Tudo na vida começa por um aglutinar de vontades generosas, motivadoras e agregadoras.
Tudo na vida começa pequeno, simples, singelo...
Em Portugal, a Imunoalergologia, não existia como Especialidade reconhecida pela comunidade médica ou pelo poder político antes de 1987.
Tudo o que existia, e era muito, eram núcleos de Colegas especialmente interessados nesta área do conhecimento. Com a criação do Internato Complementar de Imunoalergologia em 1987, desenvolvem-se os primeiros Serviços, inicialmente em Hospitais Universitários, e a Especialidade, nomeadamente no H. S. João, orienta-se nessa fase, para o estudo, investigação, avaliação e tratamento de doentes com asma, rinites, doenças alérgicas da pele, doenças alérgicas ocupacionais, imunodeficiências e imunoterapia.
Com o passar dos anos, observa-se não só um aprofundamento do saber nessas áreas descritas, como o desenvolvimento muito expressivo de novas áreas de patologia, de que são exemplo alergia alimentar, alergia a venenos de himenópteros, alergia a fármacos, alergia no desporto, angioedema hereditário, mastocitose, etc.
No que respeita concretamente à área de Alergia a Fármacos a que me dediquei, a sua história remonta ao ano de 1996, quando fui encarregue pela Dra. Marianela Vaz, de me deslocar a Cracóvia para integrar o Grupo AIANE Project liderado pelo já falecido Prof. A. Szczeklik. Esta foi a primeira participação da imunoalergologia portuguesa numa organização internacional dedicada ao estudo de hipersensibilidade a fármacos, constituída por 21 Universidades de 14 países europeus e que teve por finalidade a caracterização da população de doentes asmáticos com hipersensibilidade à aspirina (AIA). A dinâmica e o entusiasmo que esta participação gerou, permitiu a apresentação numa mesa redonda na Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Imunoalergologia (SPAIC) de Aveiro dos dados entretanto recolhidos e posteriormente na Reunião Anual da SPAIC de Tróia (2000) que, por iniciativa conjunta de Emília Faria, Amélia Spínola, Elsa Tomás, Paula Leiria Pinto e de mim própria, fosse proposta à Direcção da SPAIC a criação do primeiro Grupo de Interesse desta Sociedade - Grupo de Interesse de Alergia a Fármacos.
A participação activa no Grupo ENDA (European Network on Drug Allergy), com publicação de artigos de consenso, standartização de procedimentos e “guidelines” para doentes adultos e de idade pediátrica, tem constituído outro factor de evolução constante e acelerada em todas as vertentes desta área de alergia a fármacos, respeitando grupos tão diversos de fármacos como os comuns antibióticos beta-lactâmicos e AINES, até aos citostáticos e agentes biológicos. Também a área da dessensibilização medicamentosa teve um incremento explosivo, sobretudo na Oncologia Médica e nos tratamentos com agentes biológicos, tanto em adultos como em crianças.
O entusiasmo das/dos responsáveis desta área nos diversos Centros que entretanto se têm vindo a alargar a outros hospitais do País, e o envolvimento contagiante dos nossos Internos de Formação especifica tem permitido, além de todo o trabalho clínico compreensivelmente moroso e de grande responsabilidade, a presença com trabalhos de investigação de indiscutível qualidade tanto nas reuniões da SPAIC como nas reuniões e Congressos da EAACI , em encontros específicos dedicados a estes temas como são os Drug Hypersensitivity Meetings e em que temos sido sempre dos países mais representados tanto a nível de apresentação de trabalhos como de participação em mesas redondas, em juris de seleção de melhores posters e comunicações orais.
Os múltiplos prémios recebidos em Portugal e em Congressos Internacionais para trabalhos apresentados são para mim neste momento dificeis de contabilizar. De realçar ainda e pela sua importância, os inúmeros artigos publicados em revistas Nacionais e Internacionais, nestas, nas com elevado factor de impacto.
A importância que a alergia a fármacos actualmente assume é reconhecida e comprovada pelo crescente número de doentes referenciados para as consultas específicas de AF, do número cada vez maior de consultas internas e chamadas ao SU, que tornam esta área determinante à afirmação da Imunoalergologia como Especialidade.
Este, é um capítulo do conhecimento que passou a fazer parte obrigatória da formação dos Internos o que permite que hoje em dia hajam por todo o País Imunoalergologistas capazes de resolverem a maioria dos casos com que se deparam.
Com o desenvolvimento de fármacos cada vez mais complexos, é de esperar que a importância do estudo desta área seja um repto sempre desafiante, laborioso e eternamente inacabado.
Tarefa ideal a cumprir pelas novas gerações!
Tudo na vida começa pequeno, simples, singelo...