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Análise Psicológica
versão impressa ISSN 0870-8231
Aná. Psicológica vol.34 no.1 Lisboa mar. 2016
https://doi.org/10.14417/ap.1018
Ambiente familiar e qualidade da vinculação amorosa – Papel mediador da individuação em jovens adultos
Filipa Correia1, Catarina Pinheiro Mota2
1UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
2UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro / Centro de Psicologia da Universidade do Porto
RESUMO
A vivência estabelecida no ambiente familiar constitui um fator relevante para o desenvolvimento do processo de individuação nos jovens adultos. A qualidade da vinculação amorosa traduz, à luz da perspetiva ecológica, a transição além do seio familiar, constituindo um marco no desenvolvimento afetivo dos jovens adultos. A presente investigação tem como objetivo analisar o papel do ambiente familiar na qualidade da vinculação amorosa, bem como testar o papel mediador do processo de individuação na associação anterior. A amostra é constituída por 432 jovens adultos, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos. Para a recolha de dados recorreu-se à Family Environment Scale, o Individuation Test for Emerging Adults e o Questionário de Vinculação Amorosa. Os resultados apontam para uma predição positiva do ambiente familiar face à qualidade da vinculação amorosa. Verifica-se o papel mediador do processo de individuação à mãe na associação entre o ambiente familiar e a qualidade da vinculação amorosa, no entanto, o mesmo não acontece através do processo de individuação ao pai. Os resultados serão analisados à luz da teoria da vinculação e da perspetiva ecológica de Bronfenbrenner, no sentido de discutir a importância do ambiente familiar saudável no desenvolvimento adaptativo dos jovens adultos.
Palavras-chave: Ambiente familiar, Individuação, Vinculação amorosa.
ABSTRACT
The experience established in the family environment is a relevant factor for the development of the individuation process in young adults. The quality of romantic attachment represents, in the light of the ecological perspective, the transition beyond the family environment, constituting a goal in the emotional development of young adults. This research aims to analyze the role of the family environment on the quality of romantic attachment, as well as test the mediational role of the individuation process in the previous association. The sample was composed by 432 young adults, aged between 18 and 30 years. Data collection was done through the Family Environment Scale, the Individuation Test for Emerging Adults and the Romantic Attachment Questionnaire. The results suggest a positive prediction of family environment from the quality of romantic attachment. There was a mediational role of individuation in relation to mother in the association between family environment and the quality of romantic attachment process, however, the same does not occur through the process of individuation in relation to father. Results will be analyzed in the light of attachment theory and the ecological perspective of Bronfenbrenner, to discuss the importance of a healthy family environment in adaptive development of young adults.
Key words: Family environment, Individuation, Romantic attachment.
Numa perspetiva mais recente, a designação de “adultos emergentes” refere-se às mudanças sociais, económicas e demográficas que conceptualizam a sociedade contemporânea (Arnett, 2006). Segundo Arnett (2006, 2007), fatores como o maior investimento na vida profissional, mercado laboral, formação de família e o contacto com outras vivências sociais e culturais, parecem adiar o conceito de entrada na adultícia. A transição para a vida adulta torna-se mais extensa e instável pelas novas experiências e realização pessoal, o que destaca alterações no desenvolvimento pessoal e consequentemente um adiamento da totalidade do processo de autonomia e de separação-individuação dos jovens (Côté & Bynner, 2008). Arnett (2006) designa a idade adulta emergente como um período de transição em que o indivíduo detém e assume responsabilidades pelas suas decisões, revelando, desta forma, uma maior independência das figuras parentais e, portanto, é neste sentido que se diferencia da adolescência.
A individuação é um processo que denota a separação emocional da ligação aos pais sob forma de alcançar a autonomia e independência (Fleming, 2005). A qualidade das relações estabelecidas com as figuras parentais promove condições favoráveis ao desenvolvimento, pautado de segurança e equilíbrio, no que diz respeito à autonomia e estruturação da identidade (Fleming, 2005). Surge associado à adolescência, o conceito de segunda individuação (Blos, 1967), no sentido de corresponder a uma fase onde o adolescente se começa a autonomizar e a separar dos pais, focalizando as suas relações objetais em direção ao grupo de pares e par amoroso. Este processo estende-se ao início da vida adulta, não só pela dependência funcional e financeira dos pais, mas também pela dependência e suporte emocional (Arnett, 2006). Neste seguimento, e apesar do início da vida adulta não refletir a conclusão do processo de individuação, é na idade adulta emergente que se começa a caminhar para uma maior independência, autonomia, progressão e consolidação na construção da identidade, bem como uma relação de respeito e cooperação mútua com os pais (Buhl, 2008; Koepke & Denissen, 2012; Scabini, 2000). Assim, destaca-se a relevância da separação-individuação perante, não só a qualidade dos laços afetivos estabelecidos com as figuras parentais, mas também da relação amorosa. De acordo com a perspetiva de Komidar, Zupančič, Sočan e Puklek Levpušček (2014), destacam-se certos domínios da individuação na idade adulta emergente como a procura de suporte e apoio emocional dos pais, bem como a ligação e confiança aos pais. São, de igual modo, contemplados domínios como a perceção dos pais como intrusivos, preocupados e controladores das escolhas pessoais, o medo de não corresponder às expectativas dos pais e a autoconfiança para gerir as decisões e os problemas.
Considerando a perspetiva do crescimento pessoal aliada ao ambiente relacional, torna-se pertinente referenciar a ligação das vivências afetivas da infância nas experiências na vida adulta. De acordo com Bowlby (1982), a qualidade das relações com as figuras significativas constituem um papel preponderante no desenvolvimento emocional e afetivo da criança. Neste sentido, a vinculação (Ainsworth & Bowlby, 1991; Bowlby, 1988) é entendida por um conjunto de comportamentos apresentados pela criança que se caracteriza pela busca de proximidade e ligação afetiva com as figuras cuidadoras e, posteriormente, pela exploração segura e confiante do ambiente e das suas relações. Assim, o desenvolvimento, formação e regulação das representações internas, nos primeiros anos de vida de um individuo, podem associar-se à capacidade de se conhecer a si mesmo e de explorar o mundo e o outro, bem como a capacidade de adaptação face às adversidades da vida. Isto só é possível, uma vez que o indivíduo desenvolve modelos internos dinâmicos que lhe permitem perceber o ambiente externo, bem como as suas próprias ações (Bowlby, 1988), funcionando como esquemas na interpretação de si e do seu comportamento (Holmes, 1993). O desenvolvimento dos modelos internos dinâmicos não é estático na vida do indivíduo, facultando, ao longo do seu desenvolvimento, uma exploração, adaptação e reorganização do self e do seu ambiente circundante (Bowlby, 1988). Estes contextos relacionais darão suporte à organização de modelos de funcionamento psicológico e a estilos de regulação emocional, podendo apresentar implicações no desenvolvimento da personalidade (Ainsworth & Bowlby, 1991; Bowlby, 1988). Para Bretherton (1992) a segurança e disponibilidade da figura de significativa de afeto relaciona-se com o indivíduo seguro de si e do seu meio. A função de base segura da figura de vinculação parece ser facilitada quando o indivíduo a percebe como disponível face às adversidades externas, aos obstáculos e dificuldades da sua vida (Dykas, Woodhouse, Cassidy, & Waters, 2006; Kobak, 2002). Na sua conceção do desenvolvimento entre o indivíduo e o seu meio, Bronfenbrenner (1999), teoriza a influência e interação recíproca entre o ambiente circundante e o indivíduo. É no contexto familiar que o indivíduo adquire condições para se desenvolver e se relacionar através do suporte afetivo e emocional e, é no interior da família, que o indivíduo se constrói e transforma (Dessen & Polonia, 2007; Pratta & Santos, 2007).
A compreensão e perceção de um ambiente familiar com a dimensão relacional pautada de compromisso, coesão e expressividade, entre os elementos da família, refletem sentimentos positivos e respostas de competência e adaptação às diferentes etapas do desenvolvimento pessoal (Moos, 1990). Todas as experiências familiares, sejam elas as presentes ou passadas, relacionam-se com a auto perceção do indivíduo na idade adulta (Parra, Oliva, & Reina, 2013) e, de acordo com diversos estudos, um ambiente familiar pautado por uma realidade abusiva e conflituosa compromete o desenvolvimento psicoafectivo (e.g., Galea, 2010; Larkin, Frazer, & Wheat, 2011; Saucier, Wilson, & Warka, 2007). Deste modo, importa realçar, que as condições subjacentes à dinâmica familiar, nos primeiros anos de vida, desempenham um papel fundamental na segurança emocional e física (Galea, 2010). Esta questão parece sugerir permite um desenvolvimento saudável, pautado por uma progressiva maturidade emocional (Galea, 2010) e uma perceção na idade adulta de pais próximos e compreensivos (Zupančič & Kavčič, 2014). A proximidade estabelecida com as figuras compreendidas no meio favorece a autoconfiança e independência ao longo das fases desenvolvimentais (Fowler, 1982).
Por conseguinte, Buhl (2008) destaca que as relações com as distintas figuras, como os pais e par amoroso, assumem importância no processo de separação-individuação, pela ligação, experiência, aceitação, valorização, independência e crescimento pessoal. Assim, depreende-se que, para além da importância da relação com as figuras parentais na autonomia e independência emocional, também as relações românticas contribuem para um nível adequado do processo de separação-individuação (Mattanah, Hancock, & Brand, 2004; Mota & Rocha, 2012; Saraiva & Matos, 2012). A relação amorosa pode refletir um papel importante ao nível do desenvolvimento psicoafectivo dos jovens adultos, pela necessidade de conhecer, explorar e investir em novas relações, contribuindo para a sua autonomização (Meeus, Iedema, Maassen, & Engels, 2005). Desta feita, a qualidade das relações com as figuras primárias de afeto pode contribuir para o crescimento pessoal, autoconfiança, valorização, exploração e independência no estabelecimento de novas relações (Assunção & Matos, 2010; Lansu & Cillessen, 2012; Matos, Barbosa, & Costa, 2001; Mikulincer & Shaver, 2007; Ng & Smith, 2006; Shaver & Mikulincer, 2002). Alguns estudos apontam para o facto de que, a forma como as relações românticas se desenvolvem relaciona-se com o processo de identidade pessoal do jovem e com a componente relacional com os demais, como a família e os pares (e.g., Collins & Feeney, 2000; Collins, Welsh, & Furman, 2009; Creasey & Ladd, 2005).
Face ao exposto, sugere-se que a perceção de um ambiente familiar coeso, expressivo e de baixo conflito contribua para a qualidade das relações românticas e para um processo de individuação bem conseguido na jovem adultícia. Como tal, torna-se relevante investigar estas variáveis em adultos emergentes, de forma a contribuir para o conhecimento de conceitos em destaque na comunidade científica, assim como focalizar a importância das dinâmicas relacionais no desenvolvimento pessoal e adaptativo dos jovens adultos.
A presente investigação tem como principal objetivo analisar o efeito do ambiente familiar (coesão, expressividade e conflito) na qualidade da vinculação amorosa e processo de individuação em jovens adultos, assim como testar o papel mediador do processo de individuação na associação entre o ambiente familiar e a qualidade da vinculação amorosa.
Tendo em consideração os objetivos do presente estudo, algumas hipóteses são apontadas. Nesta medida, aguarda-se que as dimensões do ambiente familiar, da qualidade da vinculação amorosa e do processo de individuação se correlacionem significativamente. Espera-se, também, perceções do ambiente familiar positivo pautado por coesão, expressividade e menor conflito predigam significativamente a qualidade nas relações amorosas. Por último, espera-se que o processo de individuação exerça um papel mediador na associação entre o ambiente familiar e a qualidade da vinculação amorosa.
Método
Participantes
No estudo participaram 432 jovens adultos com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos (M=20.77; DP=2.96), sendo 358 (82.9%) do sexo feminino e 74 (17.1%) do sexo masculino. No que concerne à profissão, 399 (92.4%) são estudantes e 33 (7.6%) desenvolvem uma atividade laboral. No diz respeito às relações amorosas dos jovens adultos em estudo, 252 (58.3%) têm atualmente um relacionamento amoroso, com uma duração média de 2 anos e 9 meses (M=2.9; DP=2.36), 152 (35.2%) já tiveram uma relação amorosa, com uma duração média de 1 ano e 4 meses (M=1.4; DP=.87), 22 (5.1%) nunca tiveram algum tipo de relacionamento e 6 (1.4%) mantêm um relacionamento amoroso mas sem compromisso.
Instrumentos
O Questionário Sócio Demográfico foi desenvolvido com o sentido de aceder a algumas informações ou características importantes acerca dos jovens adultos, designadamente a idade, o sexo, a profissão e a relação amorosa.
A Family Environment Scale (FES) (Moos & Moos, 1986) adaptada para a população portuguesa por Matos e Fontaine em 1992, visa medir as perceções pessoais das dimensões do contexto psicossocial da família. Na presente investigação, foi usada apenas a dimensão da Relação composta por três componentes: coesão com 9 itens (e.g., “na minha família ajudamo-nos uns aos outros”), expressividade com 9 itens (e.g., “em casa podemos falar de tudo o que queremos”) e conflito com 9 itens (e.g., “na minha família zangamo-nos muitas vezes”), perfazendo um total de 27 itens. O tipo de resposta é do tipo Likert, com valores a oscilar entre 1 (Discordo sempre) e 6 (Concordo sempre). No presente estudo, a análise da consistência interna revelou valores de alfa de Cronbach para as sub dimensões: coesão α=.89; expressividade α=.65; conflito α=.71. A análise fatorial confirmatória demonstrou um ajustamento adequado (χ2(21)=96.23, p=.001, Ratio=4.58, CFI=.96, SRMR=.05, RMSEA=.09).
O Individuation Test for Emerging Adults (ITEA) (Komidar, Zupančič, Sočan, & Puklek Levpušček, 2013) que é constituído por 36 itens distribuídos conforme as 5 dimensões avaliadas para o pai e a mãe separadamente: suporte de Si (procura de suporte e apoio emocional dos pais), com 6 itens (e.g., “Quando eu estou com problemas nas minhas relações pessoais eu peço-lhe conselhos”); ligação (ligação e confiança aos pais), com 6 itens (e.g., “Ele(a) respeita as minhas vontades”); intrusividade (perceção dos pais como intrusivos, preocupados e controladores quanto às suas escolhas pessoais), com 8 itens (e.g., “Eu acho que ele(a) quer saber demasiado sobre mim”); autoconfiança (autoconfiança para gerir as suas decisões e os problemas), com 8 itens (e.g., “Eu tomo decisões sobre a minha carreira, independentemente da opinião dele(a)”) e medo de desapontar os pais (medo de não corresponder às expectativas dos pais), com 8 itens (e.g., “Quando eu faço algo de errado, preocupo-me com a reação dele(a)”). O tipo de resposta é feito numa escala do tipo Likert de 5 pontos, que oscila entre 1 e 5, em que 1 corresponde a “completamente falso” e 5 a “completamente verdadeiro”. No presente estudo a análise da consistência interna revelou valores de alfa de Cronbach para a mãe e pai, respetivamente: suporte de si α=.84/.85; ligação α=.85/.88; intrusividade α=.84/.82; autoconfiança α=.82/.83; medo de desapontar os pais α=.77/.84. A análise fatorial confirmatória demonstrou um ajustamento adequado, respetivamente, para a mãe e pai (χ2(80)=232.84, p=.001, Ratio=2.91, CFI=.95, SRMR=.06, RMSEA=.07; χ2(80)=241.36, p=.001, Ratio=3.02, CFI=.95, SRMR=.06, RMSEA=.07).
O Questionário de Vinculação Amorosa (QVA) (Matos, Barbosa, & Costa, 2001) na sua versão reduzida, distribuídos por 25 itens organizados em quatro dimensões: confiança, com 6 itens (e.g., “O(a) meu namorado(a) respeita os meus sentimentos”); dependência, com 6 itens (e.g., “Fico muito nervoso(a) se não consigo encontrar a(o) minha(meu) namorada(o) quando preciso dela(e)”); evitamento, com 6 itens (e.g., “O apoio dela(e) não é importante para mim. Sei que sou capaz de resolver as coisas sozinho(a)”) e ambivalência, com 7 itens (e.g., “Gostava de ser a pessoa mais importante para ela(e) mas não estou certo(a) de que assim seja”). A resposta é feita numa escala do tipo Likert de 6 pontos, que varia de 1 “Discordo Totalmente” a 6 “Concordo Totalmente”. No presente estudo, a análise da consistência interna revelou valores de alfa de Cronbach para as dimensões: confiança α=.88; dependência α=.79; evitamento α=.81; ambivalência α=.83. A análise fatorial confirmatória evidenciou um ajustamento adequado (χ2(45)=175.83, p=.001, Ratio=3.82, CFI=.95, SRMR=.06, RMSEA=.08).
Procedimentos
A presente investigação é de natureza transversal, com uma recolha da amostra realizada em apenas um momento. Posteriormente à autorização para a utilização dos instrumentos aos respetivos autores originais, procedeu-se à elaboração do protocolo. Realizou-se uma reflexão falada com 10 indivíduos com idades entre os 18 e os 30 anos, de forma a conferir o aspeto formal e semântico do protocolo, bem como o tempo necessário para o seu preenchimento. Neste sentido, e após a aprovação do conselho de ética da instituição onde se desenvolveu o presente estudo, a recolha da amostra foi realizada de forma aleatória na população em geral da região norte do país, sendo que na sua maioria participaram jovens de várias instituições de ensino superior. Aquando da aplicação dos questionários de autorrelato, na presença do investigador principal, foram apresentados os objetivos gerais do estudo e prestados os necessários esclarecimentos. Este estudo baseou-se nos propósitos éticos e deontológicos em que foram contempladas questões como a confidencialidade, voluntariedade e anonimato dos dados.
Estratégia de análise de dados
A análise dos dados foi realizada no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciencies (SPSS) versão 20. Primeiramente, foi efetuada a limpeza da amostra, pela retirada de sujeitos com mais de 10% de missings e retirados os outliers. Quanto à estatística descritiva, foi testada a normalidade da distribuição dos dados com o recurso às medidas de assimetria (skewness) e achatamento (kurtosis), sendo assumido a normalidade quando os valores absolutos destes coeficientes se encontram no intervalo -1 e 1 (Dancey & Reidy, 2006; Maroco, 2003). No seguimento, recorreu-se ao Teste de Kolmogorov-Smirnov para testar a normalidade da amostra e o Teste de Levene para testar a homogeneidade de variâncias (Maroco, 2003), bem como os gráficos de Histogramas, Q-Q Plots, Scatterplots e Boxplots uma vez que os mesmos providenciam informação acerca da distribuição dos dados (Pallant, 2001). De referir que a distribuição da média amostral é normal, na medida em que, adicionalmente aos valores obtidos nas análises anteriores, quanto maior a amostra (superior a 30) maior a probabilidade de ser normal independentemente da sua distribuição (Maroco, 2003). Foram realizadas as análises fatoriais confirmatórias dos instrumentos (com recurso ao programa EQS, versão 6.1) e posteriormente análises de correlação. Foram realizadas análises com recurso a modelos de equações estruturais (programa EQS, versão 6.1), recorrendo ao teste de Sobel (Baron & Kenny, 1986; Bentler, 2006; Bollen, 1986).
Resultados
Foram analisadas as correlações entre o ambiente familiar, qualidade da vinculação amorosa e processo de individuação verificando-se, a presença de correlações significativas (p<.05) entre as variáveis em estudo (Tabela 1). Tal como esperado, constata-se que um ambiente familiar denotado de coesão e expressividade apresentam correlações significativas positivas de magnitude baixa com a confiança na relação amorosa (r=.19 até r=.24). Os resultados apontam ainda para uma associação significativa de um ambiente familiar pautado de coesão e expressividade e o suporte de si, ligação e o medo de desapontar em relação a ambas as figuras parentais, revelando valores positivos de magnitude baixa a elevada (r=.14 até r=.62). Identificam-se correlações significativas positivas de magnitude baixa da perceção de um ambiente familiar conflituoso e o evitamento e ambivalência na relação amorosa, assim como, com a intrusividade e autoconfiança em relação à mãe e ao pai (r=.12 até r=.25). Denotam-se, igualmente, correlações significativas positivas de magnitude baixa entre a confiança no relacionamento amoroso e suporte de si à mãe e ao pai, ligação à mãe e ao pai e medo de desapontar a mãe e o pai (r=.12 até r=.22). Os resultados aludem para uma associação positiva e significativa de magnitude baixa da dependência ao par amoroso e o suporte de si à mãe e o medo de despontar a mãe e o pai (r=.14 até r=.16). Destacam-se ainda as correlações significativas positivas do evitamento e ambivalência na relação amorosa e a autoconfiança e intrusividade, em relação a ambas as figuras parentais, com uma magnitude no nível baixo a moderado (r=.18 até r=.32).
De ressaltar que a coesão e expressividade percecionadas no ambiente familiar apresentam correlações significativas negativas de magnitude baixa com o evitamento e ambivalência no relacionamento amoroso (r=-.14 até r=-.26), tal como, com a autoconfiança à mãe e ao pai e, intrusividade à mãe e ao pai (r=-.12 até r=-.29). Verifica-se que o conflito percecionado no ambiente familiar alude a uma associação negativa de magnitude baixa com a confiança no par romântico (r=-.13). Reconhecem-se, ainda, associações entre o conflito e o suporte de si à mãe e ao pai e a ligação à mãe e ao pai, manifestando valores negativos de magnitude baixa a moderada (r=-.17 até r=-.45). Os resultados apontam, ainda, para uma correlação negativa e significativa de magnitude baixa da confiança no parceiro amoroso e a intrusividade e autoconfiança, tanto à mãe, como ao pai (r=-.16 até r=-.23). São percebidas correlações significativas negativas, de magnitude baixa, da dependência ao par amoroso e a autoconfiança à mãe e ao pai (r=-.13 até r=-.14). Evidencia-se, ainda, que as associações entre o evitamento na relação amorosa e o suporte de si ao pai e à mãe e, a ligação à mãe, apresentam valores negativos de magnitude baixa (r=-.17 até r=-.22). Por último, observam-se correlações significativas negativas de magnitude baixa entre a ambivalência ao par amoroso e a ligação à mãe e ao pai e o suporte de si ao pai (r=-.12 até r=-.13).
A análise de modelos de equações estruturais permitiu observar um efeito inicial do ambiente familiar na qualidade da vinculação amorosa, assinalando um valor significativo (p<.05) (β=.28). A análise do papel mediador do processo de individuação em relação à mãe, foi realizada, tendo em conta, de acordo com o teste de Sobel, todas as relações exequíveis entre as variáveis, ou seja, as dimensões que definem o ambiente familiar (coesão, expressividade e conflito) como preditoras, quer do processo de individuação em relação à mãe (suporte de si à mãe, ligação à mãe e medo de desapontar a mãe), quer da qualidade da vinculação amorosa (confiança, dependência, evitamento e ambivalência). Desta forma, verificou-se que o processo de individuação à mãe foi igualmente preditor da qualidade da vinculação amorosa, em simultâneo, com a equação anterior. Neste sentido, averiguou-se que o ambiente familiar prediz positivamente o processo de individuação em relação à mãe (β=.47), tal como, se verifica um efeito positivo do processo de individuação em relação à mãe na qualidade da vinculação amorosa (β=.23). Continuamente, no passo final do teste de Sobel, quando se introduziu a variável mediadora do processo de individuação em relação à mãe, observou-se que o efeito direto do ambiente familiar sobre a qualidade da vinculação amorosa (β=.28) diminuiu (β=.21), denotando-se assim uma mediação parcial através do processo de individuação à mãe (teste de Sobel z=3.77, SE=.05, p<.001, β=.06) (Tabela 2). Ressalva-se, ainda, que o papel do ambiente familiar continua a ser de relevância para a qualidade da vinculação amorosa. É de notar que os índices de ajustamento apresentaram-se adequados (χ2(30)=112.33, p=.001, Ratio=3.74, CFI=.95, SRMR=.06, RMSEA=.08) (Baron & Kenny, 1986; Bentler, 2006; Bollen, 1986) (Figura 1).
No que concerne à testagem do papel mediador do processo de individuação em relação ao pai, a análise de equações estruturais permitiu observar um efeito inicial do ambiente familiar na qualidade da vinculação amorosa, assinalando um valor significativo (β=.25). A análise do papel mediador do processo de individuação em relação à figura paterna, dispôs de todas as relações possíveis entre as variáveis, isto é, as dimensões que definem o ambiente familiar (coesão, expressividade e conflito), como preditoras, quer do processo de individuação em relação ao pai (suporte de si ao pai, ligação ao pai, autoconfiança ao pai e medo de desapontar os pais), e ainda da qualidade da vinculação amorosa (confiança, dependência e evitamento). Neste sentido, constatou-se que o ambiente familiar prediz positivamente o processo de individuação em relação ao pai (β=.69), verificando-se ainda um efeito positivo do processo de individuação em relação ao pai na qualidade da vinculação amorosa (β=.22). Continuamente, no passo final do teste de Sobel, quando se introduziu a variável mediadora do processo de individuação em relação ao pai no modelo geral observou-se que o efeito direto do ambiente familiar sobre a qualidade da vinculação amorosa (β=.25) diminuiu ligeiramente (β=.24), todavia não se verificou a mediação através do processo de individuação em relação ao pai, na medida em que deixou de haver significância da predição da individuação em relação ao pai, na qualidade da vinculação amorosa. A par disto, verificou-se que a análise da decomposição de efeitos não revelou valores significativos para os efeitos indiretos do ambiente familiar na qualidade da vinculação amorosa, pelo que a individuação em relação ao pai não exerce um papel significativo nesta associação. Assim, denota-se que a ligação do ambiente familiar para o processo de individuação em relação ao pai não perdeu a significância (β=.24), todavia, não se constatou significância na predição da ligação do processo de individuação ao pai para a vinculação amorosa (β=.05) (Teste de Sobel z=3.49, SE=.05, p<.001, β=.03 – n.s.) (Tabela 3). É de referir que os índices de ajustamento apresentaram-se adequados (χ2(32)=133.3, p=.001, Ratio=4.17, CFI=.94, SRMR=.06, RMSEA=.09) (Baron & Kenny, 1986; Bentler, 2006; Bollen, 1986) (Figura 2).
Discussão
A presente investigação tem como principal objetivo analisar o efeito do ambiente familiar na qualidade da vinculação amorosa em jovens adultos, assim como testar o papel mediador do processo de individuação na associação anterior.
Deste modo, o presente estudo sugere, tal como seria de esperar, a presença de associações significativas entre o ambiente familiar, a qualidade da vinculação amorosa e o processo de individuação em jovens adultos.
Assim, e como seria expectável, os resultados mostraram que a coesão e expressividade experienciadas no ambiente familiar se associam positivamente com a confiança no par amoroso e, negativamente, com o evitamento e ambivalência no relacionamento amoroso. Por outro lado, a perceção de um ambiente familiar conflituoso associa-se positivamente com evitamento e ambivalência na relação amorosa, e, negativamente, com a confiança no par romântico. Desta forma, constatou-se que a perceção positiva do jovem adulto acerca do ambiente familiar facilita a presença de sentimentos de confiança no par romântico, o que propiciam uma maior qualidade na vinculação amorosa. De acordo com Buhl (2008), o tipo de envolvimento amoroso está associado ao modo como o indivíduo perceciona o seu ambiente. Já a existência de um contexto familiar com um maior grau de conflito poderá acarretar comportamentos inseguros nas relações românticas. A segurança apreendida pelo sujeito a partir do contexto que o rodeia relaciona-se com a qualidade da vinculação às figuras significativas, quer sejam os pais ou o par amoroso (Bowlby, 1988; Shaver & Mikulincer, 2002).
Foi ainda possível verificar, tal como seria de esperar, que a coesão e expressividade experienciadas no ambiente familiar se associam positivamente com as variáveis suporte de si e ligação em relação a ambas as figuras parentais e, negativamente, com a variável intrusividade à mãe e ao pai. De referir os resultados não esperados como a associação positiva entre a perceção de um ambiente familiar coeso e expressivo com a variável medo de desapontar ambas as figuras parentais, bem como a associação negativa com a variável autoconfiança à mãe e ao pai. Por sua vez, e como seria de esperar, a perceção de um ambiente familiar conflituoso associa-se positivamente com a variável intrusividade em relação à mãe e ao pai e, negativamente, com as variáveis suporte de si e ligação à mãe e ao pai. É de salientar, que não seria de esperar que perceção de um ambiente familiar conflituoso se associasse positivamente com a variável autoconfiança em relação à mãe e ao pai. Neste sentido, a existência de apoio e afetividade no ambiente circundante do jovem adulto, bem como, uma posição segura e libertadora dos pais proporcionam condições favoráveis para o seu processo de individuação e autonomia. De acordo com o estudo de Scabini (2000), com foco nas relações pais-filhos na transição para a idade adulta, numa amostra de 259 famílias, em que os filhos tinham entre os 17 e os 25 anos idades, destaca-se que um aumento de apoio e ligação aos pais se associava a uma maior autonomia nos jovens adultos. Na perceção do ambiente em que prevalece a coesão e expressividade constatou-se alguma defensividade e preocupação quanto ao medo de não corresponder às expectativas dos pais, o que pode ocasionar níveis baixos de autoconfiança para as decisões. A transição para a idade adulta reitera a existência de algum nível de autonomia (Arnett, 2006), contudo, à dependência das figuras parentais acresce a um sentimento de corresponder às posições dos pais, acabando por estar presente o medo de desapontar as figuras parentais. Verifica-se que a perceção de um ambiente conflituoso é promovido pela perceção das figuras parentais como intrusivas e controladoras das preferências pessoais, podendo assumir significância na autoconfiança. No estudo de Parra, Oliva e Reina (2013), com 513 participantes, entre os 12 e os 19 anos de idades, em que o objetivo incidia no estudo das relações dos adolescentes e jovens adultos com a família, os autores constataram que na jovem adultícia tende a diminuir a condição conflituosa no ambiente familiar e a aumentar a proximidade e coesão. Para Buhl (2008), os conflitos provenientes da dinâmica relacional não têm necessariamente uma carga negativa, pelo que, o desentendimento e diferença promovem maiores índices de individuação, sempre que os conflitos sejam resolvidos de forma positiva.
No presente estudo verificou-se, como seria de esperar, que a variável suporte de si à mãe e ao pai e a variável ligação à mãe e ao pai se associam positivamente com a confiança no par romântico e negativamente com o evitamento e ambivalência na relação amorosa. Constatou-se, ainda, que a variável intrusividade à mãe e ao pai associa-se de forma positiva com o evitamento e ambivalência e de forma negativa com a confiança na relação amorosa. Nesta medida, a confiança na relação amorosa sugere estar estreitamente ligada com a qualidade do vínculo estabelecido com as figuras parentais. Segundo Bowlby (1982), o percurso vivencial pautado por uma vinculação segura, disponível e próxima entre pais e filhos disponibiliza recursos positivos, confiança, valorização de si para as relações futuras. Hazan e Shaver (1994) e Shaver e Mikulincer (2002), aludem ao facto de indivíduos seguros serem mais capazes de desenvolverem confiança em si e nas relações com os outros, bem como, na capacidade em lidar com as situações adversas. O desenvolvimento da identidade associa-se à confiança e segurança transmitida pelas relações primordiais de afeto e face aos desafios dos jovens adultos, estes laços são de relevância para a exploração de novas relações. Nesta fase, a importância das relações seguras que se vão expandindo na vida dos jovens e o processo de individuação é mais ou menos facilitado neste contexto, pelo que os novos focos de investimento passam a dirigir-se para o par romântico. Collins e Feeney (2000), suportam esta ideia no seu estudo numa amostra com uma média de idades nos 19 anos, pelo que a qualidade da relação está associada a um relacionamento de proximidade e responsabilidade baseada nos comportamentos positivos destes. Todavia, não seria esperada a associação positiva da autoconfiança à mãe e ao pai com o evitamento e ambivalência, tal como a associação negativa com a confiança na relação amorosa. Apesar disto, Mikulincer e Shaver (2007), preconizam que os jovens adultos podem ver na relação amorosa uma procura de proximidade e, perante os resultados obtidos, sugere-se que os jovens poderão sentir-se menos seguros na relação com os pais, na transição para a vida adulta, pela organização de novas tarefas e ao mesmo tempo pelo desenvolvimento da sua própria autonomia numa nova relação.
É, ainda de referir que a variável suporte de si à mãe associa-se positivamente com a dependência na relação, bem como a variável medo de desapontar ambas as figuras parentais, também, revelou uma associação positiva com a dependência na relação amorosa. Assim, estes resultados parecem apontar para que o medo de não corresponder às expetativas e preferências dos pais, assim como a escassa procura de suporte e apoio na relação com a figura materna, podem levar à busca excessiva de apoio, ligação e valorização no parceiro amoroso, o que pode suscitar uma maior dependência da relação. O elo afetivo sentido nas relações mantidas com as figuras parentais são relevantes para as interações mantidas na jovem adultícia (Bowlby, 1988), de forma a possibilitar experiências emocionais favoráveis à sua autonomia e maturidade emocional (Koepke & Denissen, 2012).
Por último, com presente estudo demonstrou-se que a perceção dos jovens adultos do seu ambiente familiar assume um papel importante no processo de individuação aos pais. Numa primeira análise, tal como seria de esperar, confirmou-se o papel mediador da individuação à mãe na associação entre o ambiente familiar e a qualidade da vinculação amorosa. No entanto, não seria de esperar que os resultados relativamente à individuação ao pai não reportassem um papel mediador na mesma associação. Desta feita, verificou-se uma mediação parcial, sendo sugerido que a predição do ambiente familiar face à qualidade da vinculação amorosa é realizada parcialmente através do processo de individuação à mãe. Por outro lado, não se constatou a existência de mediação através do processo de individuação ao pai, na medida em que deixa de haver significância da predição da individuação ao pai na qualidade da vinculação amorosa. Assim, o ambiente familiar prediz a qualidade da vinculação amorosa independentemente da individuação ao pai. Estes dados reportam duas interpretações distintas, mas ambas de relevância empírica. Assim a perceção dos jovens adultos de um ambiente familiar pautado de conflitos mas onde se verifica um processo de individuação à mãe bem conseguido, parecem evidenciar maior propensão a desenvolver uma vinculação amorosa de confiança e segurança. No que diz respeito ao pai, a perceção do ambiente familiar parece ser mais relevante na predição da qualidade da vinculação amorosa independentemente do processo de individuação ao pai. Importa ressaltar que não seria de esperar este resultado em relação ao pai, na mediada em que seria expectável resultados similares aos da mãe. Neste sentido, a procura de apoio, a ligação e autoconfiança na relação com a figura materna parece assumir um papel importante na qualidade da experiência amorosa. O mesmo pode não acontecer em relação à figura paterna, colocando em evidência um menor envolvimento e implicação no desenvolvimento afetivo dos jovens. A literatura corrobora este resultado na medida em que é a figura materna que, em regra, detém uma maior proximidade com os filhos estando tradicionalmente mais presente na vivência diária e nos processos de autonomização dos jovens (e.g., Mattanah et al., 2004; Scabini, 2000).
Estes resultados são consistentes com estudos que descrevem a representação do ambiente familiar como constituinte significativo para a exploração do mundo (Bowlby, 1982) e desenvolvimento pessoal (Galea, 2010; Saucier et al., 2007). Mikulincer e Shaver (2007), aludem à importância das experiências com as figuras de vinculação como fundamentais para uma relação amorosa segura, próxima e disponível. A dinâmica familiar e os laços familiares são considerados como a fonte principal de promoção da autonomia e individualidade nos adultos emergentes (Scabini, 2000) e associam-se à capacidade para desenvolver e estabelecer uma relação íntima (Hazan & Shaver, 1994). Destaca-se a importância da construção de uma segurança interna, que permita aos jovens recorrerem às figuras significativas de afeto sempre que necessário, e ao mesmo tempo criarem recursos pessoais para constituírem novas relações significativas de afeto fora do seio familiar. Esta questão assume especial relevo, na medida em que permite ao jovem o desenvolvimento do processo de individuação, onde se insere um contato com o exterior e a criação de laços afetivos com o par amoroso (Meeus et al., 2005). De acordo com diversos autores, a figura da mãe assume um papel mais ativo no contexto familiar e, por isso, na jovem adultícia. Por esta razão é natural que os sujeitos perceberem a sua relação com a mãe, como sendo pautada de mais proximidade, intimidade, mais intrusiva e protetora, enquanto que o sentimento em relação ao pai é mais ambivalente (e.g., Saraiva & Matos, 2012). Mattanah, Hancock e Brand (2004), apontam que o estilo de vinculação segura à figura materna, pautada de sentimentos de valorização, autoconfiança, segurança e aceitação, são fundamentais na estabilidade do processo de separação-individuação. Para Scabini (2000), existe distinção na perceção dos jovens adultos nas relações com os pais, na medida em que estes percebem uma relação materna como sendo de mais apoio do que a paterna.
Limitações e futuras linhas de estudos
Por fim, torna-se relevante aludir a implicações práticas do presente estudo e a algumas limitações encontradas, bem como adicionar pistas futuras. Nesta medida, a relevância deste estudo relaciona-se com a sua abordagem das dinâmicas relacionais no desenvolvimento pessoal e adaptativo dos jovens adultos. Acresce, de igual modo, a notoriedade do conceito de “adultos emergentes” na discussão da comunidade científica. Mediante o exposto, pretendeu-se enfatizar a importância da perceção do ambiente familiar e ligação estabelecida no processo de autonomização e individuação dos jovens adultos e, também, no papel das relações amorosas na jovem adultícia. Pretendeu-se, ainda, promover um sistema de intervenção junto do ambiente familiar, no sentido das interações positivas, seguras e adaptativas. É, ainda, de relevo considerar algumas limitações do estudo, entre elas a transversalidade que carateriza o presente estudo impede relações de causa-efeito, o facto do número de amostra e discrepância entre sexos, denotando-se maior número de participantes do sexo feminino, assim como a idade, pelo que são contidas um reduzido número de participantes acima dos 25 anos de idade. De referir ainda as diferenças entre o estado civil da amostra, em que maioritariamente são solteiros. Por último, outra limitação encontrada está relacionada com carácter de autorrelato dos instrumentos utilizados, passíveis de enviesamentos face à desejabilidade social. Como pistas futuras são identificadas questões como o estudo longitudinal da perceção do ambiente familiar dos jovens adultos, relacionado com o desenvolvimento do processo de separação-individuação, a noção de homogeneidade da amostra, o recurso a entrevistas em futuras investigações, bem como a consideração de outras variáveis relacionais como a vinculação aos pais e grupo de pares.
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A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Filipa Correia / Catarina Pinheiro Mota, Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Quinta dos Prados,Edifício do Complexo Pedagógico, 5000-801 Vila Real. E-mail: filipacorreiaa@hotmail.com / catppmota@utad.pt
Esta pesquisa foi parcialmente financiada pela FCT no âmbito do projecto PEst-C/PSI/UI0050/2011 e FEDER através do programa COMPETE no âmbito do projecto FCOMP-01-0124-FEDER-022714
Submissão: 04/02/2015 Aceitação: 30/06/2015