Serviços Personalizados
Journal
Artigo
Indicadores
- Citado por SciELO
- Acessos
Links relacionados
- Similares em SciELO
Compartilhar
Revista Portuguesa de Pneumologia
versão impressa ISSN 0873-2159
Rev Port Pneumol v.15 n.4 Lisboa ago. 2009
Biópsia transtorácica com agulha cortante (Trucut) para o diagnóstico dos tumores mediastínicos
Mauro Zamboni 1
Deborah C Lannes 2
Paulo de Biasi Cordeiro 3
Edson Toscano 4
Emanuel B Torquato 4
Samuel S de Biasi Cordeiro 4
Aureliano Cavalcanti 5
Resumo
Objetivo: Determinar a contribuição da biópsia percutânea com agulha cortante (Trucut) no diagnóstico das massas mediastínicas.
Método: Revisão retrospectiva de 56 doentes com massas mediastínicas submetidos a biópsias com agulha cortante orientadas, mas não guiadas, pela tomografia computadorizada do tórax, no período de 1999 a 2008.
Resultados: A biopsia percutânea com agulha cortante forneceu material adequado para o diagnóstico em 49/56 casos, com índice de positividade de 88%. Em 7/56, o material colhido foi insuficiente para definir o diagnóstico (12%). Este método foi capaz de definir o diagnóstico em 88% dos doentes: 23/56 (41%) linfomas; 12/56 (21%) timomas; 5/56 (3%) carcinomas tímicos; 3/56 (2%) carcinoma indiferenciado de pequenas células e 1/56 (0,6%) adenocarcinoma metastático, carcinoma epidermóide metastático, carcinoma neuroendócrino primitivo, plasmocitoma, teratoma, bócio. Após a biópsia, os doen tes foram submetidos a radiografia do tórax. Não houve nenhum tipo de complicação nestes doentes.
Conclusão: A biópsia transtorácica com agulha cortante (Trucut) orientada, mas não guiada pela tomografia computadorizada, tem alto rendimento, esclrrecendo o diagnóstico na maioria dos portadores de massas mediastínicas e pode ser útil, evitando a toracotomia exploradora, nos casos de tumores do mediastino inoperáveis ou de tratamento quimioterápico.
Palavras-chave: Biópsia por agulha, biópsia com agulha Trucut, neoplasias do mediastino, mediastino/lesões.
Transthoracic biopsy with core cutting needle (Trucut) for the diagnosis of mediastinal tumors
Abstract
Aim: To determine the contribution of percutaneous biopsy with core cutting needle (Trucut) in the diagnosis of mediastinal tumours.
Method: Retrospective review of 56 patients with mediastinal lesions who underwent percutaneous core cutting needle biopsy, oriented but not guided by computer assisted tomography of the thorax, 1999 – 2008.
Results: Percutaneous biopsy with core cutting needle provided adequate material in 49/56, with a total positive sample rate of 88%. In 7/56 (12%) cases the material was insufficient to define the diagnosis. Percutaneous core cutting needle biopsy established a specific histological diagnosis in 88% of the patients: 23/56 (41%) lymphomas; 12/56 (21%) thymomas; 5/56 (3%) thymic carcinomas; 3/56 (2%) small cell carcinoma and 1/56 (0.6%) metastatic adenocarcinoma, metastatic squamous cell carcinoma, neuroendocrine primitive carcinoma, plasmocytoma, teratoma and goiter. All patients underwent thoracic X-ray after the procedure. No complications were found in these patients.
Conclusion: Percutaneous core cutting needle biopsy (Trucut) oriented but not guided by computer assisted tomography of the thorax is an easy and safe procedure which can provide a precise diagnosis in the majority of mediastinal tumours and can prevent the need for exploratory thoracic surgery in cases which are medically treatable or non-resectable.
Key-words: Biopsy, needle, Trucut needle biopsy, mediastinal/lesions, mediastinal neoplasms.
Introdução
A biópsia transtorácica por agulha guiada pela radioscopia é considerada uma técnica aceita na avaliação diagnóstica das massas mediastínicas. Este método é capaz de evitar procedimentos diagnósticos mais invasivos, como a mediastinoscopia, a mediastinotomia, a toracoscopia ou a toracotomia exploradora1-3. Na maioria das vezes, a biopsia é realizada com agulha fina, capaz de recolher material suficiente para o exame citopatológico e microbiológico, mas incapaz de retirar material para estudo histopatológico4.
A biópsia realizada com agulha cortante (Trucut) fornece um fragmento de tecido, no qual, além do estudo histopatológico, podemos realizar outros, como a microscopia eletrónica, a imunoistoquímica e a análise dos marcadores tumorais de superfície, os quais aumentam a especificidade diagnóstica, além de ser de extrema utilidade no diagnóstico das massas mediastínicas.5-7
Neste estudo, relatamos a nossa experiência com a biópsia percutânea com agulha cortante (Trucut) como procedimento diagnnóstico inicial nos doentes com tumores mediastínicas.
Objectivo
Este estudo teve por objectivo avaliar a contribuição da biópsia transtorácica com agulha cortante no diagnóstico das massas mediastínicas. Utilizamos em todos os casos a agulha cortante Tru Core (Med Tech Tru-Core, Gainsville, Fl, EUA) como procedimento diagnóstico invasivo inicial para os doentes portadores de massas mediastínicas.
Material e métodos
Realizamos a análise retrospectiva das biopsias transtorácicas com agulha cortante (Trucut), orientadas, mas não guiadas pela tomografia computadorizada do tórax, em 56 doentes, no período de Maio de 1999 a Junho de 2008.
Um procedimento é guiado pela tomografia computadorizada quando ele é realizado concomitantemente à biópsia, guiando e orientando o posicionamento da agulha. A biópsia transtorácica com agulha cortante é orientada pela tomografia computadorizada quando utilizamos a tomografia computadorizada do tórax já realizada para orientar o posicionamento da agulha. Foram 29 homens e 27 mulheres. A idade dos doentes variou de 8 a 79 anos, e a idade mediana foi de 40 anos.
As lesões apresentavam-se radiologicamente como massas sólidas e homogéneas em todos os casos. O diâmetro das lesões variou de 3 a 10 cm e em 80% dos casos o tumor tinha diâmetro superior a 4 cm. Todas as lesões estavam localizadas a menos de 2 cm da pele. O tumor estava localizado no mediastino anterior em 52 doentes (93%) e no mediastino posterior em quatro (7%).
Todas as biópsias foram realizadas na sala de procedimentos do ambulatório do serviço de cirurgia torácica, sem sedação e com anestesia da pele e do trajecto da agulha com 5 mL de lidocaína a 2%, sem vasoconstritor e em regime ambulatorial, sem necessidade de internação do doente.
As biópsias foram realizadas com a agulha Trucut, com diâmetro de 18 gauge. Esta agulha foi desenvolvida para a retirada de tecido da lesão para estudo histológico através de um mecanismo que dispara uma pequena cânula cortante, capaz de retirar fragmentos adequados para o exame histopatológico dentro de um estilete de 1,7 cm8.
Uma média de duas biópsias foi realizada em cada doente e material adicional foi colhido quando necessário. Após a biópsia, o doente era submetido à radiografia do tórax, e não observamos nenhum caso de pneumotórax, de sangramento intratorácico ou escarros com sangue.
Os resultados das biópsias foram classificados como suficientes e insuficientes, baseados na presença ou na ausência de células neoplásicas nas amostras colhidas através da biópsia transtorácica com a agulha Trucut.
O material da biópsia foi considerado insuficiente quando não tinha representação patológica da lesão e foi analisado separadamente.
Resultados
Cinquenta e seis doentes submeteram-se à biópsia transtorácica com agulha cortante (Trucut) de massas mediastínicas durante o período do estudo.
O diagnóstico foi definido através desse procedimento em 49 (88%) dos doentes: 23(41%) linfomas; 12 (21%) timomas; 5 (3%) carcinomas tímicos; 3 (2%) carcinomas indiferenciados de pequenas células; e 1 (0,6%) adenocarcinoma metastático, carcinoma epidermóide metastático, carcinoma neuroendócrino primitivo, plasmocitoma, teratoma e bócio.
Nos sete (13%) doentes nos quais o material colhido foi insuficiente para o diagnóstico, este foi definido através da biópsia cirúrgica: 3 (43%) linfomas; 1 (14%) timomas; 1 (14%) linfangioma cístico; 1 (14%) carcinoma; e 1 (14%) disgerminoma.
Discussão
Os tumores mediastínicos tradicionalmente são diagnosticados através da mediastinoscopia, da toracoscopia ou da toracotomia exploradora. Estes procedimentos necessitam, para sua realização, de anestesia geral e internação hospitalar. A proposta do presente estudo foi avaliar a utilidade clínica da biópsia transtorácica com agulha cortante (Trucut) no diagnóstico destes tumores e determinar se ela deveria ser o procedimento diagnóstico inicial nestes casos.
A maioria dos tumores localizava-se no mediastino anterior. As entidades patológicas mais comuns foram as neoplasias linfoproliferativas, as neoplasias epiteliais e os timomas.
Estes achados são semelhantes aos descritos na literatura mundial 3-7,13.
O conhecimento da natureza do tumor mediastínico é fundamental para o correcto planejamento terapêutico. Por exemplo, os timomas são primariamente tratados cirurgicamente, enquanto os linfomas são tratados com quimioterapia, associada ou não à radioterapia. Os doentes com doença metastática necessitam dessa definição, pois disso depende o seu tratamento posterior.
A biópsia transtorácica com agulha cortante (Trucut) mostrou alta especificidade do grupo de doentes, já que foi positiva em 88% deles12.
O pneumotórax é a complicação mais comum resultante da biópsia trasntorácica com agulha cortante relatada na literatura; entretanto, não tivemos nenhum caso neste grupo de doentes8,10,12,13. A ausência de pneumotórax nestes doentes possivelmente pode ser explicada pela localização superficial das lesões biopsiadas todas localizadas a menos de 2 cm da parede torácica.
Outras complicações relatadas na literatura, como a hemoptise (1,6%) e a dor (3,2%), não foram observadas neste grupo11,12,14.
Um grande número de doenças mediastínicas é tratado clinicamente, como os linfomas, ou é claramente não ressecável, como, por exemplo, as neoplasias metastáticas; portanto, está claro que o diagnóstico histopatológico é essencial para esses doentes.
Com base na nossa experiência, acreditamos que a biópsia transtorácica com agulha cortante é um procedimento de fácil realização e seguro, capaz de definir o diagnóstico na maioria dos tumores malignos do mediastino.
Ela pode, em muitos casos, substituir procedimentos cirúrgicos extensos, como a toracoscopia ou a toracotomia, que necessitam de anestesia geral e internação hospitalar e estão associadas a maior morbidade e a alto custo13,14.
Conclusão
Por ser um procedimento fácil de realizar e seguro, com mínimas complicações e alto rendimento diagnóstico, recomendamos que a biópsia transtorácica com agulha cortante deva ser o método diagnóstico inicial na avaliação dos doentes com tumores mediastínicos, especialmente naqueles tumores que à tomografia computadorizada do tórax se mostram irressecáveis.
Bibliografia/Bibliography
1. Adler OB, Rosenberg A, Peleg H. Fine needle aspiration biopsy of mediastinal masses: evaluation of 136 experiences. Am J Radiol 1983; 140:893-896. [ Links ]
2. Weisbrod GL, Lyons DJ, Tao LC, Chamberlain DW. Percutaneous fine needle aspiration biopsy of mediastinal lesions. Am J Radiol 1984; 143:525-529.
3. Herman SJ, Holub RV, Weisbrod GL, Chamberlain DW. Anterior mediastinal masses: utility of thoracic needle biopsy. Radiology 1991;180:167-170.
4. Quinn SF, Demlow T, Dunkley B. Temno biopsy needle: evaluation of efficacy and safety in 165 biopsy procedurers. AJR 1992; 158:641-643.
5. Bocking A, Klose KC, Kyll HJ, Hauptmann S. Cytologic versus histologic evaluation of needle biiopsy of the lung, hilum, and mediastinum. Acta Cytol 1995; 35:463-471.
6. Ben Yehuda D, Polliack A, Dkon E, sherman Y, Bebenshart P, Lotan H, et al. Image-guided core needle biiopsy in laginant lymphoma. Experience with 100 patients that suggests the technique is reliable. J Clin Oncol 1996; 14:2431-2434.
7. Klein JS, Salomon G, Stewart EA. Transthoracic needle biopsy with coaxially placed 20-gauged automated cutting needle: results in 122 patients. Klein Radiol 1996; 198:715-720.
8. Stevens GM, Jackman RJ. Outpatient needle biopsy of the lungs: its safety and utility. Radiology 1984; 151:301-303.
9. Morrisey B, Adams H, gibbs AR, Crane MD. Percutaneous needle biopsy of the mediastinum. Thorax 1993; 48:632-637.
10. Concers DS, Scwenk GR, Doering PR, Glant MD. Thoracic needle biopsy. Chest 1987; 91:813-816.
11. Lalli AF, McComarck LJ, Zelch M, Reich NE, Belovich D. Aspiration biopsy of chest lesions. Radiology 1978; 127:35-40.
12. Crosby JH, Hager B, Hoeg K. Transthoracic fine needle aspiration. Cancer 1985; 56:3504-3507.
13. Zamboni M, Lannes DC, Roriz W, Cavalcanti A, Torquato EB, De Biasi SZ, Toscano E. Transthoracic biopsy with core cutting needle for the diagnosis of mediastinal tumors. J Brasil Pneumol 2003; 29:145-147.
14. Storch I, Shah M, Thurer R, Donna E, Ribeiro A. Endoscopic ultrsound-guided fine-needle aspiration and Trucut biopsy in thoracic lesions: When tissue is the issue. Surg Endosc 2008; 22:86-90.
1 TE SBPT Pneumologista do Grupo de Oncologia Torácica do HC I INCA/MS/TE SBPT Pulmonologist, Thoracic Oncology Group, HC I INCA/MS
2 Pneumologista do Grupo de Oncologia Torácica do HC I INCA/MS/Pulmonologist, Thoracic Oncology Group HC I INCA/MS
3 TE SBCT Cirurgião torácico Director do HC I INCA/MS/TE SBCT Thoracic Surgeon, Head, HC I INCA/MS
4 TE SBCT Cirurgiões torácicos do HC I INCA/MS/TE SBCT Thoracic Surgeons, HC I INCA/MS
5 TE SBCT Cirurgião torácico Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica HC I INCA/MS/TE SBCT Thoracic Surgeon, Head, Thoracic Surgery Unit, HC I INCA/MS
Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia de Tórax do Hospital do Câncer I INCA/MS Rio de Janeiro/Work undertaken at the Serviço de Cirurgia de Tórax do Hospital do Câncer I INCA/MS Rio de Janeiro
Correspondência/Correspondence to:
Mauro Zamboni
Rua Sorocaba 464/302 CEP 22271 -110 Rio de Janeiro RJ Brasil
E-mail: mauro.zamboni@gmail.com
Recebido para publicação/received for publication: 08.07.14
Aceite para publicação/accepted for publication: 09.02.05