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Medicina Interna
versão impressa ISSN 0872-671X
Medicina Interna vol.27 no.1 Lisboa mar. 2020
https://doi.org/10.24950/rspmi/PP/1/2020
PÁGINA DO PRESIDENTE / PRESIDENT PAGE
Orgulho de Ser Internista!
Proud to Be an Internist!
João Araújo Correia https://orcid.org/0000-0002-6742-3900
Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
Sempre admirei o patriotismo nos Estados Unidos da América, manifestado na bandeira desfraldada em cada casa, desde a grande mansão, á pequena habitação de madeira, perdida nos confins daquela terra imensa. É claro que não me refiro ao patriotismo acéfalo do senhor Trump, que parece querer evitar a conspurcação duma raça americana inexistente, sem perceber que a força do seu povo vem dos emigrantes, que sentem aquela terra como sua. O que provoca o meu desvelo, é o exemplo de verdadeiro federalismo entre estados, em que os mais ricos e populosos dão a mão aos mais pobres, para que todos possam ter representação condigna e defendam, com toda a garra, a nação grande e unida.
No Congresso do American College of Physicians (ACP) de 2019, em Filadélfia, havia cartazes por todo o lado, com letras garrafais a dizer: “Proud to be a Internist”. Fiquei a pensar, o quanto esta afirmação repetida, com a bandeira em fundo, deveria ser motivadora e aconchegante, para os meus colegas americanos.
A Conferência Inaugural do Congresso foi do Vice-almirante Vivek H. Murthy, que era apresentado como o Chefe Médico das missões do exército dos Estados Unidos de 2014 a 2017. Esperava um velho, muito formal, a debitar os altos valores dos princípios e do dever, o que redundaria numa verdadeira estucha! Afinal, saiu-me um verdadeiro “Obama indiano”, um comunicador imbatível, que sabia dar valor a cada palavra, na entoação e no ritmo! Falou da importância que tem o bem-estar do médico, para o seu desempenho. Lembrou o pouco que se fala na solidão do médico, muitas vezes maior do que a do doente, e que é preciso combatê-la, criando um ambiente de trabalho de amizade e de partilha. Afirmou, que faz bem ter orgulho na profissão de ser médico e esse é o melhor antídoto para o burnout. Também é muito importante ter amigos no local de trabalho e realçou que “o verdadeiro amigo é aquele que nos lembra quem somos, nos momentos mais negros, em que nos esquecemos!”. De facto, não sentimos tanto o cansaço pelo grande número de horas de trabalho, desde que tenhamos a noção de que acrescentamos valor, fazemos a diferença, e somos reconhecidos.
Também lá conheci a Molly Southworth, uma Internista do Alasca, dedicada à Endocrinologia, no seu mundo distante e diferente do meu, com fusos que distam 9 horas. Disse-me que foi para o Alasca porque gosta da natureza e aventura, porque lá há um sistema de saúde gratuito para todos os cidadãos e também porque é muito bem paga. Disse-me esta última razão para estar no Alasca, com toda a naturalidade. O Americano não faz segredo do seu salário e, por vezes, pergunta-o a alguém acaba de conhecer. Agradeci que não me perguntasse.
Achei que valia a pena partilhar convosco estas memórias de Filadélfia.
Em Portugal, sem uma cultura de respeito ou gratidão pelo trabalho médico, com remunerações ridículas, se nos cingimos á causa pública, o burnout está aí, mais forte do que nunca, a propiciar todas as fugas do sistema.
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© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) 2019. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial
Recebido/Received: 22/11/2019
Aceite/Accepted: 25/11/2019
Publicado/Published: 17 de Março de 2020