Doente do sexo masculino, de 79 anos, recorreu ao Serviço de Urgência por dispneia para pequenos esforços, ortopneia e edema dos membros inferiores, com 15 dias de evolução. No exame físico objetivou-se derrame pleural bilateral e edema dos membros inferiores. Ficou internado no Serviço de Medicina Interna por insuficiência cardíaca de novo.
No internamento, após avaliação cuidada, observaramse lesões bolhosas na cavidade oral (Fig. 1). Estas atingiam preferencialmente os bordos da língua, apresentavam aspeto bolhoso, coloração violácea e sangravam espontaneamente. Foi pedida colaboração de estomatologia que realizou biópsia de uma das lesões.
O doente apresentou boa resposta à terapêutica diurética. Do estudo complementar realizado salienta-se: lesão renal aguda acute kidney injury network (AKIN) 1, proteinúria nefrótica (7640 mg/dL) e ecocardiograma com padrão restritivo e fração de ejeção de 35%. Por suspeita de amiloidose cardíaca pediu-se imunofixação que revelou gamapatia monoclonal de cadeias leves kappa no soro e urina; verificou-se uma elevação da razão de cadeias kappa/lambda livres no soro (razão de 227) e procedeu-se à biopsia de medula óssea e de gordura abdominal.
O resultado histológico das biópsias de lesão da língua (Fig. 2), de gordura abdominal e de medula óssea confirmou o diagnóstico de amiloidose AL.
Num período de pandemia COVID-19, em que os doentes usam máscara de proteção individual, a observação da cavidade oral não passou despercebida ao internista.
A amiloidose é uma doença rara.1-2Em maio de 2021, após pesquisa bibliográfica sobre o tema, encontraram-se apenas três casos descritos de amiloidose bolhosa da mucosa oral.3-5Estas imagens exibem uma manifestação rara, neste caso expressa à apresentação inicial da doença.