A diabetes mellitus é uma doença crónica que atinge milhões de pessoas em todo o mundo, com uma incidência crescente. Trata-se de uma doença que afeta uma multiplicidade de órgãos e aparelhos, incluindo o sistema imunitário.1
Consequentemente, o doente diabético é mais suscetível a infeções que frequentemente atingem uma gravidade superior à que se verifica em indivíduos saudáveis. Todo este conjunto de fatores torna a vacinação crucial neste subgrupo de doentes, de forma a proteger a sua saúde e bem-estar.
A American Diabetes Association (ADA) publicou neste ano de 2023 as mais recentes guidelines sobre a gestão do doente diabético, onde é abordada a importância da vacinação.2 Além disso, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) tem as suas próprias recomendações específicas para a vacinação em diabéticos.3Tendo em conta estas duas referências, numa tentativa de aplicação à realidade portuguesa, considera-se importante considerar no doente diabético os seguintes esquemas vacinais:
COVID-19: O doente diabético deve ser vacinado com o esquema vacinal primário (cuja definição depende da vacina administrada). Em Portugal houve lugar à administração de uma dose de reforço após o esquema primário, sendo posteriormente indicado um outro reforço sazonal com a vacina bivalente contra a estirpe original e contra a variante Ómicron.4,5A Direção-Geral da Saúde já divulgou que em 2023 decorrerá a campanha de vacinação sazonal contra a COVID-19 e gripe.
Gripe: Trata-se de uma doença que se associa a grande morbilidade e mortalidade em populações vulneráveis como os diabéticos. A vacina deve ser administrada anualmente a todos os diabéticos com mais de 6 meses de idade. Deve ser aplicada a vacina inativa ou recombinante, sendo de evitar a vacina viva atenuada.
Pneumonia pneumocócica: Os diabéticos estão em maior risco de adquirir a doença, especialmente a forma invasiva, com uma taxa mortalidade que pode chegar aos 50%.6 Torna-se assim essencial proceder à vacinação de todos os diabéticos com mais de 18 anos. As recomendações mais recentes, nacionais e internacionais, têm vindo a sugerir cada vez mais o esquema de dose única com a vacina pneumocócica conjugada contra infeções por Streptococcus pneumoniae de 20 serotipos.7,8
Hepatite B: Está descrito um risco acrescido de os doentes diabéticos contraírem a doença, principalmente devido ao contacto frequente com dispositivos médicos. Assim, poderá ser importante verificar o estado da imunidade à hepatite B mesmo em doentes vacinados há muitos anos, procedendo ao respetivo reforço se necessário.
Infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV): Está indicada a administração de 2 doses em mulheres e 3 doses em homens até aos 26 anos.
Herpes zoster: Está indicada a administração de 2 doses da vacina nos indivíduos com mais de 50 anos.
Tétano e difteria: Está indicada a dose de reforço a cada 10 anos.
Infeção pelo vírus sincicial respiratório (VSR): A infeção por VSR está associada a grande morbilidade e mortalidade, especialmente em doentes idosos e com comorbilidades como a diabetes. Duas vacinas, ambas de administração em dose única, encontram-se já aprovadas nos EUA e Europa, sendo expectável que venham a estar no mercado já nos próximos meses.9 Assim, é provável que em breve seja também aconselhada a sua administração no doente diabético.
Em conclusão, a vacinação desempenha um papel vital na proteção da saúde e bem-estar do doente com diabetes. A natureza crónica desta doença pode aumentar o risco de complicações, tornando a vacinação uma estratégia crucial para evitar infeções potencialmente mortais. Tal adquire especial relevância numa altura em que os discursos anti vacinas ganham cada vez mais adeptos, tornando-se essencial a produção de linhas orientadoras e protocolos de ação por parte das diversas sociedades científicas. Só assim poderemos garantir que no futuro todos os doentes têm o mesmo acesso à proteção conferida pelas diversas vacinas existentes.