Decorreu no dia 20 de abril de 2024, em Coimbra, a 23.ª Reunião da Primavera da SPAIC, dedicada ao tema Rinite e rinossinusite, patologia central na prática da Imunoalergologia.
O conceito pilar do debate consistiu na interdisciplinaridade essencial para o diagnóstico e tratamento do doente com patologia nasossinusal, que se caracteriza pela coexistência de fatores inflamatórios e condicionantes anatómicas. Nesta perspetiva, foram abordadas as diversas estratégias terapêuticas, designadamente a imunoterapia específica, as vacinas de treino imunitário, as terapêuticas biológicas e a intervenção cirúrgica.
A propósito do Dia Mundial da Consciencialização para a Rinossinusite Crónica com Polipose Nasal, o programa incluiu a conferência do Dr. Peter Hellings, que destacou dados recentes sobre terapêutica com biológicos, bem como os esforços que o EUFOREA está a desenvolver junto da Comissão Europeia para promover a literacia em saúde e responsabilização junto das entidades decisoras em saúde.
Ainda sobre o tema Rinossinusite Crónica com Polipose Nasal, saliento a disponibilidade, o empenho e o contributo de todos os serviços, que num esforço comum alcançou a colheita dos dados para a caraterização dos doentes com RSC com PN sob terapêutica biológica - uma perspetiva nacional, apresentados na Reunião. Num enorme esforço e num curto espaço de tempo, os imunoalergologistas envolvidos revelaram uma excelente capacidade de cooperação.
Dirijo a todos um sentido agradecimento, pessoal e em nome da Coordenação do Grupo de Interesse da Rinite & Rinossinusite da SPAIC.
Também a rinite alérgica foi mote de reflexão científica. Sendo muito prevalente, é frequentemente confundida como uma doença banal. Mas não é simples, nem banal, é uma doença complexa e heterogénea. Na mesa-redonda “Rinite de difícil controlo”, foi focada a intervenção da Imunoalergologia na otimização diagnóstica da inflamação nasal alérgica. Compete ao imunoalergologista assumir que o diagnóstico de rinite alérgica não se restringe à dicotomia presença/ausência de atopia sistémica, sendo importante avançar com estudos adicionais para pesquisa de rinite alérgica local. Só desta forma será possível esclarecer a epidemiologia, a história natural e impacto global de todas as formas de rinite alérgica. E, numa perspetiva de Medicina de Precisão, esta é também a única forma de conceder ao doente previamente rotulado de não alérgico, o acesso à otimização diagnóstica e terapêutica especifica da sua doença alérgica.
O curso, que decorreu Pré-reunião, incluiu fundamentos teóricos e práticos sobre as provas de provocação nasal específica, o estudo do olfato, a avaliação imagiológica nasossinusal (através de endoscopia nasal e de metodologias radiológicas) e a avaliação objetiva da permeabilidade nasal (através da rinometria acústica e da rinomanometria). Estas metodologias de avaliação objetiva têm sido subutilizadas, pelo que o curso, fomentando o desenvolvimento de competências técnico-profissionais nesta área, pretendeu sensibilizar para a sua implementação na prática assistencial. É relevante que os PROMS tenham vindo permitir que a perceção do doente sobre a sua doença seja incluída na equação da abordagem diagnóstica e terapêutica do doente, mas é também relevante que a avaliação do doente com patologia nasossinusal seja abrangente, e por isso inclua adicionalmente dados objetivos da doença, de forma a garantir que exista um equilíbrio clinico-funcional na avaliação da doença e do doente.
Em resumo, sublinhou-se o papel da Imunoalergologia, numa perspetiva interdisciplinar, na otimização do diagnóstico e na intervenção terapêutica dirigida às especificidades inflamatórias de cada doente. A precocidade destas abordagens permite um melhor controlo da doença nasossinusal e uma eventual remissão.
A globalidade do programa foi atual e pertinente, mas o universo da rinite é muito amplo e por isso ficaram por abordar muitas especificidades sobre a rinite, designadamente estratégias de intervenção nos fatores etiopatogénicos da doença: a interação dos fatores do aeroexposoma com a interface epitelial; os diversos mecanismos imunes da resposta da mucosa nasal; o papel das células não imunes, do microbioma e da unidade neuronal-célula imune na equação dos eventos imunológicos; a imunidade inata e a imunossenescência…
Faltou uma reflexão sobre patologia fúngica. E rinite em idade pré‑escolar no idoso, na grávida, no desporto e na escola…
Termino com um desafio aos jovens imunoalergologistas: sigam o exemplo de tantos especialistas, que nos seus serviços ou através da SPAIC se têm dedicado à investigação, à divulgação e à abordagem clínica da doença nasossinusal; apliquem uma pequena parte do vosso empreendorismo, energia e inovação no estudo da rinite. Acarinhem o tema e, também, a nossa Revista Portuguesa de Imunoalergologia!