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Jornal Português de Gastrenterologia

versão impressa ISSN 0872-8178

J Port Gastrenterol. v.18 n.2 Lisboa mar. 2011

 

Secção Especializada: Dois Anos Depois

Pediatric Endoscopy Section: Two Years Later

 

Fernando Pereira1

1Presidente da Secção Especializada de Gastrenterologia Pediátrica da SPED; Serviço de Gastrenterologia, Hospital Maria Pia, Porto - Portugal. Email: facpereira@sapo.pt.

 

É hoje comum aceitar-se que a criança não é um adulto em tamanho pequeno e, por isso, a sua observação e tratamento devem ser específicos utilizando metodologias próprias.

Apetece dizer o mesmo da endoscopia pediátrica, ou seja, não é a observação endoscópica feita num adulto pequeno. É sim um acto endoscópico efectuado num ser humano com características muito diferentes do adulto, com maior ou menor grau de crescimento, desenvolvimento e maturidade, envolvendo um contexto familiar e social também muito particular. A endoscopia é um elemento integrado no esclarecimento de perturbações digestivas de índole diferente das do ser humano adulto, com gravidade e prognóstico diferentes e tendo em regra um horizonte mais optimista.

O aparecimento e desenvolvimento da endoscopia pediátrica acontece como consequência do seu reconhecimento como método fundamental ao diagnóstico e tratamento da patologia digestiva do adulto. A vontade dos pediatras em utilizar esta técnica levou-os à procura do contacto com os gastrenterologistas que a praticavam, para a aprenderem, e à sensibilização da indústria, para o fabrico de equipamentos adaptados aos diferentes grupos etários pediátricos e aos diversos segmentos digestivos.

A endoscopia pediátrica começou a ser realizada essencialmente nos Hospitais Pediátricos e nos Serviços de Pediatria dos Universitários, com grandes limitações e recorrendo aos serviços de adultos sempre que a aplicação terapêutica era necessária. Progressivamente os pediatras dedicados a esta área do conhecimento foram ganhando experiência e simultaneamente foram desenvolvendo outras áreas da investigação do aparelho digestivo e criando consultas especializadas, o que veio a culminar com o reconhecimento e a criação da Sub-especialidade de Gastrenterologia Pediátrica.

Os primeiros gastrenterologistas pediátricos, organizados desde longa data numa Secção Especializada da Sociedade Portuguesa de Pediatria, com a qual têm uma forte ligação profissional, consideraram ser fundamental para o desenvolvimento da sua actividade profissional fortalecer os laços de colaboração e intercâmbio de experiências com os médicos gastrenterologistas e com as suas organizações, o que rapidamente foi reconhecido e aceite pela Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva, durante a presidência do Dr. Venâncio Mendes, conduzindo posteriormente à criação dentro da SPED da Secção Especializada de Endoscopia Pediátrica.

Esta Secção tem procurado cumprir os desígnios para que foi criada. A colaboração entre os dois tipos de profissionais que praticam endoscopia na criança e no adulto, a divulgação da patologia digestiva, especialmente aquela em que a endoscopia tem papel interventivo e das técnicas endoscópicas mais recentes, introduzidas no estudo da criança como é o caso de enteroscopia com cápsula, junto dos pediatras e dos médicos em geral.

Para a concretização destes objectivos foram publicadas duas pequenas brochuras, uma com temas de Gastrenterologia Pediátrica (Endoscopia Digestiva em Pediatria, O que fazer face à ingestão de um cáustico, Doença inflamatória intestinal, Obstipação na criança, Doença de Refluxo Gastroesofágico, O Helicobacter pylori na doença gastrodudoenal da criança, Abordagem da criança com sangue nas fezes) e outra exclusivamente dedicada à Doença Celíaca nas suas vertentes da criança e do adulto.

Foi também incluída na revista Endonews uma rubrica intitulada “Momento Pediátrico” em que foram publicados diversos casos clínicos com envolvimento da endoscopia e na publicação da qual estiveram envolvidos quase todos os serviços ou unidades de Gastrenterologia Pediátrica.

A Secção Especializada organizou um curso de “Avanços em Endoscopia Digestiva” destinado a gastrenterologistas pediátricos, pediatras e internos de Pediatria, em que com a colaboração de vários gastrenterologistas foram abordados temas actuais na sua aplicação à patologia pediátrica como a Ecoendoscopia, a Enteroscopia e as mais recentes técnicas terapêuticas (Próteses, clips, Árgon-Plasma).

A Secção Especializada participou activamente nos dois últimos Congressos Nacionais de Gastrenterologia, no Congresso Nacional de Pediatria, na Reunião Ibérica de cápsula endoscópica e integrou o corpo docente do Mestrado em Endoscopia Digestiva da Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho.

Deve salientar-se o inquérito efectuado às seis principais unidades e serviços de Gastrenterologia Pediátrica Nacionais, em que foram analisados diversos aspectos da sua actividade: instalações, pessoal, equipamentos, monitorização, acessórios, tipo de desinfecção, técnicas efectuadas e recurso a anestesia/sedação. Os resultados foram apresentados em comunicação na última reunião nacional da Sociedade de Gastrenterologia e Hepatologia e Nutrição Pediátrica e podemos sintetizá-los dizendo que temos um número suficiente de centros equilibradamente distribuídos mas necessitando de melhores instalações e mais profissionais.

Finalmente foi elaborada uma newsletter para a revista Endoscopy que deverá ser publicada oportunamente e onde se pretende dar a conhecer o que é a Gastrenterologia Pediátrica no nosso país, especialidade ainda não reconhecida na maioria dos países europeus.

E agora que futuro para a Secção? Esperamos que a próxima direcção se mantenha fiel aos princípios que levaram à criação da Secção Especializada e contribua com a sua actividade para o desenvolvimento da Endoscopia Pediátrica no país e, se possível, estabeleça laços de aproximação com os nossos colegas europeus.