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Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231versão On-line ISSN 1646-6020

Aná. Psicológica vol.37 no.4 Lisboa dez. 2019

https://doi.org/10.14417/ap.1553 

Perfis de envolvimento relativo do pai e ajustamento social de crianças em jardim-de-infância

Profiles of father's relative involvement and children’s socio-emocional adjustment during preschool

Rita Amaral1, Lígia Monteiro2, Carolina Santos2

1ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa, Portugal

2ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, CIS-IUL, Lisboa, Portugal

Correspondência

 

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo identificar perfis de envolvimento relativo do pai, em diversas atividades relacionadas com o dia-a-dia da criança (cuidados e socialização), testando posteriormente se existiam diferenças, em função dos mesmos, para o ajustamento social das crianças. Participaram 283 famílias nucleares, com crianças em idade pré-escolar (139 rapazes). Foram identificados dois perfis: Perfil 1 – companheiros de brincadeira e Perfil 2 – cuidadores e companheiros de brincadeira. Os pais no Perfil 2 participavam significativamente mais em todas as atividades analisadas. Encontraram-se, ainda, diferenças em função das habilitações literárias de ambos os cuidadores (mais elevadas no Perfil 2) e das horas de trabalho dos pais (mais elevadas no Perfil 1). Para 94 destas crianças as educadoras descreveram o seu ajustamento social, tendo-se verificado que crianças cujos pais estão mais envolvidos nas atividades de cuidados e de socialização apresentavam valores mais baixos de retraimento social ansioso no grupo de pares. Os resultados sugerem a importância de se considerar quer a mãe, quer o pai, quando se desenham programas de promoção do bem-estar e ajustamento social das crianças.

Palavras-chave: Ajustamento social, Pré-escolar, Envolvimento relativo do pai.

 

ABSTRACT

The present study aimed to identify profiles of fathers on the basis of their Involvement in several activities (care and socialization) related to children’s daily life testing, subsequently, if there were differences in children’s social adjustment. Two-hundred and eighty-three nuclear families with preschool age children (139 boys) participated in the study. Two profiles were identified: Profile 1 – playmates; and Profile 2 – caregivers and playmates. The fathers in Profile 2 participated significantly more in all the analyzed activities. Differences were found between profiles regarding caregivers’ educational levels (higher in Profile 2), and fathers’ working hours (higher in Profile 1). For 94 of these children their social adjustment was described by the pre-school teachers. Children whose fathers were more involved in care and socialization activities (Profile 2) had lower scores of anxious social withdrawal behaviors in the peer group. The results support the need to consider both caregivers when planning programs to promote children’s well-being and adjustment.

Key words: Social adjustment, Pre-school, Relative father involvement.

 

Nas últimas décadas, profundas transformações sociais, económicas e políticas têm enquadrado a reorganização da estrutura e dinâmicas das famílias portuguesas. São exemplo disso a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho, e as políticas promotoras da igualdade de género na família que contribuíram para uma maior participação do pai na vida familiar e educação das crianças, desde os primeiros anos de vida (Wall et al., 2016). Atualmente, a sociedade portuguesa caracteriza-se pelas famílias de duplo rendimento, em que ambos os pais trabalham a tempo inteiro (89,5%), pelo que a educação das crianças ocorre num contexto de equilíbrio entre a vida familiar e emprego (European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions [Eurofound], 2017). Considerando, ainda, que Portugal é um dos países da Europa com uma das percentagens mais elevada de mães, com filhos pequenos, no mercado de trabalho (European Working Conditions Survey [EWCS] citado por Torres et al., 2018), os cuidados não maternos formais, desde os primeiros anos de vida, tornaram-se uma necessidade para as famílias portuguesas. Consequentemente, observou-se um aumento na procura/oferta de creches e jardins-de-infância, bem como da quantidade de crianças que frequenta este tipo de serviços (Wall et al., 2016). Adicionalmente, cerca de 80% das crianças portuguesas passam mais de 30 horas semanais, em contexto pré-escolar formal, o que sugere que a maioria do seu tempo diário é passada no jardim-de-infância, no âmbito do grupo de pares (Janta, 2014). Assim, a análise das competências e/ou dificuldades das crianças, desde os primeiros anos de vida, tem a escola como um dos ambientes privilegiados, e nesta, o grupo de pares e o contexto da brincadeira, podendo uma identificação precoce contribuir para a prevenção de potenciais dificuldades e desajustamentos futuros.

Nos anos pré-escolares a entrada no grupo de pares e o tornar-se socialmente competente são consideradas tarefas centrais do desenvolvimento social da criança (LaFreniere, 2010; Waters & Sroufe, 1983). Com a expansão dos contextos sociais, para além da família, emergem novos desafios e oportunidades que potencializam o desenvolvimento e aquisição de competências cognitivas e socio-emocionais (Rose-Krasnor & Denham, 2009; Waters & Sroufe, 1983). Espera-se, assim, que as relações com os pares se complexifiquem e que, gradualmente, as crianças se tornem socialmente mais competentes, sendo capazes de iniciar e manter interações positivas, coordenadas e sustentadas com os outros de um modo consistente (Coplan & Arbeau, 2009).

A competência social é definida como a capacidade do indivíduo coordenar de modo flexível afetos, comportamentos e cognições com vista a atingir os seus objetivos sociais, sem limitar (em excesso) as oportunidades dos pares para alcançarem os seus próprios objetivos; e sem constranger trajetórias desenvolvimentais que permitam a concretização de objetivos sociais futuros (Rose-Krasnor, 1997; Waters & Sroufe, 1983). Uma criança capaz de integrar estes aspetos, de modo eficaz, tende a ser considerada socialmente competente e aceite no grupo de pares, beneficiando de várias oportunidades de aquisição e desenvolvimento de competências que contribuem para o seu ajustamento atual e futuro (Rubin, Coplan, & Bowker, 2009). Modo geral, estas crianças tendem a apresentar melhores resultados em diversos domínios, como por exemplo: maior capacidade de regulação emocional (e.g., Denham et al., 2003), níveis mais elevados de auto-estima (e.g., Mota & Matos, 2013), relações de amizade de qualidade mais elevada (e.g., Blair et al., 2015), sucesso académico na idade escolar (e.g., Chen, Huang, Chang, Wang, & Li, 2010), bem como níveis de bem-estar pessoal, empregabilidade e saúde mental mais elevados na idade adulta (Jones, Greenberg, & Crowley, 2015).

Contrariamente, será expectável que as crianças que apresentem dificuldades nas relações com os seus pares possam não beneficiar das oportunidades e ganhos que destas advém (e.g., Rubin et al., 2009). A apresentação consistente de dificuldades em iniciar e manter interações com os pares, quer devido a comportamentos agressivos (movimentos contra os pares), quer de retraimento social (movimentos de afastamento dos pares), na infância acarreta maiores riscos de um desenvolvimento psicossocial menos saudável (Nagin, Barker, Lacourse, & Tremblay, 2008; Rubin & Burgess, 2002).

Normativamente, ao longo dos anos pré-escolares, os comportamentos agressivos tendem a diminuir resultado do desenvolvimento linguístico, cognitivo e socio-emocional das crianças integrado, também, no esforço de socialização realizado pelos seus cuidadores (Tremblay, 2004), pelo que será expectável que as crianças mais velhas sejam, por norma, classificadas como menos agressivas e mais socialmente competentes (Rubin et al., 2009). Diversos estudos (e.g., Cabrera, Fagan, Wight, & Schadler, 2011; Denham et al., 2003; Diener & Kim, 2004), incluindo com amostras portuguesas, utilizando medidas de observação e classificações das educadoras (e.g., Torres, Veríssimo, Monteiro, Ribeiro, & Santos, 2014; Vaughn et al., 2009) indicam que crianças mais velhas (quatro e cinco anos) são consideradas socialmente mais competentes e menos agressivas, comparativamente com as de 3 anos. Assim, quando comportamentos agressivos se mantêm como estratégia dominante nas interações com os outros, durante os anos pré-escolares, estas crianças iniciam trajetórias que as colocam em maior risco de dificuldades (concorrente e longitudinalmente), podendo contribuir inclusive para comportamentos antissociais e delinquência na adolescência (Nagin et al., 2008).

A agressividade é definida como um padrão persistente de comportamentos disruptivos e agressivos direccionado aos outros, estando, na sua maioria, associada a dificuldades de regulação emocional e inibição de impulsos, no pré-escolar (e.g., Reebye, 2005; Rubin, Chen, & Hymel, 1993). As crianças descritas como agressivas tendem a apresentar dificuldades na compreensão da perspetiva, sentimentos e intenções dos outros (Laurent et al., 2018), atribuindo intencionalidade hostil às acções dos pares, em situações sociais ambíguas, o que conduz a respostas agressivas (Rubin & Burgess, 2002), e a menos comportamentos pró-sociais (Laurent et al., 2018; Rubin et al., 1993). A literatura reporta diferenças em função do sexo da criança, indicando brincadeiras mais físicas, de lutas e disruptivas por parte dos rapazes, sendo por isso caracterizados como mais ativos e agressivos, comparativamente com as raparigas descritas como mais comunicativas, pró-sociais e cooperativas (Cillessen & Bellmore, 2004). Estas tendem, assim, a ser vistas pelas educadoras como socialmente mais competentes, e os rapazes como mais agressivos (Rubin et al., 2009), resultados tendencialmente replicados em amostras portuguesas (Santos, Peceguina, Daniel, Shin, & Vaughn, 2013; Torres et al., 2014).

Outro tipo de dificuldade social é o retraimento social ansioso que se caracteriza pela manifestação consistente de baixos níveis de interação e envolvimento da criança na presença de potenciais parceiros de brincadeira (i.e., pares), ao longo de diferentes contextos (e.g., Asendorpj, 1990; Coplan & Rubin, 2010). Estas crianças apresentam dificuldades em regular a ansiedade e o medo sentido, o que resulta frequentemente no evitamento ou retirada destas interações, mantendo-se à margem do grupo (Rubin & Barstead, 2018). Tendem, ainda, a minimizar e inibir as suas emoções, utilizando estratégias menos assertivas ao iniciar interações, sendo frequentemente ignoradas pelos pares (e.g., Santos et al., 2015). As suas dificuldades tornam-nas mais dependentes dos adultos (e.g., Coplan & Prakash, 2003), bem como parceiros de brincadeira pouco atrativos aos olhos dos pares, encontrando-se em maior risco de rejeição e vitimização, em particular após os anos pré-escolares (e.g., Rubin & Barstead, 2018; Rubin et al., 2009). Estas crianças tendem a manifestar de modo consistente e a longo prazo baixas competências sociais e relacionais, auto-estima negativa, sentimentos de solidão e inclusive depressão (e.g., Gazelle & Rudolph, 2004; Markovic & Bowker, 2017; Rubin et al., 2009). Contrariamente à agressividade são poucos os resultados que referem diferenças em função do sexo em termos da prevalência destes comportamentos (e.g., Diener & Kim, 2004), no entanto, as consequências parecem ser mais negativas para os rapazes, do que para as raparigas (Rubin et al., 2009; Santos et al., 2015).

 

O papel do pai no ajustamento social das crianças

Para além das características da criança que podem contribuir para o seu sucesso ou dificuldades sociais, a família como contexto natural e central de desenvolvimento nos primeiros anos de vida, deve ser considerada, em particular as relações cuidadores-criança. No âmbito das relações primárias a criança cria expectativas e padrões iniciais sobre como se deve comportar, e como funcionam as relações sociais, adquirindo neste contexto competências de base para iniciar e manter interações positivas e recíprocas com outros parceiros, fora da família (Bowlby, 1973; Lewis & Lamb, 2003). Tradicionalmente a investigação tem-se centrado na figura materna, tida como cuidadora primária. No entanto, a emergência social de um “novo pai” mais envolvido nos cuidados, sensível e afetuoso, tem conduzindo a um crescente interesse e análise do seu papel no desenvolvimento da criança (e.g., Lamb & Lewis, 2010; Monteiro, Veríssimo, Santos, & Vaughn, 2008; Pleck & Masciadrelli, 2004).

Segundo Parke (1996), na análise do envolvimento do pai nas rotinas e vivências da criança deve ser tida em consideração a sua variabilidade em termos de tempo, frequência ou qualidade, bem como o tipo de atividades a realizar (e.g., cuidados, brincadeira, ou de ensino), diferenciando-se os contextos e tipos de interação (e.g., Pleck & Masciadrelli, 2004). Estudos com famílias nucleares portuguesas (crianças em idade pré-escolar) indicam que a mãe continua a ser maioritariamente responsável pelos cuidados e tarefas de gestão e organização das rotinas da criança, enquanto na brincadeira, lazer ou em atividades de carácter mais lúdico os pais participam de modo igualitário (Afonso, Veríssimo, Fernandes, Borges, & Monteiro, 2011; Monteiro, Veríssimo, Santos, et al., 2008; Torres et al., 2014). Contudo, noutras amostras verifica-se que, são as mães que se encontram mais envolvidas nos cuidados e na brincadeira com os seus bebés (e.g., Fuertes, Faria, Beeghly, & Lopes-dos-Santos, 2016). Tal sugere que, embora o pai participe nos cuidados à criança, e segundo alguns autores (Torres et al., 2018; Wall et al., 2016) esteja mais envolvido comparativamente com gerações anteriores, este tem, ainda, um papel de apoio ou secundário face à figura materna.

O domínio e o papel frequentemente associados ao pai é o de parceiro de brincadeira, contexto no qual fornece suporte emocional, afetivo e de exploração ao ambiente (físico e social) que rodeia a criança (e.g., Grossmann et al., 2002). Na brincadeira do “pai”, comparativamente com os cuidados, predominam as interações de natureza mais física, rough-and-tumble, desafiantes e de estimulação (Cabrera, Tamis-LeMonda, Bradley, Hofferth, & Lamb, 2000; Grossmann et al., 2002; Lamb & Lewis, 2010). A relação pai-criança, para além da figura materna, parece contribuir para a construção de competências e estratégias que podem ser generalizadas e aplicadas a outras interações e relações (atuais e futuras) fora da família (e.g., Mcmunn, Martin, Kelly, & Sacker, 2017). Neste contexto as crianças aprendem, não só a explorar o ambiente, como a expressar e regular-se emocionalmente de modo adequado, competências estas essenciais para brincar de modo positivo com os pares (Leidy, Schofield, & Parke, 2013). A brincadeira controlada com e pela figura paterna, ensina-as a reconhecer os sinais, a respeitar os limites da zona de conforto do outro, e o que é considerado comportamento físico aceitável (Flanders et al., 2010). Por outro lado, o comportamento estimulante e desafiante do pai encontra-se associado a menores níveis de ansiedade, timidez e inibição comportamental, sendo que a mesma associação não surge para as mães (Möller, Nikoli, Majdand, & Bögels, 2016).

Alguns estudos indicam que crianças cujos pais se encontram regularmente envolvidos no seu dia-a-dia, em particular nas atividades de brincadeira e lúdicas, são mais competentes, sociáveis e disponíveis para estabelecer interações com os outros (Frascarolo, 2004; Macdonald & Parke, 1984). Estes efeitos parecem ir além do contexto de brincadeira, sendo que pais mais envolvidos nos cuidados às crianças tendem a ter filhos que apresentam menor frequência de problemas ao nível comportamental (Flouri, Midouhas, & Narayanan, 2016; Sarkadi, Kristiansson, Oberklaid, & Bremberg, 2008). Contrariamente, um menor envolvimento, juntamente com dificuldades dos pais em estabelecer limites em contexto de brincadeira, contribui para uma menor regulação emocional e maior agressividade nos anos pré-escolares (Flanders et al., 2010; Flanders, Leo, Paquette, Pihl, & Séguin, 2009). Segundo Gaumon e Paquette (2013) pais que passavam menos tempo com as crianças, trabalhavam mais horas semanais e utilizavam menos comportamentos desafiantes na interação, classificavam os seus filhos como tendencialmente mais inibidos e ansiosos. Em amostras portuguesas, Afonso et al. (2011) verificaram que o envolvimento paterno nas atividades de brincadeira se encontrava associado com valores mais elevados de competência social reportada pelo pai, enquanto a participação em atividades de ensino/disciplina e lazer no exterior se encontrava relacionada com a competência social descrita pela educadora.

Modo geral, os estudos tendem a apontar que um maior investimento e envolvimento positivo do pai se encontra diretamente e indiretamente relacionado com resultados positivos ao nível emocional, comportamental e social da criança (Cabrera et al., 2000; Flanders et al., 2009; Flouri et al., 2016). No entanto, existem ainda questões relativamente aos domínios específicos em que a participação do pai poderá ter maior impacto no bem-estar e ajustamento social da criança. Alguns estudos salientam o contexto de brincadeira (e.g., Flanders et al., 2009), e outros, as atividades recreativas de lazer e de ensino/disciplina (e.g., Kroll, Carson, Redshaw, & Quigley, 2016; Torres et al., 2014). Considerando que este é um período de particular importância para o desenvolvimento das competências sociais, torna-se relevante compreender de que modo a participação do pai relativa (à mãe) em contextos específicos será promotora do (des)ajustamento social da criança. Neste sentido, o presente estudo tem como primeiro objetivo identificar e caracterizar diferentes perfis de pais em função do seu envolvimento relativo em atividades de cuidados e socialização relacionadas com o dia-a-dia das crianças. De seguida, analisa-se se em função destes perfis existem diferenças no ajustamento social das crianças em contexto de jardim-de-infância.

 

Método

 

Participantes

Participaram neste estudo 283 famílias nucleares portuguesas, com crianças a frequentar o jardim-de-infância. Os pais tinham idades compreendidas entre os 21 e os 59 anos (M=37.65; DP=5.32), e as mães entre os 22 e os 50 anos (M=35.78; DP=4.64). As suas habilitações literárias variavam entre o primeiro ciclo e o ensino superior (Pais: M(anos)=12.90; DP=3.51; Mães: M(anos)=14.63, DP=3.39). 91% dos pais (M(horas)=40.89; DP=5.91) e 86% das mães trabalhavam (M(horas)=37.87; DP=6.15), estando os restantes desempregados. As crianças tinham entre os 3 e os 6 anos (M=52.71 meses; DP=8.72), 139 eram rapazes. 178 eram primogénitos e 161 tinham irmãos.

O ajustamento social foi descrito pelas educadoras das salas frequentadas por 94 destas crianças, com idades entre os 3 e 5 anos (M=49.75; DP=6.87), 49 eram rapazes. Destas crianças, 54 eram primogénitos e 58 tinham irmãos. As 28 educadoras tinham idades compreendidas entre os 25 e 52 anos (M=38.99; DP=7.11), todas com formação Universitária (35.1% licenciatura, 64.9% mestrado), variando os seus anos de serviço entre 1 e 26 anos (M=14.30; DP=6.75). As salas encontravam-se organizadas em função das idades das crianças. As famílias foram recrutadas a partir das escolas frequentadas pelos filhos (Instituições Particulares de Solidariedade Social e Escolas Particulares com fins lucrativos) no distrito de Lisboa.

 

Procedimento/instrumentos

O presente estudo foi conduzido de acordo com os padrões éticos da American Psychological Association e aprovado pela comissão de ética do ISCTE-IUL. Faz parte de um projeto mais amplo sobre as implicações do envolvimento do pai no desenvolvimento socio-emocional da criança. Todos os participantes foram informados dos objetivos principais do projeto, e assinaram um consentimento informado antes de qualquer recolha de dados. As mães preencheram o questionário dos dados sociodemográficos, e ambas as figuras cuidadoras descreveram o envolvimento parental referente ao total da amostra. Cada educadora descreveu o ajustamento social, em média, de cerca de 3 crianças a frequentar a sua sala de aula. Os questionários foram preenchidos no início do 3º período escolar.

 

Questionário de dados sociodemográficos. Visa a recolha de informação relativo aos pais (e.g., idade, habilitações literárias, estado civil, trabalho e horas de trabalho), à criança (e.g., idade, sexo) e à família (e.g., rendimento).

 

Escala de Avaliação do Comportamento e Competência Social (LaFreniere & Dumas, 1996; versão Portuguesa de Echeverría, Rocha, Leite, Teixeira, & Cruz, 2016). É originalmente constituída por 30 itens que remetem para padrões de regulação emocional, dificuldades de ajustamento das crianças e relações com os pares. Na adaptação de Echeverría et al. (2016) a estrutura da escala manteve-se, tendo os itens sido reduzidos a 15. Estes estão organizados em três dimensões: (1) competência social (5 itens) (e.g., trabalha/brinca facilmente em grupo); (2) agressividade (5 itens) (e.g., irritável, fica furioso/a com facilidade), e (3) retraimento social ansioso (5 itens), (e.g., inibido/a ou pouco à vontade no grupo). A educadora responde a cada item numa escala de 6 pontos que varia entre (1) Nunca e (6) Sempre. Os alfas de Cronbach para as dimensões da competência social (.82), agressividade (.81) e retraimento social ansioso (.73) revelaram valores de consistência interna aceitáveis.

 

Escala de Envolvimento Parental: Participação em atividades de cuidados e de socialização (Monteiro, Veríssimo, & Pessoa e Costa, 2008). Analisa a percepção que o pai (ou a mãe) tem acerca da sua participação relativa face à mãe (pai), na organização e realização de diferentes atividades relacionadas com a criança, e que ocorrem no dia-a-dia das famílias. Os 26 itens estão organizados em 5 dimensões: (1) cuidados diretos (5 itens), relacionados com tarefas de cuidados à criança, que implicam interação direta; (2) cuidados indiretos (7 itens) que remetem para tarefas de organização/planeamento das necessidades e rotinas da criança, não implicando necessariamente interação; (3) ensino/disciplina (5 itens) que remete mais para aspetos instrumentais, nomeadamente, o ensino de competências e o estabelecimento e cumprimento de regras; (4) brincadeira (5 itens) relacionados com diversas atividades de brincadeira mais tranquila/mediada por objetos; e outras mais físicas; (5) lazer no exterior (4 itens) remete para atividades realizadas com a criança fora de casa. O envolvimento é avaliado numa perspetiva relativa, ou seja, como é que as atividades são geridas ou partilhadas em relação à outra figura parental. É pedido ao pai/mãe que responda a cada item numa escala de 5 pontos: Sempre a mãe (1); Tanto a mãe como o pai (3); Sempre o pai (5), pensando apenas na criança alvo (que participa no estudo). Os valores mais elevados representam uma maior participação do pai, relativa à mãe. Através dos coeficientes de correlação intra-classe (ICC) verificou-se que todas as dimensões apresentam valores altos ou muito altos de concordância entre pai e mãe (ICC>.60). Assim, foi calculado um valor compósito através da média das respostas de mãe e pai utilizado nas análises seguintes. Os alfas de Cronbach alcançaram valores aceitáveis nos cuidados diretos (.71), cuidados indiretos (.69), ensino/disciplina (.67), brincadeira (.65) e lazer no exterior (.67).

 

Plano de análises

Começou por se analisar a amostra no seu total, calculando-se as estatísticas descritivas do ajustamento social das crianças e do envolvimento relativo do pai, tendo-se de seguida analisado as associações entre estas variáveis e a informação sociodemográfica dos participantes, testado diferenças em função do sexo da criança e por e.g., ser ou não primogénito. Analisou-se, ainda, as associações entre as variáveis do ajustamento social e do envolvimento. De seguida, e com vista à identificação de perfis de pais, com base no envolvimento relativo nas atividades analisadas, utilizou-se o método de agrupamento não-hierárquico (k-means) de modo a otimizar a distribuição dos participantes pelos perfis. As diferenças entre os perfis foram analisadas através da análise multivariada de variância (MANOVA), e de análises univariadas de variância (ANOVAS). Foram, ainda, analisadas diferenças entre os perfis em função de variáveis sociodemográficas dos cuidadores. Por último, recorrendo a MANOVA e ANOVAS foi analisado o ajustamento social das crianças em função dos diferentes perfis de envolvimento relativo do pai.

 

Resultados

As três dimensões utilizadas para analisar o ajustamento social da criança (competência social, agressividade e retraimento social ansioso) foram medidas com base na perceção das educadoras das salas, frequentadas pelas crianças, que responderam a cada item numa escala de tipo Likert (entre 1 e 6), onde valores médios mais elevados representam a maior frequência de padrões de comportamento associados a essa dimensão. Para o envolvimento relativo do pai, os cuidadores responderam numa escala em que o 1 indica que é sempre a mãe a realizar as atividades, o 3 que há uma partilha igualitária entre cuidadores, e o 5 que é sempre o pai. Os resultados indicam que, em média, há uma participação tendencialmente igualitária nas atividades de socialização, e que nas atividades de cuidados é tendencialmente quase sempre a mãe a realizá-las. Os valores das medidas descritivas são apresentados no (Quadro 1).

 

 

De modo a testar a existência de diferenças em função do sexo da criança realizaram-se ANOVAS para todas as variáveis do ajustamento social e do envolvimento relativo do pai. Foram encontradas diferenças significativas para a dimensão da competência social [F(1,92)=9.97, p<.01; η²=0.10), onde as raparigas (M=4.36, DP=1.01) apresentam valores superiores ao rapazes (M=3.64, DP=1.20); e para a agressividade [F(1,92)=6.49, p=.01; η²=0.07], em que os rapazes (M=2.38, DP=1.06) têm valores mais elevados do que as raparigas (M=1.93, DP=.63). Não foram encontradas diferenças significativas no retraimento social ansioso [F(1,92)=.03, p=.86]. Para o envolvimento relativo do pai não foram encontradas diferenças em nenhuma das dimensões: cuidados diretos [F(1,281)=.82, p=.37]; cuidados indiretos [F(1,281)=1.21, p=.27]; ensino/disciplina [F(1,281)=2.05, p=.15]; brincadeira [F(1,281)=.28, p=.60], e lazer no exterior [F(1,281)=9.97, p<.01].

De seguida, com base nas correlações de Pearson, analisaram-se as associações entre as variáveis de ajustamento social da criança e os dados sociodemográficos. Encontrou-se uma correlação positiva e significativa entre a competência social e a idade da criança [r(94)=.28, p=.01, r2=.08], e negativa e significativa com as horas de trabalho da mãe [r(90)=-.23, p=.03, r2=.05]. Para as dimensões do envolvimento paterno as correlações com os sociodemográficos são apresentadas no Quadro 2.

 

 

Por último, testaram-se as associações bi-variadas entre o envolvimento relativo do pai e o ajustamento social da criança. Apenas se obteve uma correlação negativa e significativa entre o ensino/disciplina e a agressividade [r(94)=-.25, p=.01, r2=.06], ou seja, quando os pais estão mais envolvidos neste domínio as crianças apresentam valores mais baixos de agressividade, descritos pelas educadoras.

Com o objetivo de identificar perfis de envolvimento relativo do pai e otimizar a distribuição dos participantes em cada cluster realizou-se uma análise de agrupamento não-hierárquico (k-Means). Foram identificados dois perfis de envolvimento com base na participação do pai nas diferentes atividades já identificadas: Perfil 1 – pais companheiros de brincadeira (n=83); Perfil 2 – pais cuidadores e companheiros de brincadeira (n=200) (Figura 1).

 

 

O eixo X representa os contextos do envolvimento relativo do pai, e o eixo Y as médias numa escala de 5 pontos. As linhas ilustram as médias do envolvimento relativo em cada domínio.

Foi encontrado um efeito multivariado significativo entre os dois perfis de envolvimento relativo do pai e as atividades em que estes participam [Pillai’s Trace=.63, F(5,277)=94.86, p<.001, η2p=.63]. Análises univariadas indicam a existência de diferenças significativas entre os perfis de envolvimento para as cinco atividades, com os pais no Perfil 2 (cuidadores e companheiros de brincadeira) a apresentarem valores significativamente superiores aos pais no Perfil 1 em todas as atividades de socialização, e em particular nas de cuidados (Quadro 3).

 

 

Com vista a melhor caracterizar os perfis de pais testou-se se estes se diferenciavam em função das suas habilitações literárias e do trabalho (número de horas). Existem diferenças significativas para as habilitações literárias da mãe [F(1,279)=3.92, p<.05; η²=.01], com o Perfil 2 a apresentar valores mais elevados (M=14.89, DP=3.32), comparativamente com o Perfil 1 (M=14.01, DP=3.51); e para as habilitações dos pais [F(1,278)=13.93, p<.001; η²=.05], com o Perfil 2 (M=13.38, DP=3.39) a apresentar valores mais elevados, comparativamente com o Perfil 1 (M=11.69, DP=3.53). Adicionalmente, foram encontradas diferenças em função do número de horas de trabalho do pai [F(1,251)=4.26, p=.04; η²=.02], em que os pais do Perfil 1 (M=42.16, DP=6.80) trabalham, em média, mais horas do que os pais do Perfil 2 (M=40.44, DP=5.50). Não se encontraram diferenças significativas em função do número de horas de trabalho das mães [F(1,243)=.04, p=.84].

Por último, foram analisadas as diferenças no ajustamento social das crianças em função dos diferentes perfis de envolvimento relativo do pai, controlando o sexo da criança. Embora não se tenha encontrado um efeito multivariado [Pillai’s Trace=.07, F(3,87)=2.21, p=.09, η2p=.07], existe um efeito univariado para a dimensão do retraimento social ansioso [F(1,93)=4.53, p=.04, η2p=.05]. Crianças cujos pais estão mais envolvidos em atividades de cuidados e de socialização apresentam níveis mais baixos de retraimento social ansioso, do que crianças cujos pais estão essencialmente envolvidos nas atividades de socialização (Quadro 4).

 

 

 

Discussão

A participação do pai na vida familiar, e em particular nos cuidados à criança, tem vindo a tornar-se um tópico de interesse não só na área das ciências sociais, mas também ao nível societal e dos decisores políticos. A crescente integração das mulheres no mercado de trabalho e uma aproximação dos papéis de género, com a visão de um pai mais tradicional a dar (progressivamente) lugar a um pai mais cuidador e ativamente envolvido, desde os primeiros anos de vida da criança (Wall et al., 2016), conduziu a um crescente interesse sobre o seu impacto no ajustamento e bem-estar dos filhos (e.g., Lamb & Lewis, 2010). No entanto, diversas questões permanecem em aberto, por e.g., sobre o tipo de contextos e atividades que poderão ser mais relevantes, e se estas divergem em função do outcome estudado na criança, em particular, nos anos pré-escolares onde os pais parecem assumir um papel como parceiros de interação mais saliente (e.g., Lafreniere, 2010). Durante estes anos, a maioria das crianças passa uma parte significativa do seu tempo diário em cuidados não maternos/paternos, pelo que a análise precoce de competências e/ou dificuldades sociais no contexto do grupo de pares (jardim-de-infância) poderá permitir uma intervenção atempada e adequada, prevenindo dificuldades futuras.

O presente estudo teve, assim, como objetivo identificar e caracterizar perfis de pais (em famílias nucleares) com base no seu envolvimento relativo em atividades de cuidados e de socialização relacionadas com as rotinas diárias da criança e família. Visou-se, posteriormente, analisar se o ajustamento social das crianças, descrito pelas educadoras, variava em função destes perfis. Foi possível identificar dois perfis de pais: o primeiro denominado de companheiro de brincadeira – caracterizado por pais que estão pouco envolvidos nos cuidados e que, tendencialmente, partilham as atividades de socialização, em particular as de brincadeira. O segundo denominado de cuidadores e companheiros de brincadeira – são pais que estão envolvidos em ambos os domínios, partilhando as atividades de socialização e tenden cialmente as atividades de cuidados. Comparativamente, estes dois perfis apresentam diferenças em todas as dimensões analisadas, com os pais no Perfil 2 a estarem mais envolvidos nas cinco atividades analisadas, inclusivamente na brincadeira.

Os resultados sugerem a diversidade dos tipos e níveis de participação e envolvimento dos pais nas rotinas do dia-a-dia da criança/família, sendo indicadores desta progressiva mudança nos papéis do pai (e.g., Wall et al., 2016), no sentido de uma participação mais ativa, que vai além das dimensões do provedor, disciplinador ou de “parceiro de brincadeira”. Reforçam, ainda, a ideia de que o envolvimento do pai é multidimensional, pelo que há que considerar os diversos contextos e rotinas, de modo a melhor compreender o impacto do seu envolvimento nas dinâmicas familiares e no desenvolvimento da criança (e.g., Parke,1996; Pleck & Masciadrelli, 2004).

Verificou-se, ainda, que o Perfil 2 (pais cuidadores e companheiros de brincadeira) se carac teriza por cuidadores com habilitações literárias mais elevadas comparativamente com o Perfil 1. Estes resultados tendem a ir ao encontro de outros estudos com amostras portuguesas (e.g., Monteiro et al., 2010; Monteiro, Fernandes, Torres, & Santos, 2017; Torres et al., 2014). Sugere-se que pais com habilitações mais elevadas não só têm uma visão mais igualitária sobre os papéis de género (Wall et al., 2016), como procuram obter maior conhecimento sobre seu impacto no desenvolvimento dos filhos, envolvendo-se mais em todos os aspectos da sua vida, comparativamente com pais com habilitações mais baixas (e.g., Tamis-Lemonda, Shannon, Cabrera, & Lamb, 2004). Por outro lado, mães com habilitações literárias mais elevadas tendem a investir mais na sua carreira profissional, podendo desejar e incentivar um maior envolvimento do pai, em particular, nas atividades de gestão e organização de cuidados (e.g., Monteiro, Veríssimo, Castro, & Oliveira, 2006).

Relativamente ao trabalho (horas de trabalho), os pais no Perfil 1 (companheiros de brincadeira) trabalham em média mais horas, comparativamente com os pais no Perfil 2, não se verificando, contudo, diferenças significativas em função das horas de trabalho das mães. Uma carga laboral mais elevada poderá ser um desafio para um maior envolvimento do pai, em particular durante a semana e em atividades que impliquem rotinas e horas mais regulares para serem realizadas (e.g., dar banho, refeições, deitar), limitando as oportunidades de interação (e.g., Monteiro et al., 2017; Yeung, Sandberg, Davis-Kean, & Hofferth, 2001).

Finalmente, testou-se a existência de diferenças no ajustamento social das crianças, descrito pelas educadoras das salas, em função dos perfis de envolvimento relativo do pai. Verificou-se que crianças cujos pais estão mais envolvidos – cuidadores e companheiros de brincadeira – (Perfil 2) apresentam valores mais baixos de retraimento social ansioso, comparativamente com as crianças de pais no Perfil 1 – companheiros de brincadeira. Esta dificuldade social caracteriza-se por comportamentos de retirada social, com baixos níveis de interação e envolvimento da criança aquando na presença de potenciais parceiros de brincadeira, estando associadas a sentimentos de ansiedade e medo sentidos em situações sociais (Asendorpj, 1990; Coplan & Rubin, 2010; Rubin & Barstead, 2018). Tal sugere que, pais mais envolvidos em diversas atividades e rotinas do dia-a-dia da criança têm filhos que apresentam menores dificuldades ao nível social e comportamental (e.g., Flouri et al., 2016; Frascarolo, 2004; Sarkadi et al., 2008). Em amostras portuguesas, Afonso et al. (2011), reportaram associações positivas e significativas entre o envolvimento na brincadeira e valores mais elevados de competência social reportada pelo pai, enquanto a participação em atividades de ensino/disciplina e lazer se encontravam associadas à competência social descrita pela educadora.

Em estudos futuros, há que analisar não só a participação nos diferentes tipos de atividades/domínios, mas também a qualidade dos comportamentos parentais (pai e mãe) de modo a melhor compreender o impacto do papel do pai, e as suas especificidades, no desenvolvimento da criança (Lamb, 2010; Leidy et al., 2013; Parke, 1996; Pleck, 2010). Möller et al. (2016) reportaram associações entre o comportamento desafiante e característico do pai no contexto de brincadeira e menores níveis de ansiedade, timidez e inibição das crianças. Dever-se-á, ainda, procurar diversificar as características sociodemográficas das famílias, nomeadamente, ao nível da sua tipologia (e.g., monoparentais, divorciados), e do seu estatuto socioeconómico. Embora a inclusão de medidas de observação, e.g., ao nível dos comportamentos dos cuidadores seja aconselhável, saliente-se que este estudo utilizou fontes independentes de informação para as diferentes variáveis. Quer mães, quer pais reportaram de modo independente o envolvimento relativo permitindo, dado os valores da ICC, criar uma medida compósita utilizada nas análises, e as educadoras das salas reportaram o ajustamento social das crianças.

Os resultados obtidos, neste estudo, são um contributo para a caracterização do papel do pai e do seu impacto no ajustamento social da criança, sustentando a importância da inclusão ativa e participativa dos pais (para além das mães) aquando do delineamento de programas parentais e de promoção do bem-estar da criança (Cabrera et al., 2011; Flouri et al., 2016; Gaumon & Paquette, 2013).

 

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CORRESPONDÊNCIA

A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Lígia Monteiro, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, CIS-IUL, Avenida das Forças Armadas (Ala Autónoma, gabinete 101), 1649-026 Lisboa, Portugal. E-mail: ligia.monteiro@iscte-iul.pt

 

Este trabalho teve o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) em Portugal, enquadrado no financiamento PEST (UID/PSI/03125/2013).

 

Os autores gostariam de agradecer a colaboração das escolas através das quais as famílias foram recrutadas, e a todos os pais, mães e educadoras que participaram e tornaram possível este estudo.

 

Submissão: 13/03/2018 Aceitação: 21/06/2019

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