Serviços Personalizados
Journal
Artigo
Indicadores
- Citado por SciELO
- Acessos
Links relacionados
- Similares em SciELO
Compartilhar
Revista de Ciências Agrárias
versão impressa ISSN 0871-018X
Rev. de Ciências Agrárias v.33 n.1 Lisboa jan. 2010
Avaliação biogeoquímica dos solos e do medronheiro na área mineira da Panasqueira
B. Godinho1, M.M. Abreu1 & M.C. Magalhães2
1 Dept. Ciências do Ambiente. Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa (UTLisbon), Tapada da Ajuda 1399-017 Lisboa, bertagodinho@gmail.com, manuelaabreu@isa.utl.pt;
2Dept. Química e CICECO. Universidade de Aveiro, Campos de Santiago, 3810-193 Aveiro, mclara@ua.pt
RESUMO
As Minas da Panasqueira são uma das mais importantes minas em laboração em Portugal. Ao longo de 100 anos de exploração de tungsténio, cobre e estanho produziram-se resíduos que foram amontoados à superfície, em escombreiras, provocando impactos ambientais elevados. Este trabalho teve como objectivo o estudo biogeoquímico da envolvente das Minas da Panasqueira através da avaliação de solos e plantas de medronheiro (Arbutus unedo L.). Os solos apresentam-se contaminados (mg kg-1) em As (922), Cd (3), Cu (215), Pb (77), W (138) e Zn (260). Nas plantas, apenas o cádmio ocorre em concentrações médias (1,53 mg kg-1) acima do limite tolerável pela generalidade das plantas, no entanto, nenhuma planta apresentava sinais de toxicidade. O medronheiro parece ser tolerante às elevadas concentrações totais e da fracção disponível (solução DTPA) desses elementos nos solos, podendo por isso, ser usado em programas de fitoestabilização e para aproveitamento dos frutos com o objectivo de produzir aguardente.
Palavras-chave: fitoestabilização, medronheiro, Panasqueira, solos contaminados, tungsténio.
Biogeochemistry evaluation of soils and arbutus trees in the Panasqueira mine area
ABSTRACT
Panasqueira mine is one of the most important mines in Portugal. Over the last century exploration of tungsten, copper and tin has contributed to produce many waste materials that constitute tailings with huge dimensions generating high visual and chemical impacts. The objective of this work was to study the biogeochemical impact of mining on the soils and arbutus trees (Arbutus unedo L.) in this area.
Soils developed on waste materials or hosted rocks are contaminated with (mg kg-1) As (922), Cd (3), Cu (215), Pb (77), W (138) and Zn (260). In plants, cadmium is the only element that exceeded the vegetation tolerant limit, but none of the sampled plants showed visual signs of toxicity. Arbutus tree seems to be tolerant to the high soil concentrations (total and available fraction) of the hazardous elements. Therefore arbutus trees can be used in phytostabilization as a soil remediation strategy. Further studies could also allow the use of their fruits for alcohol production.
Key-words: contaminated soils, Panasqueira, phytostabilization, arbutus tree, tungsten.
INTRODUÇÃO
Um grande número de metais e metalóides são essenciais na construção das tecnologias modernas e, muitos deles, têm estado associados ao desenvolvimento da civilização. Depósitos de minérios contendo aqueles elementos químicos, concentrados e confinados a alguns locais da crusta terrestre, têm sido explorados desde a antiguidade, embora com maior intensidade nos dois últimos séculos, sem que, na maioria dos casos, tivessem sido tomadas medidas para minimizar impactos ambientais. A extracção, transformação e uso destes elementos químicos tem levado, frequentemente, à sua dispersão no ambiente. Assim, na actualidade existem áreas consideráveis que foram afectadas pela extracção e processamento de minérios e que por isso se apresentam contaminadas.
Em Portugal existem cerca de 200 explorações mineiras abandonadas, onde são bem patentes as feridas deixadas na paisagem, como consequência da extracção e tratamento do minério e em que a contaminação dos solos e águas subsistiu até aos nossos dias (Oliveira et al., 2002). Na actualidade, apenas duas explorações mineiras estão activas: as Minas de Neves Corvo situadas na Faixa Piritosa Ibérica e as Minas da Panasqueira, na zona centro do País.
As Minas da Panasqueira situadas na vertente sul da cordilheira montanhosa da Serra da Estrela, numa zona económica e socialmente deprimida da Beira Interior, são as maiores produtoras de concentrados de tungsténio da Europa (Cavey & Gunning, 2006). Nestas minas são ainda explorados, mas em menor proporção, cobre e estanho. A extracção do minério tem ocorrido ao longo dos últimos 100 anos, durante os quais os resíduos produzidos foram sendo espalhados à superfície, em escombreiras de grande volumetria, provocando elevados impactos paisagísticos e químicos. Os materiais constituintes das escombreiras mais recentes das Minas da Panasqueira contêm concentrações médias (mg kg-1) muito elevadas de vários elementos ambientalmente gravosos (As: 7142, Cd: 56, Cu: 2501, Pb:172, Sn: 679, W: 5400, Zn: 1689) (Ávila et al., 2008). Estas escombreiras influenciam a qualidade das águas e dos sedimentos da ribeira do Bodelhão que também apresentam valores muito elevados daqueles elementos (Ávila et al., 2008).
A transferência solo-planta dos elementos através, sobretudo de absorção radicular, faz parte do ciclo químico natural dos elementos (Kabata-Pendias, 2004). No entanto, a análise da biodisponibilidade dos mesmos elementos nos solos permite avaliar a existência de risco ambiental e o consequente risco para a saúde pública, por exemplo, se a absorção dos elementos por parte das plantas for excessiva, ou por contaminação das águas superficiais e subterrâneas. A avaliação da biodisponibilidade dos elementos é também um dos factores a considerar na possibilidade de implementação eficiente de programas de fitoestabilização das áreas contaminadas.
Assim, este trabalho teve como objectivo o estudo biogeoquímico da envolvente das Minas da Panasqueira, usando como espécie vegetal, o medronheiro (Arbutus unedo, L.) para possível aproveitamento na produção de aguardente de medronho e em futuros programas de fitoestabilização.
MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização da área de estudo
As Minas da Panasqueira localizam-se no centro de Portugal, no distrito de Castelo Branco, ocupando o couto mineiro cerca de 19 km2. A boca da mina e as infraestruturas de exploração e processamento do minério situam-se na aldeia da Barroca Grande, a uma altitude média de cerca de 700 m.
Geotectonicamente as Minas da Panasqueira enquadram-se na Zona Centro-Ibérica e integram uma das províncias metalogénicas estano-volfrâmicas mais importantes da Europa, o denominado Arco de Estanho (Barroqueiro, 2005). Na área dominam os Xistos das Beiras que são atravessados por filões de quartzo mineralizados. Estes filões contêm um grande número de minerais incluindo volframite, cassiterite e calcopirite em quantidades económicas e por isso são explorados (Thadeu, 1951). O sulfureto mais abundante é a arsenopirite estando também presentes em quantidades assinaláveis pirite, blenda e pirrotite (Corrêa de Sá et al., 1999).
A topografia da zona é irregular, com declives acentuados (entre 9 e > 25 %), havendo por isso o predomínio de solos delgados, embora nos vales mais largos ocorram solos aluvionares.
Solos e plantas
Para a realização deste trabalho procedeuse à colheita, a jusante da aldeia da Barroca Grande, em meados de Abril de 2007, de amostras de solo e de medronheiro (Arbutus unedo L.). Esta espécie vegetal foi escolhida por ser abundante no local, apresentar um bom desenvolvimento vegetativo e ser uma das primeiras plantas a colonizar os solos desenvolvidos sobre as escombreiras. Segundo o Plano de Ordenamento Florestal da Beira Interior (DGRF, 2005) o medronheiro é uma das plantas com enquadramento possível na zona da Serra da Estrela, uma vez que sendo uma espécie tipicamente mediterrânica com elevada capacidade de resistência aos fogos é considerada de importância no panorama de ordenamento e enriquecimento florestal. Este arbusto constitui muitas vezes uma fonte de rendimento complementar pela produção de aguardente através da fermentação alcoólica dos seus frutos.
Colheram-se sete amostras de solos, das quais uma de referência, correspondendo a um solo não contaminado (PAN 1S), desenvolvido sobre xistos. Cinco amostras (PAN 2S, PAN 4S, PAN 5S, PAN 6S, PAN 7S) correspondem a solos desenvolvidos sobre escombreiras ou sobre rochas de substrato influenciadas pelas águas de escorrência de escombreiras. A amostra (PAN 3S) foi colhida na superfície de inundação na margem esquerda da ribeira do Bodelhão. As amostras de solos correspondem à camada superficial (10-15 cm de profundidade). Os solos, com excepção da amostra PAN 3S, foram recolhidos na zona da rizosfera dos medronheiros, cujas folhas e raminhos foram também colhidos.
Métodos
Os solos (fracção ≤2 mm) foram caracterizados relativamente aos parâmetros seguintes: pH (H2O) por potenciometria (relação solo:água de 1:2,5 (m/v); capacidade de troca catiónica (CTC) e catiões de troca (método de acetato de amónio a pH 7; análise granulométrica (Póvoas & Barral, 1992); fósforo e potássio assimiláveis (Égner et al., 1960); azoto mineral (Keeney & Nelson, 1982); carbono orgânico total (Tinsley, 1956); alumínio de troca (método do cloreto de potássio, Póvoas & Barral, 1992); oxi-hidróxidos de ferro (totais e não cristalinos) (De Endredy, 1963; Schwertmann, 1964, respectivamente); óxidos de manganês (Chao, 1972).
Determinaram-se as concentrações totais de 48 elementos químicos (Laboratórios Actlabs, Canadá, http://www.actlabs.com/), por ICP/OES ou INAA após digestão com quatro ácidos (HCl, HNO3, HClO4 e HF). A fracção disponível dos elementos vestigiais (metais e arsénio) foi extraída com DTPA 0,005 M (Lindsay & Norvell, 1978) e as soluções de DTPA foram analisadas por ICP (Laboratório Central de Análises, Universidade de Aveiro).
As folhas e raminhos do medronheiro foram lavadas abundantemente com água corrente e no final com água destilada, secas em estufa a 60 ºC, moídas e enviadas para o Laboratório Actlabs, onde após redução a cinzas e digestão ácida (HNO3 e H2O2) foram analisados 60 elementos químicos, por leitura em ICP/MS. Todas as análises foram feitas em duplicado, com excepção das análises ao conteúdo elementar total nos solos e nas plantas, sendo o controlo analítico feito nos Laboratórios Actlabs.
O tratamento estatístico básico foi realizado no programa Excel do Windows, versão Microsoft Office Excel 2003.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Solos
Nos Quadros 1 e 2 apresentam-se os parâmetros de caracterização dos solos (pH (H2O), análise granulométrica, carbono orgânico total, Fe nos oxi-hidróxidos de ferro (totais e não cristalinos), Mn nos óxidos de manganês, CTC, catiões de troca, P e K assimiláveis e N mineral).
Quadro 1 -Caracterização dos solos na área mineira da Panasqueira pH, granulometrica, C orgânico total, Fe nos oxi-hidróxidos de ferro (cristalinos e não cristalinos) e Mn nos óxidos de manganês
Quadro 2 -Características dos solos CTC, catiões de troca, P e K assimiláveis e N mineral.
Os solos apresentam pH em geral ácido (3,83 5,84) e textura franco-limosa. A maioria das amostras de solos tem valores de CTC (12,9 32,7 cmolc kg-1) considerados favoráveis à instalação de vegetação, os quais se podem atribuir em grande parte aos teores elevados de carbono orgânico (28,7 79,1 g kg-1). No geral, os solos apresentam valores baixos de alumínio de troca (0,12 0,59 cmolc kg-1), azoto mineral e fósforo assimilável, mas elevados valores de potássio assimilável. Todas as amostras apresentam valores muito elevados de óxidos de Fe totais (somatório das fracções cristalina e não cristalina), ocorrendo o claro domínio dos óxidos de Fe cristalinos relativamente aos óxidos de Fe não cristalinos. Os valores de óxidos de Mn são bastante variáveis de solo para solo (0,038 g kg-1 , PAN 1S e 1,71 g kg-1, PAN 3S).
No Quadro 3 apresentam-se os estatísticos básicos, na fracção ≤2 mm dos solos, para o Al, As, Cd, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb, W e Zn. Dos 48 elementos determinados, estes foram seleccionados pela sua importância do ponto de vista da exploração mineira e por se apresentarem em quantidades significativas. Apesar do Sn ser um dos três metais (W, Cu e Sn) explorados nas Minas da Panasqueira não consta do Quadro 3 por os valores nos solos serem inferiores ao limite de detecção do aparelho analítico, que no Laboratório Actlabs é relativamente alto (ld = 100 mg Sn kg-1).
Quadro 3 Estatísticos básicos da composição química total (fracção ≤2 mm) dos solos (n=7). Concentração dos elementos expressa em mg kg-1, com excepção do Al, Fe e Mn em g kg-1 .
Embora os solos apresentem valores elevados de Al e Fe, essas concentrações estão de acordo com os valores médios considerados normais para xistos, as rochas de substrato na zona de estudo. As concentrações em Mn nos solos desenvolvidos sobre escombreiras (PAN 4S, 6S e 7S) e no solo colhido no leito da ribeira (PAN 3S) ultrapassam os valores considerados normais para a crusta terrestre (Ferreira, 2004).
Os solos podem considerar-se contaminados pois que os valores totais (média em mg kg-1) de Cu (215), Zn (260), Cd (2,9) As (922) e Pb (77) ultrapassam os valores máximos admissíveis (VMA) segundo a Legislação Portuguesa (Decreto-Lei n.º118/2006) e Canadiana (CCME, 1997) (Quadro 3). O tungsténio apresenta um valor médio de 137,86 mg kg-1 que é muito superior à gama de valores (0,5 83 mg kg-1) considerados normais nos solos pela Agency for Toxic Substances Disease Registry (2005). O mesmo se passa para o Cu, As, e Pb, em que os valores considerados normais no solo (1 60 mg Cu kg-1 e 5 9 mg As kg-1, Varennes, 2003; 0,17 29 mg Pb kg-1, Kabata-Pendias & Pendias, 2001) são, em média, largamente ultrapassados. As concentrações de Ni, apesar de elevadas quando comparadas com os valores máximos admissíveis nos solos, estão dentro dos valores médios para xistos (70 mg kg-1), correspondendo por isso ao fundo geoquímico da região.
No Quadro 4 apresentam-se os estatísticos básicos referentes à fracção disponível (extraída com DTPA) de alguns elementos químicos nos solos.
Quadro 4 -Estatísticos básicos referentes à fracção disponível dos elementos químicos nos solos (n=7) (extracção com DTPA) da Panasqueira. Concentração dos elementos em mg kg-1 .
A fracção disponível dos elementos relativamente ao teor total dos mesmos nestes solos (Figura 1) varia consoante o elemento, sendo relativamente importante para o cobre e zinco (10,85 e 10,35 %, respectivamente), baixa para o manganês (2,71 %), chumbo (1,85 %) e tungsténio (1,04 %) e muito baixa para o alumínio (0,61 %), ferro (0,51 %) e arsénio (0,45 %).
Figura 1 Relação percentual entre o conteúdo da fracção disponível (DTPA) e o conteúdo total de alguns elementos químicos no solo.
A baixa percentagem relativa de As na forma disponível é indicação da sua baixa perigosidade ambiental. Tal facto, deve-se, provavelmente, às elevadas concentrações de óxidos e hidróxidos de ferro (Quadro 1) nestes solos, que são apontados como sendo bastante eficazes na imobilização deste metalóide, em particular os óxidos e hidróxidos de Fe não cristalinos (El Khatib et al., 1984). Também o tungsténio associado à sua baixa solubilidade se apresenta, relativamente à sua concentração total nos solos, pouco disponível, não constituindo, aparentemente, perigo ambiental. A baixa disponibilidade do Pb pode estar associada quer aos os óxidos de ferro (Brown et al., 2005), quer aos óxidos de manganês (Adriano, 1986), embora estes ocorram em menor concentração nestes solos (Quadro 2).
Medronheiro
A descrição estatística da concentração total de elementos químicos nos raminhos e folhas do medronheiro (A. unedo) consta do (Quadro 5).
Quadro 5 -Descrição estatística da concentração total de elementos químicos nos raminhos e folhas do medronheiro (Arbutus unedo) colhidas na área mineira da Panasquiera. Concentração dos elementos em mg kg-1 .
As amostras de medronheiro contêm valores de Ni considerados normais para as plantas (0,1 5 mg kg-1, Kabata-Pendias & Pendias, 2001), com excepção da amostra PAN 5M que contêm 13 mg Ni kg-1 . As concentrações de W e Fe nas plantas analisadas estão abaixo do limite de detecção do aparelho analítico (0,5 mg kg-1 e 100 mg kg1, respectivamente). Este facto parece indicar que esta espécie, pelo menos em relação ao tungsténio, não absorve ou transloca este elemento, por ocorrer em valores muito baixos (relativamente ao total, Figura 1) na fracção disponível ou por esta espécie poder ser exclusora relativamente ao tungsténio.
A concentração de Pb na parte aérea desta espécie vegetal, encontra-se dentro da gama dos valores de referência para as plantas (0,1 10 mg kg-1, Kabata-Pendias & Pendias, 2001). No caso do As, esta espécie arbustiva parece ser tolerante aos elevados teores totais deste elemento nos solos (média 922 mg kg-1), pois a translocação para a parte aérea é baixa (máximo 2 mg kg-1). De facto, embora a relação da fracção disponível/total de As seja baixa (0,45 %), o valor absoluto de ambas (Quadros 3 e 4) ultrapassa os valores considerados tóxicos para a maioria das plantas (25 100 mg kg-1 para o As total e 2 mg kg-1 para o As solúvel no extracto de saturação, Srivastava & Gupta, 1996). O valor máximo de As ocorre na amostra PAN 2M, correspondente ao solo situado numa vertente declivosa com influência das águas de escorrência da escombreira mais recente. No entanto, nesta amostra ocorre o mais baixo valor de As total (158 mg kg-1) e da fracção disponível (0,66 mg kg-1) dos solos analisados, o que indica que tal acumulação na planta poderá dever-se à absorção do As a partir das águas de escorrência da escombreira. O facto de o elemento não ficar retido no solo é função da sua elevada mobilidade e ainda à posição topográfica que o solo ocupa.
O manganês apresenta na espécie analisada, valores inferiores aos considerados tóxicos para a maioria das plantas (500 mg kg-1 , Kabata-Pendias & Pendias, 2001). O valor médio de Cd (1,53 mg kg-1) no medronheiro ultrapassa a gama de valores considerados toleráveis pelas culturas (0,05 0,2 mg kg-1 , Kabata-Pendias & Pendias, 2001), ocorrendo o máximo valor (4,94 mg kg-1) na amostra PAN 5M, apesar do solo correspondente não ser o que contém maior teor total do elemento. Tal facto, deve estar associado à absorção do elemento pela planta a partir das águas de lixiviação da escombreira, situada acima do local de colheita, e que atravessam o solo PAN 5S. Estas águas deverão conter teores elevados deste elemento. Apesar da elevada concentração de Al (média 47,5 g kg-1) nas amostras de solo e na fracção disponível (média 310 mg kg-1), não ocorrem valores muito elevados nas plantas (média 116 mg kg-1), estando em regra dentro da gama (50 200 mg kg-1) indicada por Srivastava & Gupta (1996).
Nas plantas amostradas os teores de Cu (média 2,63 mg kg-1) são inferiores aos considerados tóxicos para as plantas (> 20 mg kg-1), estando mesmo abaixo dos valores considerados suficientes ou normais (5 30 mg kg-1) (Kabata-Pendias & Pendias, 2001). Ocorrem nas plantas valores relativamente elevados de Zn (média 155 mg kg-1), com um máximo na amostra PAN 5M de 570 mg kg-1 que é superior ao valor observado para a mesma amostra de solo (235 mg kg1), indicando capacidade de acumulação deste elemento na planta. No entanto, as plantas de medronheiro não apresentavam nem sinais de toxicidade relativamente ao Zn ou ao Cd, nem de deficiência relativamente ao Cu.
CONCLUSÕES
Os solos da envolvente das Minas da Panasqueira apresentam-se contaminados, como resultado da exploração mineira passada e actual, devido à acumulação dos resíduos do processamento do minério em escombreiras. No entanto, as percentagens relativas dos elementos na forma disponível em relação ao conteúdo total dos mesmos no solo são, no geral, baixas, podendo indicar, a curto prazo, perigosidade ambiental relativamente reduzida. O medronheiro coloniza os solos contaminados desenvolvidos sobre a rocha de substrato e as escombreiras, apresentando um bom desenvolvimento vegetativo. A concentração dos elementos vestigiais na parte aérea da planta é muito baixa pelo que parece ser uma espécie tolerante aos elevados valores desses elementos no solo podendo ser usado em programas de fitoestabilização das escombreiras. Além disso, como os raminhos e as folhas do medronheiro apresentam concentrações baixas de elementos químicos perigosos para a saúde humana, os seus frutos poderão ser aproveitados para o fabrico de aguardente. No entanto, estes devem ser objecto de análise química futura e, caso esta tendência seja comprovada, poderá ser possível a execução de um projecto de implementação de uma destilaria de aguardente de medronho. Esta seria construída pela Junta de Freguesia de São Francisco de Assis e Barroca Grande, com o objectivo de rentabilizar um produto local e a criação de novos postos de trabalho, numa zona tão necessitada a nível económico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agency for Toxic Substances and Disease Registry 2005. Toxicological Profile for Tungsten. U.S. Department of Health Service. Disponível em: http://www.atsdr.cdc.gov/toxprofiles/tp186.pdf. Acesso em: 10/2007.
Ávila, P. F., Ferreira da Silva, E., Salgueiro, A.R. & Farinha, J. A. 2008. Geochemistry and mineralogy of mill tailings impondments from the Panasqueira Mine (Portugal): implications for surrounding environment. Mine Water and the Environment, 27:210224.
Barroqueiro, M. 2005. O declínio de Centros Mineiros Tradicionais no Contexto de uma Geografia Industrial em Mudança As Minas de Aljustrel e da Panasqueira. Tese de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local. Lisboa.
Brown, S., Christensen, B., Lombi, E., McLaughlin, M., McGrath, S., Colpaert, J. & Vangronsveld, J. 2005. An inter-laboratory study to test the ability of amendments to reduce the availability of Cd, Pb, and Zn in situ. Environmental Pollution, 138: 34-45.
Cavey, G. & Gunning, D. 2006. Panasqueira Mine Distrito de Castelo Branco, Portugal. Updated Technical Report. Primary Metals Inc. Orequest. Castelo Branco.
CCME Canada Council of Ministers of the Environment 1997. Canadian Environmental Quality Guidelines for the protection of environmental and human health Winnipeg.
Chao, T. T. 1972. Selective dissolution of manganes oxides from soils and sediments with acidified hydroxylamine hydrochloride. Soil Science Society of America, 36: 762768.
Corrêa de Sá, A., Naique, R. & Edmundo A. 1999. As Minas da Panasqueira: 100 anos de história mineira. Boletim das Minas, 36 (1): 3-22. [ Links ]
Decreto-Lei n.º118/2006. Diário da República, I Série-A n.º 118 de 21 de Junho de 2001: 4380-4388.
De Endredy, A.S. 1963. Estimation of free iron oxides in soils and clays by photolytic methods. Clay Mineralogy Bulletin, 9: 209-217.
DGRF, 2005. Plano Regional de Ordenamento Florestal Beira Interior Norte. Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas.
Égner, H, Riehm, H. & Domingo, W.R. 1960. Untersuchhungen uber die chemiche boden: Analyse als grundlage fur die beurteilung der nahrston ffzustandes der boden. II. Chemiche extraktions, metehoden zur phosphor, und kaliumbestimmung. Kungl. Lantbrukshoegst, 26: 199-215.
El Khatib, E. A., Banner, O. L. & Wright, R. J. 1984. Arsenite sorption and desorption in soils. Soil Science Society of American Journal, 48: 1025-1030.
Ferreira, M. I. 2004. Atlas Geoquímico dos Solos de Portugal Continental. Tese de Doutoramento. Universidade de Aveiro, Departamento de Geociências. Aveiro.
Kabata-Pendias, A. 2004. Soil-plant tranfer of trace elements an environmental issue. Geoderma, 122: 143-149.
Kabata-Pendias, A. & Pendias, H. 2001. Trace Elements in Soils and Plants. 3rdedition.CRC Press. Boca Raton. FL. 431 pp.
Keeney, D. R. & Nelson, D. W. 1982. Nitrogen. Inorganic forms. In, A. L. Page (ed.) Methods of Soil Analysis. Part 2. Chemical and Microbiological Properties.2nd ed. Soil Science of América, Madison, USA.
Lindsay, W.L. & Norvell, W.A. 1978. Development of DTPA soil test for zinc, iron, mangenese and copper. Soil Science Society of America Journal, 42: 421-428.
Oliveira, J. M. S., Farinha, J., Matos, J. X., Ávila, P., Rosa, C., Canto Machado, M. J. Daniel, F. S., Martins, L. & Machado Leite, M. R. 2002. Diagnóstico ambiental das principais áreas mineiras degradadas do País. Boletim das Minas. Lisboa, 39 (2): 67-85. [ Links ]
Póvoas, I. & Barral, M.F. 1992. Métodos de Análise de Solos. Série de Ciências Agrárias. Instituto de Investigação Cientifica Tropical. Ministério do Planeamento e da Administração do Território, Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia. Lisboa.
Schwertmann, U. 1964. Differenzierung der eisenoxides des bodens. Planzenernährung Dϋngung Bodenkund, 105 (3): 194-202.
Srivastava, P. C. & Gupta, U. C. 1996. Trace elements in crop prodution. Science Publishers, Inc. USA.
Thadeu, D. 1951. Geologia do Couto Mineiro da Panasqueira. Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, 32: 5-64. [ Links ]
Tinsley, J. 1956. The extraction of organic Science. Paris. 541-546. matter from soils with formic acid. Tran-Varennes, A. 2003. Produtividade dos Solos sactions International Congress of Soil e Ambiente. Escolar Editora, Lisboa.