Homem de 75 anos, caucasiano, com antecedentes de miastenia gravis, sob piridostigmina, hipertensão arterial e obesidade; admitido no SU com quadro de cansaço, vómitos, distensão abdominal e febre (38,8ºC). Na observação no SU apresentava-se vígil, pressão arterial 112/74 mmHg, FC 128bpm, saturação periférica: 98% em ar ambiente, auscultação cardíaca e pulmonar sem alterações; abdómen com ruídos hidroaéreos presentes, muito distendido, timpanizado e doloroso à palpação. Analiticamente destacava-se: Hemoglobina: 11,3 g/dL, leucócitos: 16170/uL com 91% de neutrófilos, PCR 28,9 mg/dL, potássio: 2,8 mmol/L. Foi internado em SO para vigilância e estudo etiológico do quadro, tendo evoluído nas 48 horas seguintes em choque séptico, com falência multiorgânica, tendo sido admitido na UCI. Realizou tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica, que revelou uma marcada dilatação do cólon sigmoide até ao colon descendente (diâmetro máximo 16 cm) sem obstrução mecânica. Foi isolada Escherichia coli em hemoculturas. Admitiu-se quadro séptico com ponto de partida em peritonite, secundária a translocação bacteriana motivada por megacólon tóxico. Foi submetido a laparotomia com colectomia da porção dilatada do cólon (Fig.s 1 e 2). Evoluiu em choque refractário, vindo posteriormente a falecer.
O megacólon tóxico consiste na dilatação total ou segmentar do colon, não obstrutiva, associada a quadro tóxico sistémico.1 Esta entidade frequentemente relacionada com a doença inflamatória intestinal, pode, no entanto, surgir em diversos contextos que impliquem um processo inflamatório do cólon.2 Dentro dos vários factores precipitantes associa-dos, destacam-se a hipocaliemia, o uso anticolinérgicos ou opioides.3 Os critérios de diagnóstico incluem a presença de dilatação cólica na radiografia abdominal (acima de 6 cm) e pelo menos 3 dos seguintes: temperatura acima dos 38ºC, FC acima dos 120 bpm, leucocitose com neutrofilia, anemia e pelo menos, um dos seguintes: desidratação, alteração do estado de consciência, alterações eletrolíticas ou hipotensão.4 O presente caso descreve um quadro de choque séptico em contexto de megacólon tóxico de etiologia não esclarecida, potenciado pela administração crónica de anticolinérgicos e hipocaliemia.