Introdução
A iniciativa "Escolas de Verão" decorre no âmbito do apoio especial “Verão com Ciência”, promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), em colaboração com a Direção Geral do Ensino Superior (DGES).
A “Escola de Verão" - “Mentores em ação”, aprovada para ser desenvolvida na Instituição de Ensino Superior, é supervisionada pela Encarregada de Missão para a Inclusão, da instituição onde o estudo foi realizado e pelos docentes que integram o Grupo de Missão para a Inclusão.
O presente artigo científico com o tema “Formas de percecionar a estrutura de um Programa de Mentoria (PM)”, foi desenvolvido na Escola de Verão referida e tem como principal objetivo desenvolver um guião orientador para a criação e implementação de um PM, de modo a promover práticas de inclusão em todas as UO da instituição, a partir de setembro de 2020. O nosso estudo pretende ainda responder à questão: “Qual a melhor forma de desenvolver a estrutura de um Programa de Mentoria para implementar nas 5 unidades orgânicas (UO) da Instituição de Ensino Superior?”.
O referido guião resultou do estudo comparativo entre a análise qualitativa subjacente à operacionalização do projeto piloto do PM no ano letivo de 2019/2020, em duas Unidades Orgânicas (UO) da Instituição de Ensino Superior (PV), bem como nos dados de outras fontes externas (ex: Estudo do PM na universidade do Porto e na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa).
Ora, para os autores do “Programa Transversal de Mentoria interpares da Universidade do Porto: Princípios orientadores”, um PM é uma iniciativa institucional de inclusão académica, de integração pessoal e social dos novos estudantes (nacionais ou internacionais), que promove o sucesso académico, a prevenção do abandono e, ainda, o desenvolvimento de competências transversais (UP, 2020). Por outro lado, este PM pode ser entendido como uma troca de conhecimentos e experiências entre mentor e mentorado.
Arnesson & Albinsson (2017, p. 203), referem que na relação de Mentoria o “mentor contribui com o seu conhecimento, experiência e perspetivas, desenvolvendo competências a nível académico. A sua função principal é orientar o mentorado no seu desenvolvimento pessoal e académico, aumentando a sua competência psicossocial. Na prática, a mentoria resume-se a uma combinação de apoio emocional e prático” (p. 203).
A missão das instituições do ensino superior é promover o desempenho e a preparação dos estudantes para a competitividade global, promovendo a excelência educacional e garantindo igualdade de acesso (Newman & Conway, 2016). A implementação dos princípios da educação inclusiva no ensino superior é um desafio à própria instituição, professores e estudantes, sendo a implementação de PM uma estratégia que poderá contribuir para este desiderato.
Estruturalmente, o presente documento é constituído por uma fundamentação teórica, nomeadamente, conceitos relacionados com Mentoria e implementação do Programa de Mentoria; de seguida apresenta-se a metodologia utilizada para a realização do presente artigo, fazendo referência ao método de investigação qualitativa “Histórias de vida”; seguidamente a apresentação e discussão dos resultados obtidos e por fim as principais considerações finais, tendo em conta os dados recolhidos.
1. Quadro teórico
Falar de mentoria no Ensino superior exige a análise de diversos conceitos que contribuem integradamente para uma eficiente implementação de boas práticas para a inclusão dos estudantes na academia.
1.1 Práticas Inclusivas
A educação inclusiva é essencial para o desenvolvimento humano, respeito pelos direitos e igualdade de oportunidades e um objetivo político prioritário das democracias liberais. O ideal é que todos os estudantes tenham a oportunidade de ser educados também com os seus pares, qualquer que sejam as suas especificidades. A prática de inclusão pressupõe, que se assuma a diversidade como um fator positivo e de desenvolvimento de comunidades escolares mais ricas e mais vantajosas (Correia, 2013).
Para beneficiar a compreensão mais profunda das dinâmicas de inclusão é importante distinguir os conceitos de integração e inclusão. Integrar é um “ato ou um efeito de tornar inteiro, sinónimo de assimilação e reunião”. No contexto académico este conceito remete para a adaptação de um estudante à vida académica, quer em termos de aprendizagem, quer a nível de relacionamentos com os seus colegas. A inclusão, segundo a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), é o princípio fundamental das escolas inclusivas e pressupõe que todos os estudantes aprendam em conjunto, sempre que possível, quaisquer que sejam as especificidades de cada um. As escolas inclusivas reconhecem e satisfazem as necessidades diversas dos seus estudantes, adaptando-se elas próprias aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respetivas comunidades.
Num ambiente do ensino superior inclusivo, os estudantes tornam-se cidadãos também inclusivos, com reflexos numa sociedade mais inclusiva (Clark, 2018). Através de práticas inclusivas, os estudantes adquirem consciência da pluralidade da existência humana, confrontando-se com questões de etnia, de género, de habilidade, de identidade, de status socioeconómico, de classe social, entre outras. A ampla perspetiva gerada a partir de um currículo multicultural fornece diretrizes aos estudantes, mostrando como as suas escolhas e decisões pessoais os afetam, mas também à sociedade, como um todo.
1.2 O conceito de Mentoria e implementação de Programas de Mentoria nas instituições de ensino superior
O conceito Mentoria é uma iniciativa institucional de acolhimento, integração/inclusão académica, pessoal e social dos novos estudantes. A noção de Mentoria surge com base na promoção do sucesso educativo, prevenção do abandono e no desenvolvimento de competências transversais (UP, 2020).
A Mentoria é um sistema de orientação semiestruturada, em que uma pessoa compartilha os seus conhecimentos, habilidades e experiência para ajudar outras pessoas a progredir a nível pessoal, académico e profissional. Este conceito é muito mais do que ‘dar conselhos’ ou transmitir a sua experiência numa área ou numa situação específica. Trata-se de motivar e capacitar a outra pessoa a identificar os seus próprios problemas e objetivos e ajudá-la a encontrar maneiras de os resolver ou alcançar, compreendendo e respeitando diferentes maneiras de saber fazer e saber estar (Kahle-Piasecki & Doles, 2015).
Hansman (2012) defende que um PM deve configurar-se flexível e interativo. Na relação estabelecida entre o mentor e o mentorado, o mentor tem a responsabilidade de compartilhar informações sobre a sua formação, habilidades e interesses; manifestar formas de apoio; promover a escuta ativa e o diálogo em ambiente saudável e cordial, servindo-se como modelo positivo pautado pela reciprocidade. Mais ainda, deve ajudar o mentorado a estabelecer metas académicas e incrementar a sua autoconfiança e autoestima através de crítica construtiva e assente numa rede de conhecimentos especializados. O mentorado, por sua vez, para além do dever de feedback, deve ser capaz de alcançar os seus objetivos de forma mais rápida e eficiente, comparativamente a um percurso individual autónomo.
Os Programas de Mentoria estão a ser desenvolvidos no ensino superior devido à sua utilidade percebida na melhoria do desempenho académico dos estudantes. Estes consistem numa ferramenta eficaz na orientação de estudantes, pois é um método que contribui para a melhoria na performance das pessoas e eleva o nível de motivação e produtividade (Arantes & Viegas, 2018).
Todas as atividades envolvidas num PM visam ajudar os estudantes a serem bem-sucedidos com experiências desafiadoras, como uma pedra angular para a vida académica e desenvolvimento a nível pessoal, profissional e social, através de experiências de pesquisa, aprendizagem integrada e cursos com elevada exigência académica. “Outros programas visam apoiar estudantes sub-representados, incluindo os estudantes de origens étnicas e raciais, estudantes em ERASMUS” (Lunsford et al., 2017, p. 317).
Os PM podem ser um meio eficaz de apoiar os estudantes na adaptação ao ambiente e responsabilidades associadas à universidade. Crisp et al. (2017) salientam a necessidade de aprofundar a pesquisa sobre como a mentoria no ensino superior se diferencia de outras formas de acompanhamento de estudantes, bem como, a necessidade de compreender o que acontece no contexto das relações de Mentoria, e se realmente esta completa o desempenho escolar do aluno envolvido. Segundo os autores, o processo de mentoria exige competências como colaboração, confiança, comunicação, confidencialidade e compromisso.
Segundo Jacobi (1991), num PM são quatro as dimensões que devem ser incorporadas e trabalhadas: envolvimento na aprendizagem, integração académica e social, apoio social e apoio ao desenvolvimento com a colaboração dos vários departamentos e serviços institucionais disponíveis. Defende ainda que o elevado número de interações e as boas relações entre docentes e discentes se manifestam em atividades educacionais que moldam um alto nível de envolvimento dos estudantes.
A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) considera que um PM interpares é uma ferramenta que pretende aproximar os estudantes recém-chegados (Mentorados) de estudantes de outros anos curriculares (Mentores), sendo baseado numa estrutura de tutoria por pares. Assim, e de modo a que tal situação se verifique, um estudante recém-chegado deverá ser acompanhado por um colega do 2º ano ou de qualquer outro ano mais avançado, que se compromete a guiá-lo e a orientá-lo ao longo do seu percurso na academia. As diretrizes da Faculdade referida anteriormente apontam que o mentor é parte fundamental na implementação de um PM. Não obstante a colaboração de diferentes departamentos da faculdade e respetiva Associação de Estudantes, é do mentor a responsabilidade de planificar e coordenar o trabalho a realizar com os seus mentorados ao longo do ano.
Neste sentido, o mentor deve dinamizar a realização de workshops ou outras iniciativas que valorizem a realização e qualificação pessoal dos participantes. Entre outras temáticas destacam-se Soft Skills, planificação de eventos e respetiva logística, medidas de divulgação do programa. Outra diretiva que se evidencia é a total autonomia do mentor na relação que estabelece com o seu mentorado. É fomentada a disponibilidade e a participação do mentor em reuniões com órgãos da própria instituição. A total independência entre Mentoria e Praxe Académica é um pressuposto. A avaliação do PM é realizada através do preenchimento obrigatório de questionários por mentores e mentorados. A informação recolhida é essencial uma vez que constitui o único modo de aferição do cumprimento dos objetivos do programa e é o melhor instrumento na identificação de eventuais falhas/lacunas que o programa possa apresentar (FMUL,2020).
2. Métodos
Este artigo científico é o resultado do trabalho desenvolvido durante a Escola de Verão “Mentores em Ação”, o qual procura responder à questão “Qual a melhor forma de desenvolver a estrutura de um Programa de Mentoria para implementar nas 5 unidades orgânicas (UO) da Instituição de Ensino Superior?”. Este estudo segue uma abordagem descritiva e exploratória, inserindo-se numa metodologia qualitativa.
Para o desenvolvimento do trabalho, foram tidos em conta os dados recolhidos no projeto piloto, “Práticas Inclusivas na Instituição de Ensino Superior”, bem como dados recolhidos, numa segunda etapa, a dois mentores e quatro mentorados envolvidos em projetos de mentoria noutras instituições de ensino superior, com especial enfoque na informação relativa à caracterização da implementação do Programa de Mentoria. Posteriormente, compararam-se os dados obtidos nas duas amostras, para a construção da proposta final.
Utilizou-se, na segunda etapa de recolha de dados, o método “Histórias de Vida”, o qual permitiu acrescentar informação aos dados previamente recolhidos no estudo piloto, já acima referidos. De forma a conceder coerência de abordagem e análise, implementámos o método através da aplicação de uma entrevista semiestruturada.
Este método capta a perspetiva da vida do ser humano, com a sua revalorização, sendo dependente da qualidade do vínculo entre o investigador e o sujeito (Silva et al., 2007).
As abordagens qualitativas, entre as quais o método das histórias de vida, foram relativamente marginais e pontuais na investigação em Psicologia durante muito tempo. Apesar dos psicólogos, desde sempre, se socorrerem das histórias de vida dos seres humanos, faziam-no essencialmente no sentido da anamnese, influenciada pelo modelo médico. Para Tinoco (2004), é a partir da publicação da obra ‘The Children of Sanchez’, de Oscar Lewis, em 1963, que as investigações qualitativas começam a relançar-se no panorama investigativo. Ademais, parece ser consensual para muitos autores e pensadores desta temática, que é através da psicologia social e da necessidade de compreender problemas sociais emergentes, que a abordagem de recolha de histórias de vida, gerais ou temáticas, começa a ganhar força.
A história de vida é, assim, um instrumento privilegiado para análise e interpretação, na medida em que incorpora experiências subjetivas introduzidas em contextos sociais fornecendo, por um lado, uma base consistente para a compreensão da componente histórica dos fenómenos individuais e, por outro, para a compreensão da componente individual dos fenómenos históricos (Paulilo, 1999, p. 142).
3. Resultados
Perante os dados recolhidos nas Universidades do Porto e de Lisboa e os dados do estudo piloto desenvolvido nas duas unidades orgânicas da presente Instituição de Ensino Superior, apresentamos de seguida os resultados. Deste modo, e de forma estruturada serão apresentados os dados relativos às categorias “Conceitos centrais à Mentoria” e “Caracterização do Programa de Mentoria”.
Apresenta-se de forma genérica na fig. 1 as palavras mais frequentemente utilizadas pelos participantes do estudo (em ambas as etapas de recolha de dados). De referir que o termo mentoria é o que mais se destaca nos discursos dos participantes, seguido da palavra programa e logo a seguir a palavra encontros. Outros termos emergem nos discursos dos participantes como sejam: inclusão/inclusivas, mentor/mentores, mentorado, práticas, implementadas, instituição, acolhimento, ajudar, pessoas, implementação, duração, frequência, entre outros.
No estudo piloto, na categoria “Conceitos centrais à Mentoria” emergiram quatro subcategorias. No que se refere à subcategoria “Inclusão”, esta é formada por três especificações: “Acolhimento”, “Colocar-se no lugar do outro” e “Abster-se de juízos de valor e preconceitos”. Na subcategoria “Mentoria” emergiram cinco especificações: “Orientação”, “Presença”, “Suporte”, “Processo de integração” e “Aconselhamento”. A subcategoria “Ajuda” constituiu-se em três especificações, nomeadamente: “Ajudar o outro”, “Entreajuda” e “Ser ajudado”. Por último, surge a subcategoria “Processo de inclusão”.
No estudo atual, no que diz respeito à subcategoria “Inclusão”, esta foi formada por três especificações: “Acolhimento”, “União” e “Abster-se de juízos de valor e preconceitos”. Na subcategoria “Mentoria” surgiram quatro subespecificações: “Ato de ajudar o outro”, “Orientação” e “Processo de capitação desenvolvidos” e “Processo de Inclusão”.
Relativamente à categoria “Caracterização do Programa de Mentoria implementado” no estudo piloto, esta categoria é formada por quatro subcategorias. A subcategoria “Quanto ao local utilizado durante a interação mentor-mentorado”, na qual emergiram três especificações: “Na escola”, “Fora da escola” e “Através das redes sociais”. Da subcategoria “Quanto à frequência e duração das interações entre mentor - mentorado”, resultaram duas especificações: “Duração”, que se subdivide em: entre 5 a 10 minutos, meia hora, e horas de duração. Quanto à “Frequência”, a mesma é composta por: diariamente, semanalmente, pouco frequente, um único momento, e no início semanalmente, depois esporadicamente. No que se refere à subcategoria “Quanto à forma de seleção do par mentor-mentorado”, a mesma é constituída por quatro especificações: “Escolha aleatória pelo professor”; “Escolha por afinidade”; “Criação de uma bolsa de mentores” e “Criação de uma bolsa de mentorados”. A subcategoria “Quanto às orientações fornecidas no início da implementação do Programa”, é formada por quatro especificações, designadamente: “1.º Foi dado a conhecer o Programa de Mentoria”; “2.º Passaram um inquérito para avaliação diagnóstica”; “3.º Foram apresentados os mentores aos mentorados” e “4.º Informaram que haveria acompanhamento por parte da tutora”.
No estudo atual, a categoria “Caracterização do Programa de Mentoria implementado” é igualmente formada por quatro subcategorias. A subcategoria “Quanto ao local utilizado durante a interação mentor-mentorado” na qual emergiram três especificações: “Na escola”, “Fora da escola” e “Via online”. Da subcategoria “Quanto à frequência e duração das interações entre mentor - mentorado”, resultaram duas especificações: “Duração” e frequência. A Duração subdivide-se em: “inferior a meia hora”, “cerca de uma hora” e “superior a uma hora”. Quanto à “Frequência”, a mesma contém: “encontros diários”, “encontros semanais” e “encontros pouco frequentes”. No que se refere à subcategoria “Quanto à forma de seleção do par mentor-mentorado”, esta é constituída por uma especificação: “Escolha aleatória”. A subcategoria “Quanto às orientações fornecidas no início da implementação do Programa”, é formada por duas especificações, designadamente: “Definir em que consiste o Programa de Mentoria” e “Definir o papel do mentor”.
4. Discussão
Seguidamente serão discutidos e comparados os resultados obtidos pelo estudo atual e pelo estudo piloto ao nível das categorias “Conceitos centrais à Mentoria” e “Caracterização do Programa de Mentoria”.
Da análise dos resultados da categoria “Conceitos centrais à Mentoria”, conclui-se que, quer no estudo piloto, quer no estudo atual, surgiram especificações idênticas. No que diz respeito à subcategoria “Inclusão”, as especificações “Acolhimento” e “Abster-se de juízos de valor e preconceitos” foram comuns em ambos os estudos. Relativamente à subcategoria “Mentoria”, a especificação “Orientação” surge de igual forma em ambos. Assim, os conceitos centrais à Mentoria que emergiram de ambos os estudos estão em conformidade com a revisão da literatura realizada. De acordo com Hansman (2012, p. 273), a Mentoria configura-se como um suporte, flexível, interativa, na medida que é uma atividade bilateral, um espaço de partilha, de acolhimento, de saber-se colocar no lugar do outro para que haja verdadeira inclusão do mentorado. O papel do mentor consiste, assim, em ensinar, orientar e ajudar a moldar o crescimento profissional e a aprendizagem do mentorado e servir como um modelo positivo, pautando-se esta relação pela entreajuda, em que existe uma ajuda mútua entre mentor e mentorado. Ximenes (2014, p. 11) sustenta que os Programas de Mentoria são importantes para o desenvolvimento e consolidação de cidadania e para uma plena inclusão.
Relativamente à análise dos resultados da categoria “Caracterização do Programa de Mentoria” surgiram algumas especificações iguais. No que diz respeito à subcategoria “Quanto ao local utilizado durante a interação mentor-mentorado” as especificações emergentes são as mesmas o que demonstram que o processo de Mentoria tanto ocorreu em ambiente informal (fora da escola), num ambiente mais formal (na escola) como através das redes sociais. Tinoco-Giraldo, Sánchez e García-Peñalvo (2020, p. 1) referem que atualmente com o ensino à distância se torna mais difundido e de grande eficácia, uma vez que a Mentoria mediada por redes sociais permite que os estudantes se conectem com os seus mentores de novas maneiras, o que corrobora os dados encontrados, pois constatou-se que um dos locais utilizados durante a interação mentor-mentorado são as redes sociais. Relativamente à subcategoria “Quanto à frequência e duração das interações entre mentor - mentorado” foram variáveis em ambos os estudos, uma vez que os encontros são flexíveis em termos de duração e frequência porque variam de acordo com a relação de Mentoria estabelecida. No entanto, salvaguarda-se que, para que haja uma verdadeira inclusão do mentorado, será ideal que haja um acompanhamento do mesmo ao longo do tempo. No que se refere à subcategoria “Quanto à forma de seleção do par mentor-mentorado”, a “Escolha aleatória” é a especificação comum em ambos os estudos o que revela ser a melhor forma de seleção do par mentor-mentorado, para os participantes dos estudos. Relativamente à subcategoria “Quanto às orientações fornecidas no início da implementação do Programa” em ambos os estudos conseguimos evidenciar a importância da definição do Programa de Mentoria e da apresentação dos pares mentor-mentorado.
Conclusão
A realização do presente artigo científico, através da investigação qualitativa, bem como a compreensão sobre vários temas que complementam o conceito de Mentoria e da análise dos dados recolhidos, permite-nos afirmar que a implementação de Programas de Mentoria é uma mais valia incontornável para o acolhimento dos estudantes recém-chegados e para a consolidação de boas práticas de inclusão no ensino superior. Nesse sentido, a implementação do PM em todas as UO da Instituição será uma realidade já no início do ano letivo 2020-2021, apesar dos constrangimentos associados à situação de pandemia que vivemos atualmente.
A Mentoria é um conceito fácil de descrever e difícil de implementar. Ser mentor é muito mais que ser um aluno mais velho (mais experiente na academia) que faculta informações sobre o curso, sobre a escola ou sobre a vida académica. Na visão final e conclusiva da formação “Mentores em Ação”, considera-se que um mentor deve ser uma pessoa alerta e capaz de fazer a diferença na vida de alguém, alicerçando o seu comportamento em valores de respeito, dignidade e respeito pela diferença. Assim, numa relação de mentoria espera-se que o par mentor-mentorado também se alicerce numa relação de companheirismo, orientação, entreajuda, de força, de suporte, e de presença para o resto da vida.
Para que o Programa de Mentoria seja implementado da melhor forma possível na nossa instituição de ensino superior, consideramos que deve existir um planeamento prévio e exaustivo (estrutura), de forma a que se assegure o bom funcionamento do mesmo, a partir do momento de acolhimento dos estudantes recém-chegados.
A duração dos 3 meses de formação, bem como todo o trabalho desenvolvido no respetivo período da Escola de Verão contribuíram para uma melhor e efetiva preparação dos mentores a conseguirem agir em contexto de mentoria, mas também para ficarem mais bem capacitados ao nível profissional, académico, social e pessoal. Deste modo, destacam-se como aspetos positivos, a diversidade de tarefas que nos foram propostas, bem como a confiança e o desenvolvimento de autonomia para a realização das mesmas.
No entanto, em grupo, destaca-se como aspeto menos positivo, a falta de comunicação e planeamento de tarefas. Contudo esta dificuldade sentida espera-se que seja trabalhada no decorrer dos percursos de cada um, com a compreensão e análise reflexiva. Assim, e para o bom funcionamento entre mentores e mentorados, conclui-se que é necessário estabelecer limites relacionais distintos de amizade e profissionalismo, trabalhando constantemente para o equilíbrio.
Posto isto, ultrapassaram-se as dificuldades sentidas ao longo de toda a formação, considerando todas as orientações a nível de gestão de emoções e relacionais fornecidas e trabalhadas com os professores e terceiros.
Em suma, esta formação proporcionou-nos um leque variado de experiências, revelando-se uma fonte que permite alargar a visão sobre a vida, pelo que os objetivos estabelecidos para esta formação foram e continuem a ser globalmente atingidos.