Introdução
Os debates acerca da problemática ambiental intensificaram-se na década de 70, período em que se evidenciou uma inquietação quanto à temática em questão, que culminaram discussões em torno de questões relativas aos efeitos do aquecimento global e a importância de se debater sobre a sustentabilidade do planeta (Peres, 2015).
As questões envolvendo a relação saúde e meio ambiente ganharam destaque a nível mundial, principalmente após a década 1970 (Rangel, 2015). O tema saúde e meio ambiente abrange tanto questões que possuem dimensões globais, como o aquecimento global e a camada de ozônio, como questões locais, que atingem diretamente grupos populacionais, por meio de problemas como o desmatamento e a ausência de esgotamento sanitário, os quais podem afetar a saúde da população (Frumkin, 2016).
A relação saúde e meio ambiente desponta para discussões no campo da promoção à saúde, compreendida como uma abordagem que dialoga com a concepção de que a saúde é originaria de uma produção social, na identificação dos determinantes sociais de saúde que influenciam no processo saúde-doença, na intersetorialidade, na participação e autonomia dos sujeitos (Mendes, 2016).
Nesse contexto, ações de Educação Ambiental favorecem o desenvolvimento de um pensamento crítico quanto à compreensão da relação saúde e meio ambiente. Assim, exprime o papel da escola como instrumento no desenvolvimento e fortalecimento de adolescentes com atitudes éticas diante de questões que envolvem saúde e meio ambiente (Alves, 2021). Nessa perspectiva, ações de educação que abordem a relação saúde e meio ambiente no contexto escolar abrem espaços para discussões e debates sobre temas de saúde e meio ambiente como forma de sensibilizar quanto à criação de ambientes saudáveis, de modo a melhorar a sua qualidade de vida por meio de mudanças no estilo de vida (Bezerra, 2017; Schaefer, 2018; Guha, 2019).
A educação em saúde voltada para adolescentes nas escolas representa uma estratégia de reorganização das práticas de saúde, possibilitando trocas de experiências e reflexões, a fim de construir conhecimentos e hábitos de saúde e práticas promotoras de saúde promovendo sujeitos ativos no processo de cuidar e com expressão e representatividade social (Pastro; Santos, 2019).
Práticas de educação em saúde no ambiente escolar tornam-se capazes de atingir a população adolescente quanto a refletir sobre o significado de saúde, de modo, a assegurar conhecimentos e habilidades e uma formação critica acerca quanto ao reconhecimento dos determinantes da saúde que envolve o processo saúde-doença. Por esta razão, julga-se necessário abordar questões que envolvem à saúde ambiental com adolescentes no cenário escolar, compreendendo que essa relação perpassa por ações interdisciplinares sobre tal temática. Diante do cenário exposto, o objetivo desse estudo foi conhecer a percepção de adolescentes sobre a relação saúde e meio ambiente no ambiente escolar.
1. Métodos
Estudo descritivo, de abordagem qualitativa sobre as percepções de adolescentes acerca da relação saúde e meio ambiente. Para garantir a qualidade do estudo, foram seguidas as diretrizes para pesquisas de abordagem qualitativa previstas no Check List Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research - COREQ (Tong, 2007).
1.1 Amostra
Os participantes da pesquisa foram adolescentes de ambos sexos, selecionados por conveniência, partindo do pressuposto que os mesmos possuíam algum conhecimento acerca da temática abordada, contatados pela técnica de amostragem por bola de neve (Polit, 2019). Foram critérios de inclusão ter idade entre 11 e 19 anos conforme Organização Mundial de Saúde (OMS); está regularmente matriculado na escolha escolhida para o desenvolvimento da pesquisa. Como critério de exclusão: após três tentativas de contato com o adolescente sem retorno esse era excluído da pesquisa. Foram contatados 17 adolescentes, no entanto, 13 adolescentes aceitaram participar do estudo, constituindo amostra final.
1.2 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados
A produção dos dados ocorreu no mês de maio de 2020, em uma escola do Ensino Fundamental II da rede de ensino pública inserida no território do Geoparque Araripe, de um município localizado na região Metropolitana do Cariri. Foram realizadas entrevistas remotas, mediante chamadas telefônicas com áudio gravadas.
Desta forma, a pesquisadora entrava em contato com o adolescente por meio de contato repassado pela coordenação da escola, o primeiro contato era realizado com o responsável para explanação da pesquisa e solicitação de autorização. Após consentimento do responsável e adolescente, era agendada a realização da entrevista, conforme a disponibilidade do adolescente.
Àqueles que aceitaram participar do estudo, foram dadas as informações sobre a pesquisa, bem como foi solicitada a sua concordância em participar do estudo e do seu responsável, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE e Termo de Assentimento Livre Esclarecido (TELC). Os termos foram enviados como questionário do Google Forms como mensagem para o aplicativo WhatsApp.
Para coleta dos dados, os horários das entrevistas foram variados, manhã e tarde, de acordo com a disponibilidade dos adolescentes. As ligações telefônicas foram gravadas, com duração média de 15 minutos. Acrescente-se que as entrevistas passaram pelo método de transcrição integral, imediatamente após a realização das mesmas, a fim de não perder informações relevantes para análise dos dados.
Foi considerado no estudo o processo de saturação das falas para se chegar ao final da coleta de dados. Considera-se que o processo de saturação de falas consiste quando o pesquisador, após analisar as informações coletadas com um certo número de participantes, percebe que novas entrevistas passam a apresentar repetições de conteúdo, trazendo acréscimo pouco significativos para a pesquisa em vista de seus objetivos (TURATO, 2005).
Desta forma, constatou-se saturação quando as falas dos adolescentes focaram a Relação saúde e meio ambiente acerca de aspectos referentes à destruição do meio ambiente; prevenção de doenças e ambiente saudável. No que se refere a Temáticas a saturação foi observada quando os depoimentos revelaram temas voltados para: desatamento, mudanças climáticas, doenças e poluição. Quanto a Saúde Ambiental no contexto escolar, a saturação foi observada quando os depoimentos centraram o ambiente escolar como espaço para discussões sobre saúde e meio ambiente.
1.3 Análise de conteúdo
A análise dos dados ocorreu concomitante à coleta, adotando a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2010), e, conforme preconizado, executando as três fases: pré-análise que corresponde à organização do material, escolhendo os documentos que serão submetidos à análise, formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração dos indicadores que fundamentem a interpretação final; exploração do material, que consiste essencialmente nas operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas; tratamento dos resultados obtidos e interpretação, os resultados são tratados nessa fase de forma que ao final possuam um significado.
Assim, seguindo os passos acima, a partir da leitura flutuante, os documentos foram organizados para a construção dos corpus da pesquisa que se constituiu de 13 entrevistas realizadas com adolescentes. Após a construção do corpus, foram operacionalizadas as codificações, sendo identificadas as unidades de registros e, posteriormente, as unidades de contexto. Estas foram encontradas nas falas, por meio de palavras, que foram se agrupando, segundo suas semelhanças e significados identificados.
O estudo foi submetido à avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), por meio da Plataforma Brasil, obtendo parecer de aprovação sob N° 3. 839. 083. Foram respeitados os preceitos éticos referentes à Resolução 466⁄2012 do Conselho Nacional de Saúde-CNS.
3. Resultados
Participaram do estudo 13 adolescentes, em sua maioria, eram do sexo feminino (n=11; 84.6%), na faixa etária de 12 a 14 anos. Quanto à escolaridade dois cursavam o 7º ano, dois o 8º ano e 09 adolescentes cursavam o 9º ensino Fundamental II. No que concerne ao número de pessoas que compõem o núcleo familiar é composta de três a seis pessoas.
Referente à análise das percepções dos sobre a temática, emergiram as categorias: relação saúde e meio ambiente, temáticas, Saúde Ambiental no contexto escolar.
Relação saúde e meio ambiente
Esta categoria agrupa as percepções dos adolescentes quanto à relação saúde e meio ambiente, fundamentando-se em uma visão focalizada apenas na doença, sem problematizar os determinantes e condicionantes que interferem no processo saúde-doença. Diante dos discursos dos escolares, foram encontrados os seguintes posicionamentos:
“É tipo, para gente ter uma saúde boa a gente tem que cuidar do meio ambiente. Porque a gente depende do oxigênio, dessas coisas para sobreviver né! Tipo a gente maltratando o meio ambiente quanto mais a gente acaba com a natureza e polui o meio ambiente, mais o ar fica poluído e prejudica bastante a nossa respiração, essas coisas”. (A1)
“Saúde é... É a gente cuidar da nossa saúde, cuidar da saúde da sua família é isso. E ambiente é o que a gente tem que cuidar do lugar onde a gente vive. Porque se não cuidar pode prejudicar a nossa saúde”. (A3)
‘’Saúde é uma coisa que você tem, tipo você está doente, meio ambiente é onde [nós convivemos], tem árvore, tem casa, água, animais’’. (A4)
‘’Saúde é tipo você ter uma saúde estável, você ter uma saúde boa, você cuidar da sua saúde, não comer alimentos que faz mal. Meio ambiente é você conservar as plantas, você conservar as coisas, não jogar lixo no mar, não jogas lixos nas plantas’’. (A10)
Nesse contexto, as percepções dos adolescentes tencionam para o conceito de saúde voltada para ausência de doença, exprimindo a importância do desenvolvimento de ações de educação em saúde que favoreçam a compreensão do significado de saúde no seu sentido polissêmico.
Temáticas
Esta categoria reúne as temáticas trabalhadas no contexto escolar apontadas pelos adolescentes, a saber: poluição, desmatamento, urbanização, globalização, mudanças climáticas. Observa-se que as temáticas focalizam aspectos limitados quanto a relação saúde e meio ambiente, o que distancia quanto a compreensão do conceito ampliado de saúde. Implicando para práticas de saúde voltadas para o assistencialismo, contrapondo-se aos pressupostos da promoção da saúde. Como exemplificado pelos adolescentes:
‘’[…] poluição’’. (A1)
‘ ’ […] desmatamento, urbanização e o ambiente, extinção de espécies, mudanças climáticas’’. (A8)
“[…] das pessoas cuida mais do meio ambiente, das pessoas cuidar de sua saúde, não jogar lixo no mar, conservar o meio ambiente”. (A10)
‘’Que você não precisa poluir os rios e tudo’’. (A12)
Saúde ambiental no contexto escolar
Esta categoria os adolescentes reconhecem o ambiente escolar como espaço privilegiado para ações educativas para transmissão de informações e promoção da saúde com temáticas sobre saúde e meio ambiente, como exemplificado pelos adolescentes:
“A escola é um local onde os professores ensinam e onde a gente aprende. E então eu acho que através dos professores ensinado o aluno ele pode aprender a ter uma boa convivência com o meio ambiente e cuidar do lugar onde ele mora e vive, né?” (A2).
“Eu acho importante trabalhar saúde e meio ambiente na escola porque você vai aprender muitas coisas sobre como prevenir das doenças. Aí, você vai saber cuidar da sua saúde e dos outros”. (A4).
“[…] escola é o início da aprendizagem da pessoa. Então quando os professores passam as informações para a pessoa você pode levar tipo, informação para você e para outras pessoas. Para dizer para elas que é para cuidar de sua saúde e não contaminar o meio ambiente.” (A10).
4. Discussão
No contexto em análise, evidenciou-se que a percepção dos adolescentes sobre a relação saúde e meio ambiente está relacionada ao conceito de saúde como ausência da doença. Nessa direção, torna-se necessário ações de educação ambiental que possam contribuir para a formulação do conhecimento baseado em uma discussão ampliada e crítica sobre os diversos aspectos envolvidos no processo saúde-doença. Emerge a necessidade dessa população compreender que o conceito de saúde envolve fenômenos sociais, políticos, econômicos e ambientais (Anhas, 2017).
Destaca a necessidade de um olhar além do modelo tradicional de saúde, posto que se faz necessário refletir sobre os mecanismos que concerne o objeto saúde. Aponta, entende a necessidade de discussões acerca da relação saúde e meio ambiente como um desafio no âmbito da saúde coletiva, considerando as vulnerabilidades às doenças, econômicas, sociais e exposição ambiental e seus efeitos sobre a saúde da população adolescente (Rangel, 2015).
É preciso compreender que a relação saúde e meio ambiente transcende a perspectiva de uma assistência biologista, emergindo a necessidade de reproduzir uma visão que busque incorporar conhecimentos referentes aos aspectos relacionados ao processo saúde-doença.
Estudo realizado com adolescentes escolares, infere sobre a visão limitada dessa população quanto a concepção sobre saúde, de modo a torna-los passivos no que concerne ao seu processo saúde-doença (Oliveira, 2018).
Nessa perspectiva, o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) em saúde vem corroborar com a necessidade de compreensão do conceito ampliado de saúde, concentrando-se em uma abordagem em saúde horizontalizada e sistemática, buscando identificar os condicionantes e determinantes que interfere na saúde (Lee, 2019).
Os achados corroboram com estudo que reconhece que o conceito de saúde ultrapassa a concepção limitada de doença, flagrando-se a necessidade de uma compreensão embasa em aspectos multidimensionais quanto ao contexto saúde e seus diversos fatores que influenciam na consolidação do processo saúde-doença. Assim, deve-se refletir de forma crítica sobre a influência do meio ambiente como ponto importante para o entendimento desses aspectos que envolvem a saúde (Alves, 2018).
A ocorrência quanto a acepção da relação saúde e meio ambiente expressas nas falas dos adolescentes, aponta para conceitos pré-definidos voltados para um caráter biologista e uma visão restrita da ecologia humana. Nessa face, o aprofundamento dos debates acerca dessa inter-relação interrelação, requer da compreensão que o ambiente perpassa por questões sociais e culturais, em que o indivíduo passa a contemplar uma relação de interdependência com o ambiente (Busato, 2015).
Assim, o ambiente deve ser compreendido como um espaço vivo, consequente de transformações que interferem na condição de saúde da população, requerendo conceito pluralista quanto a sua análise e interpretação. A incorporação e implementação das metas do ODS 3 no alcance e construção da saúde deve incidir na interface entre saúde e ambiente, com vista ao alcance de uma vida saudável pela população, de modo a produzir mudanças sociais e qualidade de vida (Kruk, 2018; Machado, 2017).
Para tanto, a predominância desse olhar curativista implica a necessidade de rompimento com o modelo de saúde vigente, partindo do pressuposto que os determinantes sociais da saúde refletem de forma concreta na interferência dos fenômenos da saúde.
Nesse contexto, é preciso considerar que a compreensão da relação a saúde e o meio ambiente envolve diferentes e diversas temáticas, que permite embasamento quanto a conceituação ampliada de saúde. Nessa perspectiva, a abordagem dessa relação deve ser concedida por temáticas que potencializem e busquem a ampliação quanto aos condicionantes e determinantes que interferem na saúde do público adolescente (Dias, 2018).
Aponta para a necessidade de uma abordagem pluralista enquanto à relação saúde e meio ambiente, propondo conceber ao adolescente, que o mesmo compreenda essa relação de modo abrangente, temáticas que envolvem essa relação. Nesse sentido, é preciso considerar que saúde e meio ambiente buscam articular-se com temas que não se restringem apenas à poluição, ao desmatamento, às mudanças climáticas, mas que possam identificar os processos de produção de saúde (Pereira, 2021).
Os resultados encontrados corroboram com estudo realizado em um município do sudoeste da Bahia que reconhece à importância de temáticas que proporcionam o desenvolvimento de um cuidado interdisciplinar, de modo a identificar necessidades que vão além de uma concepção biomédica, superando práticas assistências hegemônicas em saúde, que muitas vezes são evidenciadas em ações e políticas direcionadas aos adolescentes (Fernandes, 2020).
A abordagem de temáticas que englobam a relação saúde e meio ambiente deve incidir diretamente em mudanças de atitudes e comportamentos individuais e coletivos, com o reconhecimento de que esses construtos são onipresentes e, por isso, podem repercutir diretamente na saúde. Deste modo, defende-se a importância do desenvolvimento de práticas educativas como uma ferramenta para se alcançar a promoção da saúde e como uma mudança de paradigma na práxis das práticas de saúde (Jing, 2016; Santos, 2019).
A educação em saúde baseia-se nos pressupostos da promoção da saúde, que busca o desenvolvimento por meio de técnicas e métodos que favoreçam a transformação e emancipação dos sujeitos, de modo a proporcionar uma reflexão sobre comportamentos saudáveis e sobre as bases socias de sua vida, em uma perspectiva de desenvolvimento de práticas em saúde horizontalizadas (Buss, 2000; Chiesa, 2007).
Nesse enfoque, o desenvolvimento de prática em saúde para o adolescente deve apoiar-se em uma pedagogia libertadora, como uma ferramenta de transformação social, uma vez que tenta romper com práticas curativistas. Propondo transformar o modelo tradicional de educação em saúde, predominantemente centradas na prevenção de doenças, para uma prática voltada para emancipação e empoderamento dos sujeitos, favorecendo o diálogo (Freire, 2011; Araujo, 2018; Alves, 2019).
Nesse sentido, reconhece o ambiente escolar como cenário para a implementação e desenvolvimento de prática de educação em saúde que possibilite ao adolescente o reconhecimento acerca da relação saúde e meio ambiente.
Desta forma, a escola se torna um espaço privilegiado para ações educativas para transmissão de informação para promoção da saúde do adolescente. Destacando a importância de práticas educacionais que favoreçam discussões e reflexões acerca de temas voltados para a relação saúde e meio ambiente como forma de empoderar esse público quanto a necessidade de mudanças de atitudes, e do desenvolvimento de práticas em saúde voltadas para ações promotoras de saúde (Monteiro, 2017; Pereira, 2021).
A inserção da Educação Ambiental (EA) no contexto escolar ainda apresenta lacunas quanto aos temas abordados. Estudos apontam que entre as principais dificuldades estão dos professores para o desenvolvimento do tema em sala de aula (Jesus, 2017; Diniz, 2019; Fernandes, 2020).
Estudo sobre a análise do conhecimento e opinião de professores sobre EA e saúde, demostrou que os professores apresentam fragilidades quanto as definições sobre EA. Tais dificuldades podem estar relacionadas ao desconhecimento teórico sobre o tema, impedindo o desenvolvimento de uma discussão mais efetiva sobre o tema (Arantes, 2021).
A abordagem sobre a EA deve ser embasada sobre um olhar amplo da realidade, a fim de refletir sobre os problemas e realidade, não se satisfazendo com simplificações e reducionismos. Nesse sentido, emerge a reformulação de projetos pedagógicos que possam permitir a construção do conhecimento interdisciplinar entre diferentes disciplinas e saberes (Rodrigues, 2017; Guimarâes, 2018; Rebouças, 2021).
Destaque para o Programa Saúde nas Escolas (PSE), política que tem como objetivo a implementação e desenvolvimento de ações articuladas de saúde e educação, que busque contribuir para inserção de práticas voltadas para promoção da saúde. Acrescenta-se a intersetorialidade como pilar do PSE, como o fortalecimento e enfrentamento das vulnerabilidades em saúde que comprometem o desenvolvimento de ações voltadas para a população adolescente (Brasil, 2016; Baggio, 2018).
Entretanto, revelam-se lacunas quanto às ações de promoção da saúde e prevenção de doenças no contexto do PSE, apontando para práticas de saúde fragmentadas, com abordagem voltadas para: saúde reprodutiva, vacinação, nutrição, entre outros. Apontando, para uma perspectiva que requer uma investigação quantos as reais necessidades de saúde dessa população. Embora as ações de promoção da saúde estejam explícitas nas práticas de saúde do PSE, emerge a necessidade pela diversidade de temáticas como saúde ambiental, permitindo ao adolescente uma compreensão totalizadora quanto aos determinantes sociais da saúde, de modo que possam ser capazes de interferir quanto ao processo saúde-doença (Machado, 2015; Lopes, 2018).
Estudo desenvolvido revela que face às dificuldades de implementação e desenvolvimento de práticas voltadas para promoção da saúde ao adolescente no contexto do PSE, está a não intersetorialidade de setores para o desenvolvimento de ações relativas à saúde do adolescente. O desenvolvimento de práticas promotoras de saúde deve compreender a pluralidade e complexidade dos elementos que relacionados ao processo saúde-doença (Brasil, 2017).
A atenção à saúde brindada ao público adolescente expressa a necessidade de rompimento de uma visão reducionista e assistencialista, de modo, a considerar o adolescente não apenas como um gerador de problemas, mas com potencialidades para a construção de um sujeito com capacidade de transformação quanto a sua condição de saúde (Shacfer, 2018).
Nota-se, nos resultados, a necessidades de práticas de educação em saúde que abordem conteúdos que transversalizam a interrelação entre saúde e meio ambiente. Na perspectiva de o adolescente reconhecer o objeto saúde de forma polissêmica e multidimensional sobre as intervenções que o meio ambiente ocasiona no processo saúde-doença (Ventura, 2020).
Infere-se como limitação do estudo, apontam-se o tamanho da amostra durante a realização das entrevistas no processo de levantamento dos dados para elaboração da cartilha, decorrente da pandemia da COVID-19 e a escassez de estudos relacionados a temática abordada. Assim, a divulgação dos resultados do estudo poderá a reduzir essa lacuna.
Faz-se necessário avançar quanto à concepção da relação saúde e meio ambiente, como forma de produzir reflexões capazes de produzir o desenvolvimento de práticas em saúde de acordo com os pressupostos da promoção da saúde. De modo, a superar o modelo biomédico, ainda presente de forma camuflada nas políticas e programas voltados para a saúde do adolescente, caracterizadas por uma assistência preventivista, impossibilitando a implementação de práticas promotoras de saúde.
Conclusão
O estudo reuniu percepções de adolescentes sobre a relação saúde e meio ambiente no contexto escolar. Observou que essa temática se encontra relacionada a temas como poluição, desmatamento, mudanças climáticas como fatores que interferem no processo saúde-doença, que a conceituação de saúde é apontada como ausência de doença.
Destaca-se a necessidade de práticas de educação em saúde com temas transversais e pluralistas, para que essa população possa reconhecer o meio ambiente como um espaço vivo, que os danos causados sofridos podem materializar uma relação de causa e efeito para o processo saúde-doença.
Nessa perspectiva, tornam-se importantes discussões e reflexões como forma de inserção da temática na formação de adolescentes, de modo a favorecer estratégias e ampliação de ações em educação ambiental.