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Sociologia

versão impressa ISSN 0872-3419

Sociologia vol.27  Porto jan. 2014

 

ARTIGOS

Deambulações exploratórias no Centro Histórico de Guimarães – pontos de chegada sociológicos num estudo multidisciplinar

Exploratory wanders in the Historic Centre of Guimarães – sociological points of arrival in a multidisciplinary study

Déambulations exploratoires dans le Centre Historique de Guimarães – points d’arrivée sociologiques dans une étude multidisciplinaire

Deambulaciones exploratorias en el Centro Histórico de Guimarães – puntos de llegada sociológicos en un estudio multidisciplinar

Natália Azevedo1 Raquel Cadilhe Pereira2

Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Faculdade de Letras da Universidade do Porto


 

RESUMO

Protagonista da Capital Europeia da Cultura 2012, o Centro Histórico de Guimarães, Património Cultural da Humanidade, é palco de uma multiplicidade de sociabilidades, modos de apropriação e interação dos atores que nele residem, trabalham e o frequentam. Quem são os atores sociais do centro histórico e o que os caracteriza? Como representam e se relacionam com este lugar? Que potencialidades e desafios se lhe colocam e que caminhos de intervenção futura poderão ser traçados? Uma incursão exploratória neste espaço público ilustra a construção social da realidade quotidiana que o olhar sociológico das deambulações no terreno procurou descortinar.

Palavras-chave: Centro Histórico de Guimarães; moradores e não moradores; representações e sociabilidades; intervenção social e cultural.


ABSTRACT

Main character of the European Capital of Culture 2012, the Historic Centre of Guimarães, Cultural Heritage of Humanity, is the stage of a variety of social relations, modes of appropriation and interaction of its residents, workers and frequent visitors. Who are the social actors of the historic center and what are their features? How do they represent and relate to this place? What strengths and challenges will it face and what paths of future intervention can be traced? An exploratory foray into this public space illustrates the social construction of daily reality that the sociological perspective sought to unfold in the wanderings through the field.

Keywords: Historic Centre of Guimarães; residents and non-residents; representations and social relations; social and cultural intervention.


RESUMÉ

Protagoniste de la Capitale Européenne de la Culture 2012, le Centre Historique de Guimarães, Patrimoine Culturel de l’Humanité, est le scénario d’une multitude de sociabilités, de modes d’appropriation et d’interaction des acteurs qui y résident, travaillent et assistent. Qui sont les acteurs sociaux du centre historique et quelles sont leurs caractéristiques? Comment représentent et rapportent-ils cet endroit ? Quelles sont les potentialités et les défis qui lui attendent et quels sont les chemins possibles pour une intervention? Une incursion exploratoire dans cet espace public illustre la construction sociale de la réalité quotidienne que la vision sociologique des déam- bulations sur le terrain a essayée de faire.

Mots-clés: Centre Historique de Guimarães; résidents et non-résidents; les représentations et sociabilités; l’intervention sociale et culturelle.


RESUMEN

Protagonista de la Capital Europea de la Cultura 2012, el Centro Histórico de Guimarães, Patrimonio Cultural de la Humanidad, alberga una multitud de relaciones sociales, modos de apropiación y interacción de los actores que residen, trabajan y asisten. ¿Quiénes son los actores sociales del centro histórico y qué los caracteriza? ¿Cómo representan y se relacionan con este lugar? ¿Qué potencial y desafíos se presentan? ¿Cuáles son las futuras intervenciones a realizarse? Una incursión exploratoria en este espacio público ilustra la construcción social de la realidad cotidiana que el trabajo sociológico en el terreno intentó descubrir.

Palabras clave: Centro Histórico de Guimarães; residentes y no residentes; representaciones y relaciones sociales; intervención social y cultural.


 

Introdução

O presente texto retrata alguns pontos de chegada de uma experiência de pesquisa participada que vivenciámos no âmbito do Estudo Multidisciplinar Centro Histórico de Guimarães. Projeto de Animação Pedagógica AAVV, 2012). Este Estudo foi promoido pela FRATERNA, Centro Comunitário de Solidariedade Social e Integração Social/Câmara Municipal de Guimarães e concebido e coordenado pela SETEPÉS. Teve lugar entre setembro de 2010 e maio de 2012, integrou uma equipa plurifacetada, assumiu uma metodologia participada e cruzada e desenvolveu-se em três fases específicas, com tempos de execução diferenciados: Focus Group, Atividades e Laboratório. A conceção e a aprovação do projeto decorreram entre junho e setembro de 2010 e enquadrou-se na Parceria Para a Regeneração Urbana do Centro Histórico de Guimarães, que contemplava à data, e no âmbito da candidatura a Capital Europeia da Cultura, um leque de intervenções sobre o centro histórico e a cidade.3 Este Estudo teve como principal objetivo contribuir para a promoção de atividades pedagógicas de animação cultural e de integração social do Centro Histórico de Guimarães CHG). Nesse sentido, e por via de propostas informativas, diagnósticos e intervenções participadas equipa e população local), procurou-se i) conhecer os modos de relação da população local com o centro histórico e ii) sensibilizar os atores locais para a participação ativa e refletida com e nas atividades de conservação, reabilitação, classificação e animação.

1. Pontos de partida dos interlocutores da sociologia: objetivos, pressupostos e desenho metodológico

Foi com um pressuposto exploratório que o olhar sociológico recaiu sobre o território em análise. O lugar da sociologia definiu-se na temporalidade temática do próprio Estudo e na pluridisciplinaridade da equipa de pesquisa e de ação. Se atendermos às três fases realizadas, a nossa participação desenhou-se no conjunto de todas elas. O Focus Group fase 1) constituiu um momento preliminar. Contemplou três grupos focais com distintos participantes, entre dezembro de 2010 e fevereiro de 2011, e teve como principal objetivo explorar questões sobre o objeto em análise. As Atividades fase 2), executadas entre fevereiro de 2011 e janeiro de 2012, foram orientadas pelos elementos da equipa e desenharam-se em oficinas, debates deliberativos, inquéritos por questionário, questionários online, escalas psicológicas de autorrelato, grelhas de observação direta e participante, workshops, entre outras. O Laboratório fase 3), realizado entre fevereiro e março de 2012, consistiu em reuniões de trabalho da equipa, momentos de discussão do trabalho desenvolvido, no sentido de definir, como output final do Estudo, um Plano de Ação. Reportemo-nos às duas primeiras e com maior destaque àquilo que fizemos na fase 2 do Estudo.
A participação da equipa na conceção, dinamização e análise dos três grupos focais permitiu definir os problemas para as ações de cada área de intervenção e desenhar a intervenção concreta e posterior da sociologia. Com os grupos focais realizados no centro histórico criámos interações entre os participantes e contextualizámos os problemas e as propostas de intervenção. De acordo com características sociodemográficas prévias dos interlocutores idade, género, nível de escolaridade, profissão, residência e não residência no centro histórico), a composição diferenciada entre eles levou-nos ao confronto de perspetivas. Coligimos discursos de interlocutores do poder político local, técnicos superiores autárquicos e promotor do Estudo; de moradores e não moradores no CHG, ambos residentes no concelho, e empresários e comerciantes da cidade. Assumiu-se a relativa homogeneidade dos grupos, sem com tal garantir os consensos e/ou as diferenças de pontos de vista, mas, antes de mais, a possibilidade da abordagem comparativa entre aqueles4.
A fase 2 teve como objetivo principal elaborar o diagnóstico sociodemográfico dos moradores e não moradores do CHG e os seus modos de relação com este território, sem esquecer a área classificada como Património Mundial, o projeto Capital Europeia da Cultura 2012 (CEC 2012) e a cidade/concelho. Tal exigiu-nos i) caraterizar o perfil sociodemográfico dos moradores e não moradores do CHG; ii) fazer o levantamento das representações desta população-alvo face ao CHG; iii) inventariar potencialidades e dificuldades subjacentes à requalificação do CHG, à animação social e cultural do território, às vivências quotidianas do CHG; e iv) inventariar junto daqueles propostas de intervenção no CHG numa relação estreita com a CEC 2012 e o projeto da cidade.
Centrámo-nos nos indivíduos moradores e não moradores do CHG. Porém, e com vista a uma maior exploração das potencialidades da análise – dado que a observação inicial do território nos confrontava com diversos atores – diferenciou-se esta população-alvo num conjunto de quatro categorias: i) moradores do CHG; ii) moradores do CHG com atividade no CHG; iii) não moradores com atividade no CHG; e iv) não moradores (frequentadores) do CHG. O critério estruturante foi o da atividade exercida e da residência no CHG.
Na medida em que era nossa intenção obter um conjunto de informações de caráter exploratório, não assumimos categorias rígidas para definir o tamanho e composição amostral. A inexistência de bases amostrais com o número de residentes no CHG reforçou este nosso pressuposto qualitativo. Optou-se por realizar o processo de inquirição percorrendo as ruas residenciais do CHG com base no mapa oficial da Câmara Municipal de Guimarães (CMG) e concretizando uma abordagem em “bola de neve”. As nossas deambulações pelo terreno permitiram reunir uma amostra total de 101 indivíduos distribuídos da seguinte forma: i) 46 moradores do CHG (moradores das freguesias de Oliveira do Castelo, São Paio e S. Sebastião); ii) 10 moradores do CHG com atividade no CHG; iii) 26 não moradores com atividade no CHG; e iv) 19 não moradores frequentadores) do CHG.
A abordagem ao território foi exploratória e qualitativa. Privilegiámos a confluência entre o inquérito por questionário, a observação direta e as conversas informais no terreno, para além da análise de fontes documentais, descritivas, dispersas e de enquadramento monográfico do território em análise. Orientámo-nos pelo vaivém entre os pressupostos teóricos e a prática da investigação, sem obliterar a relatividade dos contextos sociais e dos atores neles presentes, os condicionalismos temporais e institucionais da abordagem ao objeto e as disponibilidades individuais e simbólicas dos atores com quem abordámos as temáticas em análise.
O inquérito permitiu-nos reunir alguns indicadores sociodemográficos e abrir uma perspetiva macrossociológica quanto aos discursos sobre o CHG. Assumiu um desenho formal semiestruturado ver Anexo I): equilibrou-se um conjunto de possibilidades de resposta baseadas nas questões levantadas pela realização dos grupos focais com as possibilidades abertas de resposta. O interesse era o de obter, nesta abordagem de pré-teste ao questionário, novas categorias de resposta não apreendidas.
Os registos de observação direta foram de encontro à necessidade de complementar a informação sobre as dinâmicas desenvolvidas no CHG, com uma descrição de dimensões espácio-temporais e informações acerca dos atores sociais e respetivo contexto interativo. Descreveu-se a forma como se apresentava a população-alvo no espaço, respetivas modalidades de apropriação do espaço e interações sociais, fluxos de públicos e tipo de rotinas/regularidades existentes. De outra forma, salientámos categorias de análise como: a) cenário das práticas culturais (coordenadas temporais e coordenadas espaciais); b) atores sociais perfil tipo, modos de apresentação, modalidades de inte- ração); c) linguagem cinética; d) relação com o espaço físico e tipo de atividades. No Anexo II encontramos um exemplo dos usos descritivos de tais registos anotados em grelha de observação.
Os périplos pelo CHG foram sempre acompanhados pelo suporte da imagem. Os registos fotográficos, abertos e focalizados nos espaços públicos, traduziram os potenciais usos sociológicos da fotografia: um instrumento de catalogação, seletiva e direcionada, de fragmentos dos espaços públicos e das interações desenhadas.
Complementarmente, as deambulações físicas pelo terreno permitiram reunir um conjunto de trechos de discursos informais proferidos pelos interlocutores no momento da aplicação do inquérito. A riqueza e a pertinência de tais testemunhos foram devidamente anotadas em diário de campo e reforçaram a necessidade de configurarmos na fase 3, e como estratégia de ação futura, entrevistas em profundidade aos atores sociais residentes no CHG.

 

 

2. Pontos de chegada: das proximidades e distâncias face ao Centro Histórico de Guimarães

Um dos objetivos primordiais foi o de descrever quem são os moradores do CHG numa perspetiva de caraterização sociodemográfica. Categorias como idade, sexo, escolaridade, profissão, classe social, estado civil, naturalidade e local de residência (freguesia) foram por nós isoladas para identificar alguns padrões em cada um dos grupos de indivíduos inquiridos, particularmente os moradores, os indivíduos com atividade no CHG (moradores ou não) e os frequentadores do CHG (sem qualquer relação habitacional ou laboral com o CHG). Expõem-se algumas dimensões específicas de cada um destes grupos, em termos de representações específicas sobre o CHG, cruzando-as com as virtualidades, ainda que limitadas, das nossas incursões etnográficas pelo território.

 

 

2.1. Os moradores do Centro Histórico de Guimarães

As deambulações pelo terreno permitiram perceber que se trata de uma população tendencialmente envelhecida, que se encontra só no momento da inquirição e que sugere algum isolamento nas vivências residenciais do quotidiano.

    Não estou a ver ninguém com menos de 60 anos a morar aqui. As casas aqui estão vazias e não há jovens. (Moradora no CHG, 67 anos, Oliveira do Castelo)

Entre os 56 moradores do CHG inquiridos (10 dos quais com atividade no CHG) cerca de 52% tem mais de 60 anos e 34% encontra-se entre os 51 e os 60 anos de idade. Apenas 14% dos moradores inquiridos se encontra na faixa etária dos 21 aos 50 anos. É uma população com um forte traço de feminização: as mulheres representam 66% do total de moradores inquiridos. Tal poderá associar-se ao momento de aplicação do inquérito (período laboral, com a dona de casa disponível para responder) mas, de igual modo, e numa população tendencialmente envelhecida, a regularidades demográficas como a diferença entre a esperança média de vida feminina e masculina (maior entre as mulheres) e a prevalência de viúvas idosas em Portugal.

 

 


Parte significativa destes indivíduos residiu desde sempre no CHG e quase todos eles na mesma casa, tal como frequentemente referiram nos discursos informais paralelos ao preenchimento do inquérito. 51,8% dos moradores reside no CHG há mais de duas décadas; 25% há mais de 50 anos. O ter nascido e vivido sempre no CHG é uma constatação feita pelos próprios: associam o período de residência à idade e reforça-se o pressuposto de que desde sempre lá moraram. O tempo longo de permanência no CHG deve-se a razões como a proximidade das facilidades do centro e os motivos pessoais (vir morar para a casa do cônjuge depois do casamento ou usufruir de uma herança familiar). O encantamento pela zona nobre da cidade, as sociabilidades e vizi- nhança, a arquitetura e historicidade do local e o estilo de vida do CHG reabilitado são outras razões, ainda que menos centrais nos universos discursivos dos moradores. A razão acesso à cultura e animação do CHG não foi selecionada por nenhum dos moradores inquiridos.

 

 


Esta mesma população situa-se nos níveis mais baixos de escolaridade. Os inqui- ridos com o 1.º ciclo do ensino básico ou nenhuma escolaridade representam mais de metade da amostra de moradores (58,9%). Esta tendência é correlativa da idade dos inquiridos, pertencentes a uma geração em que a escolaridade ia frequentemente no máximo até à “4.ª classe”. Refira-se, porém, a relativa presença dos inquiridos com o 3.º ciclo do ensino básico (14,3%) e o ensino superior (10,7%), o que traduz a trajetória da escolaridade obrigatória e as escolhas face à prossecução dos estudos entre os grupos etários mais jovens.
Do ponto de vista das suas pertenças de classe social, situamos estes 56 moradores na pequena burguesia independente e proprietária (PBIP) 21,5%), em parte por efeito dos inquiridos moradores com atividade no CHG: são estes que protagonizam lógicas profissionais de comércio local(o seu próprio negócio); como tal, são trabalhadores por conta própria. Encontramos também um conjunto de inquiridos classificados como pequena burguesia de execução PBE) 19,7%) nos quais se incluem, predominantemente, trabalhadores executantes do setor terciário e dos serviços. Para além destas, é representativo o operariado industrial (OI) (17,3%), onde se destacam os operários da indústria têxtil e do calçado. Pode dizer-se que os moradores do CHG pertencem às posições intermédias e tendencialmente mais baixas da estrutura de classes sociais.
Durante a aplicação do inquérito foi ainda possível dar conta de um conjunto de indivíduos que moraram mas já não moram no CHG. Destes 8 inquiridos, 5 declaram razões pessoais como as explicativas da sua saída. Porém, a degradação da habitação, o barulho da animação e a falta de segurança são também apontados. São valores pouco expressivos, dada a amplitude amostral da fase exploratória do estudo; no entanto, não devem deixar de ser tidos em consideração já que outros dados resultantes do inquérito apontam para tendências nesse sentido. Nos próprios diálogos informais que a dado momento se estabeleceram, situámos expressões como:

    Isto é bom é para o turismo. Para morar não! Eu se pudesse sair daqui saía. (Mora- dora no CHG, 38 anos, Oliveira do Castelo)

2.2. Os inquiridos com atividade e os frequentadores do Centro Histórico de Guimarães

O total de inquiridos com atividade profissional no CHG corresponde a 35,6% da amostra. Destes 36 inquiridos, 27,7% são moradores com atividade no CHG. São indivíduos do sexo feminino 78%), envolvidos na área do comércio, proprietários do seu negócio/da sua loja. Pode dizer-se que o comércio é a sua atividade principal: regista 63,9% de casos, seguindo-se os serviços 22,2%) e a área de atividade dos bares, cafés e animação noturna 13,9%). Estão socialmente situados na pequena burguesia independente e proprietária PBIP) 30,5%) são comerciantes proprietários das suas próprias lojas. Predomina ainda a pequena burguesia de execução PBE) 27,7%), trabalhadores do terciário, facto que está intimamente associado à predominância de inquiridos envolvidos na área do comércio. Há ainda uma parte significativa de burguesia profissional BP) 16,6%), o que corresponde aos técnicos e profissionais de nível intermédio isolados.

 

 

A dispersão de idades encontra-se entre os indivíduos que exercem atividade no CHG. Porém, é possível verificar que 25% dos mesmos se encontra entre os 21 e os 30 anos, o que sugere uma tendência relativamente jovem deste grupo, e 25% entre os 31 e os 40 anos. As franjas mais envelhecidas deste conjunto de inquiridos representam ainda uma parte significativa dos trabalhadores no CHG 13,8% com mais de 60 anos). Esta categoria de inquiridos, ao ser um grupo mais jovem, é um grupo com um maior prolongamento da escolaridade: 33,3% com o 3.º ciclo do ensino básico 9.º ano de escolaridade) e 33,3% com o ensino secundário 12.º ano).

Qual o perfil dos indivíduos que apenas frequentam espaços do CHG? No quadro da nossa amostra 19), são principalmente indivíduos entre os 31 e 40 anos de idade 42%) e do sexo masculino 73,7%). O caráter exploratório do questionário e a sua aplicação em horário diurno relativizam estes traços, dado que não captam eventuais camadas juvenis que tendem a concentrar-se à noite nos bares e cafés. A escolaridade destes sujeitos, por seu turno, aponta para valores significativos de níveis de qualificações mais elevados. Destacam-se os inquiridos com o ensino secundário 31,6%) e com frequência universitária 21,1%).
A classificação destes indivíduos em termos de classe social permite dar conta da sua diversidade. Não existe nenhum padrão que se evidencie; porém, entre os valores mais expressivos 15,8%), ressalta um segmento de profissões mais qualificadas respeitante à pequena burguesia técnica de enquadramento intermédio PBTEI) e pequena burguesia intelectual e científica PBIC). Com os mesmos valores se salientam a burguesia empresarial e proprietária BEP) e o operariado pluriactivo OP).

2.3. Discursos e práticas sobre o Centro Histórico de Guimarães

Morar e trabalhar no CHG

Entre os 56 moradores, as interações quotidianas caracterizam-se por fortes laços de sociabilidade e vizinhança 60,7% dos inquiridos assim o refere), ainda que 25% dos moradores considere serem apenas relacionamentos superficiais e 14,3% refere mesmo que não existe qualquer tipo de relação entre moradores. Os registos de observação direta e, em particular, os discursos informais dos moradores revelam algumas destas lógicas de sociabilidade local: os aglomerados de vizinhos que conversam à porta de suas casas, o cumprimento matinal em voz alta na rua, o sentido de comunidade nas afirmações que a dado momento proferem:

    Gosto de me reunir na coletividade da minha rua, que é uma forma de convivermos entre os moradores, tomarmos qualquer coisa todos juntos. Gosto da festa do Corpo de Deus que a coletividade organiza, onde temos muitas flores nesta rua! (Moradora no CHG, 60 anos, Oliveira do Castelo)

 

 

Já quanto aos inquiridos com atividade, os discursos sobre o impacto da regeneração urbana na sua atividade laboral traduzem a falta de consensualidade: 44% dos sujeitos considera que aquela não teve impacto na atividade comercial/serviços e 56% avalia-a como maioritariamente positiva. Apesar das perceções tenderem para um padrão mais otimista, é ainda significativa a proporção de indivíduos que não deteta mudanças na sua atividade.
Quando explicitam as suas perceções, as mais positivas destacam os benefícios trazidos pela maior atração de público ao CHG 65% em 20 inquiridos). É também expressiva a proporção de inquiridos que menciona o aumento do turismo como consequência da intervenção urbanística 25%), considerando que tal tem efeitos benéficos para os vendedores/ profissionais dos serviços no CHG. Encontram-se ainda expressões que vão de encontro à seguinte ideia: esta intervenção suscitou uma maior vontade de exporem o seu trabalho 5%) e tornou o ambiente comercial mais agradável à vista das pessoas 5%). Em contrapartida, entre os 16 que admitem não ter detetado nenhum efeito proporcionado pela regeneração do CHG, a grande maioria refere que não sentiu nenhuma diferença. Entre eles, 7% especifica que não foi a regeneração urbana que produziu efeitos, mas sim o investimento no próprio estabelecimento comercial que trouxe benefícios.
As conversas informais com alguns dos comerciantes destacam aspetos que consideram ser prejudiciais para o comércio do CHG: as cargas e descargas de mercadoria, que se tornam difíceis pelo facto de serem ruas estreitas, e a ausência de parqueamento no CHG. Tal leva à rápida descarga da mercadoria cometendo infração veículo em cima do passeio) e conjuga-se com uma certa falta de tolerância da polícia para essa situação:

    Há uma falta de tolerância da polícia municipal para os comerciantes locais no que respeita às cargas e descargas – já multaram e ameaçaram multar) os distribuidores por encostarem os veículos em cima do passeio para descarregar mercadoria – já perdemos encomendas e tivemos que esperar mais uma semana para o fornecedor voltar. (Não morador com atividade no CHG, 33 anos, São Faustino)

Associado a este problema são também frequentes os discursos que apontam no sentido da necessidade de criação de parqueamento para atrair pessoas para o CHG:

    A falta de estacionamento prejudica fortemente os comerciantes que nesse aspeto não podem competir com os centros comerciais. Deveria criar-se uma solução de parqueamento mais próxima do CHG para dar essa possibilidade de escolha às pessoas. (Não morador com atividade no CHG, 33 anos, São Faustino)

Relacionar-se com o CHG

Nos modos de relação com o CHG, a frequência com que todos os inquiridos 101) visitam os espaços públicos do CHG varia de acordo com a sua relação com o mesmo. É entre os apenas moradores que se registam os valores mais elevados de frequência diária dos seus espaços públicos 50,7%), enquanto os não moradores com atividade no CHG têm uma frequência diária em 29,8% dos casos. Dadas as conversas tidas com os moradores, o quotidiano de grande parte deles é estruturado em torno dos espaços do CHG, vivenciando-os de forma intensiva e sistemática. Já entre os não moradores e sem atividade verifica-se uma maior predominância dos que visitam os espaços públicos desta zona da cidade menos vezes. Esta tendência poderá dever-se à frequência destes indivíduos enquanto visitantes, a título de passeio ou convívio e fazendo-o ao fim de semana.

 

 

Quanto ao tipo de espaços frequentados também é possível situar alguns pontos de chegada. Desde logo, no que diz respeito ao comércio, verifica-se que a proporção entre os que habitualmente frequentam o comércio e os que não o fazem é relativamente próxima 57% e 43%, respetivamente). Já a restauração apresenta uma percentagem de frequência relativamente baixa quando comparada com os que não frequentam os restaurantes 32% contra 68%, respetivamente). Os museus, monumentos e locais de cultura, por sua vez, registam uma frequência menos elevada 24%). Com uma frequência elevada apresentam-se ainda as praças e jardins públicos 66%) e os bares, cafés e animação noturna 57%).
A análise destas categorias por tipo de relação com o CHG permite captar alguns padrões. Há uma prevalência dos moradores face aos não moradores no que respeita à frequência do comércio local do CHG. São os moradores que declaram realizar o seu comércio no interior do CHG. Os não moradores não o fazem, segundo os comerciantes locais, porque consideram o comércio pouco atrativo e o estacionamento difícil; realizam as suas compras nas grandes superfícies. Entre os moradores, uma parte substancial declara não frequentar a restauração: é, como assinalam informalmente, demasiado caro para os seus rendimentos. São os não moradores com e sem atividade no CHG) os que mais fre- quentam os bares, cafés e animação noturna 53,4%), entre eles os mais jovens 15 a 20 anos e 21 a 30 anos). Por outro lado, nos museus, monumentos e locais de cultura não se encontram categorias que se destaquem, o que nos leva a pensar que, num outro contexto de inquirição, justificar-se-ia a exploração mais aprofundada do perfil de visitante que habitualmente frequenta estes espaços de cultura por exemplo, turistas).

 

 

O inquérito realizado visava ainda apurar uma série de representações acerca do CHG, a partir de uma escala de posicionamento face a um conjunto de afirmações tabela 7). À primeira afirmação A) O CHG é o principal símbolo da cidade de Guimarães, as respostas permitiram concluir sobre o elevado sentimento de identidade vimaranense associado ao CHG, considerando-o como um espaço de excelência para os cidadãos de Guimarães 67,3% concorda totalmente e 17,8% concorda). Em segundo lugar, e de acordo com os discursos recolhidos aquando da realização dos grupos focais, a falta de limpeza do CHG apresentava-se como um problema. Apesar de 48,5% dos agora inquiridos discordar totalmente da afirmação B) O CHG poderia ser um local mais limpo, 37,7% dos inquiridos pendem para opiniões de concordância, parcial e total, com a afirmação. As conversas informais com os inquiridos reforçam tal posição:

    Deveriam colocar recipientes de lixo para cigarros. (Não morador com atividade no CHG, 53 anos, Urgeses)

    Há uma falta de civismo para a preservação do centro histórico. Por exemplo, as pes- soas continuam a pôr o lixo na rua demasiado cedo. Já avisaram que não se pode pôr lixo cá fora ao sábado, e as pessoas continuam a pôr. (Moradora no CHG, 54 anos, Oliveira do Castelo)

    As ruas estão sujas, as pessoas não têm educação nenhuma. (Morador no CHG, 74 anos, Oliveira do Castelo)

Estes discursos reforçam as opiniões face à afirmação D) As pessoas têm uma falta de cultura cívica relativamente à necessidade de preservação do CHG: 38,6% dos inquiridos concordam totalmente. Por sua vez, as opiniões relativas à animação cultural do CHG ser satisfatória C) são, de algum modo, difusas, apesar de tenderem a revelar-se mais positivas 27,7% concorda e 29,7% concorda totalmente). 38,6% dos inquiridos revela discordância face à afirmação, como se revê nas seguintes afirmações obtidas no terreno:

    Não há nada para divertir os idosos. (Morador no CHG, 77 anos, S. Sebastião)

    Falta mais animação para os idosos durante o dia. (Moradora no CHG, 76 anos, São Paio)

    É demasiado noturna, faltam acontecimentos diurnos. (Não morador com atividade no CHG, 53 anos, Urgeses)

    Não dão oportunidade aos jovens talentos de Guimarães. (Não morador no CHG, 21 anos, Costa)

    Faltam atividades portuguesas. (Não morador com atividade no CHG, 39 anos, Costa)

As razões mais apontadas para esta insatisfação com a animação cultural são: a oferta é pouco diversa, é demasiado sazonal e está demasiado centrada num só local.

 

 

Um outro eventual fator de insatisfação relaciona-se com o facto de a animação prejudicar os moradores: 33,7% concorda totalmente com a afirmação F) A dinamização noturna do CHG é prejudicial para os seus moradores ex. barulho).

    A animação? É só barulho e poucas vergonhas! (Moradora no CHG, 75 anos, Oliveira do Castelo)

    Bares deveriam fechar mais cedo ou policiamento depois da hora do fecho. (Moradora no CHG, 34 anos, Oliveira do Castelo)

    Unimo-nos os moradores e atiramos água pela janela abaixo. (Moradora no CHG, 74 anos, Oliveira do Castelo)

    O problema é que depois dos bares fecharem as pessoas permanecem aqui e falam alto… Dão pontapés nas coisas… Andam à pancada, tocam à porta, chamam pala- vrões… (Moradora no CHG, 64 anos, Oliveira do Castelo)

    O problema não são os bares, isso eu até não me importo… O problema é que depois dos bares fecharem eles ficam cá fora todos bêbados e estragam tudo e é barulheira. E a polícia nem aparece nem faz nada. (Moradora no CHG, 61 anos, Oliveira do Castelo)

    Isto à sexta e ao sábado é uma barulheira impossível. Uma vez até quase que deu um AVC a uma senhora que foi um susto. Ninguém imagina o que nós aqui passamos. (Moradora no CHG, 60 anos, Oliveira do Castelo)

    Isto à noite é uma pouca vergonha! E a polícia diz que não tem poderes para atuar. (Moradora no CHG, 68 anos, São Paio)

O problema da iluminação deficitária no CHG destacado nos grupos focais não encontra eco entre os inquiridos: 55,4% dos inquiridos discorda totalmente da afirmação G) A iluminação noturna do CHG é deficitária; como também 53,5% dos inquiridos dis- corda totalmente da afirmação J) O CHG pode ser considerado um local inseguro. Quanto ao produto final da regeneração do CHG – H) A reabilitação dos edifícios do CHG melhorou o seu aspeto arquitetónico – encontra-se uma certa contradição entre o que é respondido nesta questão e o que é apontado nas respostas de caráter aberto sobre o que mudariam no CHG. Se na questão de posicionamento 59,4% dos inquiridos refere concordar totalmente com a expressão apresentada, quando explicitam as suas posições o desagrado é manifesto:

    O Toural não tem abrigo para a chuva no inverno e não tem sombra para o calor do verão. (Morador no CHG, 54 anos, Oliveira do Castelo)

    O Toural é um deserto… No verão com o calor não há sombra e se chover também não há abrigo. Faltam árvores e jardim… Gostava mais como estava, sou sincero. (Morador no CHG, 69 anos, Oliveira do Castelo)

    As obras foram só fachada, por dentro está tudo igual, uma miséria. (Morador no CHG, 79 anos, Oliveira do Castelo)

    No Toural falta alguma coisa assim mais histórica. Algo que seja da nossa cidade… Ou uma estátua de D. Afonso Henriques ou alguma coisa assim. (Morador no CHG, 57 anos, Oliveira do Castelo)

    Tive pena que tirassem a Maria da Fonte e as tulipas do Toural. Estava tão bonito. Era lindíssimo… Agora está feio. Eu acho. (Moradora no CHG, 68 anos, São Paio)

    Eu penso que a remodelação deveria ter sido mais modesta. O impacto foi muito forte e isso nem sempre é bom. Foi mudar do dia para a noite. (Não morador com atividade no CHG, 54 anos, Porto)

O mesmo se passa quanto à afirmação M) O CHG é atrativo para a fixação de moradores. 25,7% e 39,6%, respetivamente, concordam e concordam totalmente; informalmente, referem os inquiridos, a não atratividade do CHG para a fixação de moradores reside no barulho causado pela animação noturna, na degradação interior e exterior dos edifícios de habitação, na reabilitação dispendiosa e no custo elevado das habitações recuperadas. Torna-se limitado o campo de possíveis quanto à permanência dos atuais moradores e à atração de novos moradores.

    O problema é que as casas aqui são muito caras e não há movimento nenhum. (Moradora no CHG, 50 anos, Oliveira do Castelo)

Quanto às afirmações K) Os estabelecimentos comerciais deveriam abrir ao fim de semana e à noite e L) A oferta do CHG em termos de comércio e serviços é suficiente as posições são as seguintes: há uma forte dispersão na primeira dificuldade em equilibrar o direito ao descanso dos comerciantes e a necessidade de dinamizar o comércio local para atrair mais visitantes), ainda que com 30,7% de inquiridos a discordar totalmente da afirmação; e uma relativa consensualidade na segunda 31,7% concorda e 36,6% concorda totalmente). Tal sugere a necessidade de reestruturação da atividade comercial e de serviços local. O trecho abaixo apresenta uma sugestão:

    Num centro histórico num contexto de Capital da Cultura deveria haver porta sim porta não vários ateliês de arte. Há muito pouca oferta. (Não morador com atividade no CHG, 54 anos, Porto)

Referimos, ainda, o posicionamento dos sujeitos face a Guimarães Capital da Cul- tura 2012 com as seguintes afirmações: E)O evento “Guimarães Capital da Cultura” trará uma oportunidade de afirmação da cidade internacionalmente; I)O evento “Guimarães Capital da Cultura” será uma experiência positiva para todos os vimaranenses; e N) O CHG da cidade está preparado para receber o evento “Guimarães Capital da Cultura”. Para todas estas afirmações há, de facto, uma elevada percentagem de total concordância com todas elas, registando-se expetativas positivas face ao evento: 69,3%, 70,3% e 74,3%, respetivamente.

 

 

Quando confrontados com a enunciação dos três aspetos mais positivos/que mais gostam no CHG e menos positivos/que mudariam no CHG, os resultados são os seguintes: i) as pessoas e sociabilidades, a arquitetura, o Largo da Oliveira, a tradição, a Praça Santiago e o Toural são os mais positivamente enunciados; ii) o barulho, a falta de policiamento, a degradação das casas, a falta de estacionamento e o vandalismo, a desertificação e a reabilitação são os mais negativamente enunciados. Face ao exposto, e dadas as deambulações exploratórias que realizámos, diríamos que os principais pontos de chegada deste mapeamento sociológico são os seguintes: i) a feminização, o envelhecimento e a pouca escolarização da população de moradores do CHG; ii) a permanência dos moradores no CHG, dado que sempre lá viveram; iii) a forte valorização dos atores locais e sociabilidades quotidianas no CHG; iv) a forte valorização do CHG enquanto símbolo da identidade vimaranense; v) as expetativas positivas face às novas possibilidades abertas por Guimarães 2012. Num outro sentido, i) o barulho e vandalismo decorrente da animação noturna como questão problemática que suscita desagrado aos moradores, entre eles os idosos; ii) a necessidade de mais policiamento após o encerramento dos bares noturnos; iii) a necessidade de maior dinamização da atividade comercial do CHG com intervenções que o favoreçam; iv) o atender às necessidades da comunidade local do ponto de vista da animação cultural, ainda significativamente insatisfatória; e v) o sentimento de que se intervém mais para agradar os que são de fora do que os moradores.
De acordo com as constatações apresentadas e tendo em conta a componente interventiva que o projeto visava foram propostas, a título exploratório, algumas atividades.

 

 

3. Como foram as deambulações sociológicas?

As deambulações que um projeto exige confrontam-nos com virtualidades e obstáculos que importa registar. Desde logo, as habituais dificuldades da abordagem espontânea na rua ou porta a porta exigiram a adoção de uma postura persuasiva para a qual a dimensão relativamente curta do inquérito teve uma enorme importância. Caso contrário, seríamos confrontados com a não resposta. Se o momento de abordagem das pessoas revelou-se por vezes bastante difícil, ainda que o contexto institucional salvaguardasse tal cenário a FRATERNA e a CMG), a verdade é que quando envolvidos no ato da inquirição, os sujeitos revelaram bastante entusiasmo e interesse. Adotou-se a postura de prolongar a interação social com o inquirido por mais de 20 minutos quando, na realidade, o tempo previsto para a aplicação do inquérito dificilmente passaria os 10 minutos. Tal facto acabou por revelar-se metodologicamente gratificante, pois as conversas informais que conseguimos desenvolver traduziram-se em discursos verdadeiramente enriquecedores para este estudo. Por outro lado, saliente-se a necessidade de adaptação da linguagem do inquérito e a explicitação de algumas questões dada grande parte dos inquiridos serem idosos e com baixo nível de escolaridade. A este respeito foi imprescindível o preenchimento do questionário pelo investigador, o que exigiu um controlo da sua interferência na construção social do conhecimento: as respostas em situação de interação com o desconhecido tendem a aproximar-se do ‘socialmente desejável’.
Em terceiro lugar, a amplitude exploratória da nossa ação reconfigurou perspetivas de análise que exigem, noutro contexto de pesquisa, o aprofundamento de temáticas através do alargamento da aplicação do questionário a outros moradores e não moradores do CHG e da realização de entrevistas em profundidade a algumas categorias sociais específicas. As deambulações pelo CHG em momentos noturnos, com observações do espaço público em temporalidades não diurnas, são também um instrumento adicional e complementar que, a realizar-se, permite ainda mais diversidade nas leituras do CHG.
Por fim, consideramos o impacto imediato da atividade junto dos atores sociais bastante positivo. Os interlocutores inquiridos, particularmente os moradores e comerciantes do CHG, mostraram-se satisfeitos com a oportunidade de exporem os seus posicionamentos e a expetativa de que os resultados do inquérito dessem de alguma forma voz às suas preocupações. Quase diríamos que as deambulações exploratórias que realizámos adquiriram, nalguns momentos e circunstâncias, traços de investigação orientada para a intervenção sobre o lugar, estimulando a participação cívica dos sujeitos e o sentimento de pertença, responsabilidade e identidade associados ao CHG.

 

Referências bibliográficas

AAVV 2012), Paisagem com Cidade e Maçãs Vermelhas. Estudo multidisciplinar Centro His- tórico de Guimarães. Projeto de Animação Pedagógica, Guimarães, FRATERNA – Centro Comunitário de Solidariedade e Integração Social, coordenação editorial de SETEPÉS.         [ Links ]

Azevedo, Natália; Praça, Henrique 2012), “Os grupos focais: traços preliminares sobre o Centro Histórico de Guimarães”, in AAVV 2012) – Paisagem com Cidade e Maçãs Ver- melhas. Estudo multidisciplinar Centro Histórico de Guimarães. Projeto de Animação Pedagógica, Guimarães, FRATERNA – Centro Comunitário de Solidariedade e Integração Social, coordenação editorial de SETEPÉS, pp. 37-45.         [ Links ]

 

Artigo recebido a 28 de fevereiro de 2013. Publicação aprovada a 20 de junho de 2013.

 

Notas

1 Socióloga, Professora Auxiliar do Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto FLUP) e Investigadora Integrada do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto ISFLUP) Porto, Portugal). Endereço de correspondência: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Via Panorâmica s/n, 4150-564 Porto, Portugal. E-mail: nazevedo@letras.up.pt; nataliazevedo@netcabo.pt

2Socióloga, Mestre em Sociologia e Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto FMUP) e Faculdade de Letras da Universidade do Porto FLUP) Porto, Portugal). E-mail: raquelcadper@gmail.com

3 Para informações mais específicas sobre o Estudo configuração institucional, equipa de trabalho, objetivos, metodologia e resultados), consultar AAVV 2012).

4 Para confronto com o desenho metodológico e com os resultados dos grupos focais, ver Azevedo; Praça 2012).

 

 

ANEXOS

Anexo I

Anexo II

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