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Nascer e Crescer

versão impressa ISSN 0872-0754versão On-line ISSN 2183-9417

Nascer e Crescer vol.33 no.3 Porto set. 2024  Epub 30-Set-2024

https://doi.org/10.25753/birthgrowthmj.v33.i3.38387 

Editorial

Health Literacy - A New Challenge for Healthcare Professionals

Literacia em Saúde - Um Novo Desafio para os Profissionais de Saúde

Pedro Lopes Ferreira1  2  3 
http://orcid.org/0000-0002-9448-9542

1 Full Professor Emeritus of the Faculty of Economics of the University of Coimbra. 3004-512 Coimbra, Portugal.

2 Center for Health Studies and Research (CEIS) of the University of Coimbra. 3004-512 - Coimbra, Portugal.

3 Member of the Academic Health Literacy Network (RALS), Portugal. pedrof@fe.uc.pt


September was celebrated as Health Literacy Month. Health literacy is a concept associated with the empowerment of individuals in relation to the health system, which is increasingly present in Portugal’s health policy. With greater health literacy, citizens can navigate the health system more effectively and better evaluate the care they receive and manage their health and care plans. Therefore, it is crucial to promote and strengthen strategies and means to support citizens’ literacy, education and empowerment.

This concept appears to have first emerged in the context of health education 50 years ago in an article entitled Health Education as Social Policy, published in Health Education Monographs. In this article, the author, Scott Simonds, highlighted the lack of policies focused on health education. According to this professor of health education at the University of Michigan, health education is a matter of social policy, involving both a social dimension of public welfare and a financial dimension for the efficient management of resources.

Failure to assess the full impact of literacy on health contributes to growing inequalities. Therefore, it is essential to remove existing educational barriers to enable interventions in the social determinants of health. In this sense, literacy plays a central role in health equity, and the promotion of health literacy is now considered a public health goal. It is known that people with lower levels of literacy are 1.5 to 3 times more likely to report poor health than those with higher levels of literacy.

Since then, the concept has evolved and undergone several changes. In 2021, the World Health Organization (WHO) defined health literacy as the knowledge and personal skills, mediated by organizational structures and available resources, that enable people to access (the ability to seek, find, and obtain health-related information), understand (the ability to comprehend the information), evaluate (the ability to filter and evaluate the information), and use (the ability to communicate and apply the information in decision making) information and services to promote and maintain their health and well-being and that of those around them.

To measure health literacy, there is a validated tool in European Portuguese called the European Health Literacy Survey Questionnaire (HLS-EU-Q). Based on the work of Kristine Sørensen, it allows the construction of four levels of health literacy (inadequate, problematic, sufficient, and excellent) for each of the three health domains (health care, disease prevention, and health promotion), as well as an overall domain.

In summary, health literacy is important because it enables individuals to increase their knowledge, achieve personal goals, and participate more fully in society and the economy. Literacy can be improved through formal education, structured communication, and lifelong learning.

Healthcare professionals play a critical role in promoting health literacy by helping patients better understand health information and make informed decisions. In addition, health literacy is essential to the effectiveness and efficiency of health services, contributing to the sustainability of the National Health Service (NHS) and improving the quality of life of the population.

However, it is clear that professionals face challenges in communicating with patients, such as time pressure, the use of excessive jargon that can confuse patients, the need for greater empathy to help patients overcome fear, anxiety or mistrust, and the cultural and linguistic diversity of the healthcare system that hinders full understanding.

Overcoming these challenges requires greater investment in professional training and the use of support tools such as accessible information materials and communication technologies.

Em setembro celebrou-se o mês da literacia em saúde, um termo cada vez mais presente na política de saúde em Portugal, associado à capacitação das pessoas face ao sistema de saúde.

Com maior literacia, os cidadãos conseguem navegar melhor no sistema de saúde, avaliar melhor os cuidados prestados e fazer uma melhor gestão da sua saúde e do seu plano de cuidados. Há, assim, que promover e reforçar estratégias e meios de apoio à literacia, à capacitação e ao empoderamento dos cidadãos.

Este conceito parece ter surgido pela primeira vez há 50 anos no contexto da educação para a saúde num artigo intitulado Health Education as Social Policy e publicado na revista Health Education Monographs. Já nessa altura, neste artigo, o seu autor Scott Simonds, chamava a atenção para a ausência de políticas orientadas para a educação em saúde e, segundo este professor de educação em saúde da Universidade de Michigan, a educação em saúde é uma questão de política social, pois compreende uma dimensão social de bem-estar da população, e uma dimensão financeira de gestão eficiente dos recursos.

Não avaliar o impacto da literacia em geral na saúde contribui para o aumento das desigualdades. Por isso, há que remover as barreiras educacionais existentes nas pessoas para que possamos intervir nos determinantes sociais da saúde. Deste modo, a literacia tem um papel central na equidade em saúde, sendo a promoção da literacia considerada hoje como uma meta da saúde pública. É sabido que pessoas com menores habilitações literárias têm, em geral, 1,5 a 3 vezes mais probabilidade de terem um estado de saúde mau, em relação aos com maiores habilitações.

Desde então, este conceito tem evoluído e sofrido diversas mudanças ao longo do tempo. Em 2021, a OMS definiu o conceito de literacia em saúde como conhecimentos e competências pessoais mediados pelas estruturas organizacionais e pela disponibilidade de recursos que permitem às pessoas aceder (competência de procurar, encontrar e obter informação relacionada com a saúde), compreender (capacidade de entender a informação procurada), avaliar (capacidade de filtrar e avaliar a informação encontrada) e utilizar (capacidade de comunicar e utilizar nas tomadas de decisão) informações e serviços de forma a promover e manter uma boa saúde e bem-estar para si e para aqueles que as rodeiam.

Para medimos a literacia em saúde, existe um instrumento de medição já validado em português europeu e denominado HLS-EU-Q (European Health Literacy Survey Questionnaire). Baseado nos trabalhos de Kristine Sørensen, permite a construção de quatro níveis de literacia em saúde (inadequado, problemático, suficiente e excelente), para cada um dos três domínios da saúde (cuidados de saúde, prevenção da doença e promoção da saúde), bem como para um domínio global.

Concluindo, a literacia em saúde é importante pois permite que as pessoas desenvolvam melhor os seus conhecimentos, atinjam objetivos pessoais e participem mais plenamente na sociedade e na economia. A literacia pode ser melhorada através da educação formal, de uma comunicação estruturada e da aprendizagem ao longo da vida.

Os profissionais de saúde desempenham um papel crucial na promoção da literacia em saúde, ajudando os doentes a melhor compreenderem as informações de saúde e a tomarem decisões informadas. Além disso, a literacia em saúde é fundamental para a eficácia e eficiência dos serviços de saúde, contribuindo para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e para a melhoria da qualidade de vida da população.

É evidente, no entanto, que os profissionais enfrentam alguns desafios na comunicação com doentes, de entre os quais podemos destacar a pressão pelo tempo a que os profissionais, na maioria, estão sujeitos, a utilização excessiva de termos técnicos que pode confundir os doentes, a necessidade de maior empatia para com os doentes para que estes possam ultrapassar medos, ansiedade ou desconfiança e, por fim, a grande diversidade cultural e linguística do nosso sistema de saúde, dificultando uma compreensão perfeita.

Para ultrapassar estes desafios, há que investir mais na formação dos profissionais e utilizar ferramentas de apoio, como materiais informativos em linguagem acessível e tecnologias de comunicação.

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