INTRODUÇÃO
A existência do solo é um fator essencial para o sustento da vida tal como é conhecida, pois está associada à manutenção de processos naturais, como os ciclos biogeoquímicos, assim como o ciclo e qualidade da água
Segundo Bradford et al. (2016) e Luo et al. (2015), parâmetros físicos e químicos são aspectos capazes de traduzir o estado em que o solo se encontra. E estes, podem sofrer alterações através de ações naturais ou antrópicas (Debiasi e Franchini, 2012).
Neste sentido, uma atividade que apresenta grande potencial de dano para o solo é o fogo, pois é capaz de alterar, dentre diversas características, a estabilidade da agregação do solo (Giovannini et al., 1987; Diaz-Fierros et al., 1990; Josá, 1994).
Diante dos severos focos de incêndios florestais observados em Portugal, e devido aos seus impactos na redução do teor de matéria orgânica, esta, reponsável por auxiliar na agregação das partículas do solo, é importante conhecer os efeitos do fogo na estabilidade da agregação do solo.
Fatores como tamanho, forma e arranjo das partículas, juntamente com os espaços vazios, constituem os poros. Estes, são responsáveis por manter um bom arejamento, propiciando melhores condições de estrutura e agregação do solo.
Segundo Lal (1991) e Franzluebbers (2002), a estabilidade da agregação promove a fertilidade do solo, melhorando a produção agronómica, e diminuindo os índices de erodibilidade. Um solo estável apresenta maior proteção da matéria orgânica e menores efeitos dos processos erosivos.
Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar os efeitos de um fogo controlado aplicado no Parque Natural de Montesinho, NE Portugal, na estabilidade da agregação do solo.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho decorreu no Parque Natural de Montesinho, NE Portugal, próximo da aldeia de Aveleda, Bragança (41°53′57.06″N, 6°40′55.39″O) (Figura 1), onde a 22 de março de 2021 foi realizado um fogo controlado numa área de matos de cerca de 5 ha, com vista à gestão da vegetação e consequente proteção de um povoamento de Pinus pinaster contra a possível ocorrência de incêndios florestais.
A fim de avaliar os efeitos a curto prazo deste método de gestão e os impactos gerados nas características do solo, foram realizadas coletas do solo em 11 pontos antes da aplicação do fogo (SO), dois meses (2MPF) e sete meses (7MPF) após o fogo controlado.
As amostras foram coletadas ao longo de dois transetos, às profundidades 0-3, 3-6, 6-10 e 10-20 cm, com distância de aproximadamente 15 m entre pontos e transetos.
Após coletadas, as amostras foram secas em estufa a 45°C durante um período de 48 horas e, posteriormente, crivadas em crivos de malha de 2 mm e 1 mm. Para a avaliação da estabilidade dos agregados utilizou-se apenas as partículas que ficaram retidas natruralmente no crivo de 1 mm, ou seja, partículas com dimensões entre 1 e 2 mm.
Na avaliação da estabilidade dos agregados, utilizou-se crivos de malha 0,4 mm e 0,25 mm (classes de agregados). Os ensaios para cada classe de agregados ocorreram num equipamento denominado “estabilizador de agregados”, e foram realizados separadamente, isto é, primeiro determinou-se a estabilidade dos agregados maiores (crivo 0,4 mm) e depois a dos menores (crivo 0,25 mm).
Para cada amostra foram adicionadas 4g de solo no crivo e 100mL de água destilada em recipientes adaptados ao equipamento. Em sequência, o equipamento ficou em atividade por 3 minutos. Após este período, o material instável foi levado à estufa a uma temperatura de 105°C durante 24 horas.
O mesmo processo foi realizado em sequência, porém, com a utilização de hexametafosfato diluído em água destilada e durante um período de 10 minutos, afim de auxiliar a desagregação das partículas. Foram realizadas 4 repetições para cada amostra.
Para interpretar os resultados, foi aplicada a análise de variância ANOVA a p<0.05 e em sequência o teste Tukey para avaliar se existiam diferenças significativas entre os períodos estudados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Efeito do fogo
Ao comparar os períodos antes e depois da aplicação do fogo controlado, constatou-se que existem diferenças significativas entre as médias das duas classes de agregados (0,4 e 0,25 mm). Além disto, foi possível verificar uma maior estabilidade da agregação no solo original (não ardido) (Figura 2).
A identificação de maior estabilidade na área não ardida comparativamente à ardida, está ligada aos impactos causados pelo fogo em atributos físicos e químicos do solo, tal como o teor de matéria orgânica e carbono orgânico total (Badía-Villas et al., 2014). Autores como Thomaz (2011), Mataix-Solera et al. (2011), Chen et al. (2016) e Nunes et al. (2019), abordam os impactos da temperatura na estabilidade dos agregados.
Efeito da profunidade
Na Figura 3 é possível observar a estabilidade da agregação em profundidade nos diferentes períodos de amostragem. Nota-se um padrão de maior estabilidade da agregação no solo original (SO), quando comparado aos períodos pós fogo, principalmente nas camadas superiores (0-6 cm) com diferenças significativas relativamente aos períodos pós-fogo (2MPF e 7MPF).
No entanto, quando se compara os períodos 2MPF e 7MPF entre si, normalmente não apresentam diferenças significativas. Tendo variação apenas na profundidade 10-20 cm, na classe 0,25 mm, onde a maior estabilidade está relacionada ao período de 2MPF.
Conforme Junior et al. (2012), a presença de vegetação sobre o solo é um fator que contribui significativamente para a manutenção de uma boa estabilidade da agregação. Também Salton et al. (2008), propõem que a disposição de raízes, tecidos vegetais mortos e a liberação de agentes cimentantes provenientes da vegetação presente são aspetos que melhoram, sobretudo, a agregação em camadas superiores do solo.
Classes dos agregados ao longo do tempo
Conforma a Figura 4, nota-se que a estabilidade do solo diminui após sofrer a ação do fogo e é significativamente superior para a classe de agregados de 0,25 mm, comparativemente à classe de agregados 0,4 mm.
Pádua et al. (2015) afirma que o tamanho dos agregados do solo influencia a estabilidade da agregação. Pois agregados menores tendem a ser mais estáveis, enquanto agregados maiores tendem a possuir maior instabilidade.
CONCLUSÕES
A estabilidade da agregação apresenta valores significativamente superiores no solo original quando comparado com as avaliações realizadas nas áreas ardidas. Quando se compara individualmente os períodos e as profundidades, é possível concluir que os momentos dois meses (2MPF) e sete meses (7MPF) pós-fogo tendem a apresentar menor estabilidade da agregação, independentemente da profundidade, em relação ao solo original (SO). Conclui-se também que a estabilidade dos agregados é sempre superior na classe 0,25 mm, comparativamente a 0,4 mm.