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Revista de Ciências Agrárias
versão impressa ISSN 0871-018X
Rev. de Ciências Agrárias vol.41 no.2 Lisboa jun. 2018
https://doi.org/10.19084/RCA17267
ARTIGO
Quebra de dormência em sementes de Brachiaria brizantha (Hochst. ex A. Rich.) Stapf
Breaking dormancy in Brachiaria brizantha (Hochst. ex A. Rich.) Stapf seeds
Ronaldo S. Vela1, Lia M. Moterle2*, Renato F. Santos2, Carolina Chichanoski3 e Alessandro L. Braccini4
1 Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de Agronomia (Unicampo), Unidade de Jussara, 87230-000, Jussara, Brasil
2 Planejamento e Consultoria Agrícola, 87175-000, Itambé, Brasil
3 Unicesumar, 87050-900, Maringá, Brasil
4 Departamento de Agronomia, Universidade Estadual de Maringá (UEM), 87.020-900, Maringá, Brasil
(*E-mail: lmoterle@hotmail.com)
RESUMO
A dormência de sementes de Brachiaria brizantha é responsável pela irregularidade e baixo estande em campos de produção. A natureza, intensidade e persistência deste fenómeno não está suficientemente elucidada. Este trabalho objetivou avaliar métodos para quebra de dormência de sementes de duas cultivares de Brachiaria brizantha, tratadas ou não com fungicidas carboxina (20,0% m/v) + tiram (20,0% m/v). O estudo foi conduzido em esquema fatorial 2 x 4 x 2 (cultivares x tratamentos para quebra da dormência x ausência e presença de fungicida). As cultivares testadas foram a MG-5 e Marandu. Os quatro tratamentos para quebra de dormência consistiram na escarificação com ácido sulfúrico (H2SO4 98%, 36 N) durante 10 e 15 minutos, tratamento com água à temperatura ambiente média de 21,7ºC, além da testemunha. As sementes foram avaliadas em ensaios de germinação aos 7 e 21 dias (final do ensaio). O tratamento de sementes com fungicida não teve efeito positivo na quebra de dormência e na percentagem de germinação das cultivares MG-5 e Marandu. As sementes das duas cultivares reagiram de modo muito distinto aos pré-tratamentos.
Palavras-chave: germinação, qualidade fisiológica, forrageira.
ABSTRACT
The seed dormancy of Brachiaria brizantha is responsible for the lack
of uniformity and low booth production fields. The nature, intensity and persistence
of this phenomenon are not sufficiently elucidated. The objective of this work was
to evaluate methods for overcoming seed dormancy of two cultivars of Brachiaria
brizantha, whether or not they were treated with fungicides - carboxin (20.0%
m/v) + tiram (20,0% m/v). The study was conducted in factorial scheme 2 x 4 x 2
(cultivars x treatments to overcome dormancy x without and with fungicide). The
cultivars tested were MG-5 and Marandu. The four treatments for rupture of dormancy
consisted of scarification with sulfuric acid (H2SO4 98%,
36N) during 10 and 15 minutes, treatment with water at room temperature of 21.7
ºC, besides the control. Seeds were evaluated in germination trials at 7 and 21
days (end of trial). The treatment of seeds with the fungicides had no positive
effect on dormancy and percentage of germination of 'MG-5' and 'Marandu' cultivars.
The seeds of the two cultivars reacted very differently to the pre-treatments.
Keywords:
germination, physiological quality, forage.
INTRODUÇÃO A expansão das áreas de pastagens cultivadas com
espécies do género Brachiaria (Trin.) Griseb. tem aumentado no Brasil, quando
comparada com outras forrageiras, e vem ganhando espaço, principalmente por serem
rústicas, permitindo adaptação às mais variadas condições, tanto de clima, quanto
de solo (Valle, 1990; Lima et al., 2015). O género Brachiaria (Trin.)
Griseb., Poaceae forrageira de origem africana, inclui mais de 100 espécies. No
Brasil destacam-se com expressão forrageira as espécies: Brachiaria brizantha
(Hochst. ex A. Rich.) Stapf, B. decumbens Stapf., B. humidicola (Rendle)
Schweick. e B. ruziziensis (Germ. & Evrard) Ndab. (Machado et al.,
2010). Tais forrageiras desempenham
papel primordial na produção de carne e de leite no Brasil, por viabilizarem a pecuária
em solos ácidos e fracos, predominantes nos cerrados brasileiros (Karia et al.,
2006). Além de sua expressão e importância na alimentação animal e sistemas integrados
lavourapecuária, a Brachiaria se destaca como pastagem perene nos sistemas
agrícolas, como cobertura vegetal para o plantio direto e tem sido uma importante
ferramenta para a diversificação de sistemas de produção agrícola (Machado et
al., 2011). Esta forrageira apresenta um valor nutritivo satisfatório e alta
quantidade de produção por hectare, até 20 toneladas por ano (Munhoz et al.,
2009). Atualmente, o Brasil é o maior
produtor e exportador de sementes do género Brachiaria com valor cultural
de 80%, para cerca de 40 países (Lasca et al., 2004; Dias e Alves, 2008;
Cardoso et al., 2014; Carvalho et al., 2015). No entanto, diversos
autores (Martins e Silva, 2003; Munhoz et al., 2007, 2009; Lima et al.,
2015) referiram que, em especial, as sementes da espécie Brachiaria brizantha
apresentam dificuldades no seu processo de germinação, apresentando irregularidade
na maturação, na desgrana e na dormência, cuja natureza, intensidade e persistência
não são ainda suficientemente conhecidas. Carvalho et al. (2015) referem
também dificuldades na germinação das sementes de B. brizantha devido à sua
dormência, o que acaba por prejudicar o estabelecimento uniforme das plantas. Aqueles
autores salientam que a baixa taxa de germinação de sementes é comum em espécies
forrageiras, e sementes viáveis não germinam, mesmo quando submetidas a condições
ambientais consideradas favoráveis, sendo as mesmas classificadas como dormentes
(Taiz e Zeiger, 2004). Neste contexto,
há necessidade de pré-tratamentos para quebra de dormência das sementes (Marcos
Filho, 2005) que contribuam para uma germinação rápida e uniforme. Diferentes pré-tratamentos
podem ser utilizados para quebrar a dormência de sementes, designadamente tratamentos
térmicos e escarificação química ou mecânica (Marcos Filho, 2005). Segundo Lima
et al. (2015), a maioria dos trabalhos realizados para a quebra de dormência
de sementes de braquiária mencionam o tratamento químico, com imersão das sementes
em ácido sulfúrico, como o mais usual. Conforme Marcos Filho (2005), o mesmo é utilizado
por promover a permeabilidade do tegumento à água e às trocas gasosas. Para Cardoso
et al. (2014), a expressão da dormência estará associada a causas físicas,
provavelmente relacionadas a restrições impostas pela cobertura da semente (lema,
pálea, pericarpo e tegumento) à entrada de oxigénio e causas fisiológicas presentes
em sementes recém-colhidas, progressivamente suprimidas durante o armazenamento. Silva et al. (2014) referem
que as espécies do género Brachiaria possuem um tegumento duro e impermeável
que pode limitar os mecanismos de embebição e germinação. Diversos trabalhos demonstraram
que a escarificação reduziu a dormência de sementes e apresentou efeitos positivos
na germinação (Munhoz et al., 2009; Santos et al., 2011; Chiodini
et al., 2013; Silva et al., 2014). Silva et al. (2014) constataram
ainda que o pré-tratamento das sementes com H2SO4 afetou o
tegumento com aumento significativo da taxa de germinação. Todavia, o ácido sulfúrio
apresenta riscos para os trabalhadores e meio ambiente e, além disso, pode causar
danos às sementes (Lima et al., 2015). Contudo, Cardoso et al. (2014) verificaram que a escarificação química
com ácido sulfúrico, apesar de ser um método eficaz para a quebra de dormência de
sementes, as mesmas ficam mais suscetíveis aos processos que levam a deterioração
durante o armazenamento. Pires (1992) também sugeriu que, para sementes de B.
brizantha, não é indicado o tratamento com H2SO4 se as
mesmas tiverem baixo vigor ou forem armazenadas por um período superior a seis meses.
Assim, pressupõe-se que existem condições e características nas cultivares em que
o ácido sulfúrico, apesar de ser indicado pela RAS (Brasil, 2009), nem sempre seja
o ideal na quebra de dormência das sementes. Além das características morfológicas
das sementes de determinadas cultivares que possam estar associadas a diferentes
respostas ao pré-tratamento com ácido sulfúrico, os autores Garcia e Cicero (1992)
e Cardoso et al. (2014), elencaram outros fatotes importantes, tais como:
o sistema de produção, as condições edafoclimáticas, o processamento da semente,
as condições e tempo de armazenamento e o vigor inicial das sementes. Deste modo, entre as diversas técnicas apontadas
pela RAS (Brasil, 2009) a utilização da água aquecida ou em temperatura ambiente,
conforme demonstrado por Montório et al. (1997) pode proporcionar resultados
satisfatórios na quebra de dormência de sementes de Brachiaria podendo, até
mesmo, substituir a escarificação ácida das mesmas. Além de todas as afirmativas aqui apontadas, em relação à importância
dessa forrageira para a economia brasileira, bem como a quantidade de espécies e
técnicas empregues para facilitar a quebra de dormência das sementes de B. brizantha,
torna-se necessário enfatizar o emprego de fungicidas, buscando avaliar os efeitos
destes no processo de quebra da dormência e germinação das sementes Quando presentes
nas sementes, diversos fungos podem provocar redução do seu poder germinativo, diminuindo
sua qualidade e seu valor comercial (Lasca et al., 2004). Dias e Toledo (1993)
observaram que os fungicidas aplicados sobre as sementes escarificadas contribuíram
para uma melhor germinação e para a redução na ocorrência de microrganismos. Perante os pressupostos, objetivou-se, neste trabalho,
avaliar métodos para a quebra da dormência de sementes de duas cultivares de B.
brizantha tratadas ou não com fungicida. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido entre
os meses de agosto a setembro de 2016, no Laboratório de Tecnologia de Sementes
do Centro Universitário Uningá em Maringá, Estado do Paraná com sementes das cultivares
MG-5 e Marandu de Brachiaria brizantha. Os tratamentos foram distribuídos em esquema fatorial 2 x 4 x 2
(duas cultivares x quatro pré-tratamentos para a quebra da dormência x ausência
e presença de fungicida). A metodologia
utilizada para quebra de dormência consistiu nos seguintes procedimentos: i) imersão
das sementes em H2SO4 concentrado (98%, 36N), durante 10 e
15 minutos, seguida de lavagem em água corrente por 5 minutos. Em seguida as sementes
foram secas sobre folhas de papel-toalha, por 24 horas; ii) imersão das sementes
em água destilada a temperatura de 21,7ºC, durante 24-h, seguida de secagem sobre
folhas de papel-toalha, por uma hora; e iii) Testemunha: foram utilizadas sementes,
sem qualquer acondicionamento. O substrato de germinação foi umedecido com água
destilada a temperatura ambiente média de 21,7ºC. Após o pré-tratamento para a quebra de dormência, metade das sementes
das duas cultivares foram tratadas com o fungicida sistémico e de contato para tratamento
de sementes do grupo químico carboxanilida (carboxina, 20,0% m/v) e tetramethylthiuram
disulfide (tiram, 20,0% m/v), produto técnico Vitavax-Thiram 200 SC®,
na dose de 3 mL 100 kg-1 de sementes. Procedeu-se, então, à avaliação da germinação das sementes. No ensaio-padrão
de germinação, quatro subamostras de 50 sementes de cada tratamento foram acondicionadas
em caixas plásticas (gerbox), contendo duas folhas de papel mata-borrão, previamente
umedecidas com água destilada, 2,5 vezes o peso do substrato seco. Em seguida, as
sementes foram levadas para câmaras de germinação do tipo Mangelsdorf, regulados
à temperatura constante de 25±2ºC. O substrato foi reumedecido com água destilada,
sempre que necessário. As porcentagens de germinação foram obtidas pela contagens
aos 7 e 21 dias após a instalação do ensaio. Foram consideradas como germinadas
as sementes que originaram plântulas normais, de acordo com as prescrições contidas
nas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009), sendo os resultados expressos
em porcentagem. O delineamento experimental
adotado foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições por tratamento. Os
dados foram submetidos à análise de variância e o teste F foi conclusivo na comparação
das médias de cultivares e uso ou não do fungicida. As médias dos diferentes tratamentos
para quebra da dormência foram comparadas pelo teste de Tukey, em nível de 5% de
probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos revelaram efeitos significativos sobre
a interação cultivar x tratamentos para a quebra de dormência x tratamento com fungicida
para todas as variáveis resposta. Isso significa haver diferenças quando realizado
o desdobramento desses três fatores. Nos Quadros 1 e 2 apresenta-se a germinação observada, sete dias após a instalação
do ensaio, nas sementes das duas cultivares de braquiária, tratadas ou não com fungicida,
sob efeito de quatro pré-tratamentos para a quebra da dormência. Verificou-se que houve diferenças significativas
na porcentagem de germinação entre as cultivares de B. brizantha nos diferentes
tratamentos testados (Quadro 1). Tanto na ausência como na presença do tratamento
de sementes com o fungicida a cultivar Marandu apresentou maior percentagem de
plântulas normais na primeira contagem em relação à MG-5, no tratamento testemunha
e, no pré-tratamento com imersão das sementes em H2O durante 24-h. Enquanto
que, a MG-5 se sobressaiu, em relação à Marandu, nos tratamentos com ácido sulfúrico.
Estes resultados evidenciam diferenças morfológicas nas sementes das cultivares
testadas que interferem na quebra da dormência, o que está de acordo com Silva et
al. (2014). Presume-se que tais diferenças devem estar associadas ao tamanho,
a forma, a presença e comprimento dos pêlos, assim como a presença de nervuras nas
glumas inferior e superior, bem como a composição química dos invólucros e da própria
semente. Entretanto, na literatura são escassos os dados de comparação entre cultivares
de B. brizantha, uma vez que a maioria dos trabalhos avalia a quebra de dormência
de uma cultivar isoladamente (Garcia e Cícero, 1992). Há que enfatizar também, a
carência de informações científicas a respeito das características morfológicas
específicas das sementes desta gramínea, bem como suas diferenças. Observou-se ainda que o tratamento das sementes com fungicida
não influenciou positivamente a qualidade fisiológica das sementes, obtida por meio
da percentagem de plântulas normais na primeira contagem (Quadro 2). Esses resultados
discordam dos estudos de Marchi et al. (2006), quando mencionam que o tratamento
das sementes com fungicida proporciona a otimização e obtenção de estande, bem como
de Dias e Toledo (1993), quando os mesmos afirmam que o emprego de fungicidas contribuiu
para a redução da ocorrência de microrganismos, facilitando a interpretação do ensaio
e as contagens das sementes. Segundo Carvalho et
al. (2015), o tratamento de sementes com fungicidas protege as sementes no seu
desenvolvimento inicial e influência no seu poder germinativo. Entretanto, pelos
resultados obtidos neste estudo verificou-se que as sementes que passaram previamente
por processos para a quebra de dormência, o fungicida provavelmente provocou toxicidade
nas sementes, refletindo-se negativamente sobre a qualidade fisiológica das mesmas.
Esse fato está de acordo com os resultados de Marchi et al. (2006) que também
observaram fitotoxicidade provocada por fungicidas aplicados nas sementes da cultivar
Marandu. Diferenças significativas
entre os tratamentos utilizados para a quebra de dormência, para cada cultivar avaliada,
também foram observadas (Quadro 2). A cultivar MG-5 apresentou maior porcentagem
de germinação (55,5%), quando não foi tratada com fungicida e em relação aos outros
tratamentos para quebra de dormência, quando foi submetida ao tratamento com ácido
sulfúrico durante 15-min. Do mesmo modo, na comparação dos tratamentos para a quebra
da dormência, a cultivar Marandu destacou-se na germinação na primeira contagem
quando não foi realizado o tratamento de sementes com fungicida (53,5%) apenas no
tratamento com imersão das sementes em água. Por estes resultados fica evidente
que o tratamento com H2SO4 (98%, 36N) durante 15-min influenciou
positiva e significativamente a germinação das sementes da cultivar MG-5. Estes
resultados corroboram os observados por outros autores (Silva et al., 2014;
Lima et al., 2015) quando verificaram que a aplicação de H2SO4
proporcionou aumento significativo na germinação de sementes de braquiária. Anteriormente,
Munhoz et al. (2009) já tinham constatado que a utilização de ácido sulfúrico
na quebra de dormência de sementes de B. brizantha cv. MG-5 acelera o crescimento
inicial da radícula e da parte aérea e não prejudica o desenvolvimento da biomassa
das plântulas. Contudo, neste estudo o ácido sulfúrico não foi tão eficiente na
quebra de dormência de sementes da cultivar Marandu. Para a cultivar Marandu
o tratamento com água destilada foi o mais indicado para a quebra de dormência de
sementes (42,5-53,5%), observado na percentagem de plântulas normais na primeira
contagem. Nessa mesma comparação, o tratamento com ácido sulfúrico durante 10-min
proporcionou as menores porcentagens, ou seja, 5,0 e 8,0% de plântulas normais,
em sementes tratadas ou não com fungicida, respectivamente. Segundo Montório et
al. (1997) as sementes de Marandu são mais sensíveis no que se refere à quebra
de dormência. Cardoso et al. (2014) verificaram que o ácido sulfúrico pode
acarretar em deterioração, em decorrência das sementes ficarem mais suscetíveis,
quando expostas ao produto. Provavelmente, devido ao ácido sulfúrico ser considerado
um ácido mineral forte, o mesmo pode ter danificado parte da estrutura física das
sementes da cultivar Marandu, e ter comprometido o seu desenvolvimento. Contudo,
não foi encontrado suporte na literatura para justificar a maior sensibilidade desta
cultivar a quebra de dormência. Nos
Quadros 3 e 4 apresentam-se os resultados da percentagem de germinação no final
do ensaio. A germinação das sementes da cultivar MG-5 foi significativamente superior
ao observado na cultivar Marandu, com os pré-tratamentos com o ácido sulfúrico,
tanto na ausência como na presença do fungicida (Quadro 3). A cultivar Marandu,
entretanto, apresentou maior porcentagem de germinação que a MG-5, no tratamento
testemunha e quando as sementes foram imersas na água durante 24-h. Esse fato também evidencia a existência de diferenças
morfológicas nas cultivares estudadas (Garcia e Cicero, 1992 e Lima et al.,
2015), as quais influenciam na resposta à quebra de dormência. Deve-se salientar que no final do ensaio houve expressiva taxa de germinação
das sementes, nas duas cultivares (Quadro 4). Do mesmo modo que ao 21º dia após
a instalação do ensaio (Quadro 4), com exceção do tratamento com água durante 24
h, a porcentagem de germinação não foi influenciada pela aplicação de fungicida
nas sementes, das duas cultivares. Tais resultados discordam dos descritos no trabalho
de Lasca et al. (2004), no qual o uso de fungicida nas sementes de Brachiaria
possibilitou melhoria no processo de quebra de sua dormência. Resultados contraditórios
também foram encontrados por Marchi et al. (2006), em trabalho conduzido
com a cultivar Marandu. Os autores observaram benefícios do tratamento de sementes
com fungicidas na germinação e estabelecimento de plantas utilizando-se tratamento
de sementes com fungicidas. Entretanto, destaca-se, que na maioria dos trabalhos
relatados na literatura, os fungicidas são aplicados em sementes que não passaram
por processos de quebra de dormência. Segundo Dias e Toledo (1993), o ácido sulfúrico
provoca assepsia das sementes, reduzindo o potencial de inóculo dos fungos presentes
nas sementes. Deste modo, provavelmente, diante do que foi testado no presente estudo,
devido às sementes ficarem mais sensíveis após os tratamentos para a quebra de dormência,
o fungicida utilizado possivelmente causou toxicidade às sementes, inviabilizando
seu uso nessas condições. Os tratamentos mais expressivos
no tocante à quebra de dormência na ausência do fungicida para a MG-5 foi o tratamento
com H2SO4 (98%, 36N) durante 15-min. (Quadro 4). Porém, na
presença do tratamento das sementes com o fungicida este mesmo tratamento não apresentou
diferenças significativa, em relação aos tratamentos com H2SO4
(98%, 36N) durante 10-min. e H2O durante 24 h, para essa mesma cultivar.
Neste contexto, é possível afirmar que o uso de ácido sulfúrico possibilitou maior
êxito nessas condições, especificamente para a cultivar MG-5. Provavelmente, por
ser considerado um poderoso agente oxidante, o qual destrói com facilidade tecidos
vegetais como celulose e hemicelulose, este ácido facilitou a quebra de dormência
das sementes desta cultivar. O método
de escarificação com ácido sulfúrico tem sido utilizado principalmente em sementes
que tem dificuldade em permeabilização à água, pois algumas apresentam envoltórios
que evitam ou retardam a germinação (Ellis et al., 1985). Segundo Cardoso
et al. (2014), em B. brizantha, a expressão da dormência se associa
a causas físicas, provavelmente relacionadas a restrições impostas pela cobertura
da semente (lema, pálea, pericarpo e tegumento) à entrada de oxigénio e causas fisiológicas
presentes em sementes recém-colhidas, progressivamente suprimidas durante o armazenamento.
Com relação a esse fenómeno, Popinigis (1977) afirmou, também, que a impermeabilidade
ao oxigénio é encontrada em muitas espécies de gramíneas, e, acrescentou ainda,
que determinadas estruturas, tais como pericarpo, tegumento e mesmo paredes celulares,
restringem as trocas gasosas. Os
resultados obtidos no presente estudo estão de acordo com Santos et al. (2011)
e Silva et al. (2014) os quais observaram que, em condições semelhantes a
este ensaio, a escarificação em ácido sulfúrico permite que ocorra maior eficiência
na quebra de dormência das sementes de B. brizantha. Para Silva et al.
(2014) com a utilização do acido sulfúrico a germinação da Brachiaria
ocorre em menor tempo. Lima et al. (2015), também observaram que o ácido
sulfúrico foi superior na quebra da dormência das sementes da cultivar MG-5, quando
comparado ao tratamento térmico e KNO3. Ainda, conforme relatado por
Lima et al. (2015), o fato das sementes do género Brachiaria apresentarem
dificuldades nos mecanismos de embebição e germinação devido ao seu tegumento duro
e impermeável, pode ser contornado com o emprego de tratamentos químicos. Assim,
é possível mencionar que os melhores resultados, neste momento, foram proporcionados
com a utilização do ácido sulfúrico, visto que o mesmo proporcionou incremento na
porcentagem de germinação, decorrente do fato da escarificação química ter eliminado
o impedimento físico à entrada de água e gases nas sementes. Na cultivar Marandu, a maior porcentagem de germinação
foi observada com o tratamento das sementes emergidas em H2O durante
24 h. É válido mencionar, ainda, que não houve diferença significativa na comparação
entre ausência e presença do fungicida, em todos os métodos utilizados na quebra
da dormência da cultivar Marandu. Entretanto, o tratamento em H2SO4
(98%, 36N) durante 10 min foi o que apresentou menor percentagem de germinação comparativamente
aos outros tratamentos. Por essa análise, notou-se que a escarificação restringiu
o período médio de germinação das sementes da cultivar Marandu. Estes resultados
discordam dos observados por Carvalho et al. (2015) em estudo similar, em
que a utilização de ácido sulfúrico (98%, 36N) foi eficiente na quebra da taxa de
dormência em sementes de B. brizantha cv. Marandu. Também, são contraditórios
aos resultados encontrados por Gaspar-Oliveira et al. (2008), os quais verificaram
que a escarificação de sementes da cv. Marandu com H2SO4
e germinação sob temperatura alternada de 20-35ºC, resulta em maior germinação no
menor tempo, possibilitando o encerramento do teste 11 dias após a sua instalação.
No entanto, conforme Garcia e Cicero (1992), quando da utilização deste ácido na
quebra de dormência de sementes de B. brizantha cv. Marandu, podem ser
obtidos resultados incongruentes, devido à variação na idade e histórico das sementes,
condições de armazenamento, vigor inicial dos lotes, concentração do ácido, entre
outros, podendo não ter efeito ou mesmo depreciar a germinação de B. brizantha.
Provavelmente, o ácido sulfúrico (98%, 36N) acarretou prejuízos na germinação das
sementes da cultivar Marandu, em decorrência do mesmo ser um ácido mineral violento
e ter prejudicado parte da composição física das sementes, implicando em danos ao
seu desenvolvimento. Tal constatação pode ser verificada no estudo de Dias e Alves
(2008), no qual o ácido sulfúrico também foi prejudicial para as sementes não dormentes
de braquiária, nas avaliações das duas últimas épocas de avaliação. CONCLUSÕES O tratamento
de sementes com fungicida não teve efeito positivo na quebra de dormência e percentagem
de germinação das cultivares MG-5 e Marandu. As sementes das duas cultivares reagiram de modo muito distinto
aos pré-tratamentos. Referências Bibliográficas Brasil (2009) - Instrução Normativa Nº 30,
artigo 87, parágrafo único, inciso II da Constituição, Lei nº 6.198 de 26 de dezembro
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