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Revista Portuguesa de Educação
versão impressa ISSN 0871-9187
Rev. Port. de Educação v.19 n.2 Braga 2006
Comemorações dos 30 anos da Unidade de Educação de Adultos da Universidade do Minho. Reflexões sobre o passado, o presente e o futuro de um campo de práticas heterogéneo
No passado dia 10 de Outubro de 2006, a Unidade de Educação de Adultos (UEA) da Universidade do Minho assinalou o seu trigésimo aniversário. Com esse objectivo, teve lugar o seminário "Educação de Adultos. Tensões e Desafios", que contou com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros de educação de adultos, entre os quais, Peter Jarvis, da Universidade de Surrey (Reino Unido), Johan Norbeck, da Universidade de Linköping (Suécia), Alberto Melo, da Universidade do Algarve, Rui Canário, da Universidade de Lisboa, e Luís Areal Rothes, da Escola Superior de Educação do Porto. Cinco organizações promotoras de educação de adultos, entre elas associações sem fins lucrativos e instituições privadas de solidariedade social, apresentaram actividades de educação que têm em desenvolvimento. Foram também lançadas três obras: Unidade de Educação de Adultos. Percursos e Testemunhos, com organização de Rui Vieira de Castro, Amélia Vitória Sancho e Paula Guimarães, Educação Não Escolar de Adultos. Iniciativas de Educação e Formação em Contextos Associativos, com organização de Licínio C. Lima, e Adult Education. New Routes in a New Landscape, com organização de Rui Vieira de Castro, Amélia Vitória Sancho e Paula Guimarães. Esteve ainda patente a exposição Unidade de Educação de Adultos. Revisitar o Passado. Projectar o Futuro que pretendia testemunhar a actividade da UEA ao longo destes 30 anos. Este conjunto de actividades, que contou com a participação de mais de uma centena de pessoas, visibilizou as áreas de trabalho privilegiadas pela UEA desde a sua criação, em 1976, nomeadamente a educação e formação de adultos, a investigação e a edição, procurando-se reflectir o passado e o presente de uma acção que foi evidenciando características e especificidades únicas em Portugal.
Os trabalhos conduzidos no seminário reportaram-se às tensões com as quais a educação de adultos, enquanto campo de práticas, se confronta na actualidade e, sobretudo, aos desafios para o futuro. Os diversos oradores, académicos com trabalhos reconhecidos no campo e responsáveis ou elementos de organizações promotoras de iniciativas de educação de adultos, destacaram problemas e tendências que se revelam em diferentes níveis de intervenção e de análise.
Assim, os representantes das organizações convidadas descreveram as actividades em curso, acentuando a profissionalização dos seus recursos humanos, a especialização e a complexidade de muitas actividades realizadas e o impacto das mesmas na vida dos adultos. Estas apresentações foram depois comentadas por Luís Areal Rothes, que, enfatizando a relevância das actividades desenvolvidas, num contexto nem sempre favorável, alertou para os perigos da formalização das acções, da dependência das associações relativamente a programas de financiamento públicos e das dificuldades que hoje se colocam à construção de projectos educativos e de identidades próprias num campo de práticas marcadamente heterogéneo.
Alberto Melo, pelo seu lado, afirmou que a projecção do futuro da educação de adultos não pode ser conseguida sem a consideração do que foi o seu passado. Depois de revisitar a história deste campo no nosso país, desde 1974, o orador identificou alguns "tempos" nos quais a educação de adultos assumiu um protagonismo mobilizador e orientado para a inovação. Contudo, recordou, estes momentos têm sido, regra geral, seguidos por outros, nos quais são esquecidas e desvitalizadas as potencialidades de novos modos de intervir, facto que suscita algumas perplexidades e incertezas quanto ao futuro da educação de adultos.
Peter Jarvis enfatizou ainda o conteúdo dos discursos produzidos a nível supranacional, quer pela União Europeia como por outras organizações, nos quais é acentuada a inevitabilidade de, no contexto da globalização, crescer e aprender (e, segundo o autor, crescer e aprender infinitamente). De forma a responder às exigências de uma sociedade da informação e do conhecimento insatisfeita com os desempenhos dos seus cidadãos, a necessidade de educação vê-se substituída pelo desejo permanente de aprendizagem, num mundo que, dizem-nos, nunca pára e muda constantemente. O autor apelou então à necessidade de a educação de adultos se transcender, retomando caminhos já conhecidos, na educação popular e na intervenção cívica e sócio-educativa, por exemplo, por forma a devolver aos cidadãos a diversidade do mundo no qual vivem.
Na sua intervenção, Rui Canário equacionou os desafios que representam para o trabalho de interpretação do campo de práticas da educação de adultos as mutações a que ele se encontra sujeito, que suscitam a urgência de repensar a educação de adultos. Os conceitos e os dispositivos de leitura (bem como os ideais) que suportaram durante muitos anos as reflexões parecem ter perdido, segundo o orador, algum do seu valor analítico, num mundo que se transformou e que propõe à educação de adultos, em particular através da ênfase hoje colocada na formação profissional, a sua transformação numa máquina de produção de ilusões.
Tendo este aniversário sido caracterizado pela alegria inerente à comemoração de três décadas de intervenção, os oradores levantaram interrogações e identificaram riscos diversos, mas, simultaneamente, sugeriram a necessidade de a UEA insistir na reflexão permanente e, sobretudo, comprometida com um campo de práticas muito diversificado e complexo.
Paula Guimarães
Unidade de Educação de Adultos da Universidade do Minho