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Análise Psicológica
versão impressa ISSN 0870-8231versão On-line ISSN 1646-6020
Aná. Psicológica vol.36 no.4 Lisboa dez. 2018
https://doi.org/10.14417/ap.1362
Sentimento psicológico de comunidade: Estudo da escala SCI-2 num contexto associativo
Psychological sense of community: The study of SCI-2 scale in an association context
Olga Oliveira Cunha1, José Ornelas2, Maria João Vargas Moniz2
1Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal / APPsyCI – Applied Psychology Research Center Capabilities & Inclusion, ISPA – Instituto Universitário, Lisboa, Portugal
2APPsyCI – Applied Psychology Research Center Capabilities & Inclusion, ISPA – Instituto Universitário, Lisboa, Portugal
RESUMO
O Sentimento de Comunidade é um dos conceitos fundamentais da Psicologia Comunitária. Seymour Sarason, em 1974, define-o como a perceção de pertença, interdependência e compromisso mútuo que liga os indivíduos de uma comunidade. No modelo proposto por McMillan e Chavis (1986) identificam-se quatro dimensões: estatuto de membro, integração e satisfação de necessidades, influência e relações emocionais partilhadas.
A investigação tem procurado desenvolver medidas adequadas para o sentimento psicológico de comunidade pelo que no presente artigo é objetivo dos autores apresentar uma tradução e adaptação cultural da SCI-2 desenvolvida por Chavis, Lee e Acosta (2008) para um contexto associativo centrada nos seus membros voluntários (n=811).
Através da análise fatorial confirmatória, verificámos que a escala evidencia um constructo multidimensional constituído pelos quatro fatores do modelo referido tendo apenas sido eliminados 2 dos 24 itens da escala original sendo que se discute a sua pertinência face ao original.
O modelo resultante permite analisar e discutir o sentimento de comunidade no contexto estudado.
Palavras-chave: Sentimento psicológico de comunidade, Escutismo, SCI-2, Estudo.
ABSTRACT
The Sense of Community is one of the fundamental concepts of Community Psychology. According to Seymour Sarason (1974), it is defined as the perception of belonging, interdependence and mutual commitment, gathering all individuals within a community. The model that has been defined by McMillan and Chavis (1986) comprises four dimensions: member status, integration and satisfaction of needs, influence and shared emotional relations. The research has sought to develop adequate measures for the psychological sense of community and in the present article it is the objective of the authors to present a translation and cultural adaptation of the SCI-2 developed by Chavis, Lee and Acosta (2008) to an associative context centered on its members Volunteers (n=811). The results have revealed that the factorial structure of the Sense of Community is in accordance with the proposed model by the authors, presenting a multi-dimensional structure and only 2 of the 24 items of the original scale were eliminated and its relevance to the original one is discussed. The resulting model allows analyzing and discussing community feeling in the context studied.
Key words: Psychological sense of community, Scouting, SCI-2, Volunteering, Measuring.
Introdução
O Sentido Psicológico de Comunidade é um constructo relevante na investigação em Psicologia Comunitária usufruindo já de 30 anos de investigação, não só em comunidades com um carácter geográfico mas também de carácter relacional, como por exemplo, comunidades de trabalho (Brodsky & Marx, 2001; Catano, Pretty, Southwell, & Cole, 1993; Mahan, 2000; Pretty & McCarthy, 1991; Pretty, McCarthy, & Catano, 1992), comunidades religiosas (Miers & Fisher, 2002), comunidades migrantes (Fisher & Sonn, 1999; Sonn, 2002), comunidades estudantis (Pretty, 1990), comunidades virtuais (Obst, Zinkiewicz, & Smith, 2002a), grupos de ajuda mútua (Maya-Jariego, 2004), entre outros.
Inicialmente definido por Sarason como uma “consciência da similaridade e interdependência com os outros (membros da comunidade), uma vontade de manter essa interdependência, dando e/ou fazendo pelos outros e esperando um retorno, o sentimento de que se é parte de uma estrutura da qual se pode depender” (Sarason, 1974, p. 157), o conceito evoluiu para um modelo definido por McMillan e Chavis (1986) sustentado em quatro elementos: (a) estatuto de membro (sentimento de pertença ou a partilha de um sentido de relação de parentesco); (b) influência (sentido de importância, de fazer a diferença para um grupo e o grupo ser importante para os seus membros); (c) integração e satisfação de necessidades (este é um sentimento de que as necessidades dos membros serão cumpridas/satisfeitas pelos recursos recebidos através da sua adesão/filiação ao grupo) sendo o último as (d) relações emocionais partilhadas (o compromisso e a crença que os membros partilham e partilharão a história, espaços comuns, tempo em conjunto e experiências similares (McMillan & Chavis, 1986).
As comunidades que se podem considerar como mais fortes são as que oferecem aos seus membros formas positivas de interagir, eventos importantes para partilhar e estratégias construtivas de resolver as situações bem como oportunidades para homenagear os seus membros, para investir na comunidade e para experienciar uma ligação espiritual entre os membros (Ornelas, 2018). Mais, estes quatro fatores são interdependentes e dinâmicos funcionando como um conjunto que cria e mantem o sentimento global de comunidade.
Sendo relevante compreender o sentimento de comunidade dos elementos de uma comunidade e o desenvolvimento de instrumentos que precisem os seus componentes e as formas como estes interagem, o objetivo deste estudo é analisar as características métricas de uma escala – SCI-2 desenvolvida por Chavis, Lee e Acosta (2008) – que é produto de uma reflexão iniciada na década de 80, com a Sense of Community Index (SCI) publicada por Perkins, Florin, Rich, Wandersman e Chavis (1990). Esta linha de investigação tem sido um domínio importante para a Psicologia Comunitária enquanto disciplina científica e como contributo para a afirmação e compreensão da ligação aos contextos e à promoção do bem-estar e da qualidade de vida dos indivíduos.
O Sentimento de Comunidade e a diversidade de medidas desenvolvidas
De todas as escalas desenvolvidas, a Sense of Community Index (SCI) tem sido a mais utilizada nos mais diversos estudos de natureza e com diferentes grupos. Desenvolvida em 1984-1985 por David Chavis em colaboração com Paul Florin, Doug Perkins, John Prestby, Richard Rich e Abraham Wandersman, investigadores reconhecidos na área da Psicologia Comunitária, foi publicada na íntegra no apêndice do artigo de Perkins et al. (1990) sendo baseada nas quatro dimensões do modelo de McMillan e Chavis (1986).
A SCI tem sido utilizada ao longo dos anos por diversos investigadores (Bokszczanin, 2012; Cicognani et al., 2008; Elvas & Vargas-Moniz, 2010; Obst, Zinkiewicz, & Smith, 2002) não só na sua forma inicial de 12 itens de verdadeiro/falso (Francis, Giles-Corti, Wood, & Knuiman, 2012; Roussi, Rapti, & Kiosseoglou, 2006) como na sua versão de 12 itens com a utilização de uma escala de tipo Likert de 5 pontos (Ohmer, 2007; Peterson, Speer, & Hughey, 2006), na sua versão revista de 10 itens (Brodsky & Marx, 2001; Brodsky, O’Campo, & Aronson, 1999; Obst & White, 2005, 2007), ou traduzida em mandarim (Li, Sun, He, & Chan, 2011).
Na sequência das dificuldades encontradas na SCI, foi desenvolvida a Brief Scale Sense of Community (BSSC), com base na SCI (Peterson, Speer, & McMillan, 2008) constituída por oito itens. Estes autores consideraram no seu artigo que as dificuldades tidas com a SCI estariam relacionadas com fragilidades da própria medida e não com o constructo teórico. Sendo este multidimensional, não seria suficiente redimensionar os itens e afirmar que existiriam mais do que as quatro dimensões do modelo de McMillan e Chavis (1986). A BSSC foi ainda utilizada em Portugal, como atestam diversos estudos realizados (Carapinha & Lind, 2010; Carvalho & Lind, 2012; Gagueija & Carvalhosa, 2014; Gonçalves, Lind, & Moreira, 2009; Jesus & Ornelas, 2013; Martins & Esgalho, 2012).
Em 2008, Chavis, Lee e Acosta apresentaram, em Lisboa, a Sense of Community Index 2 (SCI-2), tendo esta sido já utilizada em diversos contextos: Abflater, Zaglia e Mueller (2012) utilizaram a SCI-2 numa comunidade virtual onde aplicaram a 312 membros, que na análise fatorial revelou ter quatro fatores tal como proposto por McMillan e Chavis (1986), ao contrário de Blanchard (2008) que não tinha confirmado esta estrutura original. Kenyon e Carter (2011) utilizaram a SCI-2 num estudo sobre a identidade étnica em jovens índios norte-americanos mas não referiram quaisquer informações quanto às propriedades psicométricas da escala. Stringer e Traill (2009) adaptaram a SCI-2 para utilizar com alunos do ensino secundário com o objetivo de explorar a variância do SC entre os vários anos de escolaridade e as diferenças de género. Legg, Wells e Barile (2015) utilizaram a SCI-2 junto de um grupo de 122 pais de adolescentes praticantes de desporto tendo também encontrado uma boa fiabilidade na medida utilizada.
No Estudo original, a escala SCI-2 foi aplicada pelos seus autores a 1800 participantes de 19 comunidades com elevada representatividade de residentes imigrantes do estado do Colorado (EUA), tendo obtido uma taxa de resposta de 88.5% (1.594 participantes [753 imigrantes e 841 residentes nacionais]). O método de amostragem utilizado foi bola de neve estratificado e administrado por entrevistadores bilingues (inglês e espanhol). Os participantes imigrantes autoidentificaram-se como mexicanos ou hispânicos/latinos, falantes de espanhol ou bilingues, sendo a maioria com idades até aos 34 anos. Os residentes nacionais autoidentificaram-se como norte-americanos, hispânicos/latinos sendo a maioria com idades acima dos 35 anos.
Considerando que ao estudo do sentimento de comunidade está associada a necessidade de validação ecológica foi fundamental realizar uma abordagem cultural, linguística e contextual no nosso estudo (Trickett et al., 2011).
Método
Participantes
A amostra é composta por 811 participantes, dirigentes do Corpo Nacional de Escutas, sendo 34.6% pertencentes ao sexo feminino. As idades estão compreendidas entre 18 e os 77 anos sendo a idade modal [28-37] (35.9%). 43.5% são detentores de licenciatura. Quanto à distribuição geográfica 34.3% residem na zona Norte, 32.4% na zona Centro e 32.4% na Zona Sul e Regiões Autónomas. 51.7% são casados. Quanto à sua permanência na associação, 50.8% estão há menos de 19 anos e relativamente ao número de anos como Dirigentes, 35.1% são-no há mais 10 anos, 30.3% entre 4 e 10 anos e 31.6% há menos de 4 anos.
Instrumento
Em 2008, Chavis, Lee e Acosta apresentaram a Escala SCI-2 – Sense of Community Index 2 na Conferência Internacional de Psicologia Comunitária em Lisboa. Esta medida pretende avaliar o sentimento psicológico de comunidade existente num determinado contexto.
A Escala SCI-2 é composta por 24 itens divididos em quatro subescalas, Integração e Satisfação das Necessidades (Reinforcement of needs) (items 1-6), Estatuto de Membro (Membership) (items 7-12), Influência (Influence) (items 13-18) e Relações Emocionais Partilhadas (Shared Emotional Connection) (items 19-24). O sentimento de comunidade global é a soma dos 24 itens. Possui ainda uma questão inicial sobre a importância da comunidade para o respondente. Os itens são compostos por afirmações sobre as necessidades dos participantes, por exemplo: item 5 – When I have a problem, i can talk about it with members of this community, o seu estatuto de membro: item 12 – being a member of this community is a part of my identity, a influência: item 14 – This community can influence other communities e relações emocionais partilhadas: item 21 – I expected to be a part of this community for a long time.
É solicitado aos participantes que refiram a adequação da afirmação respondendo em quatro níveis (0=not at all, 1=some what, 2=mostly, 3=completely). A fiabilidade geral da escala é forte (coeficiente alfa=.94) tendo as suas quatro subescalas uma fiabilidade razoável a boa (coeficiente alfa .79 a .86).
Procedimento
A SCI-2 foi traduzida para português por três tradutores, os quais acordaram numa versão sendo esta traduzida novamente em inglês por um Professor de Inglês primeira língua, que trabalha como tradutor profissional em Portugal (Roussi et al., 2006; Wombacher, Tagg, Burgi, & MacBryde, 2010).
Os dados foram recolhidos durante a realização de alguns eventos da associação particularmente durante o acampamento nacional que teve lugar em Agosto de 2012, em versão papel, junto dos Dirigentes que aí participavam, pela investigadora do presente estudo, tendo sido explicados os objetivos do estudo e entregue o consentimento informado.
Distribuímos aproximadamente 1000 questionários e recebemos 846 questionários preenchidos (correspondente a 84.6% dos questionários distribuídos) dos quais tivemos que eliminar 35 questionários devido à existência de itens não preenchidos nas diversas subescalas. Ficámos assim com um número final de 811 questionários, correspondente a 81.1%.
Resultados
Com o objetivo de compreender a estrutura subjacente da escala utilizada foi realizada uma análise fatorial exploratória e no sentido de compreender o grau de adequação da estrutura fatorial e com base no constructo de partida foi também realizada uma análise fatorial confirmatória.
Assim sendo, na análise fatorial exploratória, procedeu-se à extração dos componentes principais dos 24 itens da SCI-2 sendo o valor associado do KMO de 0.926 denotando que há uma excelente correlação entre os itens que compõem o modelo proposto (Hayton, Allen, & Scarpello, 2004) pelo que a qualidade da análise fatorial foi considerada muito boa. A partir da Tabela 1 corrobora-se a existência de 4 componentes o que é congruente com a escala original; os valores de Eigenvalue são superiores à unidade (7.375; 1.948; 1.594; 1.081), o que significa que se extraíram quatro componentes, que explicam 49.991% do total da variância. A primeira componente explica 17.119%, a segunda explica 15.003%, enquanto a soma da percentagem das duas componentes restantes aumenta aproximadamente 17% da variância explicada.
No que concerne a análise fatorial confirmatória e com o propósito de testar a consistência interna dos constructos na Tabela 2 verifica-se que a Integração e Satisfação de Necessidades e as Relações Emocionais Partilhadas têm uma boa consistência interna. O Estatuto de Membro e a Influência têm uma consistência interna moderada.
De forma a demonstrar com precisão a relação entre as subescalas envolvidas, realizou-se uma análise às correlações entre itens, da qual resultou a sugestão da retirada de um item a cada uma das subescalas Estatuto de Membro (item 10) e Influência (item 14).
Considerando que o presente estudo integra uma investigação mais alargada sobre o conceito de sentimento de comunidade num contexto associativo e tendo presente que a escala SCI-2 foi um dos instrumentos utilizados, verificou-se que a eliminação dos dois itens identificados resultou numa melhoria de consistência interna e dos índices de ajustamento do modelo. Acrescem a este resultado os valores da assimetria (skewness) e achatamento (kurtosis), de todos os itens individuais que apresentam de acordo com Kline (2004), valores considerados adequados para a observância do pressuposto de normalidade. Seguindo uma estratégia conservadora, não removemos nenhuma das observações e estimámos os índices de ajustamento do modelo (χ2=740.993; χ2/df=3.650; CFI=.435; PCFI=.382; GFI=.917; PGFI=.736) conforme demonstrado na Tabela 3.
O estudo efetuado a partir da estrutura tetra-fatorial do SCI-2 demostrou que as correlações entre as quatro dimensões (constructos) se revelaram estatisticamente significativas, podendo ser um indicador da existência de um fator latente de 2ª ordem. Esta interpretação é congruente com a existência de uma conceptualização do “sentimento de comunidade global” (Cicognani et al., 2008; Deutsch, Marcus, & Brazaitis, 2012; McMillan, 2011).
Assim, foi avaliado, na qualidade do ajustamento individual e relativamente ao modelo com estrutura fatorial de 1ª ordem, o modelo hierárquico de 2ª ordem com um fator latente de “sentimento de comunidade global” o qual podemos observar na Figura 1.
O modelo demonstra valores muito altos de correlação entre o fator latente de 2ª ordem e os constructos definidos, sendo os mais elevados nos constructos “Estatuto de Membro” e “Influência”, 0.98 e 0.97, respetivamente. O que indica que são estes constructos os que mais contribuem para o “sentimento de comunidade global” no nosso modelo. Os constructos “Integração e Satisfação de Necessidades” e “Relações Emocionais Partilhadas” contribuem com 0.92 e 0.90 respetivamente.
A análise de 1ª e 2ª ordem da estrutura fatorial da SCI-2 em adultos voluntários num contexto associativo e as respetivas propriedades psicométricas evidencia a existência das quatro dimensões teorizados por McMillan e Chavis (1986), tal como estudos anteriores com o SCI (Brodsky, 1996; Obst et al., 2002, 2002a,b; Obst & White, 2004). Os índices de ajustamento demonstram a necessidade de aperfeiçoamento pelo que consideramos que são necessários mais estudos sobre os itens envolvidos. Os itens Q10 e Q14 foram retirados por apresentarem pesos fatoriais inferiores aos indicados pela literatura como aceitáveis (.38 e .46, ambos menores que .50). Se atentarmos nas afirmações que os compõem e que passamos a descrever: “Q10 – O CNE tem símbolos e expressões de filiação, tais como roupas, sinais, arte, arquitetura, logótipos, pontos de referência e bandeiras que as pessoas conseguem reconhecer”; “Q14 – O CNE, enquanto comunidade, pode influenciar outras comunidades” e tendo em conta o contexto de estudo, podemos sugerir que no caso do item Q10, a existência de símbolos e expressões de afiliação são muito expressivas o que pode tornar redundante a presente afirmação. Já no caso do item Q14, seria interessante em estudos futuros explorar como é que este item é interpretado pelos respondentes.
O modelo que resultou do nosso estudo tem 22 itens estruturados em quatro componentes, conforme a escala original, sendo os itens 1 a 6 referentes à dimensão Integração e Satisfação de Necessidades, os itens 7, 8, 9, 11 e 12 referentes à dimensão Estatuto de Membro, os itens 13, 15, 16, 17, 18 relativos à dimensão Influência e os itens 19 a 24 relativos à dimensão Relações Emocionais Partilhadas (Tabela 4 e Tabela 5).
Discussão
No presente artigo apesenta-se um estudo das qualidades psicométricas da versão portuguesa da escala de sentimento psicológico de comunidade (SCI-2_PT), a partir da versão original de Chavis et al. (2008) aplicada a um contexto associativo, tendo sido realizada uma análise fatorial exploratória e uma confirmatória.
No que concerne à análise fatorial exploratória, o instrumento apresenta quatro dimensões fatorialmente distintas e que no seu total explicam 49.991% da variância da escala. Quanto à consistência interna dos constructos verifica-se que dois apresentam uma boa consistência interna e os remanescentes dois uma consistência interna moderada.
As correlações entre os quatro constructos revelam-se estatisticamente significativas, resultado que é coerente com a existência de uma conceptualização de um “sentimento de comunidade global” (Cicognani et al., 2008; Deutsch, Marcus, & Brazaitis, 2012; McMillan, 2011).
No seu conjunto a escala SCI-2 apresenta boas características métricas do ponto de vista da análise fatorial (KMO=.926; Eigenvalue 7.375; 1.948; 1.594; 1.081) e dos índices de ajustamento (χ2=757.722; χ2/df=3.696; CFI=.420; PCFI=0.372; GFI=.915; PGFI=.741 – modelo 2ª ordem) no entanto, para os constructos x e y, os itens Q.10 e Q14 demonstraram a necessidade de aperfeiçoamento pelo que consideramos que são necessários mais estudos em contextos associativos ou outros, por exemplo comunidades de base organizacional, geográfica ou virtual, mantendo os itens envolvidos uma vez que mudando o contexto os resultados podem variar (Tabela 6).
Quando comparada com outras escalas de sentimento de comunidade, a SCI-2 sendo o resultado de uma reflexão teórica e de sucessivas aplicações em diferentes contextos apresenta uma robustez considerável e congruente com o amplo debate em torno do desenvolvimento do conceito de sentimento de comunidade e da sua centralidade na compreensão aprofundada do papel que desempenha a ligação dos indivíduos à(s) sua(s) comunidade(s) (Abflater et al., 2012; Kenyon & Carter, 2011).
Esta escala tem a capacidade de ser aplicada e adaptada a contextos de natureza muito diversificada (Legg et al., 2015; Stringer & Traill, 2009) anteriormente referidas, os seus autores referiram o número de itens e a proximidade com os modelos mais recentes de sentimento de comunidade como algumas das vantagens da sua utilização. Considera-se assim importante o desenvolvimento de novas investigações, de forma a validar e confirmar os resultados obtidos, e, aferir se este instrumento representa uma mais-valia para a medição do conceito de Sentimento de Comunidade. Como indicado por Obst e White (2004): “O desenvolvimento de uma escala é uma tarefa onerosa que não ocorre em um único estudo” (p. 703). Outra proposta poderia ser o alargamento deste estudo a outros contextos associativos ou associações de âmbito escutista, nacionais e internacionais, no qual se poderiam estudar outras variáveis contextuais.
Concluindo, e respondendo ao repto de McMillan (2011) pensamos ser importante que como psicólogos comunitários nos desafiemos a nós próprios a repensar a forma como conceptualizamos, medimos e promovemos o sentimento de comunidade, tendo em conta a implementação de teorias multiculturais, compreendendo a importância dos múltiplos grupos dos quais somos membros, encorajando a construção de pontes e promovendo o capital social das nossas comunidades.
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A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Olga Oliveira Cunha, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Avenida de Berna, 26C, 1069-061 Lisboa, Portugal. E-mail: cunhaolgaoliveira@gmail.com
Este artigo é produto de parte da investigação realizada no âmbito do Doutoramento em Psicologia Aplicada.
Submissão: 03/01/2017 Aceitação: 04/07/2018