INTRODUÇÃO
Os sistemas agroflorestais são sistemas de exploração que juntam numa mesma área espécies de árvores florestais em povoamentos puros ou mistos, associadas a culturas agrícolas, pastagens ou gado, com o objetivo de melhorar a produtividade que decorre do estabelecimento de interações ecológicas entre os vários componentes (Paulo & Almeida, 2017).
Muitos destes sistemas tradicionais apresentam um elevado valor ambiental e cultural, e encontram-se dispersos e adaptados a diversos climas, tipos de solo, organizações sociais ou estruturas de propriedade, entre outros (Oliveira et al., 2007; Paulo, 2020). Diversos estudos evidenciam a importância destes sistemas para a polinização, através da criação de novos e melhores habitats.
Na União Europeia, quase quatro quintos das flores silvestres e culturas das regiões temperadas, dependem em graus variáveis da polinização por insetos, estimando-se que a sua contribuição anual para a agricultura europeia é de cerca de 15 mil milhões de euros (Potts et al., 2015). Os insetos polinizadores são indispensáveis para a produção quantitativa e qualitativa dos alimentos e, em última análise, garantem a nossa segurança alimentar. Compreender o valor das plantas para uma região em termos de prestação de serviços ecossistémicos traduz-se em oportunidades para a sua manutenção e/ou reincorporação em paisagens agrícolas (Landis et al., 2012).
SISTEMAS AGROFLORESTAIS
De acordo com o tipo de atividades praticadas, os sistemas agroflorestais podem-se classificar em: silvopastoris (agro-silvo-pastoris), sebes vivas, cortinas de abrigo e galerias ripícolas, silvoaráveis, hortas familiares e superfícies ocupadas por diferentes espécies florestais associadas à atividade de produção vegetal e/ou animal (Oliveira et al., 2007).
Estes sistemas são de extrema importância e os benefícios resultantes das práticas agroflorestais vão para além da parcela ou exploração agrícola, assegurando múltiplos serviços ecossistémicos e potenciando o desenvolvimento de relações vantajosas, nomeadamente (Oliveira et al., 2007; Paulo & Almeida, 2017; Jose & Udawatta, 2021):
· o aumento da produtividade em relação a sistemas monoculturais;
· a possibilidade de compatibilização e manutenção de atividades tradicionais;
· a potenciação de sistemas inovadores resultantes da combinação de espécies arbóreas com novas culturas agrícolas emergentes;
· a melhoria da qualidade do solo: redução das taxas de erosão e lixiviação de nutrientes e aumento dos níveis de sequestro e “stocks” de carbono;
· o aumento da taxa de infiltração de águas das chuvas pelo efeito das raízes das espécies arbóreas;
· a diminuição da necessidade de uso de fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos;
· a redução das taxas de desflorestação e o consequente aumento dos níveis de sequestro de carbono e da disponibilidade de produtos lenho-celulósicos;
· a melhoria dos níveis de biodiversidade e do valor da paisagem;
· o controlo de incêndios florestais;
· a melhoria da saúde e bem-estar animal;
· a manutenção de condições microclimáticas;
· a criação de abrigo;
· a produção de alimentos saudáveis, fator central na atividade agrícola.
POLINIZADORES
Os polinizadores são essenciais para a natureza e para a humanidade e a maior diversidade de insetos polinizadores são espécies selvagens. Na Europa, os polinizadores são principalmente insetos, como abelhas selvagens e abelhas domésticas (Apis mellifera), moscas‑das‑flores e outras espécies de dípteros, lepidópteros e coleópteros. A abelha-do-mel ocidental (A. mellifera) é um dos polinizadores mais conhecidos, domesticada e gerida por apicultores para a produção de mel.
Os polinizadores são parte crucial dos ecossistemas, facilitando a reprodução das plantas indispensáveis para a produção de alimentos, melhoram também a estética dos ecossistemas. Sem serviços de polinização perderíamos muitas frutas, frutos secos e vegetais das nossas dietas, além de muitos outros recursos, tais como óleos vegetais, algodão e linho. Para além destes serviços de provisionamento e dos benefícios para os ecossistemas, a sociedade beneficia dos serviços que os polinizadores fornecem à nossa saúde e bem-estar, para recreação ao ar livre, educação, turismo e cultura (European Comission, 2024).
GESTÃO DA FLORA ADVENTÍCIA
Para o controlo biológico de conservação é importante a implementação de práticas que mantenham e melhorem a reprodução, sobrevivência e eficiência dos inimigos naturais que regulam as populações dos inimigos das plantas em sistemas agroflorestais, enquanto asseguram o incremento da polinização como serviço do ecossistema. Assim, apoiar as estratégias sustentáveis para o fomento da biodiversidade funcional é uma prioridade europeia (Conselho Europeu, 2023).
Para se desenvolverem, muitos auxiliares/polinizadores necessitam de aminoácidos, açúcares e proteínas, que obtêm do néctar e pólen das flores e das meladas produzidas por insetos homópteros (Furtado et al., 2016).
A manipulação das infraestruturas ecológicas de acordo com as características da fauna auxiliar, confere-lhes um valor ecológico muito importante para o controlo dos inimigos dos ecossistemas agroflorestais e confere à exploração agrícola e florestal um elevado valor de biodiversidade (Conselho Europeu, 2023). Antes de se intervir na instalação das infraestruturas ecológicas deve-se fazer levantamento das espécies de fauna e flora que existem na parcela, permitindo com este conhecimento promover a utilização de plantas em infraestruturas ecológicas (Jeavons et al., 2023).
Portugal está num “hotspot” de biodiversidade (Myers et al., 2000), possuindo elevada diversidade de polinizadores e plantas silvestres, e onde as principais culturas são polinizadas por insetos. Importa referir que 78% dos polinizadores depende de plantas silvestres e que 57% dos insetos são polinizadores de culturas (FAO, 2022).
INCREMENTO DA POLINIZAÇÃO COMO SERVIÇO DO ECOSSISTEMA
As abelhas domésticas (ordem Hymenoptera, superfamília Apoidea) assumem enorme importância como agentes de polinização.
Enquanto componente dos sistemas agroflorestais, a floresta portuguesa é um ecossistema de elevado valor apícola, fornecedor de recursos para as abelhas domésticas e que deve ser valorizado pelo serviço de polinização e pelos produtos apícolas associados, nomeadamente o mel, pólen e própolis. Para além disso, as florestas, sobretudo as de folha persistente, têm um rico e diverso estrato arbustivo e herbáceo associado que alimenta o serviço de polinização prestado, o qual se estende muito para além das áreas florestais, veja-se o exemplo do raio de ação de uma colónia de abelhas, que é superior a 10 km (FNAP, 2017).
Vários estudos têm sido desenvolvidos com o objetivo do conhecimento de espécies de plantas espontâneas importantes para o serviço de polinização (Nave et al., 2017; Monteiro et al., 2022). No que respeita especificamente à polinização pela abelha A. mellifera iberiensis, estudos das cargas polínicas permitem elencar famílias, géneros e, nalguns casos, espécies que as compõem (e.g. Godinho, 1990). Como exemplo referem-se espécies da vegetação arbórea e arbustiva característica das formações vegetais e agroflorestais em Portugal como Quercus suber L., Quercus faginea Lam., Cistus salviifolius L., Erica arborea L., Rubus ulmifolius Schott, bem como espécies frequentemente encontradas em agroecossistemas como Papaver rhoeas L. e Convolvulus arvensis L.
CONCLUSÕES
Hoje em dia, é consensual que os sistemas agroflorestais, se forem geridos de forma sustentável, podem providenciar diferentes tipos de serviços do ecossistema, com grande relevância para a sociedade, por contribuírem para a resolução de muitos problemas ambientais (Avillez et al., 2020). Por outro lado, é essencial melhorar a integração das medidas destinadas a proteger os polinizadores pela sua importância, quer para a biodiversidade, quer para a agricultura.
Uma correta manutenção das espécies herbáceas e arbustivas para as infraestruturas ecológicas em função das características morfológicas das famílias de auxiliares, vai permitir aumentar as suas populações. Desse modo, contribuirá para o aumento da eficiência da fauna auxiliar no controlo biológico dos inimigos das culturas, ou seja, através da limitação natural. A grande diversificação de utilização do solo, com melhores práticas de gestão, conduz a uma elevada diversidade florística que se traduz no elevado número de espécies entomológicas presentes e no incremento do serviço de polinização, com todas as mais valias já elencadas, contribuição que muito se deve à vegetação, como se pode depreender do trabalho de recoleção polínica em abelhas realizado por Godinho (1990).