Os cuidados paliativos (CPAL) destinam-se a promover qualidade de vida entre os portadores de patologias incuráveis com prognóstico limitado e/ou progressivas, mitigando todas as vertentes do sofrimento (físico, psicológico, espiritual, emocional). Tendo uma dimensão integradora, intervém também na esfera familiar. O acesso a estes cuidados, entregue a equipas e unidades específicas com vários patamares de diferenciação, ocorre em regime hospitalar ou domiciliário, abrangendo opções nos sectores público, social ou privado.1,2
Os autores consideram que a sociedade ainda evita esta temática, pelo que se propuseram aferir o conhecimento global, quanto a esta área médica, mediante resposta a três questoes centrais:
- Para quem? (qualquer idade, doenças incuráveis de prognóstico limitado e/ou progressivas - oncológicas ou não -, doentes e familia);
- Onde? (internamento, domicilio, unidades especificas);
- Por quem? (especialidade específica, sector público, social ou privado).
Para tal, elaboraram um estudo qualitativo através de criação de questionário inspirado na Lei de Bases dos Cuidados Paliativos,3 em Google form, com 11 perguntas de escolha múltipla e de preenchimento anónimo. Distribuido em formato físico no pavilhão de consulta e em enfermaria de Medicina Interna de hospital terciário e via online, difundido através de colegas e conhecidos.
Disponibilizado entre 15 Fevereiro a 30 Abril 2019, obtiveram-se 904 respostas - 88,6% (n = 803) por formulário online -, cuja análise se efectuou em Excel 2101 e SPSS Statistics 22.
A amostra foi dividida entre profissionais de saude (PF) e nao profissionais de saúde (NPF) - 44,25% (n=400) e 55,75% (n=504), respectivamente.
No primeiro grupo, a maioria tinha idade compreendida entre 18 e 39 anos (65,75%, n = 263), género feminino (72%, n = 288), categoria profissional de médico (54,25%, n=217) e contacto prévio com doentes paliativos (77,75%, n = 311).
Quanto a NPF, 44,64% (n = 225) pertencia a faixa etária entre 40 e 59 anos; 60,91% (n =307) do género feminino; 41,07% (n = 207) com ensino secundário como habilitação literária; 59,52% (n = 300) admitindo contacto prévio com doentes paliativos.
No que concerne a critérios de referenciação a CPAL, a maioria assinalou: doença terminal oncológica e nao oncológica (67,25% (n=269) dos PF, 53,17% (n = 268) dos NPF) e que idade nao tem determinismo na inclusão em CPAL (87,75% (n = 351) dos PF, 70,04% (n = 353) dos NPF).
Em ambos os grupos, internamento e centro de dia/ apoio domiciliário foram os espaços de actuação privilegiados (Tabela 1) - respectivamente, PF: 77,25% (n = 309) e 75% (n = 300); NPF: 48,41% (n = 244) e 53,17% (n = 268) - e mais de 90% dos inquiridos nao favoreceram um sector (público, social ou privado) em particular.
Relativamente às especialidades médicas envolvidas nesta actividade assistencial (admitidas resposta múltipla e aberta), PF destacaram a Medicina Interna (41,5%), enquanto a escolha dos NPF recaiu, de forma semelhante, sobre Oncologia (27,98%), Medicina Interna (27,38%), Medicina Geral e Familiar (27,18%). Por outro lado, foi também expressiva a opção pela inexistência de uma área médica preferencial (PF - 49,5%; NPF - 42,06%).
A interpretação destes resultados é condicionada por diversos vieses, como a ausência de questionário piloto.
Ressalva-se também a predominância de respostas online, distribuição reduzida em formato de papel e divulgação efectuada poderá ter seleccionado uma amostra de NPF mais informada, sensibilizada e familiarizada com a área da saúde e, em concreto, CPAL, comparativamente com a população em geral. Entre PF e NPF sobressaem diferenças quanto às especialidades médicas e locais de actuação.
Destaca-se a preferência dos NPF por centro de dia/apoio domiciliário, em detrimento das várias tipologias de unidades de internamento - podendo aqui inferir-se a importância dos cuidadores (informais ou não) e contexto familiar.
Concluindo, contribuir para a literacia em saúde e desenvolvimento dos CPAL, exige abertura de espírito, sondagem, formação, meios, difusão de conhecimento e queda de alguns tabus.
Tabela 1: A que niveis de cuidados se pode actuar no âmbito paliativo? (permitida escolha de opções múltiplas).
Variáveis | Profissionais de saúde | Não Profissionais de saúde | n | % | n | % |
Hospital de Dia | 256 | 64,00 | 136 | 26,98 | ||
Internamento hospitalar | 309 | 77,25 | 244 | 48,41 | ||
Consulta externa | 222 | 55,50 | 55 | 10,91 | ||
Cuidados de saúde primários | 252 | 63,00 | 117 | 23,21 | ||
Centro de dia e apoio domiciliário | 300 | 75,00 | 268 | 53,17 | ||
Unidade de cuidados intensivos | 204 | 51,00 | 172 | 34,13 | ||
Unidade de cuidados paliativos | 200 | 50,00 | 189 | 37,50 | ||
Não sei responder | 6 | 1,50 | 76 | 15,08 |
Total de questionários preenchidos: 904