Introdução
A pele é um órgão que tem como principais funções, para além de termorreguladora, produção de vitamina D e a proteção da ação de outros agentes externos. No entanto, existem vários fatores de natureza intrínseca e extrínseca que podem afetar a capacidade da pessoa manter a integridade da pele (Hitchcock & Savine, 2017). De entre os fatores intrínsecos destacam-se os extremos das idades, recém-nascidos e idosos; a raça/etnia; as condições dermatológicas, eczemas, dermatites, entre outras; várias patologias associadas, diabetes mellitus, insuficiência renal, imunossupressão, entre outras; o estado nutricional e de hidratação. A excessiva secagem da pele, pela exposição prolongada à humidade; alguns medicamentos, anti-inflamatórios, anticoagulantes, entre outros; a radioterapia e o uso de adesivos/sua remoção constituem, por sua vez, os principais fatores extrínsecos a considerar no estudo desta problemática (McNichol et al., 2013).
Os adesivos médicos são amplamente utilizados, sendo parte integrante na prestação de cuidados de saúde e podem ser encontrados numa grande variedade de produtos utilizados, tais como: fitas adesivas de fixação, pensos de fixação de tratamento a feridas, pensos de fixação a cateteres centrais ou acessos venosos periféricos, elétrodos, fixação de placas de ostomia. Na prática, são dispositivos de proteção que, facilitam a proteção e a cicatrização da pele. Contudo são também responsáveis por lesões, consideradas complicações prevalentes e que ocorrem em qualquer ambiente de cuidados de saúde (McNichol et al., 2013). Tratam-se de lesões cutâneas associadas aos adesivos que ocorrem quando a adesão da pele ao adesivo é mais forte que as forças adesivas entre as células da pele e as suas camadas, de tal forma que elas se separam quando a fita é removida (Ratliff, 2017).
A lesão de MARSI é definida como uma lesão da pele, relacionada com o adesivo médico. Associados a este tipo de lesão, destacam-se o eritema e/ou outras manifestações cutâneas anormais (incluindo, mas não se limitando, a vesículas, flictenas e lesões mecânicas), que persistem trinta minutos ou mais após a remoção do adesivo (McNichol et al., 2013).
Estas lesões são uma complicação prevalente, pouco reconhecida, que ocorre em todas as faixas etárias, em fases agudas ou crónicas da pessoa doente. Podem verificar-se em qualquer idade ou ambiente clínico, mas é mais prevalente nos extremos da vida, idosos e neonatos. Os idosos vivenciam uma série de alterações cutâneas, inerentes ao processo de envelhecimento, aumentando o risco de lesões de MARSI. Entre as principais alterações destacam-se: a diminuição das camadas epiderme-derme e tecido subcutâneo, a redução das vascularidade, a elasticidade e a resistência a forção de torção que possam ser exercidas. Os fatores extrínsecos desempenham também um papel importante no aumento da suscetibilidade às lesões de MARSI (McNichol et al., 2013).
Neste sentido, caso não seja utilizada uma técnica adequada, por parte do profissional de enfermagem, há camadas de pele que poderão ser removidas. Como consequência deste acontecimento, a pessoa apresenta uma maior predisposição para o risco de infeção, um atraso na cicatrização e dor associada ao procedimento. Estas lesões podem ser divididas em: destacamento da pele (camada córnea da epiderme), lesão por tensão ou bolha, “rasgo” na pele, dermatite de contacto irritante, dermatite alérgica, maceração ou foliculite. Assim, às lesões de MARSI tem um impacto negativo e significativo na pessoa doente (McNichol et al., 2013).
Deste modo, os Enfermeiros desempenham um papel fundamental na prevenção das lesões de MARSI. No entanto, a literatura é escassa em relação aos cuidados de enfermagem e suas estratégias preventivas das lesões de MARSI que passam pelos cuidados com a pele, as técnicas de aplicação e remoção dos adesivos médicos e avaliação e tratamento dessas lesões. Do mesmo modo, existem evidências limitadas sobre como prevenir essas lesões, quais as intervenções necessárias específicas de enfermagem, como avaliar a pele e quais as situações em que se deve intervir. Thayer et al. (2015) referem que a prevenção deve começar assim que se aplica um adesivo médico. Apontam como principais etapas a considerar na prevenção: a avaliação da pessoa doente, seleção do produto adesivo correto, preparação da pele, aplicação e remoção correta do produto adesivo.
Face ao que foi apresentado anteriormente, esta revisão de scoping foi conduzida com o intuito de mapear sistematicamente as pesquisas realizadas sobre os cuidados de enfermagem utilizados para prevenir a ocorrência de MARSI e identificar as lacunas existentes na literatura. Não foram encontradas revisões alusivas a este tema, aquando da pesquisa prévia a esta investigação. Os objetivos desta revisão passam por mapear os cuidados de enfermagem utilizados para a prevenção de ocorrência de MARSI, resumindo os resultados da pesquisa e identificando as lacunas existentes. O estudo iniciou-se com a formulação da questão de investigação: Qual(ais) a(s) medida(s) mais eficaz(es) nos cuidados de enfermagem prestados para a prevenção de MARSI?
1. Métodos
Esta revisão de scoping foi conduzida de acordo com o método proposto pela Joanna Briggs Institute e redigido tendo por base o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses for Systematic Review Protocols-Extensão para Scoping Reviews (PRISMA-ScR) (Tricco et al., 2018). Segue uma abordagem sistemática, um tipo de mapeamento e síntese do conhecimento existente sobre um tema, enunciando os principais conceitos, teorias, fontes e lacunas de conhecimento.
Foram incluídos os estudos publicados nos idiomas Português, Inglês e Espanhol, entre janeiro de 2010 até junho de 2021. O limite temporal estabelecido neste estudo, teve como objetivo o aferir se existia evidência científica sobre os cuidados de enfermagem na prevenção das lesões de MARSI, mesmo antes de estas serem definidas no ano de 2013 (McNichol et al., 2013).
A estratégia de pesquisa teve como objetivo encontrar artigos publicados e não publicados, tendo sido realizada entre maio e junho de 2021. Na procura de estudos publicados, foi realizada pesquisa nas plataformas Pubmed, CINHAL Complete (Via EBSCO), B-On, NRC Plus, JBI e Wound UK. Da procura de estudos não publicados no RCAAP- Repositório de Informação de Acesso Aberto de Portugal e OpenGrey- Sistema de Informação sobre Literatura Cinzenta na Europa, não se obtiveram resultados. Algumas estratégias de pesquisa são apresentadas na Tabela 1. Nas restantes bases de dados, as estratégias foram adaptadas (Apêndice I).
Base de Dados | Fórmula de pesquisa |
Pubmed | ((((((("nursing"[MeSH Terms]) OR ("nursing care"[MeSH Terms])) AND (("skin care"[MeSH Terms]) AND (skin / injury[MeSH Terms])) AND ((efficacy, treatment[MeSH Terms]) AND ("skin"[MeSH Terms])) OR (medical adhesive related skin injury) |
Concretizada a pesquisa, os estudos identificados foram alocados no Mendeley Desktop, version 1.19.8 e os artigos duplicados foram removidos. Para avaliar a sua elegibilidade, a seleção primária dos estudos realizou-se através da avaliação dos títulos e dos resumos. Posteriormente uma leitura integral do texto. Foram analisados por dois revisores independentes (AD e LF).
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão:
População: Esta revisão considerou todos os estudos que incluem pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, que vivenciaram um internamento de pelo menos um dia, sujeitas aos cuidados de enfermagem relacionados com a prevenção de MARSI;
Conceito: Considerados todos os cuidados de enfermagem implementados/utilizados em pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, com o objetivo de prevenir as lesões de MARSI, associadas aos adesivos médicos. As medidas de prevenção incluíram todos os cuidados de enfermagem realizados com as seguintes características: utilização preferencial de produtos com base em silicone ou películas de poliuretano (produtos atraumáticos), controle da temperatura, utilização de técnicas de remoção adequadas (enrolamento ou estiramento) e a aplicação de gazes humedecidas antes da retirada do adesivo;
Contexto: Contexto hospitalar/internamento, de pelo menos um dia de internamento. Os cuidados prestados em contexto de serviço de urgência/emergência, pré ou intra-hospitalar ou ambulatório, não serão incluídos.
Tipos de estudos: Todos os tipos de estudos, nomeadamente revisões sistemáticas, estudos quantitativos, qualitativos e de métodos mistos.
Dois revisores independentes extraíram os dados usando o formulário previamente estabelecido para a extração de dados, desenvolvido especificamente para esta revisão. Não se verificou desacordo entre os revisores. Os resultados foram agrupados numa tabela.
2. Resultados
Após a identificação dos estudos e da aplicação da metodologia referida anteriormente, oito foram os estudos selecionados para esta revisão. O processo de seleção dos estudos encontra-se representado no Fluxograma PRISMA (Figura 1).
Os dados extraídos foram tabulados e organizados e acompanhados por uma síntese narrativa, por forma a atingir o objetivo da revisão.
Oito estudos foram considerados elegíveis para esta revisão: sete estudos primários (um qualitativo e seis quantitativos) e uma revisão da literatura. Os dados encontram-se tabulados na Tabela 2.
Autores | País | Metodologia | Participantes características | Cuidados de Enfermagem Preventivos | Conclusões |
Collier, 2019 | Reino Unido | Revisão da Literatura | Duas mulheres: 56 anos e 36 anos. Internamento de pelo menos 14 dias e 37 dias (respetivamente). | Aplicação de pelicula barreira na pele antes da aplicação do adesivo; Removedor líquido de adesivos. | 1- Recomendam que os profissionais de saúde devem prestar os cuidados, por forma a minimizarem estas lesões; 2- Recomendam a utilização da pelicula barreira e o removedor líquido de adesivos. |
Zhang et al., 2020 | China | Estudo de coorte prospetivo (quantitativo) | 356 pessoas internadas em cuidados intensivos. 39 desenvolveram lesões de MARSI: 27 homens e 12 mulheres. Idades entre 61.51 +/- 17.49 anos. Tempo médio de internamento 26 dias. | Não utilizavam. | 1- Pessoas internadas em cuidados intensivos têm alto risco de lesões de MARSI; 2- Recomendam que a equipa de profissionais de saúde possuam conhecimentos nesta área, e devem prestar os cuidados, por forma a minimizarem estas lesões. |
Gao et al., 2020 | China | Estudo observacional transversal (quantitativo) | 430 pessoas internadas em cuidados intensivos. 55 desenvolveram lesões MARSI: 34 homens e 21 mulheres. Idade média 62.56+/-17.12 anos. | Não utilizavam. | 1- Pessoas internadas, gravemente feridas, apresentam alto risco de lesões de MARSI; 2- Recomendam medidas preventivas e boas práticas clínicas de enfermagem, por forma a garantir a segurança em saúde. |
Hadfield et al., 2019 | Reino Unido | Estudo de caso (quantitativo) | 9 pessoas internadas com cateter central inserido perifericamente: 5 homens e 4 mulheres. 3 pessoas desenvolveram lesões MARSI. Idade média de 64 anos. Internamento de 17,6 dias. | Toalhetes e spray: removedores de adesivos com silicone. | 1- Recomendam que os profissionais utilizem cuidados preventivos, por forma a diminuir a dor, ansiedade e melhorar a qualidade de vida da pessoa e reduzir os custos de saúde associados; 2- Recomendam a utilização de removedores de adesivo de silicone. |
Britt et al., 2017 | EUA | Estudo de caso (quantitativo) | Mulher de 67 anos submetida a apendicectomia emergência com história de hipersensibilidade/alergias a adesivos. Internada 2 dias. | Não utilizavam. | 1- Referem que a comunicação entre a pessoa doente e a equipa multidisciplinar é importante, para evitar os erros; 2- Demonstram que a avaliação inicial e a documentação são importantes para a continuação dos cuidados como forma de prevenção das lesões de MARSI. |
Chen et al., 2020 | Taiwan | Estudo quási-experimental (quantitativo) | 102 pessoas internadas em cuidados intensivos: Grupo controlo 48, Grupo experimental 50. Idades 51.75 anos (57.1%); 26-50+76 anos (24.4%). Tempo de internamento de 9 dias. | No grupo experimental aplicaram pelicula barreira na pele antes da aplicação do adesivo. | 1- Recomendam a aplicação da película barreira na ele, como forma de prevenção às lesões de MARSI. |
Zhao et al., 2018 | China | Estudo epidemiológico transversal (quantitativo) | 697 pessoas internadas em contexto de oncologia. Idades médias 48.86 anos. Idade superior ou igual a 50 anos 376 (53.9%); idade inferior a 50 anos 321 (43.1%). Estudo realizado em duas semanas de internamento. | Não utilizavam. | 1- Em pessoas doentes oncológicas a prevalência de lesões de MARSI é significativa; 2- Recomendam que os profissionais utilizem cuidados preventivos, por forma a melhorar a prática dos cuidados de enfermagem e garantir a segurança da pessoa doente. |
Farris et al., 2015 | EUA | Estudo observacional descritivo prospetivo (qualitativo) | 98 pessoas internadas (unidade médico-cirúrgica e cirurgia cardíaca): 56 homens e 42 mulheres. Idade média 58 anos. Tempo médio de internamento 3,9-3,5 dias | Não utilizavam. | 1- Referem que as lesões de MARSI são eventos prevalentes nas unidades de internamento (internamentos para tratamentos agudos); 2- Recomendam que as utilizações dos cuidados preventivos são importantes para diminuir as complicações associadas, aumentar a satisfação das pessoas doentes e melhorar os resultados em saúde. |
Em relação ao contexto de internamento em que ocorreram as lesões de MARSI, podemos observar que na maioria dos estudos ocorreu nas unidades de cuidados intensivos (Chen et al., 2020; Gao et al., 2020 e Zhang et al., 2020) e nos cuidados médico-cirúrgicos (Farris et al., 2015; Britt et al., 2017 e Collier, 2019), três estudos em cada um. No entanto torna-se importante referir que estas lesões podem ocorrer em qualquer contexto.
Em cinco dos estudos selecionados (63%), não havia conhecimento dos cuidados de enfermagem utilizados como prevenção da ocorrência de MARSI: Zhang et al. (2020), Gao et al. (2020), Britt et al. (2017), Zhao et al. (2018) e Farris et al. (2015). No entanto apenas três dos oito estudos selecionados (37%) prestaram cuidados de prevenção destas lesões, Collier (2019), Hadfield et al. (2019) e Chen et al. (2020), transportando-nos para a falta de conhecimento e preocupação com esta temática.
Nos cinco estudos selecionados (63%) em que não foram prestados cuidados preventivos das lesões de MARSI podemos concluir que as lesões mais prevalentes são as mecânicas, que incluem: “descascamento” e “rasgo” da pele, seguido das dermatites alérgicas. A figura 2 demonstra graficamente os resultados encontrados.
Em relação aos produtos utilizados, podemos destacar a película spray barreira da pele (antes da aplicação do adesivo) e os produtos à base de silicone como líquidos, toalhetes e sprays, como forma de apoio na remoção atraumática dos adesivos. Estes foram os cuidados prestados como prevenção das lesões de MARSI, nos três estudos de: Collier (2019), Hadfield et al, (2019) e Chen et al, (2020).
Do mesmo modo, Hadfield et al. (2019) procuraram mostrar a eficácia de um produto removedor de adesivos à base de silicone, como forma de prevenção destas lesões. Os autores concluíram que para prevenir estas lesões, os cuidados devem passar por uma abordagem estruturada, por forma a avaliar os produtos adesivos mais adequados, atendendo à técnica correta de os aplicar e remover.
Nos estudos em que foram aplicados alguns cuidados de prevenção destas lesões, Collier (2019), Hadfield et al. (2019) e Chen et al. (2020), os autores concluíram que efetivamente contribuíram para uma melhor qualidade de vida do doente e diminuição dos custos em saúde associados. No entanto, apenas três dos oito estudos selecionados (37%) prestaram cuidados de prevenção destas lesões. Os cuidados preventivos referidos passam pela: utilização de produtos para remover os adesivos: líquido, spray aerossol e toalhetes à base de silicone e aplicação de spray barreira na pele antes da colocação dos adesivos, como referido anteriormente. Não se encontrou referência a cuidados de enfermagem preventivos para além dos produtos adjuvantes mencionados. Os resultados concentram-se principalmente na utilização de produtos adjuvantes como forma de prevenção da ocorrência de MARSI.
Em conclusão, a literatura dá conta que os cuidados preventivos devem ser prestados, a partir do momento em que a pessoa doente necessita de um adesivo médico, em qualquer contexto de internamento, em situações como tratamentos ou fixação de dispositivos. A prevenção deve ser uma preocupação fulcral, sendo uma necessidade indispensável para o bem-estar da pessoa doente. Assim, os autores dos oitos estudos selecionados, consideram que quando aplicados os cuidados, conseguimos minimizar e/ou prevenir as lesões de MARSI.
3. Discussão
Esta revisão de scoping identificou 8 estudos: Collier (2019), Zhang et al. (2020), Gao et al. (2020), Hadfield et al. (2019), Britt et al. (2017), Chen et al. (2020), Zhao et al. (2018) e Farris et al. (2015). Apenas em três destes estudos (37%) foram prestados cuidados preventivos das lesões de MARSI: Collier (2019), Hadfield et al. (2019) e Chen et al. (2020).
Com o aumento da consciencialização sobre as lesões de MARSI e a sustentação de novos estudos, existe uma crescente aceitação de que estas lesões são amplamente evitáveis e que todas as teorias de prevenção são importantes. É do conhecimento dos profissionais de saúde que as medidas preventivas são fundamentais não só para evitar/minimizar as lesões físicas, mas também por forma a minimizar a dor, os custos de saúde associados e promover o bem-estar da pessoa doente (McNichol et al., 2013).
Cinco foram os estudos (63%) em que não havia conhecimento sobre esta temática nem da prestação de cuidados preventivos destas lesões: Zhang et al. (2020), Gao et al. (2020), Britt et al. (2017), Zhao et al. (2018) e Farris et al. (2015). Nestes, a ocorrência de MARSI foi notória, podendo ser classificadas em: lesões mecânicas, as mais frequentes, de tensão/flictenas, dermatite de contacto, dermatite alérgica, maceração e foliculite (Figura 2).
Nos três estudos em que foram prestados cuidados de prevenção (37%), os resultados concentram-se principalmente na utilização de produtos adjuvantes (líquido, spray e toalhetes à base de silicone para remover os adesivos médicos e a utilização de um spray barreira na pele antes da aplicação dos adesivos médicos). No entanto, os cuidados preventivos de enfermagem podem ir além da utilização destes produtos, sendo todos eles importantes e com vantagens para a pessoa doente. Nestes cuidados podem ser incluídos: avaliação da pessoa, seleção do produto adesivo mais adequado, preparação da pele (utilizando também o produto spray barreira), aplicação correta do adesivo e remoção correta (no sentido do crescimento dos pelos, com produtos adjuvantes à base de silicone) (McNichol & Bianchi, 2016). Assim, nestes estudos foram prestados cuidados preventivos, salientando os produtos adjuvantes utilizados e não foram evidenciados os cuidados de enfermagem passíveis de se executar.
Os estudos evidenciaram ainda que, a implementação destes cuidados é uma preocupação, e salientam a importância da formação no âmbito de intervenções preventivas. Estas intervenções podem ser aplicadas em qualquer contexto de internamento e em qualquer idade, desde a criança ao idoso (McNichol et al., 2013). Para prevenir estas lesões, várias medidas são conhecidas e estão disponíveis. No entanto, existem poucas evidências que referenciem a sua aplicabilidade, isto é, são escassos os estudos que nos mapeiem os cuidados de enfermagem conhecidos e que devem ser prestados, para além dos produtos adjuvantes existentes do mercado, na prevenção das lesões de MARSI.
Limitações
Os resultados apresentados devem ser interpretados, considerando algumas limitações. Mesmo utilizando um método rigoroso e robusto ao longo desta revisão, os resultados destinam-se a mapear e incentivar a adoção de medidas preventivas por parte dos profissionais de enfermagem, não avaliando a sua eficácia. No entanto, esta revisão sugere que futuros estudos sejam desenvolvidos, revelando a efetividade dos cuidados de enfermagem, como prevenção à ocorrência de MARSI, não se limitando apenas aos produtos adjuvantes utilizados. Estamos cientes de que estas práticas nem sempre são do conhecimento dos enfermeiros nem realizadas pelos mesmos.
Conclusão
Esta revisão scoping sintetizou os resultados dos estudos realizados sobre os cuidados de enfermagem prestados para prevenir a ocorrência de MARSI.
Com base na questão de investigação e nos objetivos delineados, podemos concluir que há uma escassez na literatura alusiva ao mapeamento dos cuidados específicos de enfermagem utilizados na prevenção de MARSI. No entanto, é notório que quando são prestados cuidados preventivos com o uso de produtos adjuvantes, estas lesões são significativamente reduzidas.
Ainda com base nos resultados alcançados alusivos à análise do papel do enfermeiro nesta área específica, é crucial que estes profissionais estejam conscientes destas lesões e da importância do desenvolvimento de um plano interventivo, em forma de protocolo, para os cuidados de enfermagem, na prevenção das lesões de MARSI. Este protocolo deve ser baseado em duas premissas: os cuidados específicos com a pessoa/pele e o uso de produtos adjuvantes. Os resultados encontrados e relatados na nossa revisão, destacam medidas preventivas importantes, que podem, e devem, ser integradas na prática de enfermagem, no entanto é necessário aumentar as evidências existentes, procurando delinear novas linhas de pesquisa necessárias para apoiar os profissionais de enfermagem, na aplicabilidade das mesmas.
Como implicações para a investigação é recomendado que nos próximos estudos realizados, se enfoque os diferentes cuidados de enfermagem na prevenção das lesões de MARSI, bem como na população idosa, dada a sua fragilidade cutânea resultante do processo de envelhecimento e a sua maior frequência em internamentos hospitalares.