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Revista de Enfermagem Referência
versão impressa ISSN 0874-0283
Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.6 Coimbra set. 2015
https://doi.org/10.12707/RIV14071
ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO
Enfermagem portuguesa: análise da produção e divulgação do conhecimento através de repositórios institucionais
Portuguese nursing: analysis of knowledge production and dissemination through institutional repositories
Enfermería portuguesa: análisis de la producción y difusión del conocimiento a través de repositorios institucionales
Leonel São Romão Preto*; Matilde Delmina da Silva Martins**; Manuel Alberto Morais Brás***; Maria Helena Pimentel****; Cayetano Fernández-Sola*****
* Ph.D, Professor Coordenador, Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança, 5300-121, Bragança, Portugal [leonelpreto@ipb.pt]. Contribuição no artigo: Análise estatística e redação do texto. Morada para correspondência: Vale Chorido, Rua Senhor dos Perdidos, Lote 101.5300-392, Bragança, Portugal.
** Ph.D, Professora adjunta, Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança, 5300-121, Bragança, Portugal [matildemartins@ipb.pt]. Contribuição no artigo: Recolha de dados.
*** Ph.D, Professor adjunto, Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança, 5300-121, Bragança, Portugal [manuel-bras@ipb.pt]. Contribuição no artigo: Recolha de dados.
**** Ph.D, Professora Coordenadora, Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança, 5300-121, Bragança, Portugal [hpimentel@ipb.pt]. Contribuição no artigo: Conceção da pesquisa e revisão.
***** Ph.D, Profesor contratado doctor, Universidad de Almería, departamento Enfermería, Fisioterapia y Medicina, 04120, Almería, España [cfernan@ual.es]. Contribuição no artigo: Revisão e tradução do resumo.
RESUMO
Enquadramento: A enfermagem baseia as suas práticas no raciocínio analítico e na melhor evidência disponível. Os repositórios institucionais acrescentam uma nova dimensão à gestão da informação.
Objetivos: Analisar a produção e divulgação do conhecimento em enfermagem a partir de trabalhos científicos arquivados em repositórios institucionais de acesso livre.
Metodologia: Estudo descritivo e documental cuja informação foi obtida através de 17 repositórios com comunidades, coleções ou publicações relacionadas com enfermagem. Analisámos o número e tipo de documentos, ano de publicação, número de autores, áreas de pesquisa e palavras-chave.
Resultados: Dos 1738 documentos selecionados (31,2%) eram artigos não indexados; (30,3%) dissertações de mestrado; (4,1%) teses de doutoramento; (2,4%) livros; (5,5%) capítulos de livros e (8,5%) artigos indexados. Em média, a partir de 2006, os trabalhos publicados tinham um maior número de autores. Observámos um aumento significativo da produção científica (70,7%) entre 2010-2014.
Conclusão: Os resultados indicam aumento da produtividade científica. Em termos de difusão do conhecimento sugere-se a publicação em revistas indexadas e posterior arquivo em repositórios institucionais.
Palavras-chave: pesquisa em enfermagem; acesso à informação; bibliometria; base de dados.
ABSTRACT
Theoretical framework: Nursing bases its practices in analytical reasoning and the best evidence available. Institutional repositories add a new dimension to information management.
Objectives: To analyze the production and dissemination of nursing knowledge by scientific papers stored in institutional repositories of open access.
Methodology: Descriptive and documental study with data collected at 17 institutional repositories that have communities, collections or publications related to nursing. We analyzed the number and type of documents, year of publication, number of authors, research areas and keywords.
Results: In 1738 documents, we found: articles published in journals not indexed (31.2%); master's dissertations (30.3%); doctoral theses (4.1%); books (2.4%); book chapters (5.5%) and articles not indexed (8.5%). Since 2006, on average, published papers had a higher number of authors. We observed a significant increase in scientific production (70.7%) between 2010-2014.
Conclusion: The results show an increase in scientific productivity. As for the diffusion of knowledge we suggest the publication in indexed journals, and subsequent self-archiving in institutional repositories.
Keywords: nursing research; access to information; bibliometrics; databases.
RESUMEN
Marco contextual: La enfermería basa sus prácticas en el pensamiento analítico y las mejores pruebas disponibles. Los repositorios institucionales añaden una nueva dimensión a la gestión de la información.
Objetivos: Analizar la producción y difusión del conocimiento en enfermería a partir de trabajos científicos registrados en repositorios institucionales de acceso abierto.
Metodología: Estudio descriptivo y documental con datos obtenidos en 17 repositorios con comunidades, colecciones o publicaciones relacionadas con la enfermería. Se analizó el número y tipo de documentos, el año de publicación, el número de autores, las áreas de investigación y las palabras clave.
Resultados: De los 1.738 documentos seleccionados, el (31,2%) eran artículos no indexados; el (30,3%) trabajos de fin de máster; el (4,1%) tesis doctorales; el (2,4%) libros; el (5,5%) capítulos de libros y el >(8,5%) artículos indexados. De media, a partir de 2006, los trabajos publicados tenían un mayor número de autores. Se observó un aumento significativo de la producción científica (70,7%) entre 2010 y 2014.
Conclusión: Los resultados indican un incremento en la productividad científica. Respecto a la difusión del conocimiento, se sugiere publicar en revistas indexadas y, después, registrarlos en repositorios institucionales.
Palabras clave: investigación en enfermería; acceso a la información; bibliometría; base de datos.
Introdução
Considerada tradicionalmente como arte e ciência do cuidar temos vindo a assistir ao longo das últimas décadas ao desenvolvimento da enfermagem enquanto disciplina do conhecimento que assenta as suas práticas no raciocínio analítico e na melhor evidência científica disponível. Neste sentido a investigação em enfermagem contribui para a criação de um corpo epistemológico próprio, para a melhoria dos cuidados e avaliação dos resultados em saúde (Estabrooks, Winther, & Derksen, 2004).
No campo da investigação, contudo, e conforme salienta Rodrigues (2009), o conhecimento científico só o é verdadeiramente quando se transforma em interconhecimento (Rodrigues, 2009). A difusão dos resultados dos projetos e a publicação de investigação com significativo impacto torna-se pois fundamental, já que a comunicação, a partilha e a aplicação do conhecimento constituem processos inerentes ao fazer ciência (Leite & Costa, 2006; Rodrigues, 2009).
No domínio da enfermagem grande parte da investigação publicada provém de instituições de ensino superior (ou centros de investigação associados), derivando a restante dos contextos da prática clínica (Dyniewicz, 2010; Sampaio, Carvalho, Araújo, & Rocha, 2014). Pesquisas internacionais, usando técnicas bibliométricas e bases de dados eletrónicas, apontam para um incremento da produtividade desde o início da década de 1990 (Estabrooks et al., 2004). Tem-se assistido a um aumento médio do número de autores por artigo, maior colaboração internacional nos estudos, maior número de referências listadas e uma tendência à publicação em revistas com maior fator de impacto (Huang, Ho, & Chuang, 2006).
Para o crescimento e visibilidade da profissão de enfermagem é relevante conhecer quantitativa e qualitativamente a sua produção científica (Dyniewicz, 2010). Nesta linha, a análise das tendências da ação investigativa poderá traduzir as inquietações sobre o modo como os enfermeiros têm vindo a enfocar e a responder aos problemas inerentes ao cuidar.
O principal objetivo deste estudo consistiu em analisar a produção e divulgação do conhecimento em enfermagem a partir de trabalhos científicos arquivados em Repositórios Institucionais (RI) de acesso livre, disponíveis a partir da página web do Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP), e publicados entre 1 de janeiro de 2000 a 30 de junho de 2014.
Enquadramento
Um RI é um sistema de informação que armazena, preserva e disponibiliza cópias digitais da produção intelectual de instituições geradoras de ciência, como é o caso das universidades (Rodrigues, 2004).
Os RI emergiram um pouco por todo o mundo, impulsionados pelo movimento de acesso livre ao conhecimento, e constituem hoje uma plataforma importante na gestão da informação e preservação documental no seio da própria organização, acrescentando uma nova dimensão à gestão da informação global na era da internet (Bhardwaj, 2014). Contribuem ainda para uma maior visibilidade institucional, podendo ser usados como indicadores tangíveis de qualidade e produtividade no ensino e na investigação (Rodrigues, 2004).
Os RI funcionam também como um escaparate científico já que o número de vezes que um trabalho é citado está, de alguma forma, relacionado com o facto de o mesmo estar acessível em formato digital e sem custos acrescidos para os utilizadores. Assim, e na perspetiva de Harnad et al. (2004), os investigadores confrontam-se atualmente com dois caminhos para o open acess. Um deles (via dourada) consiste em publicar em revistas de acesso livre; o outro (via verde) consiste em publicar em revistas de acesso não livre, arquivando depois o resumo do trabalho, ou o artigo completo (quando autorizado) no repositório da sua instituição.
Para a prática baseada na evidência e investigação em enfermagem, o open acess tem uma importância inquestionável. Como nos recorda Nick (2012), nalguns países em vias de desenvolvimento as grandes obras científicas chegam com muitos anos de atraso; e mesmo nos países desenvolvidos pequenas universidades e hospitais não dispõem de orçamentos para enriquecer as suas bibliotecas com periódicos atualizados. Assim, o acesso livre a documentos potencia o aprofundamento dos trabalhos de investigação em enfermagem, a replicação de pesquisas com confrontação, as revisões sistemáticas da literatura e a atualização de diretrizes para a prática clínica (Nick, 2012). O simples facto de aumentar as fontes de informação favorece os métodos de ensino, a aprendizagem do estudante, a capacitação de profissionais na prática clínica, a identificação das melhores evidências e, em última análise, a melhoria dos resultados dos cuidados em saúde (De-la-Torre-Ugarte-Guanilo, Takahashi, & Bertolozzi, 2011).
Se os repositórios temáticos e institucionais concorrem para a divulgação, acessibilidade e preservação da ciência, a sua simples existência, contudo, não responde a uma outra premissa que a ciência deve possuir: a credibilidade. Neste sentido, é importante que os documentos depositados tenham sido alvo de processos de avaliação reconhecidos, ou seja, de orientação ou arbitragem científica. A divulgação dos resultados em publicações com revisão por pares é essencial para sustentar padrões de qualidade de cuidados, desenvolver a enfermagem avançada e as práticas baseadas em evidências (Christenbery, 2011).
Os estudos de natureza bibliométrica possibilitam obter uma visão da atividade científica de uma disciplina num determinado contexto geográfico propiciando, por exemplo, dados objetivos à tomada de decisão aos gestores da política científica dessa área do saber (Donato & Oliveira, 2006). Torna-se assim importante compreender, em linha com o objetivo desta pesquisa, que tipos de documentos científicos são produzidos nas diversas áreas de atividade de enfermagem, o número de autores associados, a forma como os documentos foram publicados e quais as áreas investigacionais dominantes.
Questões de investigação
Os seguintes enunciados interrogativos serviram de guia orientador a este trabalho: Qual o tipo de documentos científicos mais frequentemente produzidos, entre 2000 e 2014, na área de enfermagem e arquivados em RI?; Qual a tipologia dos estudos e as áreas técnico-científicas dominantes?; Quantos autores, em média, se encontram afiliados aos documentos científicos, especificamente aos artigos indexados ao ISI e/ou Scopus?; Quais as palavras-chave mais frequentemente usadas?; Os textos publicados foram alvo de orientação ou arbitragem científica?
Metodologia
Tendo em conta o objetivo do trabalho e as questões de investigação desenhámos uma pesquisa documental e um estudo de natureza quantitativa e descritiva.
Acedeu-se aos RI de hospitais, escolas superiores de enfermagem, escolas superiores de saúde, institutos politécnicos e universidades portuguesas com departamentos e publicações na área de enfermagem. Os dados foram recolhidos entre julho e setembro de 2014, tendo como ponto de partida a página web do diretório do projeto RCAAP, acessível no seguinte endereço eletrónico: http://www.rcaap.pt/directory.jsp. Deste modo, o primeiro critério de inclusão foi os RI estarem alojados no RCAAP não sendo consideradas as bibliotecas institucionais não alojadas nessa plataforma. Encontrámos 76 repositórios filiados no RCAAP, cumprindo 17 deles com o segundo critério de inclusão: os RI apresentarem, nas suas comunidades e coleções, publicações científicas na área de enfermagem.
Os 17 RI selecionados apresentavam um total de 5658 documentos depositados em suas comunidades e coleções relacionadas com enfermagem. Com o objetivo de limitar a análise à produção científica relevante, e em linha com o preconizado por Ferreiro-Aláez (1993) e de Umbelino (2009), estabeleceu-se um terceiro critério de inclusão: considerar apenas os artigos publicados em revistas, dissertações de mestrado, teses de doutoramento, resumos e artigos completos publicados em livros de atas de conferências, capítulos de livros, livros e relatórios técnico-científicos (n= 1754). Ficaram deste modo excluídos da análise, por não cumprirem o terceiro critério de inclusão 3904 documentos como sejam as monografias conducentes à atribuição do grau de licenciado, os relatórios de estágio (quando não conducentes ao grau de mestre), as comunicações orais e em formato póster em conferências, as moderações de debate e as lições académicas, as publicações pedagógicas e os trabalhos de provas públicas.
Com o objetivo de limitarmos a análise à informação com maior atualidade, foi aplicado um quarto critério de inclusão aos 1754 documentos selecionados: considerar apenas as publicações posteriores ao ano 2000. Com base neste quarto critério excluímos 16 documentos publicados anteriormente a essa data.
Deste modo encontrámos 1738 documentos publicados entre 1 de janeiro de 2000 e 30 de junho de 2014; os quais identificámos através do seu URI (Uniform Resource Identifier) e analisámos tendo em conta as seguintes variáveis: tipo de documento, ano de publicação, número de autores, palavras-chave e informação sobre arbitragem científica. Estes dados são geralmente apresentados aquando da abertura de um documento em repositório, dadas as similitudes de construção que as diversas páginas institucionais apresentam entre si.
Para além das variáveis supracitadas tivemos igualmente em atenção a tipologia dos estudos e a área científica de enfermagem em que os mesmos foram desenvolvidos.
A variável tipo de estudo foi operacionalizada atendendo às seguintes categorias: teorias e revisões integrativas; investigação e estudos de caso. Na primeira categoria foram incluídos trabalhos de natureza teórica ou conceptual, revisões da literatura e revisões integrativas. Na categoria investigação foram incluídos trabalhos que usaram metodologia quantitativa ou qualitativa, estudos de revisão sistemática e de metanálise. Nos estudos de caso foram incluídos trabalhos sobre uma situação clínica especifica e relatos da aplicação do processo de enfermagem a um indivíduo/ família.
Na classificação dos documentos por área científica tivemos em conta as seis áreas tradicionais de especialização da enfermagem em Portugal: Enfermagem Médico-Cirúrgica; Enfermagem de Reabilitação; Enfermagem na Comunidade; Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica e Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica. A opção por este critério classificativo deve-se ao facto de muitas escolas de enfermagem subdividirem desta forma as suas coleções em repositório. Porém, durante a análise dos documentos, cedo sentimos a necessidade de acrescentar a este modelo operativo duas novas categorias que expressassem de forma mais fidedigna alguns temas trabalhados, a saber: Administração; Políticas de saúde; Gestão de cuidados e Enfermagem fundamental e educação; Formação e supervisão clínica; Ética e deontologia.
Na distribuição por tipo de estudo e área científica foram analisados os títulos e abstracts dos documentos e, em casos de dúvidas, procurou-se examinar a publicação na íntegra, minimizando possíveis vieses, e catalogando os documentos nestas variáveis, por consenso, após reunião dos autores do presente trabalho.
Relativamente aos artigos científicos publicados em revistas os diferentes repositórios consultados apresentam entre si algumas disparidades relativamente à sua categorização. De facto, muitas bibliotecas classificam-nos em nacionais e internacionais; outras em indexados ou não indexados na Medline; e outras ainda simplesmente não os classificam. Por opção metodológica, a nossa estratégia passou por distribuir este tipo de documentos em duas categorias: artigos em publicações indexadas ao ISI Web of Knowledge e/ou indexadas na Scopus e artigos não indexados a estas bases. A opção por estes dois indexadores deveu-se ao facto dos mesmos serem amplamente reconhecidos pela Fundação de Ciência e Tecnologia portuguesa. Foi assim necessário aceder às plataformas digitais dessas bases de dados e confirmar a indexação dos artigos às mesmas.
A informação obtida através das diversas fontes consultadas (RCAAP, RI, páginas Web of Science e Scopus) foi extraída sucessivamente para um ficheiro criado no programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 20.0. Em termos de tratamento e apresentação dos resultados recorremos aos métodos clássicos da estatística descritiva.
Resultados
Na Tabela 1 constam os 17 RI objeto de consulta e o número de documentos encontrados em cada um deles. Destaca-se o Repositório Científico da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, responsável por 34,3% dos registos; a Biblioteca Digital do Instituto Politécnico de Bragança (15,6%) e o Repositório Científico do Instituto Politécnico de Viseu (15,1%).
O tipo de documento científico mais frequentemente encontrado foi o artigo publicado em revistas não indexadas ao ISI e/ou Scopus (n=542). Analisando a tendência por períodos, concluímos por um crescimento sustentado ao longo do tempo relativamente à publicação dos enfermeiros portugueses neste tipo de revistas (Tabela 2).
Ainda de acordo com a Tabela 2, até 30 de junho de 2014, estavam arquivadas em comunidades e coleções relacionadas com a enfermagem de repositórios open access 526 dissertações de mestrado. Observámos uma tendência de crescimento exponencial do número de trabalhos conducentes ao grau de mestre disponibilizados durante o período 2010-2014.
Os resumos em atas de conferências (n=165) publicaram-se na sua quase totalidade a partir de 2010 (n=149). Resultados muito semelhantes foram obtidos para os artigos completos em livros de atas.
Quanto aos artigos em revistas indexadas, encontrámos apenas um registo no período 2000-2004, foram publicados 33 no quinquénio seguinte, atingindo um número bastante superior a partir de 2010 (n=114).
Os capítulos de livro e os livros representaram respetivamente 5,5% e 2,4% dos documentos. As teses de doutoramento contribuíram para 4,1% do total de registos.
Após leitura do título e resumo dos documentos distribuíram-se os mesmos de acordo com a tipologia dos estudos (Tabela 3). Evidencia-se uma percentagem significativa de trabalhos de investigação (63,7%), em segundo lugar situam-se os trabalhos teóricos e as revisões integrativas da literatura (35,0%) e finalmente os estudos de caso (1,3%).
Relativamente ao número de autores afiliados aos trabalhos, os mesmos variaram de um mínimo de 1 até um máximo de 12 autores, predominando os trabalhos publicados de forma individual, independentemente da tipologia dos estudos.
A Figura 1 apresenta a média do número de autores nos trabalhos depositados nos RI desde o ano 2000 até ao presente. Em termos médios, os enfermeiros publicavam de forma individualizada no início do século, invertendo-se essa situação em 2006 onde a tendência passou a ser publicar mais em forma de co-autoria.
Quanto ao contexto de desenvolvimento dos trabalhos (Tabela 4) obtivemos uma percentagem relativa que variou entre os 5,9% na área da Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica e os 11,6 na área da Enfermagem na Comunidade. A categoria Administração. Políticas de saúde. Gestão de cuidados e Enfermagem fundamental foi aquela que obteve maior percentagem de observações (22,9%).
Na Figura 2 apresentam-se as dez palavras-chave que mais frequentemente foram encontradas nas publicações. A palavra-chave mais recorrente foi Enfermagem, com 130 registos. O termo Cuidados de enfermagem obteve 61 repetições. A palavra-chave Enfermeiros foi observada 56 vezes, seguida de Família (55 repetições) e Idosos (47 repetições). Finalmente os descritores Dor e Envelhecimento obtiveram ambos 30 registos.
De referir ainda que dos 1738 documentos encontrados 93,8% tiveram orientação científica (caso das dissertações e teses de mestrado) ou foram publicados após revisão por pares.
Discussão
Dos 17 RI visitados, apenas quatro diziam respeito a hospitais ou centros hospitalares, reportando-se os restantes 13 a instituições de ensino superior. Estes achados não nos surpreendem, já que os RI representam uma ferramenta-chave na gestão científica e académica das universidades. Acreditamos contudo que mais hospitais irão apostar na implementação destas plataformas num futuro próximo, uma vez que estas instituições são potencialmente geradoras de conhecimento e produção científica.
Quanto ao tipo de documentos encontrados, de um modo geral, verificou-se que os investigadores privilegiaram as revistas científicas para publicação dos seus trabalhos, provavelmente porque as revistas constituem um dos principais canais de comunicação, disseminação e legitimação da ciência e da técnica (Leite, 2009; Portugal, Branca, & Rodrigues, 2011). Os artigos indexados representaram pouco mais de 20% do total de artigos publicados em revistas. Um indicador mais animador advém, contudo, da análise comparativa de artigos indexados ao longo do tempo, a qual revelou um forte incremento neste tipo de publicações. Os nossos resultados entroncam com os achados de outros estudos que analisaram a qualidade da produção científica nacional na área da saúde a partir da plataforma Web of Science e relatam taxas de crescimento que variaram desde os 75% (Antunes, 2012), aos 200% a partir de 2000 (Donato & Oliveira, 2006).
Chamamos a atenção para o grande número de teses de doutoramento e dissertações de mestrado acessíveis a consulta, por certo consequência da criação de doutoramentos em enfermagem e da possibilidade, relativamente recente, das escolas poderem propor à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) mestrados em enfermagem. Este tipo de documentos poderá constituir uma mais-valia para a enfermagem portuguesa, quer em termos de visibilidade e ampliação do fluxo de comunicação, produção de novas evidências e formação de novos pesquisadores.
De realçar que os trabalhos de pesquisa predominaram sobre os trabalhos teóricos e os estudos de caso, o que parece indiciar a consolidação dos grandes quadros conceptuais e um predomínio da investigação voltada para os problemas.
Na análise de coincidência de palavras-chave encontrámos como resultados, por ordem decrescente: enfermagem, cuidados de enfermagem, enfermeiros, família, idosos, qualidade de vida, sexualidade, saúde, dor e envelhecimento. Usando como critérios a extração de palavras-chave e sua confrontação com termos MeSH (Medical Subject Headings), Jeong, Ahn, e Cho (2005) encontraram como descritores mais frequentes: depressão, idosos, stress, autoeficácia, qualidade de vida, exercício, mulheres de meia-idade e mulheres.
No nosso estudo, classificados os documentos, concluímos que 59% se agrupavam em categorias relacionadas com áreas de especialização em enfermagem (Enfermagem Médico-Cirúrgica, Enfermagem de Reabilitação, Enfermagem na Comunidade, Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica). Resultados semelhantes foram encontrados num estudo sobre indicadores de investigação na enfermagem irlandesa. Nele, as principais áreas de pesquisa identificadas foram a prática clínica (56%), as questões profissionais (19%) e a educação em enfermagem (25%) (McCarthy, Hegarty, & O'Sullivan, 2006).
O presente estudo apresenta algumas limitações. Ao confinarmos a pesquisa aos RI hospedados no RCAAP somos conscientes que muitos documentos, igualmente importantes, arquivados em outras páginas institucionais ou temáticas, não foram analisados. Para além disso, alguns indicadores bibliométricos de qualidade científica, como o fator de impacto das revistas, ou o número de citações, não foram tidos em conta na análise dos artigos publicados em revistas indexadas.
Conclusão
Apesar das limitações referidas, acreditamos que este trabalho representa um modesto contributo que poderá animar outros colegas na persecução de estudos usando estes e outros indicadores bibliométricos de forma a avaliar o impacto, a atividade e qualidade científica da enfermagem portuguesa.
Ao dar a conhecer informação sobre RI, esta investigação, poderá servir à prática e à investigação, potenciando a consulta dos documentos arquivados nestas bases de dados, bem como incentivar o auto-arquivo de docentes e investigadores.
Os nossos resultados apontam para um crescimento significativo na quantidade de documentos publicados no último quinquénio, em linha com outros estudos realizados. Verificámos ainda uma tendência para o aumento do número médio de autores ao longo dos anos, principalmente no que diz respeito aos artigos indexados. Os resultados relativos aos anos mais recentes sugerem a valorização de parcerias no processo de criação e publicação científica.
Finalmente, uma das principais reflexões que esta investigação nos suscita prende-se com a necessidade de prosseguir na senda da melhoria da produtividade e, sobretudo, da qualidade e difusão da investigação em enfermagem produzida em Portugal. A via de publicar em revistas de reconhecida qualidade e indexadas, bem como o posterior arquivo em RI, salvaguardando os direitos de autor, deve constituir, em nosso entender, o foco preferencial de académicos, investigadores e profissionais da prática clínica.
Referências bibliográficas
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Recebido para publicação em: 14.10.14
Aceite para publicação em: 06.01.15