INTRODUÇÃO
As endomicorrizas arbusculares (MA), constituem a simbiose entre plantas e fungos mais frequente na terra, é formada por fungos do solo pertencentes ao filo Glomeromycota e raízes da maioria das plantas terrestres. Mais de 80% das espécies das plantas conhecidas, incluindo as de interesse agrícola formam este tipo de micorrizas, podendo encontrar-se nos mais variados habitats, desde desertos às florestas tropicais, em altitudes e latitudes elevadas, para além de ecossistemas aquáticos. As MA constituem uma simbiose mutualista em que o fungo obtém o carbono necessário ao seu metabolismo a partir da planta colonizada, representando 10 a 20% dos produtos resultantes da sua atividade fotossintética (Graham, 2000).
O micélio extra-radical produzido pelo fungo constitui uma ligação entre as raízes da planta e o solo, transportando nutrientes minerais do solo à planta e proporcionado desta forma a troca bidirecional entre simbiontes. Esta capacidade assume particular importância para os nutrientes que são transportados no solo por processos de difusão lentos e/ou são facilmente imobilizados, como acontece com o fósforo (P). O micélio extra-radical desenvolvido faz com que o volume de solo disponível para a absorção de P vá para além da zona de depleção que rapidamente se estabelece em torno das raízes activas em termos de absorção (Clark & Zeto, 2000).
O Projeto MaisSolo avaliou a utilização de três culturas de cobertura (1- mistura biodiversa de leguminosas e gramíneas, 2- Azevém e 3- Nabo forrageiro) com o objetivo de aumentar a produção de culturas de milho e tomate. O presente trabalho refere apenas o aumento do grau de micorrizição pelas culturas principais como resposta ao tipo de cultura de cobertura previamente utilizado.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados dois campos experimentais um com cultura extensiva de milho (São João de Brito, Golegã) e outro com tomate (Manique, Vila Franca de Xira). O ensaio foi delineado em blocos casualizados, com 3 repetições de campo. Entre 2018 e 2021, foram colhidas 3 plantas por talhão.
Foram testados três tipos de culturas de cobertura preliminares (cultura prévia a cultura principal): Cultura biodiversa com leguminosas e gramíneas (C), azevém (A) e nabo forrageiro (B). Manteve-se um dos talhões sem qualquer tipo de tratamento, testemunha (T).
As raízes foram isoladas, coradas com azul de tripano e a % de colonização micorrízica avaliada de acordo com (Giovanneti & Mosse,1980) em 3 subamostras por talhão.
Os resultados foram analizados pelo método “one-way analysis of variance (ANOVA)” utilizando o programa STATISTICA 10 e recorrendo ao teste de significância de Tukey (HSD) a P ≤ 0.05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados indicam que os tratamentos com culturas de cobertura com sementes biodiversas (C) e o azevém (A) aumentam a percentagem de tecido radicular colonizado por endomicorrizas em milho e tomate. O tratamento com nabo forrageiro (biofumigação) (B) não estimula a percentagem de microrrização no tomate e no milho parece até influenciar negativamente em relação à testemunha (Figuras 1 e 2).
Também os resultados indicam que o grau de micorrização no milho é cerca de 10% maior que no tomateiro no tratamento A. Isto deve-se ao facto de o próprio milho ser já por si, uma planta micotrófica comparada com o tomateiro. Regra geral as gramíneas são mais propensas a serem colonizadas por fungos endomicorrízios.
É conhecido que determinadas espécies, como é o caso do azevém anual, micorrizam muito facilmente e o seu cultivo enriquece o solo em fungos endomicorrízicos autóctones, que poderão depois associar-se às culturas seguintes. Assim, estas espécies, designadas como micotróficas (ou developers), atuam como promotores ou propagadores de endomicorrizas e a sua utilização nas culturas de cobertura irá favorecer a micorrização da cultura principal.
CONCLUSÕES
Os tratamentos (C) e (A) favorecem a percentagem da micorrização em plantas de milho e tomateiro levando ao aumento na produtividade destes importantes produtos agrícolas.
Existe uma maior apetência pelos agricultores na utilização de culturas de cobertura biodiversas inoculadas com bactérias específicas benéficas ao desenvolvimento da planta. É o caso das bactérias fixadoras de azoto que estabelecem simbioses com plantas leguminosas, genericamente designadas por rizóbios. Estas bactérias convertem o azoto atmosférico em amónia, que fica disponível para as plantas permitindo-lhes alcançar a independência relativamente ao azoto de que necessitam para o crescimento.
As ditas misturas utilizadas neste trabalho tinham a desvantagem de serem culturas de Inverno de ciclo longo, facto este que leva ao atraso na sementeira da cultura principal seguinte. De modo a tentar resolver este problema irão ser utilizadas misturas biodiversas de ciclo curto em ensaios experimentais de campo no Projeto Horticover, projeto este já a decorrer.