Introdução
O sono desempenha uma função complexa e indispensável à vida de todo o ser humano. Apesar da definição de sono ser subjetiva e complexa, sabemos que se configura como um indicador importante de saúde em geral e de bem-estar, tratando-se de uma necessidade biológica básica com forte impacto na qualidade e longevidade das pessoas (Marques, 2017).
Os estudantes vivenciam vários desafios quando ingressam no ensino superior. Lidam com a saída de casa, maior independência, mudanças nos grupos de pares, novas situações sociais e manutenção de responsabilidades académicas, entre outros (Taylor, Bramoweth, Grieser, Tatum & Roane, 2013). Segundo Schlarb, Bihlmaier, Hautzinger, Gulewitsch e Schwerdtle (2015), muitos estudantes do ensino superior enfrentam desafios e circunstâncias especiais que se refletem em distúrbios do sono. Cerca de 60% sofrem de má qualidade do sono e 7,7% atendem a todos os critérios de um distúrbio de insónia. Schlarb, Friedrich e Claßen (2017) referem que muitos estudantes correm o risco de pelo menos ter um distúrbio do sono. Além disso, relatam um mínimo de 7,7% de estudantes a sofrerem de insónia e 24,3% de pesadelos. As mesmas autoras acrescentam, ainda, que os problemas e os distúrbios do sono prejudicam gravemente o sucesso académico dos estudantes do ensino superior. Os problemas de sono correlacionam-se com uma aprendizagem declarativa e processual mais pobre, bem como com um reduzido desempenho neurocognitivo e sucesso académico, com impacto na vida diária dos estudantes, devido às rotinas diurnas irregulares, mudanças de cronotipos, trabalhos paralelos e períodos de avaliação.
Face ao exposto, a presente revisão sistemática da literatura tem como objetivo analisar os fatores que interferem na qualidade de sono dos estudantes do ensino superior.
1. Enquadramento teórico
O sono pode ser definido sob o ponto de vista fisiológico e com base na descrição comportamental do indivíduo (cognitivo e psicológico). Durante muito tempo o sono foi considerado um período de tempo em que o corpo e a mente se ‘desligavam’; um momento inativo, de interrupção das atividades diárias. Atualmente, fruto da evidência científica, o sono é considerado um estado ativo, fundamental para a saúde física e mental do indivíduo. Toda a atividade mental que decorre durante o sono é necessária para o registo, armazenamento, codificação, associação, recordação e reprodução relacionada com as vivências prévias (Ji & Liu, 2016).
O sono é considerado uma situação transitória e reversível, que se alterna com a vigília, “um fenómeno ativo, um estado fisiológico complexo e cíclico, onde ocorrem alterações nos processos fisiológicos e comportamentais, com mobilidade relativa e aumento do limiar de respostas aos estímulos” (Silva, Oliveira & Inaba, 2011, p. 522). Sabe-se que “o sono está intimamente relacionado com a vigília, com o bom desempenho diário e é mais essencial do que comer e beber, possibilitando o repouso, a reorganização e o rejuvenescimento do corpo e do cérebro” (Amaral, 2013, p. 3). Contudo, a sua importância não reside apenas na consolidação da memória, mas também da visão binocular, da termorregulação, da conservação e da restauração da energia e do metabolismo energético cerebral (Müller & Guimarães, 2007). Trata-se de um estado de inconsciência do qual a pessoa pode ser despertada por estímulos sensoriais ou outros (Costa & Ceolim, 2011).
O sono pode ser definido por dois componentes: duração e qualidade. A duração do sono refere-se à quantidade de sono que uma pessoa tem por noite. A qualidade do sono, conforme definido pela National Sleep Foundation (2014), é a própria satisfação com a experiência do sono, e que inclui o início do sono, a manutenção do sono, a quantidade de sono e a sensação de acordar. De acordo com o mesmo organismo, uma quantidade suficiente de sono é necessária para manter a saúde física e mental. Uma diminuição da duração e da qualidade do sono em estudantes do ensino superior poderá ser problemático em termos de saúde e bem-estar geral (Campsen & Buboltz, 2017).
Os hábitos de sono e repouso são parte integrante do ritmo biológico e são indispensáveis para uma boa saúde e qualidade de vida, com especial significado para os estudantes do ensino superior (Direção-Geral da Saúde, 2016). As perturbações primárias do sono podem emergir das alterações da quantidade ou qualidade de sono (dissónias), ou de eventos comportamentais ou fisiológicos anormais associados ao sono (parassónias), como terrores noturnos, pesadelos, sonambulismo, entre outros. As perturbações do sono têm consequências cognitivas e no equilíbrio metabólico dos jovens (Direção-Geral da Saúde, 2016).
Em jovens saudáveis, a qualidade e a duração do sono estão moderadamente associadas ao desempenho académico. Tendo em conta esta evidência, Gruber, Somerville, Boursier & Wise (2018) realizaram um estudo onde examinaram as associações entre as medidas objetivas e subjetivas da duração do sono, eficiência e o tempo com notas as académicas obtidas por jovens com insónia. O sono foi avaliado durante sete noites com recurso a actigrafia e registos. Foi utilizado o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) para avaliar a qualidade e os distúrbios do sono. Em relação à qualidade subjetiva do sono, a eficiência do sono revelou-se menor associada a piores resultados académicos em estudantes com insónias.
Vários estudos relatam uma tendência de má qualidade de sono em jovens (Carskadon, 2011; Zhou, Shi, Wang, Yao, Cheng et al., 2012). Um estudo com uma amostra de 5226 jovens revelou que 20% tinham má qualidade de sono e que a prevalência de mau sono aumentou com a idade, nível de escolaridade e os jovens com mais idade apresentaram pior qualidade de sono, problemas em adormecer e mais distúrbios do sono (Xu, Su, Zou, Chang, Wu et al., 2012). De igual modo, Zhou e colaboradores (2012), com base numa pesquisa com 1221 jovens, referem que quase 35% experienciavam má qualidade de sono, o que aumentou com a idade.
O bem-estar físico e psicológico é influenciado pela qualidade do sono (João, Jesus, Carmo & Pinto, 2018; Wang, Xue, Fan, Huang, & Chen, 2019; Yan, Lin, Su, & Liu, 2018). Deste modo, é importante perceber que os distúrbios do sono podem refletir-se, de forma negativa no ser humano, isto é, ocorrem lapsos de atenção, a memória torna-se mais lenta, reduz o output cognitivo e intensifica um humor depressivo (Paiva, 2015). Constata-se que a qualidade do sono é afetada pelos maus hábitos frequentes dos estudantes do ensino superior, como, por exemplo, deitarem-se tarde (Ye, Hutton Johnson, Keane, Manasia, & Gregas, 2015). Hábitos de sono inadequados geram um decréscimo no funcionamento cognitivo, psicomotor e emocional (Orzech et al., 2011).
Decorrente do problema em estudo, formulou-se a questão de investigação, segundo a metodologia PI[C]OD: Quais os fatores que interferem na qualidade de sono dos estudantes do ensino superior?
2. Métodos
2.1 Tipo de Estudo
Objetivando-se uma sistematização do conhecimento atual sobre fatores que interferem nos hábitos de sono dos estudantes do ensino superior, realizou-se uma revisão sistemática da literatura, seguindo-se o método proposto pela Joanna Briggs Institute (Munn e colaboradores, 2020), de acordo com o Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses (PRISMA) (Moher e colaboradores 2009).
2.2 Critérios de elegibilidade dos estudos
Foram definidos e aplicados critérios de seleção específicos para se limitarem os artigos em estudo, tendo em conta critérios de inclusão e de exclusão (cf. Quadro 1).
Critérios de seleção | Critérios de inclusão | Critérios de exclusão | |
---|---|---|---|
Participantes | Estudantes do ensino superior | Idade ≥18 anos | |
Intervenções | Fatores que influenciam os hábitos de sono. | Estudos que não analisem a variável de inclusão | |
Comparações | Não aplicável | ||
“Outcomes” | Fatores que interferem nos hábitos de sono dos estudantes do ensino superior | Estudos que não avaliem os fatores que interferem nos hábitos de sono dos estudantes do ensino superior | |
Tipos de estudo | Estudos experimentais, quase-experimentais, transversais analíticos, ensaios clínicos controlados, randomizados, ensaios controlados aleatórios, exploratórios | Outros desenhos para além dos de inclusão |
Consideraram-se também como critérios de inclusão: data de publicação 2012-2020; artigos nos idiomas português e inglês; disponibilidade do artigo em full-text.
2.3 Recursos usados no atual estudo
Os estudos foram identificados tendo em conta os critérios de inclusão definidos, com recurso às seguintes plataformas eletrónicas de bases de dados: PubMed, B-On e SCIELO. O texto completo de cada artigo foi revisto por dois revisores com o objetivo de determinar se os mesmos satisfaziam os critérios de inclusão, com análises independentes e análise de consensos e divergências, a posteriori, entre ambos para obter consenso sobre a exclusão de artigos.
2.4 Estratégia de pesquisa
Utilizaram-se os seguintes descritores, conjugados com os operadores boleanos: “Sleep” OR "Sleep Habits” [Entry Term(s)] AND “Sleep Disorders, Circadian Rhythm” [MeSH Major Topic] OR “Students” [MeSH Major Topic] OR “Education” [MeSH Major Topic] OR “Universities” [MeSH Major Topic] OR “college students” [Entry Term(s)]. Apesar dos termos “Higher education”, “Sleep Quality”, “university students”, “sleep characteristics”, “sleep problems” e “sleep disturbances” não serem descritores MeSH, os mesmos foram considerados na pesquisa, tendo em conta que são termos utilizados na literatura específica. Os referidos descritores, em língua portuguesa e inglesa, foram utilizados nos motores de busca, com a finalidade de se obterem os artigos completos.
2.5. Seleção dos estudos
Da pesquisa nas bases de dados, resultou a identificação de 56 artigos. Assim, numa primeira fase foram removidos os estudos que estavam duplicados nas bases de dados (n=14). Numa segunda fase, e após análise dos artigos (n=42) através dos seus títulos e resumos, excluíram-se 19 pela data de publicação, pela ausência de texto integral e tipo de idioma, tendo ficado para elegibilidade 23 artigos em full-text. Destes, 18 foram excluídos por não cumprirem os restantes critérios de inclusão, ficando-se com 5 estudos (cf. Figura 1).
3. Resultados
De seguida apresentam-se as características dos artigos incluídos no corpus de análise (cf. Quadro 2).
Estudos | Participantes | Tipo de estudo/intervenções | Objetivos |
---|---|---|---|
Martini, Brandalize, Louzada, Pereira & Brandalize (2012). | 199 alunos do curso de Fisioterapia de uma instituição de ensino privada do município de Guarapuava - Brasil | Estudo quantitativo, descritivo-correlacional; Foi usado o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP); variáveis ambientais/socais e sociodemográficas. | Analisar o padrão de sono de estudantes universitários do curso de fisioterapia e os fatores associados à qualidade de sono. |
Mendes, Sousa, Leite, Belchior & Medeiros (2019). | 257 estudantes do ensino superior distribuídos por sete instituições de ensino superior [Região Autónoma dos Açores (Ponta Delgada e Angra do Heroísmo) e Portugal Continental (Porto, Lisboa, Coimbra, Leiria, Évora e Minho)] | Estudo quantitativo, descritivo-correlacional. Foram aplicadas as versões portuguesas do Índice da qualidade do sono (PSQIPT) e da Escala de Sonolência excessiva diurna (ESS) e questionário sociodemográfico | Caracterizar as componentes da qualidade subjetiva do sono e sonolência excessiva diurna em estudantes do ensino superior |
Toscano-Hermoso, Arbinaga, Fernández-Ozcorta, Gómez-Salgado & Ruiz-Frutos (2020). | 855 estudantes universitários | Desenho de estudo ex post facto. Foram aplicados os seguintes instrumentos: Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP), Nightmare Proneness Scale; Composite Morningness Scale. | Analisar, de acordo com o género dos estudantes, possíveis padrões diferenciais relacionados com o sono |
Araújo, Lima, Thiago, Veras, Zanetti & Damasceno (2014) | 701 estudantes de Fortaleza, Brasil. | Estudo transversal. Foi aplicado o formulário sociodemográfico e Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP) | Analisar a relação entre as variáveis sociodemográficas e a má qualidade do sono de estudantes universitários brasileiros |
Okano, Kaczmarzyk, Dave et al. (2019) | 493 estudantes universitários holandeses, | Estudo transversal. Foi utilizado o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP) | Estudar os fatores associados a um nível individual e social com o sono insatisfatório e suas consequências em estudantes do ensino superior |
4. Discussão
Martini, Brandalize, Louzada, Pereira e Brandalize (2012), numa amostra de 199 alunos do curso de Fisioterapia de uma instituição de ensino privada do município de Guarapuava - Brasil, com uma média de idade de 23,01±5,41 anos, sendo 145 do género feminino e 34 do género masculino, constaram que 51,75% dos estudantes apresentaram qualidade do sono má, com causa multifatorial, associada à menor duração do sono (p<0,001) e a maior sonolência diurna (p<0,001). A média total de duração de sono nos dias de semana foi de 7,56±1,38 horas, enquanto a média de duração de sono nos fins de semana foi de 8,86±1,62 h. Não houve diferença entre os géneros, nem idade entre os grupos IQSP>5 e IQSP. Ambos os grupos apresentaram maior duração de sono e acordaram mais tarde nos fins de semana (p<0,001). Ser trabalhador estudante, trabalhar por turnos, e o consumo exagerado de cafeína e de álcool bem como hábitos tabágicos foram variáveis que interferiram na qualidade do sono dos estudantes.
Mendes, Sousa, Leite, Belchior & Medeiros (2019), no seu estudo com 257 estudantes do ensino superior distribuídos por sete instituições de ensino superior [Região Autónoma dos Açores (Ponta Delgada e Angra do Heroísmo) e Portugal Continental (Porto, Lisboa, Coimbra, Leiria, Évora e Minho)], sendo 67 (26,1%) do género masculino e 190 (73,9%) do género feminino, apuraram que a maioria dos estudantes revelou, subjetivamente, uma má qualidade do sono e relatou dormir mais de sete horas durante a semana, sendo este número maior durante o fim de semana. O índice de qualidade de sono revelou, ainda, que durante a semana, 167 (65%) dos estudantes apresentavam má qualidade do sono e 31 (12,1%) distúrbios de sono. Durante o fim de semana, os participantes também revelavam má qualidade do sono (n = 161; 62,6%). A perceção da Latência do Sono e da Disfunção Durante o Dia diferiu em função do sexo: as mulheres apresentam uma Latência do sono e Disfunção durante o dia maior do que os homens. Os trabalhadores-estudantes mostraram percecionar uma fraca Qualidade Subjetiva do Sono e uma menor Duração do Sono. Encontrou-se uma correlação baixa com significância estatística entre o PSQI-PT e a ESS. Apesar da maioria dos participantes da amostra percecionar uma má qualidade do sono, também a maioria revelou uma eficiência subjetiva do sono superior a 85,0%. Os estudantes avaliaram subjetivamente a qualidade do sono como sendo pobre. As variáveis sociodemográficas não mostraram ser preditores da qualidade do sono durante a semana [F(6,250) =1,22; p=0,30)], qualidade do sono durante o fim de semana [F(6,250)=1,11; p =0,36)] ou da sonolência excessiva diurna [F(6,250) =0,60; p=0,73)]. O facto de serem os trabalhadores estudantes aqueles que mostraram percecionar uma fraca Qualidade Subjetiva do Sono e uma menor Duração do Sono é corroborado com outros estudos anteriores (Benavente, Silva, Higashi, Guido & Costa, 2014).
Toscano-Hermoso, Arbinaga, Fernández-Ozcorta, Gómez-Salgado & Ruiz-Frutos (2020), numa amostra constituída por 855 estudantes universitários, maioritariamente do género feminino (55,7%), verificaram que, na escala de frequência de pesadelos (Nightmare Proneness Scale), as mulheres apresentam um risco mais elevado [OR=2,61] de apresentar má qualidade do sono (>5 pontos no IQSP) em comparação com os homens (p<0,001). Da mesma forma, as mulheres relataram uma maior frequência de pesadelos (p<0,001) e maior propensão para pesadelos (p <0,001). As mulheres, em comparação com os homens, apresentam maior risco [OR=2,84] para um distúrbio do sono relacionado com pesadelos (p=0,012). As mulheres precisam de mais tempo para atingir o estado de alerta após levantarem-se (p=0,022), e houve uma interação entre o género e o fator alerta na avaliação da qualidade subjetiva do sono (p=0,030). As mulheres apresentam pior qualidade de sono e maior frequência e propensão a ter pesadelos. Ao considerarem a relação entre a qualidade do sono e o desempenho académico, os estudantes com má qualidade de sono obtêm pontuações académicas mais baixas (M=7,21±0,805) do que aqueles com boa qualidade de sono (M=7,32±0,685), efeito significância estatística (t=2,116, p=0,035). Quanto à relação entre o cronotipo categorizado e o desempenho académico, os estudantes com um cronotipo matinal alcançam melhores resultados académicos (M=7,41±0,89) do que os contrapartes à noite (M=7,15±0,76), embora essas diferenças tenham um efeito pequeno. Estes resultados estão em conformidade com outros estudos, segundo os quais as mulheres relatam ter pesadelos com mais frequência do que os homens (Boivin, Shechter, Boudreau, Begum & Ying-Kin, 2016). A análise do cronotipo é um dos fenómenos associados ao sono que tem mostrado a maior discrepância nos resultados. Na verdade, noutros estudos realizados, a literatura parece mostrar dados contraditórios a este respeito. Assim, embora tenha sido possível observar uma maior prevalência do cronotipo do anoitecer em homens, tanto em amostras de estudantes universitários como em adultos na população em geral (Lehnkering & Siegmund, 2007), os dados do estudo de Merikanto, Kronholm, Peltonen, Laatikainen, Lahti & Partonen (2012) também indicam uma maior incidência deste cronótipo em mulheres com amostras da população em geral. No estudo de Toscano-Hermoso et al. (2020), os dados obtidos não indicam diferenças em termos de género na amostra de estudantes. Os dados suportam a hipótese de que as mulheres têm pior qualidade de sono em comparação com os homens, o que é confirmado através dos diferentes indicadores estudados por Toscano-Hermoso et al. (2020), nomeadamente: padrões de sono, qualidade subjetiva do sono e em todas as subescalas (qualidade subjetiva, latência, duração, eficiência, distúrbios do sono e disfunções diurnas), bem como através da frequência e propensão para pesadelos, ainda que os autores não tenham constatado diferenças em termos de cronotipo.
Araújo, Lima, Thiago, Veras, Zanetti & Damasceno (2014), numa amostra com 701 estudantes de Fortaleza, Brasi, verificaram que não houve associações e/ou tendências lineares estatisticamente significativas entre a qualidade do sono e as variáveis sociodemográficas. Contudo, na análise do risco relativo ficou demonstrado que nos estudantes com idade >31 anos, nos que viviam sozinhos e/ou que coabitavam com outros familiares, sem ser os pais, há maior vulnerabilidade em relação à má qualidade do sono.
Okano, Kaczmarzyk, Dave et al. (2019), no seu estudo com uma amostra de 493 estudantes universitários holandeses, (homens 43%; mulheres 57%; média de idade 22 anos), verificaram que 59% dos estudantes sofrem de má qualidade do sono. Os fatores que se associaram significativamente à pior qualidade do sono foram: necessidade de sono, sobrecarga psicológicas associadas ao stresse, ser estudante trabalhador (trabalhar à noite), solidão e apresentação de transtorno do sono. O sono foi significativamente associado a pior saúde mental, vitalidade e uso de drogas. Além disso, o sono foi um preditor significativo de problemas de atenção e pior desempenho académico. Quase 2 em cada 3 estudantes sofriam de má qualidade do sono, confirmando a alta prevalência entre os estudantes do ensino superior noutros estudos (Schlarb et al., 2017; Campsen & Buboltz, 2017).
A investigação de Cunha e Albuquerque (2019), também mostrou que o aumento do consumo de substâncias estimulantes (café e tabaco) por parte dos estudantes portugueses aumenta a probabilidade de sofrer de insónia.
Os resultados apurados revelam que, na globalidade, os estudantes do ensino superior patenteiam má qualidade de sono, estando relacionado com fatores como ser trabalhador estudante, trabalhar por turnos, consumo de cafeína, álcool e tabaco. As perturbações do sono parecem estar associadas, segundo Mendes et al. (2019, p. 45), “a consequências físicas e psicológicas que, a longo prazo podendo tornar-se um problema de saúde pública”. Por outro lado, os estudos mostram que um sono adequado à quantidade e qualidade parece associar-se a resultados académicos mais positivos em estudantes do ensino superior.
Conclusão
Inferiu-se do estudo que os fatores que interferem na qualidade de sono dos estudantes do ensino superior foram a sobrecarga psicológicas associadas ao stresse, ser estudante trabalhador (trabalhar à noite), solidão, apresentação de transtorno do sono, coabitar sozinho e/ou com outros familiares, sem ser os pais, trabalhar por turnos, consumo de cafeína, álcool e tabaco.
Face ao exposto e atendendo que as Instituições do Ensino Superior são lugares capitais para a promoção de hábitos de saúde saudáveis, os resultados apurados justificam que se implementem programas de educação para o sono dirigidos aos estudantes, assumindo a premissa que conhecendo mais, estes poderão fazer as suas escolhas mais saudáveis, modificando os seus comportamentos. Considera-se que este tipo de programas de educação para o sono servirá para consciencializar os estudantes para a importância dos ciclos sono-vigília, demonstrando que o conhecimento a adquirir pode ser útil não apenas para melhorar a sua qualidade do sono, mas também para que, mais tarde, possam transmitir e estimular hábitos de sono saudáveis. Investir em bons hábitos de sono é investir no futuro. Deste modo, é importante transmitir-se aos estudantes um conjunto de regras e práticas saudáveis de sono, que lhes permitam desenvolver o empoderamento, ajudando-os a promover a sua saúde.