INTRODUÇÃO
As infestantes são uma das principais causas da redução da produção das culturas, porque competem com estas pela luz, água, nutrientes e espaço, aumentando o banco de sementes e consequentemente, potenciando futuras reinfestações. De acordo com Waheed et al. (2009) a redução da produção na cultura do trigo pode variar entre 37 e 50 %. Kniss (2017) refere que os herbicidas são o meio mais eficaz que os agricultores têm ao seu dispor em todo o mundo para controlar infestantes e, segundo Owen (2016), está provado que o controlo químico é o método mais eficiente e mais económico, no controlo das infestantes. Os herbicidas estão organizados em grupos, consoante o seu local de ação na planta. Nandula (2010) definiu local de ação como o local, usualmente uma enzima na planta, onde a substância ativa do herbicida se liga e interfere com os processos fisiológicos. Atualmente, os herbicidas mais recomendados para controlar infestantes em trigo, são as sulfonilureias (inibidores da enzima Acetolactato sintase (ALS), o que tem resultado num acréscimo do número de espécies resistentes a estas substâncias ativas, em todo o mundo (Beckie e Reboud, 2009). Há três sistemas de classificação para o local de ação dos herbicidas: i) sistema de classificação Australiano, baseado em letras e usado na Austrália ii) sistema WSSA (Weed Science Society of America) baseado em números, usado nos Estados Unidos da América e Canadá e iii) HRAC (Herbicide-Resistance Action Committee), que é um sistema baseado em letras, mas não as mesmas do sistema de classificação Australiano e usado em muitos países (Heap, 2018). Todos os herbicidas do mesmo grupo matam as plantas do mesmo modo (Bhatti et al., 2013). De acordo com Norsworthy et al. (2012) e Bhatti et al. (2013), o uso repetido de um herbicida ou de herbicidas que matam as plantas do mesmo modo (mesmo local de ação, ou mesmo grupo) permite, que algumas plantas sobrevivam e se reproduzam. O número de plantas resistentes na população aumenta até que o herbicida não as controla efetivamente. Também Neve et al. (2009) referem, que a resistência aos herbicidas é agora largamente reconhecida, como o resultado da evolução adaptativa das populações de infestantes à intensa pressão de seleção exercida pelos herbicidas e continua a ser um problema crescente (Owen, 2016). Vencill et al. (2012) definiram tolerância aos herbicidas como a capacidade inerente das espécies sobreviverem e se reproduzirem depois da aplicação destes produtos químicos. Isto implica que não houve seleção ou manipulação genética para a planta ficar tolerante, ou seja, ela é naturalmente tolerante. A resistência aos herbicidas é a capacidade inerente da planta sobreviver e se reproduzir após a exposição a uma dose de herbicida normalmente letal. Quando as populações de infestantes são resistentes a herbicidas de diferentes famílias químicas e essas famílias compartilham o mesmo local de ação, designa-se de resistência-cruzada e a resistência aos herbicidas com diferentes locais de ação, denomina-se de resistência múltipla (Campbell et al., 2011; Powles e Gaines, 2016). A redução das doses de herbicida é outro importante fator na evolução da resistência das infestantes. Muitos agricultores, na tentativa de reduzir os custos de produção, optam por usar doses menores do que as doses recomendadas e que são eficazes, todavia esta estratégia aumenta a seleção para a resistência aos herbicidas (Gressel, 2011). O uso de doses reduzidas de herbicida, pode resultar num número elevado de infestantes, que sobrevivem ao tratamento. Essas infestantes poderão ter genes, que fornecem uma resistência mínima aos herbicidas, podendo acumular-se em gerações subsequentes, em espécies de infestantes de polinização cruzada (Gressel, 2011; Manalil et al., 2011).
Durante quase cinco décadas tem ocorrido resistência das infestantes aos herbicidas e na atualidade há globalmente cerca de 490 casos (espécies x local de ação) de infestantes resistentes aos herbicidas, com 254 espécies - 148 dicotiledóneas e 106 monocotiledóneas (Owen, 2016). As infestantes têm desenvolvido resistência a 23 dos 26 herbicidas com local de ação conhecido e a 163 herbicidas diferentes. A resistência das infestantes aos herbicidas tem sido referida em 92 culturas de 70 países (Heap, 2018). Presentemente, há 5 infestantes resistentes aos herbicidas (resistência cruzada), referidas em Portugal e 36 em Espanha (resistência cruzada e resistência múltipla) (Heap, 2018). De acordo com Vencill et al. (2012) e Powles e Gaines (2016), para prevenir e atrasar o desenvolvimento da resistência das infestantes aos herbicidas, muitas práticas de gestão podem ser incluídas num plano integrado: rotações de culturas, rotações de herbicidas, sistemas de mobilização do solo, usar herbicidas de baixo efeito residual, mistura de herbicidas com diferentes locais de ação no mesmo tratamento, uso de herbicidas com diferentes locais de ação em rotações anuais, uso de doses de herbicidas recomendadas e épocas de aplicação também recomendadas e ainda, prevenir o movimento de sementes de infestantes e usar sementes certificadas. Atualmente, um dos problemas mais complicados que se coloca na gestão das infestantes, prende-se com o facto de nas últimas três décadas não terem sido identificados e desenvolvidos herbicidas com novos locais de ação (Powles e Gaines, 2016).
Rotações de herbicidas e misturas de herbicidas com diferentes locais de ação são largamente recomendados na gestão da resistência das infestantes aos herbicidas (Beckie e Reboud, 2009; Vencill et al., 2012; Evans et al., 2016; Owen, 2016). De acordo com Rey-Caballero et al. (2017), a variação na época de aplicação dos herbicidas (aplicações precoces em pós-emergência ou combinando pré-emergência com pós-emergência precoce ou com pós-emergência) deve ser incluída na gestão da resistência das infestantes aos herbicidas.
Diflufenicão [N-(2,4-difluorofenil)-2-[3-(trifluorometil)fenoxi]piridina-3-carboxamida, IUPAC] pertence ao grupo químico das piridinocarboxamidas. É um herbicida com ação de contato e residual, sendo absorvido pelas folhas e raízes das infestantes e atua através da inibição da síntese dos carotenoides (HRAC, grupo F1). Está indicado para o controlo de infestantes dicotiledóneas anuais, em pré- e pós-emergência precoce de várias culturas, incluindo cereais. Para aumentar o seu espetro de ação pode ser misturado com outras substâncias ativas, tais como, flufenacete, iodossulfurão-metilo-sódio, mesossulfurão-metilo, bromoxinil, etc. (Haynes e Kirkwood, 1992).
Flufenacete [N-(4-fluorofenil)-N-propano-2-il-2-[[5-(trifluorometil)-1,3,4-tiadiazol-2- il]oxi] acetamida, IUPAC] pertence ao grupo químico das oxiacetamidas. É um herbicida sistémico de pré- e pós-emergência precoce, sendo absorvido essencialmente pelas raízes e parcialmente na germinação, estando indicado para o controlo de infestantes gramíneas anuais e algumas dicotiledóneas em diversas culturas, incluindo os cereais. Atua através da inibição da biossíntese dos ácidos gordos de cadeia muito longa (HRAC, grupo K3). Para alargar o seu espetro de ação, pode ser misturado com outras substâncias ativas, como por exemplo a metribuzina (Chhokar et al., 2006).
Metribuzina (4-amino-6-tert-butil-3-metilsulfanilo-1,2,4-triazina-5-1, IUPAC), pertence à família química das triazinonas, é um herbicida residual e sistémico, usado em pré- e pós-emergência para controlar infestantes gramíneas e dicotiledóneas, sendo absorvido principalmente pelas raízes, mas também pelas folhas. Atua através da inibição da fotossíntese, por interrupção do fotossistema II (HRAC, grupo C1) (Laurence et al., 1993).
Propoxicarbazona-sódio [(4,5-dihidro-4-metil-5-oxo-3-propoxi-1H-1,2,4 triazol-1-ilcarbonil)(2-methoxicarbonilfenilsulfonil) azanida, IUPAC] pertence à família química das sulfonilaminocarboniltriazolinonas, sendo um herbicida seletivo e sistémico, indicado para controlar infestantes gramíneas e dicotiledóneas, em pós-emergência do trigo. Atua através da inibição da enzima ALS (HRAC, grupo B) (Yilmaz et al., 2013).
Iodossulfurão-metilo-sódio [sodio;(5-iodo-2-metoxicarbonilfenil)sulfonil-[(4-metoxi-6-metil-1,3,5-triazina-2-l)carbamoil]azanida, IUPAC] pertence à família química das sulfonilureias. É um herbicida seletivo e sistémico, indicado para controlar infestantes gramíneas e dicotiledóneas em pós-emergência do trigo, milho e soja. Atua através da inibição da enzima ALS (HRAC, grupo B) (Trabold et al., 2000).
Mesossulfurão-metilo [metil2-[(4,6-dimetoxipirimidin-2-il)carbamoilsulfamoil]-4-(metanesulfonamidometil)benzoato, IUPAC] pertence á família química das sulfonilureias. É um herbicida sistémico para controlar infestantes gramíneas e dicotiledóneas em pós-emergência no trigo, triticale e centeio. É sempre aplicado juntamente com o “safener” mefenepir-dietilo, o qual transmite a seletividade ao herbicida. Atua, inibindo a enzima ALS (HRAC, grupo B) (Hacker et al., 2001).
Bromoxinil octanoato [(2,6-dibromo-4-cianofenil) octanoato, IUPAC)] pertence ao grupo químico hidroxibenzonitrilo. É um herbicida de contato e parcialmente sistémico, usado para controlar infestantes dicotiledóneas em pós-emergência dos cereais, incluindo trigo, cevada, aveia, triticale, etc. Atua pela inibição da fotossíntese (fotossistema II) (HRAC, grupo C3) (Buckland et al., 1973).
2,4-DB- Etilhexil éster [2-etilhexilo 2-(2,4-diclorofenoxi)acetato, IUPAC] é membro da família de herbicidas fenoxi. É um herbicida seletivo e sistémico para controlo de infestantes dicotiledóneas em várias culturas, incluindo os cereais. É uma auxina sintética (HRAC, grupo O), que causa encarquilhamento do caule, murchidão das folhas e morte das plantas. É absorvido através das folhas e translocado para os meristemas da planta. O 2,4-D é aplicado tipicamente como um sal de amina (Song, 2014).
Mefenepir-dietilo [Dietilo (R,S) 1-(2,4-diclorofenilo)-5-metilo-2-pirazolina-3,5-dicarboxilato] é um “safener”, usado em combinação com certos herbicidas, como o fenoxaprope-P-etilo (inibidor da enzima acetil-CoA carboxilase) e sulfonilureias como por exemplo o iodossulfurão-metilo-sódio e o mesossulfurão-metilo, para aumentar a tolerância das culturas a estes herbicidas, como no caso dos cereais (Rosenhauer et al., 2016).
Biopower (alkileter-sulfato de sódio) é um surfactante aniónico usado para melhorar a eficácia de herbicidas foliares através da redução da superfície de tensão em sistemas aquosos (Yilmaz e Dane, 2013).
O objetivo deste trabalho consistiu em estudar o efeito de diversos herbicidas, com diferentes locais de ação nas plantas e diferentes épocas de aplicação, no controlo de infestantes e na produção de grão na cultura do trigo mole (Triticum aestivum L.), de modo a determinar programas alternativos para prevenir, ou pelo menos atrasar, o aparecimento de populações de infestantes resistentes.
MATERIAL E MÉTODOS
Local dos ensaios
Para estudar o efeito de várias misturas de herbicidas (substâncias ativas), com diferentes locais de ação nas infestantes, foram realizados dois ensaios de campo, nos anos agrícolas de 2016/2017 e 2017/2018.
Ensaio 1
Este ensaio, realizou-se no ano agrícola de 2016/2017 na Estação de Melhoramento de Plantas de Elvas, INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária). O solo onde se realizou o ensaio está cartografado por Cardoso (1965a) como Bpc (Barros pretos muito descarbonatados de dioritos ou gabros). Este solo, apresenta uma textura argilosa ao longo de todo o seu perfil, com um pH em água de 7,8 no horizonte superficial e aproximadamente 7,9 nos horizontes inferiores, sendo o teor de matéria orgânica no horizonte superficial de 1,8 %.
A cultura do trigo foi instalada em meados de dezembro com uma densidade de sementeira de 200 kg ha-1, sendo a cultivar utilizada o ‘Nabão’, cujo ciclo é semi-precoce. A parcela onde se realizou o ensaio, estava incluída na rotação grão-de-bico → trigo → aveia. Para controlar infestantes em pré-sementeira e preparar o solo para a sementeira, realizaram-se duas gradagens e duas passagens com um vibrocultor. A cultura foi adubada em fundo, com 200 kg ha-1 do adubo ternário N-P-K (20-08-10) e em cobertura, com 100 kg ha-1 de um adubo nitroamoniacal 27%.
Ensaio 2
Este ensaio, realizou-se na Herdade da Almocreva (Beja), Universidade de Évora, no ano agrícola de 2017/2018. O ensaio teve lugar num solo cartografado por Cardoso (1965b) como Vc (solos calcários vermelhos de calcários) com textura argilo-arenosa nos horizontes A e B e areno-limosa no horizonte C. O pH em água era de 7,3 nos horizontes A e B e 7,7 no horizonte C. O teor de matéria orgânica no horizontal mais superficial era aproximadamente 1,3%. A cultura do trigo foi instalada em meados de novembro, também com uma densidade de sementeira de 200 kg ha-1, utilizando-se a cultivar ‘Nogal’, de ciclo semi-tardio. A parcela do ensaio fazia parte da rotação grão-de-bico → trigo→ girassol → trigo. Para o controlo de infestantes em pré-sementeira e a preparação do solo para a sementeira, foram efetuadas duas passagens de vibrocultor. Aplicaram-se, como adubação de fundo, 200 kg ha-1 de um adubo ternário N-P-K (18-46-0) e em cobertura, 100 kg ha-1 de um adubo simples (ureia), que doseia 47 % de azoto. Neste ano, pelo facto de terem surgido alguns sintomas de septoriose na cultura, fez-se uma aplicação do fungicida com as substâncias ativas protioconazol + tebuconazol, produto comercial Prosaro®. Este fungicida foi aplicado, na dose de 125 + 125 g s.a. ha-1, em 300 litros de água.
Delineamento dos ensaios
Os ensaios foram delineados em blocos causalizados com sete tratamentos (Quadro 1), com quatro repetições (talhões) por cada modalidade de tratamento herbicida. A dimensão dos talhões em ambos os ensaios, foi de 10 m x 3 m e a área de colheita, correspondeu a 13,5 m2 (10 m x 1,35 m) da parte central de cada talhão, para evitar o efeito de bordadura, utilizando-se para tal, uma ceifeira-debulhadora própria para ensaios, cuja largura de trabalho é de 1,35 m. A colheita foi efetuada na 2ª quinzena de junho e a produção de grão por unidade de área foi determinada diretamente, depois da correção da humidade (8%). As doses de herbicidas aplicadas foram as recomendadas pela Empresa Bayer CropScience e o volume de calda utilizado foi de 250 L ha-1, usando-se para tal, um pulverizador de pressão de jato projetado próprio para ensaios, marca Baumann Saatzuchtbedarf e modelo PL1. Este pulverizador tem uma barra horizontal de 3 m de largura e está equipado com bicos de fenda espaçados 50 cm entre si, com um ângulo de abertura do jato de 110o e um diâmetro do orifício de 1,2 mm (110-12). Para aplicar os 250 L ha-1 de calda, a pressão de funcionamento foi de 300 kPa fornecida por oxigénio armazenado em garrafa de ar comprimido e a presença de um velocímetro, auxilia a manter uma velocidade de avanço constante, que no caso, foi de 3 km h-1, ao longo do comprimento dos talhões.
Modalidades | Épocas de aplicação | Doses (g s.a. ha-1) | |
---|---|---|---|
T1 | Testemunha | - | - |
T2 | diflufenicão + flufenacete + metribuzina | pré-emergência | 99,2+99,2+ 37,12 |
T3 | diflufenicão + flufenacete + metribuzina | pós-emergência precoce | 119,7+119,7+ 44,8 |
T4 | diflufenicão + flufenacete + metribuzina | pré-emergencia pós-emergência | 99,2+99,2+ 37,12 | mesossulfurão-metilo-sódio + propoxicarbazona-sódio + mefenepir-dietilo + alkileter sulfato sódio | 5,5+22,28+29,7+165,9 |
T5 | amidossulfurão + iodossulfurão-metilo-sódio + mesossulfurão-metilo-sódio + mefenepir-dietilo+ alkileter-sulfato de sódio | pós-emergencia | 15+3+9+27+165,9 |
T6 | amidossulfurão + iodossulfurão-metilo-sodio + mesossulfurão-metilo-sodio + mefenepir-dietilo + alkileter - sulfato de sódio | pós-emergência | 25+5+15+45+165,9 |
T7 | mesossulfurão-metilo-sódio+propoxicarbazona-sódio + mefenepir-dietilo | pós-emergência | 15,5+22,28+29,7 | bromoxinil octanoato + 2,4 DB etilhexil + alkileter- sulfato de sódio | 280+280+ 165,9 |
Eficácia dos tratamentos
As espécies de infestantes foram identificadas e contadas em dois quadrados de 50 x 50 cm, na parte central de cada um dos talhões dos ensaios. Os quadrados foram colocados na mesma posição para todas contagens e as infestantes não foram removidas. Os táxones infestantes contados, foram expressos em número de plantas por metro quadrado. No Quadro 2, apresenta-se a densidade média de infestantes por metro quadrado, contadas antes da aplicação dos herbicidas de pós-emergência.
Para determinar a eficácia dos tratamentos T2 e T3, as infestantes foram contadas 30, 60, 90 e 120 dias após a aplicação dos herbicidas (DAA) e no tratamento T4, 30 e 60 dias depois da aplicação do herbicida de pré-emergência. Para o tratamento T4 (aplicação em pós-emergência), T5, T6 e T7, fizeram-se duas contagens de infestantes, sendo a primeira imediatamente antes do tratamento e a segunda, cerca de dois meses depois. Para determinar a eficácia dos tratamentos T2, T3 e T4 (pré-emergência até 60 DAA), usou-se a fórmula de Abbot:
Ef = (1- T/Co) * 100, (fórmula de Abbot)
onde: Ef - Eficácia do tratamento (%), T- número de infestantes por metro quadrado contadas depois do tratamento, Co - número de infestantes por metro quadrado, nos talhões testemunha (reinfestação).
Nos tratamentos T4 (pós-emergência), T5, T6 e T7 a eficácia expressa-se em percentagem de infestantes controladas em relação ao total, sendo calculada pela seguinte expressão:
Ef = 100 - [(C2 - d)/C1] × 100,
onde: Ef - eficácia do tratamento (%), C1 - número de infestantes por metro quadrado contadas antes do tratamento, C2 - número de infestantes por metro quadrado, contadas após o tratamento e d - diferença no número de infestantes por metro quadrado, contadas nos talhões testemunha (reinfestação).
Aquando da aplicação dos herbicidas em pós-emergência - tratamentos T4, T5, T6 e T7 , a cultura encontrava-se no início do afilhamento (estádio 21 da escala de Zadoks; Zadoks et al., 1974), cerca de 70 a 80 % das infestantes gramíneas (Avena sterilis L. e Lolium rigidum Gaudin), também na fase inicial do afilhamento e aproximadamente 70 a 80% das infestantes dicotiledóneas, na fase de desenvolvimento de 2 a 4 pares de folhas.
No primeiro ano de ensaios, a média de infestantes (mono e dicotiledóneas) presentes em todos os tratamentos, foi de 86 infestantes m-2 e no segundo ano de ensaios, foi de 98 infestantes m-2.
Análise estatística
A análise de variância da eficácia dos tratamentos no controlo de infestantes e da produção de grão na cultura por unidade de área em cada um dos anos dos ensaios, foi feita de acordo com o delineamento experimental destes, tendo-se verificado os pressupostos da ANOVA, ou seja, as amostras são aleatórias e independentes, as populações apresentam uma distribuição normal e as variâncias populacionais são iguais. A separação de médias foi efetuada com recurso ao teste F para um nível de significância de 5 % (p≤ 5%) de acordo com o teste de separação múltipla de médias de Duncan. O programa estatístico utilizado foi o MSTAT-C (versão 1.42) (Michigan State University). Na análise de variância da eficácia dos tratamentos, utilizaram-se os modelos 7 e 15 deste programa e na análise de variância da produção de grão por unidade de área em cada um dos anos dos ensaios, utilizou-se o modelo 7.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No primeiro ano de ensaios (2016/2017) as infestantes mais representativas por ordem decrescente, foram as seguintes: Sinapis arvensis L. (mostarda-dos-campos); Calendula arvensis L. (erva-vaqueira); Convulvulus arvensis L. (corriola) e Cynodon dactylon (L.) Pers. (grama). Além destas, também estavam também presentes, as seguintes: Cyperus esculentus L. (junça); Centaurea melitensis L. (beija-mão); Chenopodium album L. (catassol); Picris echioides L. (raspa-saias); Lavatera cretica L. (malva-bastarda); Galium aparine L. (amor-de-hortelão); Lactuca serriola L. (alface-brava-menor); Geranium rotundifolium L. (geranio); Daucus carota L. (cenoura-brava); Polygonum aviculare L. (sempre-noiva); Cirsium arvense (L.) Scop (cardo-corredor); Urtica urens L. (urtiga-menor); Bromus spp. (bromus); Sonchus asper (L.) Hill (serralha-áspera); Avena sterilis L. (balanco-maior) e Lolium rigidum (erva-febra).
No segundo ano de ensaios (2017/2018) as infestantes mais representativas por ordem decrescente, foram as seguintes: Avena sterilis (balanco-maior); Lolium rigidum (erva-febra); Convulvulus arvensis L. (corriola); Sonchus asper (serralha áspera); Anchusa italica Retz (língua-de-vaca) e Eryngium campestre L. (cardo-corredor), estando também presentes: Chrysanthemum segetum L. (pampilho-das-searas); Chamaemelum mixtum (L.) All. (margaça); Picris echioides (raspa-saias); Sinapis arvensis (mostarda-dos-campos); Lolium rigidum (erva-febra); Lactuca serriola (alface-brava-menor); Raphanus raphanistrum L. (saramago); Silybum marianum (L.) Gaertn. (cardo leiteiro); Cirsium arvense (cardo-corredor); Anagallis arvensis L. (morrião) e Foeniculum vulgare Mill (funcho).
Não se verificaram diferenças significativas na eficácia entre os tratamentos T2 e T3 até aos 120 dias após a aplicação dos herbicidas e entre estes e o tratamento T4 até 60 dias após a aplicação dos herbicidas, em ambos os anos de ensaios (Quadro 3). No primeiro ano de ensaios, a muito reduzida precipitação verificada, terá sido a causa para a não emergência de qualquer infestante até 30 dias após a aplicação dos herbicidas, não se verificando também, a emergência da própria cultura. Visualmente, constatou-se que os tratamentos T2 e T3 revelaram uma baixa eficácia no controlo do balanco-maior e da erva-vaqueira e principalmente das infestantes de emergência tardia, como a grama, a junça e a corriola. O tratamento 4 (até 60 DAA e antes da aplicação de pós-emergência), apresentou uma baixa eficácia no controlo do balanco-maior e da erva-vaqueira. Contudo, a baixa eficácia destes tratamentos no controlo destas infestantes, não foi suficiente para reduzir significativamente a produção de grão por unidade de área (Quadro 5).
Pela análise de variância (Quadro 4), verifica-se não existirem diferenças significativas entre os tratamentos T4, T5, T6 e T7 na eficácia do controlo de infestantes (Quadro 4). Em ambos os anos de ensaios, o tratamento T4 (pós-emergência), T5, T6 e T7, controlaram eficazmente as infestantes de folha larga presentes, com exceção da corriola. Contudo, a emergência desta infestante verificou-se principalmente, após a aplicação dos herbicidas. Visualmente, foi possível verificar que o tratamento 7, foi pouco eficaz no controlo da língua-de-vaca, não mostrando a maior parte da população desta infestante, quaisquer sintomas do efeito do herbicida. Nos dois anos de ensaios, uma grande parte da grama e da junça, também emergiram depois da aplicação dos herbicidas. Todos os tratamentos foram eficazes no controlo da erva-febra.
Comparando os tratamentos T5 e T6, verifica-se que o acréscimo das doses dos herbicidas amidossulfurão + iodossulfurão-metilo-sódio + mesossulfurão-metilo-sódio + mefenepir-dietilo + alkileter sulfato de sódio não aumentou significativamente, nem a eficácia (Quadro 4), nem a produção de grão por unidade de área (Quadro 5).
O Quadro 5 mostra que, no 2º ano de ensaios, as infestantes causaram uma redução significativa na produtividade da cultura na testemunha (T1), o que está de acordo com o referido por Waheed et al. (2009), não se tendo verificado o mesmo, no 1º ano de ensaios, onde a testemunha (T1) produziu significativamente o mesmo, que todos os outros tratamentos. Em ambos os anos, não houve diferenças significativas na produção de grão por unidade de área, entre os diferentes tratamentos, onde se aplicaram herbicidas. As substâncias ativas da família das sulfonilureias (inibidores da enzima ALS) são atualmente bastante recomendadas para controlar infestantes em cereais, incluindo o trigo, todavia tal implica um acréscimo do número de espécies resistentes a substâncias ativas desta família química (Marczewska et al., 2006; Beckie e Reboud 2009). Contudo, a eficácia no controlo de infestantes (Quadros 3 e 4) e a produção de grão por unidade de área (Quadro 5) obtidas neste estudo mostraram, que em condições ambientais mediterrânicas, poderá ser possível o uso de misturas de herbicidas com diferentes locais de ação nas plantas, de modo a prevenir ou pelo menos, atrasar a resistência das infestantes aos herbicidas, o que está de acordo com o referido por Norsworthy et al. (2012), Vencill et al. (2012), Bhatti et al. (2013), Owen et al. (2015), Powles e Gaines (2016) e Abbas et al. (2017). Os resultados obtidos no tratamento T4 (combinação de várias substâncias ativas em pré- e pós-emergência), estão de acordo com Rey-Caballero et al. (2017), os quais referem que a variação na época de aplicação dos herbicidas em pós-emergência precoce ou combinando pré ou pós-emergência precoce, ou pós-emergência, deve ser incluída na gestão da resistência das infestantes aos herbicidas.
CONCLUSÕES
Tendo em conta o número de anos e as condições em que se realizam estes ensaios, é difícil retirar conclusões sobre a alternância de herbicidas, que controlem as infestantes de diferentes modos (locais de ação). No entanto, os resultados apontam para a inclusão na rotação química, herbicidas da família das sulfonilureias. Esta família química já detém as substâncias ativas atualmente mais recomendadas para controlar infestantes na cultura do trigo em condições Mediterrânicas e, por conseguinte, poderão atrasar ou mesmo, prevenir a resistência das infestantes aos herbicidas. Para os agricultores, a aplicação das misturas de herbicidas estudadas nestes ensaios, poderá ser importante para conseguirem uma adequada relação entre os custos e os benefícios. No entanto, sendo a problemática da resistência das infestantes aos herbicidas muito premente e atual, este tema deverá merecer mais investigação, sobretudo mais repetições em mais locais e em maior número de anos.