actividades relacionadas com os cuidados indirectos, ensino/disciplina e lazer. Segundo Peitz et al. (2001), as horas de trabalho da mãe relacionam-se com a proporção de envolvimento paterno, pois é bem provável que o maior número de horas de trabalho da mãe se associe a uma crescente necessidade de participação do pai. Porém, também poderá ser possível que tal correlação se possa justificar pela redução do tempo absoluto que as mães passam com os filhos (Bailey, 1994; Cabrera et al., 2000; Lamb, 1987), potenciando a participação paterna, uma vez que os dados são considerados em comparação com a outra figura parental, assumindo a escala uma perspectiva relativa.
Seria por isso interessante aquilatar no futuro se esta correlação positiva se fica de facto a dever a um aumento qualitativo da participação paterna, ou se pura e simplesmente se reduz a um crescimento meramente quantitativo.
De acordo com os pais, também se observa uma correlação positiva, neste caso entre a idade das crianças e a participação paterna, uma vez que esta parece aumentar à medida que as crianças crescem, designadamente no domínio da brincadeira. A etapa de desenvolvimento das crianças é um aspecto terminante, dado que no período pré-escolar as crianças adquirem novas competências linguísticas, cognitivas e de socialização, assumindo um papel progressivamente mais activo na regulação das interacções. Nestas idades, a brincadeira e o lúdico além de preponderantes, são actividades cada vez mais complexas, que colocam novos desafios aos pais (Monteiro et al., 2010).
O desenvolvimento entretanto ocorrido talvez possa aproximar os pais, cuja percepção dos filhos deixa de ser tão frágil, permitindo-lhes outra confiança na relação, que é mais difícil de estabelecer de inicio, onde social e culturalmente a mãe é frequentemente percepcionada como mais capaz de cuidar e de estabelecer laços afectivos com o bebé (Beitel & Parke, 1998; Russel, 1983).
A referida ausência uma concepção unidimensional e do papel do pai (Lamb, 1987, 2004; Parke, 1996) é de certa forma reforçado se atendermos aos três grupos formados: Activo, Intermédio e Tradicional. Estes diferentes grupos, aos quais correspondem características individuais e formas de participar distintas, sob o ponto de vista materno e paterno, apresentam diferenças significativas entre si, com excepção da perspectiva paterna, nas áreas dos cuidados indirectos e do lazer entre os grupos Intermédio e Activo.
O grupo Tradicional materno é caracterizado por mães que passam menos horas no local de trabalho e que possuem menos habilitações literárias, características que surgem relacionadas com a percepção materna de um menor envolvimento do pai. Como já tivemos oportunidade de referir, as horas de trabalho da mãe relacionam-se com a proporção de envolvimento paterno (Peitz et al., 2001), neste caso o facto das mães poderem estar mais disponíveis pode aliviar a necessidade de participação do pai, explicando o menor envolvimento paterno e reforçando a ideia de que o pai avança essencialmente quando a mãe não pode fazê-lo, emergindo assim como uma figura de recurso (e.g., Deutsch, 2001; Rohner & Veneziano, 2001).
Quanto às habilitações literárias, a percepção de um menor envolvimento paterno pode ficar a dever-se a inúmeros aspectos. Os pais com habilitações superiores envolvem-se mais nas actividades de brincadeira, o que se pode dever ao facto destes as percepcionarem como um meio, não só de interacção, mas também de estimulação às aprendizagens cognitivas e sociais dos filhos (Monteiro et al., 2006). Estes pais também poderão construir concepções menos rígidas acerca dos papéis dos géneros, o que os leva a não ponderarem as Actividades Práticas (cuidados) como pouco masculinas, mostrando-se mesmo mais abertos e flexíveis face a novas experiências (Levy-Shiff & Israelashvilli, 1988). O nível de participação nas Actividades Indirectas também tende a aumentar com o grau de escolaridade dos pais (Monteiro et al., 2006; Torres, 2004).
Por outro lado, quanto menor o nível de escolaridade das mães (possível indicador de trabalho menos bem renumerado), menor a participação dos pais nas Actividades Indirectas. O facto de, profissionalmente, muitas mulheres ocuparem lugares de menor prestígio e menos bem remunerados do que os homens (Torres, 2004), poderá levá-las a preferir manter o equilíbrio tradicional familiar, mesmo tal significando maior exaustão física e mental (Lamb & Tamis-LeMonda, 2004). Ao contrário do que se verifica nas mães com habilitações literárias superiores, que talvez por apostarem mais ao nível profissional, não só facilitam como desejam um maior envolvimento paterno nas áreas relativas aos cuidados (Monteiro et al., 2006). Tal ponderação poderá ser um indicador da representação da mãe como gatekeeper(e.g., Allen & Hawkins, 1999; Fagan & Barnett, 2003; McBride, Brown, Bost, Shin, Vaughn, & Korth, 2005; Schoppe-Sullivan, Brown, Cannon, Mangelsdorf, & Sokolowski, 2008).
Ao contrário do que se verificou nas mães, não se observaram diferenças significativas entre os três tipos de envolvimento paterno e as variáveis sócio-demográficas, o que poderá alertar para outras razões que justifiquem as diferenças entre os três grupos, pois são vários os factores que podem condicionar o envolvimento parental, podendo actuar de modo isolado ou correlacionado (Arendell, 1996; Pleck & Masciadrelli, 2004), dado que a variabilidade da participação paterna nas rotinas familiares e consequentemente no dia-a-dia dos filhos é produto de um sistema complexo de influências (Belsky, 1984; Lamb, 2004; Parke, 1996). Referimo-nos, por exemplo, às características das mães, cujo impacte já tratámos, assim como às características das próprias crianças, como a idade e o género, ou às variáveis de contexto, ilustradas, por exemplo, pelo número de horas que as crianças passam na Creche/Jardim de Infância, e o próprio temperamento, cuja influência já foi confirmada noutros estudos (e.g., Manlove & Vernon-Feagans, 2002).
Regista-se ainda uma concordância entre as perspectivas de partilha de ambos os pais nos grupos Intermédios e Tradicionais, o que significa que, nestes casos, a opinião das mães parece coincidir maioritariamente com a opinião dos pais. Mesmo quando estes não se encontram em sintonia, o que foi mais invulgar, as opiniões nunca atingem um ponto de ruptura máximo, onde a perspectiva do casal se repartisse entre o ponto de vista tradicional e o activo. Ao contrário do que se regista no grupo Activo, tendo em conta a perspectiva de ambos os pais. Neste caso, a oposição é mesmo o ponto dominante, uma vez que o número de casais onde as opiniões convergiram é residual. Deste modo, num casal podem coincidir opiniões totalmente divergentes, convivendo, assim, perspectivas tipicamente tradicionais (grupo Tradicional paterno) e perspectivas tipicamente modernas (grupo Activo materno). Registe-se que o inverso não acontece, isto é, não se observou nenhum casal onde a mãe perspectivasse o envolvimento paterno de modo tradicional, enquanto a opinião do pai assumisse características do grupo Activo. Porém, na maior parte dos casos a discórdia não traduz uma distância de opiniões tão acentuada, uma vez que nestes casos, onde a mãe tende a perspectivar o envolvimento paterno de modo activo, a opinião do pai enquadra-se no grupo Intermédio.
A questão da concordância é pertinente, uma vez que a distância entre os pais pode dificultar a relação que estes estabelecem com a criança, assim como pode dificultar a interiorização desta face a um modelo que lhe sirva de referência durante o seu desenvolvimento. A própria imagem dos pais pode sofrer algum desgaste, caso a divergência se acentue, traduzindo formas de estar incompatíveis, que evoluem no sentido da desvalorização do papel do outro. De acordo com Hetherington (1988) falta referência, quando a relação dos pais sofre uma clivagem, o desenvolvimento dos filhos pode ser afectado, registando-se, por exemplo, maior ocorrência de conflitos entre irmãos. Algo mais difícil de acontecer, num contexto de convergência, onde o papel dos progenitores tende a sair reforçado face aos olhos da criança.
Podemos assim pressupor que em casais onde se regista uma divergência significativa na percepção que têm da forma como o seu dia-a-dia é gerido, nomeadamente, em relação às crianças, isso acarrete tensões e conflitos entre os pais, que poderão ter consequências no funcionamento do sistema familiar, assim como no desenvolvimento sócio-emocional da criança. Para mais facilmente compreender o conceito de partilha parental é importante assumir uma perspectiva ecológica da família, considerando-o como um processo complexo e dinâmico. Não só devemos ponderar a percepção materna sobre o valor e importância do envolvimento paterno e atender as bases motivacionais do pai (e.g., Cabrera et al., 2000; Levy-Shiff & Israelashvili, 1988; McHale & Huston, 1984), como também os possíveis constrangimentos sociais e institucionais (e.g., Lamb, 1987). Também não poderemos negligenciar o estudo do modo como a partilha parental é constantemente mantida e negociada pelos pais (Arendell, 1996; Deutsch, 2001; Tamis-Lemonda LeMonda, 2004), através de decisões quotidianas sobre a família e o trabalho.
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NOTAS
Agradecimentos: Os autores gostariam de agradecer a todas as mães e pais que aceitaram participar neste estudo, financiado em parte pela F.C.T (PIHM/GC/0008/2008) e e pela Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género. Os autores gostariam ainda de agradecer a todos os colegas da linha 1, Psicologia do Desenvolvimento, da UIPCDE pelos seus comentários valiosos.