INTRODUÇÃO
As condições ambientais e práticas culturais nas parcelas de vinha modificam as propriedades e variabilidade pedológica do solo (Costantini et al., 2015). As alterações físico-químicas e biológicas dos materiais geológicos originais, como resultado de adições e intervenções humanas, influenciam os processos biogeoquímicos, como sejam a lixiviação e a erosão, promovendo a degradação dos solos (Garcia et al., 2018; Fayolle et al., 2019).
As propriedades do solo influenciam o crescimento radicular da videira, permitindo a absorção de nutrientes, água e um regime de temperatura específico na zona radicular, contribuindo para o desenvolvimento fisiológico e fenológico da planta (van Leeuwen et al., 2018).
Neste contexto, verifica-se a necessidade de desenvolver técnicas responsáveis, sustentáveis e economicamente viáveis de caracterização e monitorização dos solos, que permitam estabelecer ferramentas eficientes de apoio à decisão e ação. O mapeamento digital do solo com elevada escala e resolução que represente a variabilidade local, suporta o conhecimento das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo na sua relação com a geomorfologia, fisiografia e relevo bem como, capacidade de retenção de água e disponibilidade de nutrientes. O conhecimento espacialmente explicito pode contribuir para os itinerários produtivos, técnicas e tecnologias de produção sustentáveis dos solos e da vinha através da análise de funcionamento do sistema solo-planta, condicionado pela mudança e adaptação climática local (Morlat & Jacquet, 1993; White, 2003; Castaldi et al., 2016; USDA, 2021).
Este trabalho visa testar e desenvolver técnicas de aquisição e avaliação de imagens para geração de superfícies e índices de caracterização e monitorização de solos em viticultura.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta investigação desenvolveu-se na Região dos Vinhos Verdes (sub-região do Lima, NW Portugal), numa parcela de vinha de 4 ha, plantada em 2021 com a casta Loureiro (Figura 1). As imagens foram recolhidas por um veículo aéreo não tripulado (VANT) associado a um sensor multiespectral RedEdge-MX (02 de fevereiro de 2022), complementados com uma imagem SENTINEL-2 (a 05 de maio de 2021, aquando da preparação do terreno para plantação). O Modelo Digital de Elevação (MDE), criado a partir das imagens VANT, permitiu a produção de vários índices de ordem topográfica (Fig.2) (declive, exposição ao vento (WEI) e carga térmica), através de modelação morfológica e hidrográfica (GRASS e SAGA; QGIS, 2021). A partir da imagem SENTINEL-2, foi possível calcular índices (Figura 2) (CaCO3, Fe2O3 e Albedo) e analisar as bandas que refletem as propriedades físico-químicas do solo. Para avaliar a variabilidade local da litologia, recorreu-se a uma análise de componentes principais (PCA), onde foi possível obter um mapa com os tipos de rocha existentes na parcela (Figura 2) (Kamel et al., 2016). Os produtos foram validados pela realização e resultados das diferentes análises dos solos a dois perfis, efetuadas na parcela pela equipa de Cartografia de Terroirs Vitícolas do Institut Français de la Vigne et du Vin (2022) (Quadro 1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados validados pelas análises ao solo (Quadro 1) indicam duas unidades de terroir (UT) compostas por granitos (rocha dura e areia) e coluviões arenoso-argiloso/areia granítica, com propriedades e comportamentos do solo diferenciados. A microtopografia influencia a interceptação da luz solar, a exposição aos ventos, a drenagem da água e os fluxos atmosféricos e os microclimas locais. A camada superficial do solo influencia as propriedades de transferência e armazenamento da água (Maschmedt et al., 2002) e o comportamento térmico relaciona-se com o albedo e a radiação emitida pelo material rochoso da superfície (Evett, 2001). Por sua vez, os resultados mostram que a textura e a composição influenciam a capacidade de retenção de água do solo e a água disponível para as videiras (Carey, 2001).
Unidades de Terroir | Colúvio arenoso-argiloso / Arena granítica | Granito (Rocha dura e areia) | ||
---|---|---|---|---|
% | Horizonte | 0-80 cm | 0-40 cm | |
Argila (< 2 µm) | 8,16 | 5,02 | ||
Limo Fino (2-20 µm) | 16,98 | 6,08 | ||
Limo Grosso (20-50 µm) | 16,54 | 11,19 | ||
Areia fina (50-200 µm) | 17,51 | 11,16 | ||
Areia Grossa (200-2000 µm) | 37,62 | 65,23 | ||
% | M.O. | 2,77 | 1,32 | |
N total | 0,17 | 0,07 | ||
g kg-1 | K2O | 286,00 | 307,00 | |
P2O5 | 65,00 | 120,00 | ||
MgO | 63,00 | 96,00 | ||
CaO | 854,00 | 533,00 | ||
CTC (Cmol (+) kg-1) | 13,50 | 6,00 |
CONCLUSÕES
A recolha e a integração de dados obtidos por imagem e análise de solos permitem prever e mapear a distribuição de propriedades do solo relevantes para a tomada de decisão operacional em viticultura.
Os mapas obtidos para a parcela em estudo, são úteis para prever certas propriedades e comportamentos do solo e apresentam relação com os resultados das análises efetuadas a dois perfis. A variabilidade topográfica, ou microtopografia, pode influenciar a hidrologia e as propriedades físico-químicas, influenciando o equilíbrio dos nutrientes disponíveis para as plantas. A evaporação da água do solo pode ser relacionada com a capacidade de retenção de água promovida pela concentração de argilas e profundidade do solo (Kosmas et al., 1998).
Esta investigação indica que o conhecimento espacial das diferentes características e comportamentos do solo, capazes de prever o funcionamento solo-planta (Hannah et al., 2013), permitem ao viticultor otimizar as práticas culturais, desde a escolha do material vegetal (Fayolle et al., 2019), o planeamento de setores de rega e gestão hídrica (Droogers & Bastiaanssen, 2002), a seleção da cobertura vegetal do solo, a identificação de zonas de erosão, escorrência e lixiviação de nutrientes (Ma et al., 2019) bem como, no suporte a fertilizações de precisão (Hounkpatin et al., 2022).