Introdução
A adaptação a contextos adversos é uma condição prioritária pela sua importância para a promoção da saúde mental e prevenção de comportamentos de risco em crianças e adolescentes.
A resiliência caracteriza-se pela capacidade de adaptação positiva de uma pessoa, independentemente da idade, face a uma adversidade e contextos de experiências negativas, que potencialmente resultaria num impacto negativo (Masten & Gewirtz, 2006; Rutter, 2012). Consiste na habilidade do ser humano superar os acontecimentos stressantes da vida de forma positiva, abarcando fatores de risco e de proteção, num processo dinâmico que considera aspetos emocionais, socioculturais, ambientais e cognitivos. A resiliência é mais do que uma componente pessoal, é um processo que tem em conta o contexto em que a pessoa se insere. Folostina et al. (2015) referem que a promoção da resiliência deve assumir-se como prioridade de todos os sistemas, particularmente os que intervêm com crianças, pela sua influência positiva no empoderamento das capacidades. Os mesmos autores acrescentam que, à medida que a criança cresce, vai adquirindo novas competências, ou seja, o controlo que anteriormente era determinado pelos pais passa progressivamente para os filhos até os mesmos chegarem à adolescência, possibilitando uma gradual afirmação pessoal, não obstante as regras sociais e parentais (Folostina et al., 2015). As crianças que vivenciam situações de stress e de risco transformam-se em pessoas mais resilientes por, precisamente nesse processo, recorrerem aos seus mecanismos internos para superarem as dificuldades, fazendo com que os seus recursos sejam mais eficazes para enfrentarem essas situações (Poletto, 2007). Contudo, o constructo de resiliência nos indivíduos é dinâmico, numa determinada fase da vida podem manifestar comportamentos de adaptação positiva aos contextos e noutras fases da vida não serem capazes de uma adaptação tão eficaz perante contextos adversos (Maia, 2014).
Para a construção/desenvolvimento da resiliência em crianças e adolescentes, a família e a comunidade constituem-se como dois dos elementos elementares (Maia, 2014). A parentalidade tem vindo a assumir um papel central nos temas de saúde, pelas implicações que pode ter não só na saúde e bem-estar dos progenitores, mas sobretudo ao nível do saudável desenvolvimento físico, cognitivo e emocional da criança e do adolescente. Assenta em práticas complexas e modificáveis que vão influenciar a estruturação psíquica de cada um e a capacidade de ser resiliente perante as dificuldades da vida diária garantindo a educação e o desenvolvimento da criança. Segundo Cruz (2005, p. 13) as especificidades e a multidimensionalidade da parentalidade, define-se a partir do “(…) conjunto de ações encetadas pelas figuras parentais (pais ou substitutos) junto dos filhos no sentido de promover o seu desenvolvimento da forma mais plena possível, utilizando os recursos de que dispõe dentro da família e, fora dela, na comunidade”, remetendo para as seguintes funções parentais: i) Satisfação das necessidades mais básicas de sobrevivência e saúde; ii) Disponibilizar à criança um mundo físico organizado e previsível; iii) Resposta às necessidades de compreensão cognitiva das realidades extrafamiliares; iv) Satisfazer as necessidades de afeto, confiança e segurança; v) Satisfazer as necessidades de interação social da criança. Assim, a resiliência em crianças é influenciada pelas relações pais/filhos, pela qualidade da relação precoce pais/filhos (Cruz, 2005).
O suporte familiar, avaliações positivas e interações saudáveis com os pais, (Affi & Macmillan, 2011; Vanderbilt-Adriance & Shaw, 2008) boas relações interpessoais, professores e suporte escolar (Brooks, 2006), bem como relacionamentos e recursos da comunidade (Davies, Thind, Chandler, & Tucker, 2011) são alguns fatores externos de proteção em crianças e adolescentes. Além destes fatores, a competência pessoal constitui-se particularmente relevante para os níveis de resiliência dos indivíduos assim como a sua capacidade de autorregulação (Gardner, Dishion, & Connell, 2008). A capacidade de autorregulação exerce um efeito na adaptação à adversidade, dado que é um processo no qual os indivíduos assumem um papel na ativação, monitorização, inibição e/ou adaptação do seu comportamento, emoções e estratégias cognitivas para alcançar metas desejadas (Gestsdottir & Lerner, 2008). O ambiente familiar e a estrutura familiar, especialmente o afeto, a capacidade de resposta dos pais, as estratégias de controlo e a exposição a modelos ajustados, possuem um impacto importante nas habilidades de autorregulação das crianças e adolescentes e, portanto, em crianças e adolescentes mais resilientes (Choe, Olson, & Sameroff, 2013; Moilanen, Shaw, & Fitzpatrick, 2010).
A evidência científica mostra que famílias mais resilientes têm crianças com maior capacidade de controlo das suas emoções e comportamentos e com um desempenho escolar e em outras áreas da vida superior (Nievar, Moske, Johnson, & Chen, 2014). Uma relação de qualidade com os pais surge como um fator protetor de elevada importância na construção da resiliência dos seus filhos, ao cuidar e dar a oportunidade de estabelecerem relacionamentos com modelos positivos (Vale Dias & Reboredo, 2011). Famílias demasiadamente concentradas nos problemas impedem os sistemas de perscrutar soluções e perceber que competências têm para dissolver os problemas por forma a torná-las mais resilientes (Dallos & Hamilton-Brown, 2000). Nesta linha, é importante reconhecer as competências perante um problema: encorajar a comunicação familiar sobre os objetivos a atingir e as soluções possíveis, pois, enquanto as pessoas se concentram nos problemas, sentem-se incompetentes e incapazes e estas atitudes são práticas educativas para as crianças.
Um estudo realizado com 107 crianças entre os 10 e 13 anos de famílias de baixo rendimento, identificaram 82% dos participantes com scores elevados de resiliência, sendo que a maioria demonstrou elevada concentração e autoestima (Garcia, Brino, & Williams, 2009). O mesmo estudo revelou ainda que algumas dessas crianças apresentavam vivência de muitos eventos adversos, problemas familiares e financeiros e, mesmo assim, não desenvolveram problemas emocionais e, ou, comportamentais e tinham bom rendimento escolar (Garcia et al., 2009). Outro estudo reforçou a evidência de crianças que são criadas em condições familiares que não são ideais (por exemplo, pobreza, violência, abuso de substâncias, dissonância familiar, doenças familiares ou pessoais), situações que podem inibir o desenvolvimento intelectual, social e emocional normal de crianças e jovens, interferindo assim no alcance do seu pleno potencial como adultos. Por outro lado, muitas crianças enfrentam essas adversidades e são justas, apesar dos desafios, e podem ser consideradas resilientes (Zolkoski & Bullock, 2012).
A perspetiva parental sobre a resiliência está relacionada com a perceção que os pais têm das habilidades dos seus filhos, podendo também relacionar-se com a sua posição social e género. Num estudo de Zolkoski e Bullock (2012) foram os pais com menos idade que percecionaram de forma mais positiva a resiliência dos filhos, em quase todas as dimensões dos recursos internos de resiliência, com destaque para a autoconsciência, cooperação e comunicação e resolução de problemas. Outro estudo realizado com 393 estudantes do ensino secundário, com idades a variar entre os 14 e os 21 anos de três escolas do norte de Portugal mostrou que a resiliência era influenciada pelo ambiente familiar, escolar e a relação com os pares, contribuindo para um aumento de cooperação e comunicação, empatia, autoconsciência e autoeficácia (Dias & Cadime, 2017). O ambiente familiar foi o principal preditor de resiliência (Dias & Cadime, 2017). O mesmo estudo revelou que a resiliência se associou com o sexo feminino (p= .004) e com a idade, na medida que os estudantes mais novos têm melhores níveis de resiliência (p= .001) (Dias & Cadime, 2017).
1. Métodos
Efetuou-se um estudo quantitativo, descritivo e correlacional a 592 figuras parentais de um agrupamento de escolas básicas/secundárias da região centro de Portugal, com o objetivo de analisar a perceção dos pais relativamente à resiliência das crianças e adolescentes.
Solicitou-se parecer à comissão Nacional de Proteção de Dados (Refª 03.01, 38790 de 18/12/2017), por forma a salvaguardar os requisitos éticos. Efetuou-se posteriormente a submissão do protocolo de pesquisa à Direção Geral de Educação (DGE) (inquérito n.º 0012100017). Após aprovação do estudo, solicitou-se permissão ao Conselho Diretivo do Agrupamento Escolar e obteve-se o consentimento livre e informado dos encarregados de educação.
Realizou-se o tratamento estatístico através do Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS - versão 24.0), com base na análise estatística descritiva e analítica, com recurso à análise de variância ANOVA e ao Teste-t para diferença de médias. Utilizou-se o Intervalo de Confiança (IC) a 95% (significância p<0,05).
1.1 participantes
Envolveu uma amostra por conveniência não probabilística de 592 pais (figuras parentais) com uma média de idade de 40.43 anos (±2.58 anos), sendo que o sexo feminino representa 84,8% da amostra (n=502). Ainda em relação à idade e tendo em conta a classificação por grupos etários, constata-se que, no total da amostra, a percentagem mais elevada corresponde aos pais na faixa etária dos 40-41 anos (38,3%), seguindo-se os que têm idade inferior ou igual aos 39 anos (32,9%). Fazendo-se uma análise das idades por sexo, constata-se que, em ambos, a maioria situa-se na faixa etária dos 40-41 anos (sexo feminino 37,8% vs. sexo masculino 41,1%) (Tabela 1).
Instrumento de Recolha de Dados
Foi aplicado um questionário de caracterização sociodemográfica e a subescala Internal Assets do questionário Healthy Kids Resilience Assessment (versão 6.0), adaptada para a população portuguesa por Martins (2005). É uma subescala tipo Likert constituída por 18 itens classificada em 4 pontos (1 = Nada Verdadeiro, 2 = Pouco Verdadeiro, 3 = Bastante Verdadeiro e 4 = Tudo Verdadeiro) correspondentes às seguintes seis dimensões: Cooperação e Comunicação; Autoeficácia; Empatia; Resolução de Problemas; Autoconsciência e Metas e aspirações.
2. Resultados
Da análise efetuada às seis dimensões da resiliência e ao fator global das crianças/adolescentes percecionadas pelos pais, contata-se que a média mais elevada corresponde à dimensão Metas e Aspirações (M=77.06±21.75) seguida da Resolução de Problemas (M=72.11±21.05) e da Empatia (M=71.55±18,07). Os coeficientes de variação indiciam uma dispersão moderada face às médias encontradas (Tabela 2).
Dimensões | Min | Max | Média | Dp | CV (%) |
Cooperação e comunicação | 11.11 | 100.0 | 69.86 | 18.81 | 26.93 |
Autoeficácia | 11.11 | 100.0 | 62.37 | 19.13 | 30.67 |
Empatia | 11.11 | 100.0 | 71.55 | 18.07 | 25.26 |
Resolução de problemas | 11.11 | 100.0 | 72.11 | 21.05 | 29.19 |
Autoconsciência | 11.11 | 100.0 | 68.94 | 20.61 | 29.90 |
Metas e aspirações | .00 | 100.0 | 77.06 | 21.75 | 28.22 |
Fator global de resiliência | 20.37 | 100.0 | 70.31 | 15.66 | 22.27 |
Pela análise da classificação da perceção das figuras parentais apura-se que 48.4% das mães consideraram que o seu filho é moderadamente resiliente, 26.7% percecionam o filho como muito resiliente e 24.9% consideram que o filho é pouco resiliente. Relativamente aos pais verifica-se a mesma tendência, já que 45.6% consideram o filho moderadamente resiliente e 28.9% e 25.6% muito e pouco resilientes respetivamente (Tabela 3).
Género | Masculino | Feminino | Total | Residuais | X2 | P | ||||
Variáveis | N (90) | % (15,2) | N (502) | % (84.8) | N (592) | % (100.0) | 1 | 2 | ||
Resiliência | .279 | .870 | ||||||||
Pouca | 23 | 25,6 | 125 | 24.9 | 148 | 25 | .1 | -.1 | ||
Moderada | 41 | 45,6 | 243 | 48.4 | 284 | 48 | -.5 | .5 | ||
Elevada | 26 | 28,9 | 134 | 26.7 | 160 | 27 | .4 | -.4 | ||
Total | 90 | 100,0 | 502 | 100.0 | 592 | 100.0 |
Considerando que a idade dos pais pode influenciar a sua perceção, foi efetuada esta análise, verificando-se pelo Test-T para diferença de médias, que são os pais mais novos os que percecionam melhor a resiliência dos seus filhos, com valores médios mais elevados em todas as dimensões, mas apenas com diferenças estatisticamente significativas na empatia (p=.036), na resolução de problemas (p=.001) e na resiliência total (p=.047) (Tabela 4).
Idade | ≥41 anos | <41 anos | t | p | ||
Resiliência | Média | Dp | Média | Dp | ||
Cooperação e comunicação | 68.64 | 19.19 | 71.07 | 18.35 | -1.570 | .117 |
Autoeficácia | 61.24 | 17.57 | 63.50 | 20.55 | -1.439 | .151 |
Empatia | 69.99 | 18.42 | 73.10 | 17.60 | -2.100 | .036 |
Resolução de problemas | 69.32 | 20.74 | 74.91 | 21.02 | -3.258 | .001 |
Autoconsciência | 68.31 | 20.70 | 69.56 | 20.54 | -.740 | .460 |
Metas e aspirações | 76.73 | 21.79 | 77.40 | 21.72 | -.375 | .708 |
Fator global de resiliência | 69.04 | 15.32 | 71.59 | 15.92 | -1.987 | .047 |
Da análise da perceção face ao sexo dos pais, apura-se que são os do sexo masculino que, na globalidade, apresentam valores de ordenação média mais elevados em quase todas as dimensões da resiliência, sugerindo que são estes que têm uma perceção mais elevada da resiliência dos filhos, com exceção da dimensão metas e aspirações e no total da resiliência, onde pontuaram mais as mães. Todavia, sem diferenças estatisticamente significativas (Tabela 5).
3. Discussão
A resiliência tem sido definida de forma variada na literatura e a resiliência familiar é um constructo relativamente recente que descreve como as famílias se adaptam ao stress e recuperam da adversidade (Mullin & Arce, 2008). Assim, as famílias mais resilientes são as que, perante situações adversas, demonstram flexibilidade na capacidade de adaptação com resultados produtivos para o seu bem-estar, têm uma atitude e um desenvolvimento positivo da família e seus elementos (Hawley & De Haan, 1996). A família assume funções parentais básicas como o apoiar o crescimento e desenvolvimento da criança, a socialização e a autonomia, possuindo a capacidade de nutrir, guiar e controlar (Relvas, 2003). A investigação tem identificado processos que proporcionam à família o sentimento de empoderamento para enfrentar a adversidade: coesão familiar, crenças familiares positivas/saudáveis (especificamente, a espiritualidade, a esperança, o otimismo, a concentração nas forças e a aceitação dos desafios) e ação para controlar o próprio destino (Mullin & Arce, 2008; Bhana & Bachoo, 2011). Neste sentido, resiliência é a:
capacidade de responder de forma mais consistente aos desafios e dificuldades, de reagir com flexibilidade e capacidade de recuperação diante desses desafios e circunstâncias desfavoráveis, tendo uma atitude otimista, positiva e perseverante e mantendo um equilíbrio dinâmico durante e após os embates - uma característica de personalidade que, ativada e desenvolvida, possibilita ao indivíduos desenvolver um autoconceito, autoconfiança e um senso de autoproteção que não desconsidera a abertura ao novo, à mudança, ao outro e à realidade subjacente. (Tavares, 2001, p. 8).
Perante o que foi referido, a família é considerada como um elemento basilar para o desenvolvimento e crescimento das crianças, desempenhando um papel significativo na transmissão da cultura, valores morais, prestação de cuidados, normas de conduta e constituindo-se como o grupo social primário. Portanto, a qualidade das práticas parentais na infância constitui um ponto fulcral no desenvolvimento equilibrado e coerente da criança. Os pais são os primeiros educadores e socializadores, motivo pelo qual as suas práticas são, inevitavelmente, influenciadoras das aprendizagens e dos comportamentos dos filhos no futuro. Neste sentido, o ambiente familiar é essencial e determinante para a resiliência das crianças (Maia, 2014). Existem estudos que referem que fatores individuais e ambientais, relacionados com a escola, ambiente familiar, comunidade ou grupo de pares, contribuem para o desenvolvimento da autorregulação e da resiliência em crianças e adolescentes (Choe et al., 2013; Maia, 2014; Moilanen et al., 2010). A capacidade de autorregulação constitui-se pertinente para os níveis de resiliência das crianças e adolescentes (Gardner et al., 2008). Investigações têm referido que ambiente familiar tem um efeito superior sobre a resiliência de crianças, enquanto o ambiente escolar não apresenta poder preditivo (Dias & Cadime, 2017).
São os pais (Homens), na globalidade que apresentam valores de ordenação média mais elevados em quase todas as dimensões da resiliência, sugerindo que são estes que têm uma perceção mais elevada da resiliência dos filhos, com exceção da dimensão metas e aspirações e no total da resiliência, onde pontuaram mais as mães. Este resultado referente ao pai, parece ser consistente com alguma literatura que aponta para um maior envolvimento do pai na educação e desenvolvimento dos filhos (Hall, 2005; Lamb, 2010).
De acordo com os resultados encontrados no presente estudo, verificou-se serem os pais mais novos os que percecionam melhor a resiliência dos seus filhos, com valores médios mais elevados em todas as dimensões, mas apenas com diferenças estatisticamente significativas na empatia (p=0,036), na resolução de problemas (p=0,001) e na resiliência total (p=0,047). Estes resultados poderão ser justificados com o facto dos pais mais novos ainda não estarem tão “formatados” como os pais com mais idade, estando, provavelmente, mais despertos para os comportamentos dos filhos, o que lhes permite fazer uma maior avaliação da sua resiliência. Também no estudo de Zolkoski e Bullock (2012) foram os pais com menos idade que percecionaram de forma mais positiva a resiliência dos filhos em quase todas as dimensões dos recursos internos de resiliência, com destaque para a autoconsciência, cooperação e comunicação e resolução de problemas.
Conclusões
Os dados revelam contributos interessantes das variáveis sociodemográficas no construto em estudo. O facto de terem sido utilizadas medidas de autorresposta pode enviesar os resultados, pois ficamos dependentes da informação fornecida pelos pais que podem ser mais no sentido de perceções desejáveis e não traduzir a real perceção de resiliência. Será desejável incluir, no futuro, outro tipo de instrumentos e mais fontes de dados, tais como algumas variáveis familiares, por exemplo, a organização da família, sua qualidade relacional e história. Além disso importa salientar outra limitação metodológica associada ao tipo de amostra utilizada, que, não sendo representativa da população portuguesa, pelo seu carater não probabilístico associado à característica transversal da recolha de informação, inviabiliza a generalização dos resultados a outras populações. Porém, tal como referimos e dada a escassez de estudos nacionais neste âmbito, considera-se que os resultados obtidos serão um importante contributo para o estudo da perceção da resiliência que os pais têm dos seus filhos.
Face aos resultados encontrados, concluímos que o conceito de resiliência, apesar de recente, é de crucial importância no estudo da adaptação à adversidade para a promoção da saúde mental e prevenção do comportamento de risco em crianças e adolescentes. O estudo da resiliência, pode, desta forma fornecer aos pais, professores e profissionais de saúde, informações sobre os recursos que podem ser mobilizados a promover resultados positivos em ambientes adversos. Tal como defendem Dias e Cadime (2017), o ambiente familiar, escolar e a relação com os pares são fatores preditores da resiliência de crianças e adolescentes, contribuindo para um aumento de cooperação e comunicação, empatia, autoconsciência e autoeficácia. O ambiente familiar é o principal preditor de resiliência. Neste sentido, relativamente à perceção dos pais, verificou-se que a maioria considera os seus filhos de moderada a muito resilientes, destacando-se as médias mais elevadas nas dimensões metas e aspirações, resolução de problemas e empatia.
No sentido de aprofundar a importância das práticas educativas parentais no desenvolvimento da criança, foram realizados diversos estudos ao longo das últimas décadas. Costa, Teixeira e Gomes (2000) procedeu a uma revisão dos estudos realizados em Portugal e Vaz Serra, Firmino e Matos citados em Costa et al., (2000) centraram os seus estudos em aspetos relacionados com a relação pais-filhos, tendo considerado o género dos pais, o género dos filhos, a relação mãe-pai e filho-progenitor, e as características individuais da criança.
Sugerimos que se aprofunde a intervenção junto das famílias capacitando-as para o empoderamento do seu ambiente para a promoção da resiliência junto das crianças e adolescentes aumentando os níveis de bem estar, de saúde mental e de relacionamento intra e interpessoal.
Agradecimentos
Este trabalho é financiado pelo Fundo Social Europeu, Programa Operacional CENTRO 2020 e Fundação para a Ciência e Tecnologia do Governo Português, instituições públicas que se constituem como fontes de financiamento do Projeto de Investigação MAISaúde Mental (código de identificação:CENTRO-01-0145-FEDER-023293), onde este estudo se integra.