Apresentamos o caso de um homem de 47 anos, Caucasiano, com antecedentes de hepatite B crónica, hepatite C tratada e infeção por vírus de imunodeficiência humana- 1 (VIH-1) desde há mais de 20 anos, em estádio C3 (CDC Atlanta), com história prévia de tuberculose disseminada e criptococose meníngea. Sob terapêutica antirretroviral combinada com tenofovir alafenamida/emtricitabina e dolutegravir (TAF/FTC+DTG), salientando-se cumprimento terapêutico errático.
Apresenta-se com uma placa verrucosa exuberante localizada no primeiro dedo da mão direita, ocupando toda a polpa e dorso, com destruição do prato ungueal e áreas de erosão, com um ano de evolução. Visíveis estigmas de onicofagia. Nesta altura, com linfócitos TCD4 + 84/μL e carga viral VIH-1 <20 cópias/mL, mas com virémia detetável no ano anterior. Prosseguiu-se estudo com pesquisa sérica de vírus herpes simplex 1 e 2 (VHS) e de varicela zoster (VVZ).
A biópsia foi compatível com doença de Bowen e a pesquisa de vírus do papiloma humano (VPH) em estudo imuno-histoquímico na amostra foi negativa. Do estadiamento, sem evidência de envolvimento de tecidos adjacentes ou metastização à distância. Foi encaminhado para consulta de Cirurgia Plástica considerando a extensão da lesão.
A doença de Bowen é uma forma de carcinoma de células escamosas in situ, frequentemente associada ao VPH.1 A infeção VIH parece predispor à doença oncológica, seja por compromisso imunológico na vigilância de células malignas ou por maior taxa de infeção por vírus oncogénicos, por exemplo VPH.2,3
Os autores alertam para o diagnóstico diferencial de lesões verrucosas cutâneas em doentes com infeção VIH, importando considerar como hipóteses as infeções por herpesvírus, nomeadamente VHS, VVZ ou herpes vírus humano 8 pela associação ao sarcoma de Kaposi, e a tuberculose cutânea.4,5
Apesar da história e fatores de risco serem comuns na doença de Bowen, a exuberância da lesão torna este caso singular.