Introdução
A Saúde Mental é uma dimensão essencial para o bem-estar geral das pessoas ao longo de todas as etapas do ciclo vital. Com o envelhecimento vai-se deteriorando a capacidade física e intelectual, o raciocínio, a memória, as competências sociais e surgem alterações na gestão das reações emocionais (World Health Organization. (2002). A promoção da saúde mental ao longo do envelhecimento traduz-se num indiscutível benefício ao nível das consequências estimadas para os diferentes sectores da sociedade civil (laboral, económico, cultural e comunitário) (DGS, 2005).
O envelhecimento comporta com frequência a degeneração do sistema nervoso e de outras estruturas do corpo humano e em consequência surge a redução das capacidades cognitivas e sensoriais e diminuição da capacidade funcional da pessoa (Cardoso, Cavol & Vieira, 2009).
Uma das funções cognitivas mais afetadas no processo de envelhecimento “é a perda da memória a curto prazo e incapacidade de cálculo” (Schneider, Marcolin & Dalacorte, 2008).
Perante estas evidências, surgiu a motivação para desenvolver o projeto “Envelhecer Ativa’mente”, tendo como alvo as pessoas com 65 ou mais anos.
Com vista a analisar os resultados da sua implementação, definiu-se a seguinte questão de investigação: Em que medida a implementação de um programa de estimulação cognitiva
melhora as funções cognitivas dos idosos?
Neste contexto, o objetivo deste estudo é: avaliar a capacidade cognitiva de um grupo de idosos, antes e após, frequentarem um programa de estimulação cognitiva.
1. Métodos
1.1 Tipo de estudo
O estudo do tipo exploratório e cariz transversal teve como finalidade caracterizar um contexto clínico, que suporta o desenvolvimento do projeto “Envelhecer Ativa’mente” com alvo nas pessoas com 65 ou mais anos. Este operacionaliza-se através de um programa de intervenção que engloba as áreas de expressão corporal, estimulação cognitiva e relaxamento neuromuscular. Com a sua implementação procurou-se promover os benefícios da estimulação cognitiva, tais como: memória; atenção; aprendizagem; perceção; linguagem; orientação espacial e temporal; preservar a interação social.
1.2 Participantes
A população alvo deste estudo foram os utentes da freguesia de Tarouca que satisfisessem pelo menos um dos critérios a seguir descritos: idade igual ou superior a 65 anos; dificuldade de concentração; alteração da memória; risco cardiovascular; cansaço fácil.
Foi seleccionado um grupo de 25 idosos, sendo 21 do sexo feminino (84% da amostra) e 4 do sexo masculino (16% da amostra). O estudo foi realizado entre 04 de Fevereiro e 29 de Abril de 2019.
1.3 Instrumentos de recolha de dados
Aplicou-se o Mini-Mental State Examination (MMSE) de Folstein, Folstein, & McHugh (1975), versão portuguesa adaptado por Guerreiro, Silva, Botelho, Leitão, Castro-Caldas, & Garcia, em 1994. O MMSE apresenta 30 questões, sendo atribuído um ponto a cada resposta corretamente emitida. Foi aplicado no inicio e no final da implementação do projeto “Envelhecer Ativa’mente” para monitorizar a evolução/manutenção das funções cognitivas dos participantes.
1.4 Procedimentos éticos e de análise estatística
De modo a respeitar as questões éticas decorrentes da realização do estudo, os utentes foram devidamente informados sobre as intervenções do projecto e posteriormente preencheram e assinaram o termo de consentimento informado.
Para realizar o tratamento estatístico dos dados, recorreu-se ao ao programa informático Excel da Microsoft Office.
2. Resultados
Função cognitivas dos idosos, antes e após, frequentarem um programa de estimulação cognitiva.
A avaliação das funções cognitivas dos idosos, através do Mini Mental State Examination (MMSE), antes e após aplicação de plano de sessões de estimulação cognitiva, permitiu verificar existir uma melhoria da função cognitiva - evocação. (Cf. Figura 1).
Nas funções de orientação, retenção, atenção e cálculo, os scores da MMSE, avaliados antes e depois, da implementação de um plano de sessões de estimulação cognitiva, mostram que não se verificaram alterações significativas. Obtiveram-se scores iguais, para os dois momentos de avaliação, nas funções orientação e atenção e cálculo. (Cf. Figura 2).
Os idosos após frequentarem um programa de estimulação cognitiva, pontuaram com scores mais elevados nas funções evocação, linguagem e habilidade construtiva, destacando-se com valores mais significativos a evocação.
3. Discussão
Devido à degradação gradual inerente ao envelhecimento, decorrem limitações na função cognitiva que se constituem como um dos graves problemas nos idosos, pois resultam frequentemente em perda de autonomia (Schneider, Marcolin & Dalacorte, 2008). Daí que, os parâmetros que neste estudo se mantiveram sem alterações significativas, representam só por si, um resultado positivo, uma vez que manter as capacidades cognitivas num idoso, de per si, já é vantajoso.
O facto da função cognitiva evocação, ser a função que apresentou melhores resultados, e uma vez que está associada à memória a curto prazo, justifica que a aplicação deste projeto e respetiva monitorização sejam continuados, como forma de melhorar a memória dos idosos, dado que esta se apresenta como uma das principais queixas deste grupo etário, (Cordeiro, Del Castillo, Freitas & Gonçalves, 2014), sendo também um indicador sensível para o déficit cognitivo (Schneider Marcolin, Dalacorte, 2008).
Como limitação deste estudo, refere-se o facto do n, da amostra, ser reduzido, e de existirem pessoas analfabetas, pelo que apesar de ter existido por parte da equipa, o cuidado de explicar os conteúdos da MMSE, considera-se que a baixa literacia funcional pode ter condicionado a interpretação do conteúdo das perguntas e consequentemente ser fator de enviesamento das respostas. Em futuros estudos, será de considerar os contributos da utilização dos valores de corte do MMSE, redefinidos para a população portuguesa por Morgado, Rocha, Maruta, Guerreiro, Martins (2009) e ainda as inferências de Santana, Duro, Lemos, Costa, Pereira, Mário Simões, & Freitas (2016).
Porém, dado que não se pretendia extrapolar conclusões ou generalizações para outros contextos, ressalta-se que os resultados permitem conhecer a singularidade de um contexto de intervenção clínica e motorizar intervenções em saúde, o que nos parece de ressaltar.
Conclusões
O envelhecimento é um processo inerente a todos os seres vivos, sendo progressivo e irreversível, que se expressa, entre outros, pela perda da capacidade de adaptação e pela diminuição da funcionalidade (Spirduso, Francis, & Mcrae, 2005). Fruto de uma maior longevidade do ser humano, o envelhecimento é uma realidade inevitável para todas as pessoas, ao qual se associa uma maior prevalência das doenças crónicas e consequente incremento da dependência nas atividades da vida diária, assim como declínio das capacidades cognitivas.
Em síntese, os resultados do estudo traduzem existirem ganhos clínicos, pelo que são considerados encorajadores, sendo fundamental dar continuidade ao desenvolvimento do projeto, bem como alargar o plano de intervenção da estimulação cognitiva a todas as pessoas com 65 ou mais anos, do Concelho de Tarouca, por forma a melhorar / manter a capacidade cognitiva e funcional dos idosos.