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Introdução
O presente artigo, subordinado ao tema “Significado atribuído ao Programa de Mentoria implementado” tem como finalidade contribuir para melhorar as práticas de inclusão numa instituição de ensino superior em estudo. Este estudo foi desenvolvido no âmbito da Escola de Verão “Mentores em Ação”, cofinanciada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, entre julho e outubro de 2020.
A implementação dos princípios da educação inclusiva no ensino superior é um desafio às instituições de ensino superior, aos seus professores e estudantes. Os Programas de Mentoria/Tutoria podem facilitar a concretização dessa implementação. A educação inclusiva foi originalmente desenvolvida para estudantes mais jovens. Com a heterogeneidade de estudantes no ensino superior, tem aumentado a necessidade de se implementarem práticas inclusivas neste contexto académico. Nesse sentido, torna-se cada vez mais importante a implementação de boas práticas de mentoria e inclusão, para que as instituições de ensino superior consigam cumprir plenamente a sua missão.
1. Enquadramento teórico
É missão das instituições de ensino superior promover o desempenho e a preparação dos estudantes para a competitividade global, promovendo a excelência educacional e garantindo igualdade de acesso. Esta missão apoia os esforços para criar comunidades escolares inclusivas e acolhedoras para todos os estudantes. Para essa finalidade, as instituições de ensino superior têm de incentivar e atrair estudantes de diversas origens e experiências, bem como apoiá-los na sua inclusão educativa. Assim, as instituições de ensino superior devem reconhecer a importância de um trabalho centrado na diversidade, equidade e inclusão de todos os estudantes, independentemente das suas características sociodemográficas e culturais (Newman & Conway, 2016, pp. 100-101).
A educação inclusiva na academia traduz contextos em que todos os estudantes, independentemente de quaisquer desafios que possam ter, são incluídos na escola com intervenções e apoios de alta qualidade, que lhes permitam alcançar o sucesso escolar (Alquraini & Gut, 2012). A educação inclusiva tornou-se cada vez mais um foco de debate nas discussões sobre o desenvolvimento de políticas e práticas educacionais em todo o mundo, sendo um objetivo político estabelecido em muitos países. As tendências legislativas e políticas dos últimos anos têm revelado um claro afastamento da ortodoxia da educação segregadora. O movimento educacional inclusivo foi endossado, internacionalmente, pela Declaração de Salamanca da UNESCO, em 1994, e reflete a estratégia global de educação das Nações Unidas para Todos. A educação inclusiva é presentemente vista como central para o desenvolvimento humano, direitos e igualdade de oportunidades e um objetivo político prioritário das democracias liberais. A inclusão desafia todas as políticas e práticas que servem para excluir alguns estudantes do direito à educação. O ideal subjacente é que todos os estudantes tenham o direito de ser educados com os seus pares, independentemente das suas características individuais. Quando há inclusão, assume-se a diversidade como um fator positivo e de desenvolvimento de comunidades escolares mais ricas e mais vantajosas (Correia, 2013, pp. 8-10).
No contexto das práticas inclusivas no ensino superior, assume toda a importância fornecer aos estudantes o acesso a orientações que os levem a sentir-se plenamente incluídos, tendo em conta a diversidade cultural dos estudantes que ingressam no ensino superior. A implementação de Programas de Mentoria/Tutoria pode ser eficaz no tratamento de questões-chave e problemas que as instituições de ensino superior atualmente enfrentam, incluindo a necessidade de aumentar as taxas de conclusão dos cursos, reduzir o abandono escolar e as desigualdades nos resultados em grupos sub-representados, bem como ampliar a participação de todos os estudantes na vida académica, sem qualquer exclusão. Os estudantes envolvidos em Programas de Mentoria/Tutoria desenvolvem mais conhecimento teórico e prático, com aplicação na futura vida profissional (Arnesson & Albinsson, 2017, pp. 202-203). Ainda em conformidade com os autores citados, os Programas de Mentoria/Tutoria definem-se como uma troca de conhecimentos e experiências entre mentor e mentorado.
As práticas inclusivas concretizadas através de Programas de Tututoria/Mentoria possibilitam ao estudante alcançar a excelência académica e cultural, abrangendo o conhecimento dos estudantes acerca das suas origens culturais e a possibilidade de participarem em eventos académicos com os seus pares. Os grupos podem ajudar os pares a corporizar os seus direitos e oportunidades, pois, uma “educação cidadã efetiva e transformadora” coopera na aquisição de conhecimentos, habilidades e valores indispensáveis para que os estudantes possam intervir na comunidade local e na comunidade global.
Por meio dessas práticas, os estudantes são apresentados à pluralidade da existência humana, incluindo questões de raça, etnia, género, habilidade, identidade, status socioeconómico, classe social, entre outras identidades. As práticas inclusivas proporcionam aos estudantes o contexto para as questões sociais, para novas ontologias e epistemologias para a compreensão da própria condição humana. Portanto, a ampla perspetiva gerada a partir de um currículo multicultural fornece diretrizes aos estudantes, mostrando como as suas escolhas e decisões pessoais afetam não apenas a si mesmos, mas também à sociedade, como um todo. Ou seja, quando o ambiente do ensino superior é inclusivo, os estudantes tornam-se cidadãos também inclusivos, com reflexos numa sociedade mais inclusiva e tolerante (Clark, 2018).
Um ensino superior inclusivo requer, igualmente, que todos os agentes educativos e órgãos de gestão estejam mais próximos dos estudantes, sendo este um dos meios para uma verdadeira inclusão, que “saibam como agir, como ensinar, como lidar com a diversidade e como ter dimensão técnica” (Tomelin et al., 2018, p. 97). Os profissionais do ensino superior têm uma oportunidade única de ajudar os estudantes a tornarem-se seres humanos totalmente desenvolvidos. Isto significa abraçar os desafios de práticas inclusivas, tendo em conta a premissa de que qualquer coisa que afeta um diretamente, afeta todos indiretamente. A escola inclusiva é um espaço de boas-vindas (Phillips, 2019).
A Mentoria é uma ferramenta eficaz para desenvolver relacionamentos e transferir conhecimentos de uma pessoa mais experiente (mentor) para uma pessoa menos experiente (mentorado), sendo um conceito que se expandiu nos últimos anos dando origem a Programas de Tutoria nas diferentes organizações, sendo exemplo os estabelecimentos do ensino superior.
Nesta perspetiva um mentor é uma pessoa que contribui com o seu conhecimento, experiência e perspetivas, ou seja, está subjacente a ideia de que o mentor dá orientação ao mentorado no seu desenvolvimento pessoal e académico. Importa também referir que, segundo Arnesson & Albinsson (2017), o mentor, neste processo, desenvolve-se profissionalmente e o mentorado desenvolve-se a nível psicossocial. O mentor também pode ser descrito como uma pessoa sensata que tem interesse no apoio às pessoas menos experientes. Na prática, a Mentoria/Tutoria pode ser resumida como uma combinação de apoio emocional e prático (Arnesson & Albinsson, 2017).
É neste sentido que um Programa de Mentoria contribui para o desenvolvimento dos mentorados, o que requer altruísmo, ou seja, o mentor deve proporcionar orientações que potenciem o sucesso do mentorado, isento de qualquer pensamento de receber algo em troca. Na relação entre o mentor e o mentorado, como defendem Arantes e Viegas (2018, s.p.), deve prevalecer uma clarificação dos objetivos, sendo importante a empatia e a sensibilidade, fatores essenciais ao sucesso de qualquer relação humana, isto é, o mentor tem de possuir a capacidade de análise das situações e saber colocar-se no lugar do mentorado, bem como deve ter a habilidade de perceção das suas emoções e sentimentos. Ximenes (2014, p. 11) sustenta que os Programas de Mentoria são importantes para o desenvolvimento e “consolidação de cidadania”.
Esta problematização determinaram a procura de resposta aos objetivos: compreender o significado da implementação do Programa de Mentoria para os estudantes da instituição; reconhecer os principais papéis desempenhados na mentoria.
2. Métodos
Este estudo parte da entrada em campo no Projeto da Mentoria desenvolvido em duas unidades orgânicas (UO) de uma instituição de ensino superior (IES), através de ferramentas metodológicas do estudo descritivo e exploratório, de natureza qualitativa: “Práticas inclusivas na instituição: Perceções sobre a Implementação de um Programa de Mentoria”. Posteriormente foi utilizada a metodologia sociopoética na abordagem dos dados recolhidos na base de dados do estudo. A metodologia sociopoética foi criada por Jacques Gauthier, entre 1993 e 1995 a partir da aprendizagem intercultural que fez junto do povo Kanak na Nova-Caledónia em luta contra o colonialismo francês, procurando a convergência do rigor científico, a imaginação poética e artística e com as energias da natureza e do corpo. Esta metodologia preza a noção de inconsciente, assumindo técnicas artísticas em busca da sua expressão e considera o corpo por inteiro (razão, emoção, imaginação, ...) (Santos, M. H., 2018).
Através da metodologia sociopoética, foram analisadas as gravações das entrevistas de dois mentores, de dois mentorados e de um tutor selecionadas de entre o universo de fontes do estudo inicial). Aos mesmos participantes foi também solicitada a participação numa sessão, desenvolvida através da técnica de teatro-imagem, onde se procurou analisar o significado de mentoria para os mesmos. Desta forma, pretendeu-se percecionar os significados atribuídos ao programa piloto de mentoria, por mentores, mentorados e tutores, aquando da realização das primeiras gravações (entrevistas do projeto piloto) e o momento atual (através da recolha de dados na sessão de teatro-imagem). A sistematização dos principais contributos permitir-nos-á apresentar melhorias para a consolidação do Programa de Mentoria na instituição, nos próximos anos letivos.
O presente trabalho de investigação tem como objetivos: (i) Compreender o significado da implementação do Programa de Mentoria para os estudantes da instituição; (ii) Reconhecer os principais papéis desempenhados na mentoria.
O estudo do projeto piloto contou com a participação de 10 mentorados, 10 mentores e 1 tutor da UO1; 5 mentorados, 5 mentores e 1 tutor da UO2. Tem-se também como amostra 65 narrativas aplicadas (através de Google Forms on-line) a estudantes das turmas dos 1.º e 2.º anos e a tutores dessas duas unidades orgânicas da instituição, perfazendo um total de 97 participantes no estudo do projeto piloto. Foram também realizadas entrevistas a mais 2 mentorados que participaram no projeto piloto de implementação do programa de mentoria/tutoria na instituição. Para a aplicação da metodologia sociopoética foram selecionados 2 mentores, 2 mentorados e um tutor, do total dos inquiridos.
A estes participantes foram realizadas entrevistas semiestruturadas. Os dados do estudo piloto foram recolhidos no período de 2 a 6 de março de 2020. De forma a desenvolver a metodologia sociopoética foi ainda aplicada a técnica teatro-imagem para obtenção de informação a 2 mentores, 2 mentorados e 1 tutor, em agosto e setembro de 2020.
3. Resultados
Considerando a temática desocultada “Significado atribuído ao Programa de Mentoria implementado” do projeto piloto, foram identificadas nove categorias: “Significado atribuído ao momento em que foi iniciado”; “Significado atribuído à forma de seleção do par mentor-mentorado”; “Significado atribuído às orientações recebidas”; “Significado conferido às funções atribuídas ao tutor”; “Significado atribuído às funções atribuídas ao mentor”; “Significado atribuído à frequência e duração dos encontros”; “Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida”; “Significado atribuído à continuidade do Programa na instituição” e “Significado atribuído ao valor atribuído ao Programa”.
A categoria mais referenciada pelos participantes foi o Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida”
A categoria “Significado atribuído ao momento em que foi iniciado”, referida por 15 participantes em 18 unidades de registo, subdivide-se em: “Um momento importante”; “Momento entusiasmante”; “Momento surpreendente”; “Um desafio” e “Um avanço relativamente à inclusão”;
No que se refere à categoria “Significado atribuído à forma de seleção do par mentor-mentorado”, a mesma foi referenciada por 21 participantes e tem 32 unidades de registo, apresentando duas subcategorias: “Preferir a seleção aleatória” e “Preferir a seleção por afinidade”.
A categoria “Significado atribuído às orientações recebidas” tem 11 referências e 13 unidades de registo, apresentando duas subcategorias: “Nenhuma orientação” e “Poucas orientações”.
No que concerne à categoria “Significado conferido às funções atribuídas ao tutor”, referenciada por dois participantes, com cinco unidades de registo, contém três subcategorias: “Ser um facilitador”; “Explicar em que consiste o processo de Mentoria” e “Coordenar e acompanhar os estudantes mentores”.
A categoria “Significado atribuído à frequência e duração dos encontros” foi referenciada por oito participantes em nove unidades de registo, apresentando as seguintes subcategorias: “Encontros de frequência e duração adequadas” e “Encontros prolongados”.
Em relação à categoria “Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida”, constata-se que a mesma foi referenciada por 34 participantes e tem 111 unidades de registo. Esta categoria apresenta as seguintes subcategorias: “Duração da relação”, compreendendo “Relação douradora” e “Relação que se perdeu com o tempo”; o “Tipo de relação”, subdivide-se em vários tipos de relação, sendo as mais referenciadas: “Muito boa”, “Insignificante” e “Amizade”.
A categoria “Significado atribuído à continuidade do Programa na instituição”, referenciada por 25 participantes e com 39 unidades de registo, contem duas subcategorias, sendo a mais referenciada “Dar continuidade ao Programa”. Esta subcategoria compreende três especificações, nomeadamente: “Inclusão dos estudantes recém-chegados”, “Boa iniciativa” e “Ensino de proximidade e colaborativo”. É de referir que, apenas dois entrevistados mencionaram “Não dar continuidade ao programa”.
Por fim, e no que respeita à categoria “Significado atribuído ao valor atribuído ao Programa”, com 25 referências e 67 unidades de registo, a mesma apresenta 6 subcategorias, das quais a mais referenciada foi “Importante”. Tabela 1.
Tabela 1 Significado Atribuído ao Programa de Mentoria Implementado (estudo piloto)
| Significado atribuído ao Programa de Mentoria implementado quanto a: | N | Ur |
|---|---|---|
| Significado atribuído ao momento em que foi iniciado: | 15 | 18 |
| Um momento importante | 4 | 6 |
| Um momento entusiasmante | 5 | 5 |
| Um momento surpreendente | 1 | 2 |
| Um desafio | 1 | 2 |
| Um avanço relativamente à inclusão | 1 | 1 |
| Significado atribuído à forma de seleção do par mentor-mentorado: | 21 | 32 |
| Preferir a seleção aleatória | 13 | 19 |
| Por ser uma oportunidade de conhecer mais pessoas | 2 | 2 |
| Por ser mais justo | 5 | 7 |
| Por evitar preferências ou exclusão de mentorados | 4 | 4 |
| Preferir a seleção por afinidade | 9 | 11 |
| Significado atribuído às orientações recebidas: | 11 | 13 |
| Poucas orientações | 3 | 5 |
| Nenhuma orientação | 4 | 4 |
| Significado conferido às funções atribuídas ao tutor: | 2 | 5 |
| Ser um facilitador | 1 | 2 |
| Explicar em que consiste o processo de Mentoria | 1 | 2 |
| Coordenar e acompanhar os estudantes mentores | 1 | 1 |
| Significado atribuído às funções atribuídas ao mentor | 11 | 16 |
| Saber ajudar | 5 | 6 |
| Ser responsável | 4 | 6 |
| Estar disponível | 3 | 3 |
| Ser autêntico | 1 | 1 |
| Significado atribuído à frequência e duração dos encontros | 8 | 9 |
| Encontros de frequência e duração adequadas | 7 | 7 |
| Encontros prolongados | 2 | 2 |
| Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida | 34 | 111 |
| Duração da relação: | 31 | 83 |
| Relação duradoura | 11 | 15 |
| Relação que se perdeu com o tempo | 7 | 12 |
| Tipo de relação: | 31 | 83 |
| Muito boa | 17 | 30 |
| Insignificante | 11 | 20 |
| Amizade | 12 | 18 |
| Desilusão | 6 | 7 |
| Reciprocidade e entreajuda | 4 | 5 |
| Respeito | 2 | 2 |
| Companhia | 1 | 1 |
| Significado atribuído à continuidade do Programa na instituição | 25 | 39 |
| Dar continuidade ao Programa | 24 | 37 |
| Inclusão dos estudantes recém-chegados | 14 | 16 |
| Boa iniciativa | 11 | 15 |
| Ensino de proximidade e colaborativo | 1 | 1 |
| Não dar continuidade ao Programa | 11 | 15 |
| Significado atribuído ao valor atribuído ao Programa | 25 | 67 |
| Importante | 21 | 47 |
| Desnecessário | 5 | 8 |
| Um dever institucional | 1 | 6 |
| Desafiante | 1 | 1 |
| Grande oportunidade | 1 | 1 |
| Experiência inovadora | 1 | 1 |
Fonte - Elaboração própria
Após a aplicação da metodologia sociopoética, tanto com o contributo das entrevistas como da aplicação da técnica teatro-imagem verificámos que as categorias que sofreram alterações em relação ao estudo piloto foram os seguintes: “Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida”, “Significado atribuído ao valor atribuído ao Programa”, “Significado atribuído à continuidade do Programa na instituição”, “Significado atribuído à forma de seleção do par mentor-mentorado”, “Significado atribuído ao momento em que foi iniciado”, “Significado atribuído às funções atribuídas ao mentor”, “Significado atribuído às orientações recebidas“ e “Significado conferido às funções atribuídas ao tutor”.
Em relação à categoria “Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida”, constata-se que a mesma foi referenciada em 118 unidades de registo. Esta categoria foi reforçada nas seguintes subcategorias: “Tipo de relação”, com 89 unidades de registo, subdivide-se em vários tipos de relação, sendo a “amizade” a que foi referenciada após a aplicação da metodologia perfazendo um total de 20 unidades de registo.
No que respeita à categoria “Significado atribuído ao valor atribuído ao Programa”, com 72 unidades de registo, a mesma apresenta 6 subcategorias, das quais se mantém como a mais referenciada foi “Importante” (52 unidades de registo).
A categoria “Significado atribuído à continuidade do Programa na instituição”, referenciada em 39 unidades de registo, contem duas subcategorias, sendo a mais referenciada “Dar continuidade ao Programa”, com 4 unidades de registo. Esta subcategoria compreende três especificações, nomeadamente: “Inclusão dos estudantes recém-chegados” (17 unidades de registo), “Boa iniciativa” (17 unidades de registo) e “Ensino de proximidade e colaborativo” que foi aludido por um único participante.
No que se refere à categoria “Significado atribuído à forma de seleção do par mentor-mentorado”, a mesma foi referenciada em 33 unidades de registo, a subcategoria que obteve mais referencias foi “Preferir a seleção aleatória,” com 20 unidades de registo.
A categoria “Significado atribuído ao momento em que foi iniciado”, referida em 32 unidades de registo, subdivide-se em: “Um momento importante”; “Momento entusiasmante”; “Momento surpreendente” “Um desafio” e “Um avanço relativamente à inclusão”, sendo que os que se destacaram após a aplicação da metodologia sociopoética foram “Um momento importante”, “Momento entusiasmante” e “Momento surpreendente”.
No que concerne à categoria “Significado atribuído às funções atribuídas ao mentor”, referenciada com 23 unidades de registo, contém quatro subcategorias, sendo que as que se destacaram foram “Saber ajudar” e “Estar disponível”.
No que se refere à categoria “Significado atribuído às orientações recebidas”, esta aumentou para 16 unidades de registo.
Por fim, a categoria “Significado conferido às funções atribuídas ao tutor”, referenciada com 12 unidades de registo, contém três subcategorias: “Explicar em que consiste o processo de Mentoria”; “Coordenar e acompanhar os estudantes mentores”, referenciada com 3 unidade de registo e também com 7 unidades de registo “Ser um facilitador”, que foi referenciada com 2 unidades de registo. Tabela 2.
Tabela 2 Significado Atribuído ao Programa de Mentoria Implementado (Após a implementação da metodologia sociopoética)
| Significado atribuído ao Programa de Mentoria implementado quanto a: | N | Ur |
|---|---|---|
| Significado atribuído ao momento em que foi iniciado: | 28 | 32 |
| Um momento importante | 8 | 10 |
| Um momento entusiasmante | 9 | 5 |
| Um momento surpreendente | 9 | 5 |
| Um desafio | 1 | 2 |
| Um avanço relativamente à inclusão | 1 | 1 |
| Significado atribuído à forma de seleção do par mentor-mentorado: | 22 | 33 |
| Preferir a seleção aleatória | 14 | 20 |
| Por ser uma oportunidade de conhecer mais pessoas | 2 | 2 |
| Por ser mais justo | 6 | 8 |
| Por evitar preferências ou exclusão de mentorados | 4 | 4 |
| Preferir a seleção por afinidade | 9 | 11 |
| Significado atribuído às orientações recebidas: | 14 | 16 |
| Poucas orientações | 3 | 5 |
| Nenhuma orientação | 4 | 4 |
| Significado conferido às funções atribuídas ao tutor: | 9 | 12 |
| Explicar em que consiste o processo de Mentoria | 6 | 7 |
| Coordenar e acompanhar os estudantes mentores | 3 | 3 |
| Ser um facilitador | 1 | 2 |
| Significado atribuído às funções atribuídas ao mentor | 15 | 23 |
| Saber ajudar | 6 | 9 |
| Ser responsável | 4 | 6 |
| Estar disponível | 6 | 6 |
| Ser autêntico | 1 | 1 |
| Significado atribuído à frequência e duração dos encontros | 8 | 9 |
| Encontros de frequência e duração adequadas | 7 | 7 |
| Encontros prolongados | 2 | 2 |
| Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida | 37 | 118 |
| Duração da relação: | 31 | 83 |
| Relação duradoura | 11 | 15 |
| Relação que se perdeu com o tempo | 7 | 12 |
| Tipo de relação: | 34 | 89 |
| Muito boa | 17 | 30 |
| Amizade | 14 | 20 |
| Insignificante | 11 | 20 |
| Desilusão | 6 | 7 |
| Reciprocidade e entreajuda | 5 | 6 |
| Respeito | 2 | 2 |
| Companhia | 2 | 2 |
| Significado atribuído à continuidade do Programa na instituição | 27 | 42 |
| Dar continuidade ao Programa | 26 | 40 |
| Inclusão dos estudantes recém-chegados: | 15 | 17 |
| Boa iniciativa | 12 | 17 |
| Ensino de proximidade e colaborativo | 1 | 1 |
| Não dar continuidade ao Programa | 2 | 2 |
| Significado atribuído ao valor atribuído ao Programa | 28 | 72 |
| Importante | 24 | 52 |
| Desnecessário | 5 | 8 |
| Um dever institucional | 1 | 6 |
| Desafiante | 1 | 1 |
| Grande oportunidade | 1 | 1 |
| Experiência inovadora | 1 | 1 |
Fonte - Elaboração própria
4. Discussão
A categoria “Significado atribuído ao Programa de Mentoria implementado” do projeto piloto é constituída por nove categorias.
A categoria “Significado atribuído ao momento em que foi iniciado”, subdivide-se em: “Um momento importante”; “Um avanço relativamente à inclusão”; “Um desafio”; “Momento entusiasmante” e “Momento surpreendente”. Neste âmbito, Tinoco-Giraldo, Sánchez e García-Peñalvo (2020, p. 1), fazendo referência às Diretrizes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), mencionam que o ensino superior é a última fase do processo de aprendizagem académica. Como tal, a tutoria pode ajudar os estudantes a superar dificuldades de adaptação ao ensino superior, em termos de conteúdos curriculares, reduzindo, inclusive, as taxas de desistência. Assim sendo, é importante que, no início do Programa de Mentoria, se estabeleça um ambiente de cordialidade e empatia entre o mentor e o mentorado, pois, como referem Freire e Beiramar (2017, p. 13), a Mentoria deve ter como finalidade a promoção da inclusão positiva e proativa dos estudantes no contexto do ensino superior, visando também a promoção da “aquisição de competências transversais, tais como competências pessoais, sociais, académicas e de relacionamento interpessoal”.
No que se refere à categoria “Significado atribuído à forma de seleção do par mentor-mentorado”, verificou-se que os participantes referiram “Preferir a seleção aleatória” e “Preferir a seleção por afinidade”.
Na categoria “Significado atribuído às orientações recebidas” registou-se que os participantes referiram “Poucas orientações” e “Nenhuma orientação”, o que contraria a literatura, pois segundo Freire e Beiramar (2017, p. 18), os Programas de Mentoria devem pautar-se por orientações claras, uma vez que têm um papel fulcral na aquisição de competências-chave por parte dos mentorados do ensino superior, na medida em que possibilitam a realização de distintos papéis, ajudando em ações, interações e aprendizagens. Assim, configuram-se “como importantes fontes de suporte e cooperação entre pares, resultando simultaneamente em realização no contexto académico”, potenciam “o contacto com experiências desenvolvimentais positivas” e concedem “um elevado sentido de autoeficácia”, para além de facilitarem o "desenvolvimento de auto-complexidade”, resultante dos “desafios em que se vão envolvendo ao longo do programa”, o que implica a partilha de orientações.
No que concerne à categoria “Significado conferido às funções atribuídas ao tutor”, emergiram “Ser um facilitador”, “Coordenar e acompanhar os estudantes mentores” e “Explicar em que consiste o processo de Mentoria”. Estas opiniões estão em conformidade com Girão (2013), que refere que o Mentor/Tutor deve ser um facilitador, acrescenta que os “mentores são guias de confiança, que percebem a teoria de desenvolvimento pessoal e têm experiência em traduzi-la para a prática” (pp. 4-5). De igual modo, Kahle-Piasecki & Doles, 2015, pp. 74-75) defendem que os mentores necessitam de estar acessíveis, serem facilitadores e orientadores, devendo estar preparados para oferecer ajuda sempre que necessário.
Quanto à categoria “Significado atribuído à frequência e duração dos encontros”, os participantes referiram “Encontros de frequência e duração adequadas” e “Encontros prolongados”. As relações entre mentor e mentorado, segundo Lunsford, Crisp, Dolan e Wuetherick (2017, p. 317), podem variar na sua duração, espaço e função. Os autores referem que a maioria das pesquisas se concentram em programas de orientação nos campus universitários. No entanto, a Mentoria pode ser informal e desenvolver-se espontânea e naturalmente, e a quantidade de contactos entre mentor e mentorado e a duração das suas relações informais e formais também difere, com algumas limitadas a uma reunião e outras com uma duração superior a uma década.
Em relação à categoria “Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida”, constatou-se que os participantes referenciaram “Relação douradora” e “Relação que se perdeu com o tempo”. Quanto ao “Tipo de relação”, as unidades de registo apontaram para opiniões antagónicas, pois, para uns, a relação é “Muito boa” de “Amizade, para outros “Insignificante”. Arantes e Viegas (2018, s.p.) referem que a relação estabelecida na Mentoria deve prevalecer uma clarificação dos objetivos, sendo importante a empatia e a sensibilidade, fatores essenciais ao sucesso de qualquer relação humana, isto é, o mentor tem de possuir a capacidade de análise das situações e saber colocar-se no lugar do mentorado, bem como deve ter a habilidade de perceção das suas emoções e sentimentos. Ximenes (2014, p. 11) sustenta que os Programas de Mentoria são importantes para o desenvolvimento e consolidação de cidadania. Estes pressupostos corroboram a opinião em relação à categoria “Significado atribuído ao valor atribuído ao Programa”, tendo-se destacado a atribuição de “Importante”. Neste âmbito, refere-se que, na categoria “Significado atribuído à continuidade do Programa na instituição”, sobressaiu “Dar continuidade ao Programa” para que ocorra a “Inclusão dos estudantes recém-chegados”, sendo uma “Boa iniciativa” e para que haja “Ensino de proximidade e colaborativo”. A este propósito, Kahle-Piasecki e Doles (2015, p. 75) argumentam que os Programas de Mentoria no ensino superior bem-sucedidos criam uma cultura de orientação e de Inclusão dos estudantes recém-chegados e uma maior proximidade entre este e o universo académico, o que requer um trabalho colaborativo entre mentor e mentorado. A Tutoria/Mentoria aumenta o envolvimento dos estudantes com a instituição, o que passa pela adoção de uma cultura de orientação que deve ser estabelecida logo no início e com continuidade no tempo, a fim de se alcançarem resultados ideais para o sucesso dos mentorados. As mesmas autoras defendem ainda que, à medida que os Programas de Mentoria são desenvolvidos para os alunos recém-chegados, os estudantes de anos mais avançados também devem ser incluídos no grupo para enriquecer as interações no desenvolvimento do Programa de Mentoria. São de opinião que estes programas não devem existir à margem da vida institucional, pois, desse modo, não se conseguem tornar parte da vida no campus principal e tornam-se limitados no seu impacto, não sendo assumidos como um acontecimento importante para mentores e mentorados.
Conclusão
O presente estudo qualitativo permitiu compreender o significado atribuído pelos estudantes e professores ao Programa de Mentoria/Tutoria implementado; e dessa forma reconhecer os principais papéis desempenhados na mentoria.
Os principais papéis desempenhados na mentoria surgem na categoria “Significado atribuído às orientações recebidas”, e com isso pressupõe-se que um dos principais papéis desempenhados na mentoria é fornecer as orientações necessárias para a implementação de Programas de Mentoria/Tutoria. Relativamente a esta categoria foram ainda obtidos resultados que indicam, que os participantes receberam “Poucas orientações” ou “Nenhuma orientação”, podendo inferir que uma das melhorias a implementar na concretização de futuros Programas de Mentoria/Tutoria, prende-se com procurar informar e orientar mais e melhor os participantes do programa.
As categorias que se referem ao significado atribuído às funções atribuídas ao mentor e ao tutor, também revelam alguns dos papéis desempenhados na mentoria, na medida em que os participantes do presente estudo, também nomearam motivos que levam a crer que os mentores e os tutores desempenham papéis importantes na implementação de Programas de Mentoria/Tutoria no Ensino Superior.
Os resultados, obtidos subjetiva e empiricamente, permitiram concluir que do tema desocultado “Significado Atribuído ao Programa de Mentoria Implementado” emergiram nove categorias, nomeadamente: “Significado atribuído ao momento em que foi iniciado”; “Significado atribuído à forma de seleção do par mentor-mentorado”; “Significado atribuído às orientações recebidas”; “Significado conferido às funções atribuídas ao tutor”; “Significado atribuído às funções atribuídas ao mentor”; “Significado atribuído à frequência e duração dos encontros”; “Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida”; “Significado atribuído à continuidade do Programa na instituição” e “Significado atribuído ao valor atribuído ao Programa”.
Após a aplicação da metodologia sociopoética, concluímos que, para os participantes do Programa de Mentoria, o “Significado atribuído ao momento em que foi iniciado o Programa” foi um momento “importante”, “entusiasmante” e “surpreendente”, os participantes preferem a “seleção aleatória” como método de seleção do par mentor-mentorado.
A partir dos dados obtidos, após a aplicação da metodologia sociopoética, verificámos que foram dadas orientações pelo tutor aos participantes para ser implementado o Programa de Mentoria, que ao tutor são atribuídas funções de coordenação e acompanhamento dos estudantes mentores, tendo ainda como função “explicar em que consiste o processo de Mentoria”.
Quanto ao “Significado atribuído às funções atribuídas ao mentor”, foi reforçada a ideia de que o mentor deve ser alguém que deve “Saber ajudar” e que deve “Estar disponível” para poder acompanhar o mentorado. Quanto ao “Significado atribuído à relação de Mentoria estabelecida” concluímos que, neste momento, os participantes dão valor a uma relação de “amizade”, “reciprocidade e entreajuda” e de “companhia”.
No que se refere à continuidade do Programa de Mentoria na instituição, os participantes mostraram que deve ser dada continuidade ao programa por ser uma “boa iniciativa” e por promover a “Inclusão dos estudantes recém-chegados”.
Face ao exposto e corroborando ainda com os resultados obtidos aquando da aplicação da metodologia sociopoética, os participantes atribuem um valor de “Importante” ao Programa de Mentoria.
Este estudo proporcionou uma abordagem à Mentoria no que se refere à significação. Tornou-se claro que a Mentoria é um instrumento para a inclusão de todos os estudantes, independentemente das suas características individuais, devendo haver reciprocidade, apoio e suporte por parte do mentor. Este, não deve assumir-se como o protagonista do processo, pois este é devido ao mentorado que é o foco de atenção do Programa de Mentoria, programa que se centra nos estudantes e na sua plena inclusão na academia.
Espera-se que os mentores em parceria com os mentorados consigam partilhar conhecimentos, orientações e estabelecer objetivos, de acordo com o conteúdo do Programa. A Mentoria é uma atividade recíproca, colaborativa, promotora de empatia, onde prevaleça a escuta ativa, atitudes a serem adotadas quer pelo mentor quanto pelo mentorado.
Seria uma perda se os resultados que obtivemos e as conclusões a que chegámos com este estudo não contribuíssem para uma prática mais consistente da Mentoria.
