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Revista de Enfermagem Referência
versão impressa ISSN 0874-0283
Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.10 Coimbra set. 2016
https://doi.org/10.12707/RIV16019
ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO
Comportamento sexual de risco e conhecimento sobre IST/SIDA em universitários da saúde
Risky sexual behavior and knowledge of STIs/AIDS among university health students
Comportamientos sexuales de riesgo y conocimiento sobre las ITS/SIDA en los universitarios de la salud
Willian Barbosa Sales*; Cristiano Caveião**; Angelita Visentin***; Daniela Mocelin****; Priscila Moreira da Costa*****; Eduardo Bolicenha Simm******
* Ph.D., Professor, Centro Universitário Autónomo do Brasil (UNIBRASIL), 82821-020, Paraná, Brasil [sallesbio@hotmail.com]. Contribuição no artigo: coordenação da pesquisa, análise dos dados e discussão, escrita do artigo e aprovação da versão final. Morada para correspondência: Rua Konrad Adenauer, 442 – Tarumã, CEP 82821-020, Paraná, Brasil.
** Ph.D., Enfermeiro, Centro Universitário Autónomo do Brasil (UNIBRASIL), 82821-020, Paraná, Brasil [cristiano_caveiao@hotmail.com]. Contribuição no artigo: análise dos dados e discussão, escrita do artigo e aprovação da versão final.
*** Professor, Centro Universitário Autónomo do Brasil (UNIBRASIL), 82821-020, Paraná, Brasil [angelitavisentin@unibrasil.com.br]. Contribuição no artigo: análise dos dados e discussão, escrita do artigo e aprovação da versão final.
**** Bacharelato, Enfermeira, Centro Universitário Autónomo do Brasil (UNIBRASIL), 82821-020, Paraná, Brasil [pmcdacosta@gmail.com]. Contribuição no artigo: colheita, análise dos dados e discussão, escrita do artigo e aprovação da versão final.
***** Bacharelato, Enfermeira, Centro Universitário Autónomo do Brasil (UNIBRASIL), 82821-020, Paraná, Brasil [pmcdacosta@gmail.com]. Contribuição no artigo: colheita, análise dos dados e discussão, escrita do artigo e aprovação da versão final.
****** Ph.D., Professor, Centro Universitário Autónomo do Brasil (UNIBRASIL), 82821-020, Paraná, Brasil [eduardosimm@unibrasil.com.br]. Contribuição no artigo: análise estatística, escrita do artigo e aprovação da versão final.
RESUMO
Enquadramento: O comportamento sexual de risco esta relacionado com o número de parceiros sexuais, não utilização de preservativos, entre outros fatores.
Objetivo: Caracterizar o perfil dos universitários da área de saúde numa intituição de ensino superior (IES), quanto a aspetos demográficos e sexuais.
Metodologia: Estudo descritivo, prospetivo e transversal com abordagem quantitativa, realizado com 819 universitários da área da saúde. Utilizou-se um questionário com questões sobre aspetos demográficos, conduta sexual e conhecimento sobre IST/SIDA. Adotou-se como comportamento de risco 2 ou mais comportamentos sexuais: não utilização de preservativos, mais de 10 parceiros sexuais, manter relações sob efeito de álcool/drogas e com pessoa pouco ou recentemente conhecida.
Resultados: Setenta e sete vírgula quarenta e um por cento (634) são mulheres e 22,59% (185) homens; com média de idade de 24,4 anos (DP± 6,7), 52% apresentaram comportamento de risco e conhecimento insuficiente sobre IST.
Conclusão: Dos participantes, 52% possuem comportamento de risco sexual, facto que exige desenvolvimento de trabalhos preventivos com esta população, através de atividades educativas, visando consciencialização e diminuição dos riscos para IST.
Palavras-chave: infecções sexualmente transmissíveis; síndrome de imunodeficiência adquirida; estudantes de ciências da saúde; comportamento sexual
ABSTRACT
Background: Risky sexual behaviors are associated with the number of sexual partners, and non-use of condom, among other factors.
Objetive: To identify the profile of health students attending a higher education institution, according to demographic and sexual characteristics.
Methods: This is aprospective, cross-sectional and descriptive study with a quantitative approach using a sample of 819 university health students. We used a questionnaire in order to obtain information on the students' demographic characteristics, sexual behaviors and knowledge of STIs/AIDS. We defined risky behavior as the adoption of 2 or more of the following sexual behaviors: non-use of condom, more than 10 sexual partners, sexual intercourse under the influence of alcohol/drugs, and sexual intercourse with little or recently known person.
Results: The sample was composed of 77.41% (634) of women and 22.59% (185) of men, with a mean age of 24.4 years (SD ± 6.7). Most participants (52%) reported risky behaviors and insufficient knowledge of STIs.
Conclusion: The fact that 52% of the participants reported risky sexual behaviors points to the need for preventive interventions among this population, aimed at raising awareness and reducing the risk of STIs.
Keywords: sexually transmitted infections; acquired immunodeficiency syndrome; students, health occupations; sexual behavior
RESUMEN
Marco contextual: La conducta sexual de riesgo se relaciona con el número de parejas sexuales, no usar preservativo y otros factores.
Objetivo: Caracterizar el perfil de los universitarios del área de la salud en una IES en cuanto a los aspectos demográficos y sexuales.
Metodología: Estudio descriptivo, prospectivo y transversal con un enfoque cuantitativo realizado con 819 estudiantes universitarios del área de la salud. Se utilizó un cuestionario con preguntas sobre aspectos demográficos, conducta sexual y conocimiento sobre las ITS/sida. Se adoptaron como conducta de riesgo dos o más comportamientos sexuales de los siguientes: no usar preservativo, más de diez parejas sexuales, mantener relaciones bajo la influencia de alcohol/drogas y con personas que se conocen poco o hace poco.
Resultados: El 77,41 % (634) son mujeres y el 22,59 % (185) hombres con una edad media de 24,4 años (DE ± 6,7), el 52 % tenía un comportamiento de riesgo y un conocimiento insuficiente sobre las ITS.
Conclusión: El 52 % de los participantes tiene comportamientos sexuales de riesgo, un hecho que requiere que se desarrolle una labor preventiva con esta población a través de actividades educativas dirigidas a concienciar y reducir los riesgos de ITS.
Palabras clave: infeciones de transmisión sexual; síndrome de inmunodeficiencia adquirida; estudiantes del área de la salud; conducta sexual
Introdução
A síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), representa um dos maiores problemas de saúde, desde a sua descoberta na década de 1980. A população de adultos jovens constitui a faixa etária mais suscetível e acometida pela doença. Há uma tendência para aumento da prevalência da SIDA e outras IST (infeções sexualmente tranmissíveis), condutas sexuais relacionadas com o comportamento de risco mantêm-se como principal forma de transmissão do vírus da imunodeficiência humana (VIH; Duarte, Parada, & Souza, 2014, Rocha & Silva, 2014; Flora, Rodrigues, & Paiva, 2013).
O perfil epidemiológico da SIDA tem vindo a mudar ao longo dos anos. Antes predominavam como principais vias de transmissão a sexual (entre homens com práticas homossexuais e profissionais do sexo), a transmissão sanguínea, por meio da transfusão de sangue e hemoderivados e o uso de drogas injetáveis. Na atualidade, predomina a transmissão pelo contato heterossexual em sobreposição ao contato homossexual e, houve um aumento significativo de mulheres infetadas pelo vírus (Duarte et al., 2014; Rocha et al., 2014). A maior incidência da doença entre os hetorossexuais deve-se à diferença entre o número absoluto de hetorossexuais e o número absoluto de homossexuais.
No período de janeiro a junho de 2014, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan NET), 70.677 casos de infeção pelo vírus VIH entre adultos. O departamento de IST/SIDA e hepatites virais estima que há aproximadamente 734 mil pessoas a viver com SIDA no Brasil no ano de 2014, correspondendo a uma prevalência de 0,4% (Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde – Departamento de DST, SIDA e Hepatites Virais, 2013). Dentre esta estimativa, encontra-se a população adulta jovem.
Alguns fatores podem contribuir para que os jovens apresentem comportamentos de risco, um deles que pode ser citado, é quando ingressam em cursos de graduação, pois demonstram mudanças comportamentais, as quais incluem responsabilidades, autonomia financeira, poder de dirigir as suas ações e decisões, maior contacto e oportunidade de uso de álcool, drogas e prática de sexo inseguro. Consequentemente, tornam-se mais vulneráveis às IST/SIDA, considerando que vulnerabilidade envolve componentes individual, social e programático (Campo-Arias, Ceballo, & Herazo, 2010; Santos & Oliveira, 2009).
Frente às mudanças comportamentais dos jovens que ingressam na universidade, é de extrema relevância a análise de como conduzem a sua vida sexual e o conhecimento sobre as IST. Sendo este um fator importante para o desenvolvimento de trabalhos preventivos entre os jovens, há necessidade de convencer a população académica de que qualquer pessoa está sujeita à contaminação por IST/SIDA. Nesse sentido, definimos como objetivo da presente investigação: caracterizar o perfil dos universitários da área de saúde numa instituição de ensino superior (IES), quanto a aspetos demográficos e sexuais.
Enquadramento
Os comportamentos de risco estão relacionados com: número de parceiros sexuais, não uso de preservativo e/ou métodos anticoncecionais; manter relação sexual sob efeito de álcool e/ou drogas e com pessoa pouco ou recentemente conhecida, com variáveis familiares e culturais, as quais influenciam as características de personalidade que estão a ser construídas (Campo-Arias et al., 2010; Falcão et al., 2007; Mehra, Kyagada, Ostergren, & Agardh, 2014; Santos & Oliveira, 2009).
A componente individual diz respeito às informações de que os indivíduos dispõem sobre o problema; à capacidade de incorporá-las no quotidiano de preocupações, às suas crenças, desejos, religião e às possibilidades efetivas de transformar essas preocupações em práticas. A segunda componente, o social, refere-se a fatores culturais, relações de trabalho, relações gerenciais, relações geracionais, questões de género, acesso a bens e a meios de obtenção de informações. A componente programática diz respeito ao acesso às políticas públicas de saúde e educação, possibilitando a proteção e o controle de IST e VIH/SIDA (Campo-Arias et al., 2010; Barbosa, Garcia, Manzato, Martins, & Vieira 2006; Santos & Oliveira, 2009).
As IST são transmitidas principalmente por contacto sexual, sem o uso de preservativo, com uma pessoa que esteja infetada, e partilha de seringas e agulhas no uso de drogas injetáveis. As principais IST são: SIDA, cancro mole, clamídia, gonorreia, condiloma (HPV – papilomavírus humano), doença inflamatória pélvica (DIP), donovanose, hepatites virais, herpes, infeção pelo vírus T-linfotrópico humano (HTLV), linfogranuloma venéreo, sífilis e tricomoníase (Martins et al., 2006). Estima-se que a cada ano quatro milhões de jovens se tornam sexualmente ativos e, com isso, vulneráveis às IST, sendo cerca de 12 milhões de casos registrados a cada ano em jovens com idade inferior a 25 anos (Barbosa et al., 2006; Sousa, Sousa, Lopes, & Rodrigues, 2011).
Questão de Investigação
Qual a associação entre o padrão de comportamento de risco e o nível de informação sobre IST/SIDA entre universitários da saúde?
Metodologia
Este é um estudo descritivo, prospetivo e transversal com abordagem quantitativa desenvolvido numa IES privada do Brasil, com universitários da área de saúde dos cursos de enfermagem, biomedicina, educação física, farmácia, nutrição, fisioterapia e psicologia. A população do estudo foi de 995 universitários que estavam matriculados nos cursos em 2015. Foram entrevistados 946 universitários da área de saúde, descartaram-se 127 questionários, sendo 62 por não terem iniciado a vida sexual e 65 por preenchimento inconsistente. A amostra composta por 819 universitários.
Para a colheita dos dados, os participantes responderam a um questionário, adaptado da pesquisa de conhecimento, atitudes e práticas na população brasileira do Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde – Departamento de DST, SIDA e Hepatites Virais (MS, 2011) e, pesquisa sobre comportamento de risco com jovens, realizada em 2010 (Campo-Arias et al., 2010), contendo 31 questões sobre aspetos demográficos, conduta sexual, aspetos relacionados à saúde e conhecimento sobre IST/SIDA. O questionário não passou por processo de validação pelos pesquisadores, pois já é validado pelos autores.
A colheita de dados ocorreu nos meses de junho a setembro de 2015, após a assinatura do TCLE (termo de consentimento livre e esclarecido), durante o intervalo das aulas, na sala de aula, para os universitários que aceitarem participar. O preenchimento do questionário durou aproximadamente 10 minutos.
Foram incluídos no estudo os universitários da área de saúde (enfermagem, biomedicina, educação física, farmácia, nutrição, fisioterapia e psicologia), matriculados nos cursos em 2015, que responderem já ter mantido alguma relação sexual e questionário respondido por completo. Foram excluídos do estudo os universitários que responderem no questionário que não tiveram relações sexuais, que não preencherem o questionário por completo e os que não concordaram em participar do estudo através do TCLE.
Definiu-se como comportamento de risco os académicos que relataram dois ou mais comportamentos sexuais de risco, durante a vida, entre cinco possíveis opções: uso inconsistente de preservativos; mais de 10 parceiros sexuais; relações sexuais depois do consumo de álcool; relações sexuais depois do consumo de alguma substância ilegal; e relação com pessoa pouco, ou recentemente, conhecida. Foram considerados os critérios de risco descrito no estudo de Campo-Arias et al. (2010).
Os dados foram introduzidos e processados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 22.0, recorrendo à análise estatística e descritiva dos mesmos, assim como o cruzamento de variáveis de forma a encontrar relações entre as mesmas. Foram calculadas a frequência, média e desvio padrão para relacionar o comportamento sexual e nível de conhecimento sobre IST/SIDA. Utilizou-se o p valor < 0,05 para avaliar a significância entre os resultados e o teste Qui Quadrado por ser o indicado para análise quantitativa dos dados.
O estudo foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Autónomo do Brasil, sob parecer 44365115.9.0000.0095. Seguiram-se os princípios éticos da Resolução 466/12 que dispõe sobre pesquisa com seres humanos.
Resultados
A amostra é constituída por 819 universitários, sendo 77,41% (634) mulheres; média de idade de 24,4 anos (DP± 6,7). Em relação à orientação sexual, 97,1% (795) afirmam ser heterossexuais, 1,8% (15) bissexuais e 1,1% (9) homossexuais. A maioria dos entrevistados, 67,8% (555) possui renda familiar de 1 a 4 salários mínimos, 25,9% (212) de 5 a 9 salários mínimos e 6,3% (52) com renda acima de 10 salários mínimos.
Na Tabela 1, está representado o número de participantes por género, a média de idade e inicio da vida sexual por curso.
Em relação aos hábitos de vida, 91,8% (752) não fumam, 8,2% (67) declaram ser fumadores, 72,8% (596) referiram nunca terem fumado e 27,2% (223) já fumaram alguma vez na vida; na questão sobre consumo de bebida alcolica, 50,2% (411) responderam fazer uso. Referente ao uso de drogas, 7% (57) fazem uso e 93% (762) não, e destes, 23,2% (190) já fizeram uso de drogas ilícitas. Quando perguntados sobre problema de saúde congénito, 2% (16) possuem problema congènito; 62,1% (509) realizam exames médicos periodicamente e 310 não realizam. Quanto às medicações de uso contínuo, 81,80% (670) não fazem uso.
Na Tabela 2 estão descritos os métodos contracetivos ou preventivos utiizados.
Dentre as doenças mais conhecidas pelos universitários, a SIDA foi a mais citada com percentual de 98,16% (804). As IST que os universitários conhecem o que é estão representadas na Tabela 3.
Na Tabela 4, esta descrito o percentual de universitários que apresentam comportamento de risco por curso.
Na Tabela 5, está descrito o percentual de respostas sobre conhecimento das IST por grupo de risco e resultado do teste Qui-Quadrado para comparação dos grupos. Foi perguntado ao universitário se ele conhece o que é a IST.
Na Tabela 5 apresenta-se o resultado do cruzamento de dados sobre o comportamento de risco e o conhecimento sobre cada IST, foi utilizado o valor < 0,05) para avaliar se houve diferença significativa entre o conhecimento sobre IST e o comportamento de risco. Observa-se que não houve diferença significativa entre os grupos com comportamento de risco e sem risco no conhecimento das doenças.
O uso de preservativo entre os universitários em todas as relações foi de 19,29% (158) em mulheres e 3,90% (32) em homens. Quando questionados sobre a utilização de preservativos na última relação 14,40% (118) mulheres utilizaram o preservativo, 3,41% (28) afirmam a utilização como método contracetivo. Os que já contraíram alguma IST foram 2,07% (17) das mulheres, destas 100% (17) fizeram tratamento. Quanto à realização de exames sorológicos em consultas de rotina o percentual foi o mesmo para teste rápido de VIH e hepatites/VDRL, 62% (508).
Discussão
Foi possível caracterizar o perfil dos universitários da área de saúde numa universidade, quanto a aspetos demográficos, sexuais, e a relação entre comportamento de risco e conhecimento sobre IST. A maioria dos participantes deste estudo foram mulheres, com média de idade de 24,4 anos, com hábitos de vida saudáveis, que relataram ter de 1 a 3 parceiros sexuais, sendo o início da vida sexual com média de 16,66 anos, utilizam preservativo e pílula como principal método contracetivo, apenas as mulheres afirmaram já ter contraído alguma IST.
No seu estudo, Moghaddam, Mashadi, Fathimoghadam, & Pourafzali (2015), entrevistou 590 estudantes de ensino superior do Irã, dos quais 71,4% eram do sexo feminino; em concordância com o estudo realizado por Barbosa et al. (2006), com 888 estudantes do ensino superior, 650 (75,3%) são do sexo feminino, estes dados assemelham-se a este estudo que apresentou índice de 77,41% de mulheres nos cursos da área de saúde, observando o predomínio das mulheres no ensino superior. Em divergência com os achados nestes estudos, observamos no estudo de Campo-Arias et al. (2010), o predomínio do sexo masculino com 78,2%, porém foram entrevistados estudantes do ensino médio. Estes dados mostram a realidade do país em relação ao ensino superior, conforme o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013, 55,5% dos matriculados nas IES são mulheres, e dos alunos concluintes, 59,2% são mulheres, concordando com este estudo.
A média de idade dos participantes deste estudo foi de 24,36 anos, concordando com estudo de Barbosa, no qual os participantes tinham média de idade de 24,2 anos (Barbosa et al., 2006). Em outros estudos sobre o tema, a média de idade foi de 20,8 (Moghaddam et al., 2015) e 14,8 (Campo-Arias et al., 2010). Em relação ao género, predominam os heterossexuais neste estudo com 97,06% dos participantes, de acordo com o índice de 95,9% descrito em outro estudo (Barbosa et al., 2006). Dados relacionados com os homossexuais e bissexuais são divergentes num outro estudo, no qual 2,4% são homossexuais e 1,7% são bissexuais (Barbosa et al., 2006), com isso percebe-se um aumento na opção sexual de bissexualismo em relação ao homossexualismo neste estudo, com percentual de 1,83% de bissexuais e 1,09% de homossexuais.
Em estudo 35% dos estudantes, incluindo 21 homens e 7 mulheres, declararam ter uma experiência sexual com pessoa do mesmo sexo (Moghaddam et al., 2015). Em relação à idade de início da vida sexual, os resultados deste estudo assemelham-se com o estudo de Sant' Anna, Carvalho, Passarelli, e Coates (2008), onde a média de idade foi aos 17 anos.
Os métodos contracetivos mais citados nos estudos foram o preservativo masculino e a pílula anticoncecional (Oliveira, Oliveira, Pita, & Cardoso, 2009; Barbosa et al., 2006) o que representou a maioria também neste estudo utilizados por 34,18% e 46,27, respetivamente. Em outro estudo os resultados são convergentes, onde o preservativo foi citado por 27% e a pílula por 22,5% (Silva, Camargo, & Iwamoto, 2014). Outro método citado por muitos estudantes foi o coito interrompido (Barbosa et al., 2006). Neste estudo foi citado por 1,22% dos participantes, método que oferece risco para transmissão de IST e gestação indesejada.
Em relação ao início da vida sexual, um estudo identificou uma média de 17 anos (Barbosa et al., 2006), outro de 18 anos (Moghaddam et al., 2015); a média de 16,7 anos para a primeira relação foi relatado por Gubert et al. (2013) e, neste estudo os universitários iniciaram a vida sexual com média de idade de 16,6 anos, o que está em conformidade com dados descritos na literatura para estudantes de ensino superior. Os universitários do curso de enfermagem iniciam a vida sexual antes dos demais cursos, sendo os de biomedicina e fisioterapia os que iniciam posterior. Até ao momento, não se evidenciam estudos publicados sobre a relação entre idade da primeira relação sexual e os cursos de graduação.
Quanto aos hábitos de vida, os universitários foram questionados sobre fumo, bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. Em estudo 41% já fumaram, 92,3% já fizeram uso de bebida alcoólica e, 8% já usaram drogas ilícitas (Campo-Arias et al., 2010), neste estudo somente o índice de uso de drogas é maior, em 23,2% dos entrevistados.
O conhecimento sobre SIDA, gonorréia, herpes, hepatites e sífilis é relatado por mais de 90% da amostra de estudantes universitários em outro estudo (Barbosa et al., 2006), de acordo com dados apresentados, embora sendo um percentual considerado baixo de conhecimento para universitários da área de saúde. Os estudantes possuem pouco conhecimento sobre VIH/SIDA sendo, portanto, vulneráveis à doença e a imaginarem como algo distante de si (Souza, 2007).
Um ponto importante discutido entre vários autores é o uso do preservativo para prevenção das IST: o uso é inconsistente, somente em 33,7% dos estudantes (Campo-Arias et al., 2010); 33,4% não utilizaram preservativo na última relação, e que a utilização de preservativo é mais frequente no género feminino, 72,2 % dos entrevistados e, 50% do total não utilizou em todas as relações (Oliveira et al., 2015). Ainda se realça que jovens entre 14 e 19 anos, não utilizaram o preservativo em todas as relações sexuais, 73,9% dos homens e 67,1% das mulheres (Rocha & Silva, 2014; Oliveira et al., 2009).
Destaca-se que, quando comparado com a literatura, os universitários possuem conhecimento adequado sobre as IST, no entanto não utilizam preservativos em todas as relações sexuais, este comportamento demonstra que deter o conhecimento não garante uma prática sexual sem risco (Rocha & Silva, 2014). Frente aos achados no estudo, os universitários possuem comportamento de risco, pois não fazerm o uso do preservativo em todas as relações sexuais.
Neste estudo o índice de uso de preservativos, tanto em todas as relações quanto na última relação sexual, foi maior em mulheres em contradição com Mehra et al. (2014), o estudo mostra que as mulheres apresentaram maior prevalência (50%) de uso inconsistente do preservativo do que os homens (37%; Falcão et al., 2007). Há, ainda evidências de uma simetria entre homens e mulheres quanto ao uso inconsistente do preservativo (Souza et al., 2011).
Neste estudo, mais da metade dos universitários (52%) apresentaram comportamento de risco sexual. Em virtude de tratar-se de um estudo com estudantes da área de saúde, presume-se que este índice seria menor. A relação entre comportamento de risco e conhecimento sobre IST demonstra que, apesar de conhecerem às doenças as quais todos estão vulneráveis, não praticam ações preventivas. Um dos fatores de risco é o consumo de álcool e/ou drogas antes das relações sexuais, pois estas substâncias provocam aumento da libido sexual e diminuição do poder de raciocínio. O índice de estudantes que já utilizaram álcool ou outras drogas antes de ter relações sexuais foi maior do que em outros estudo, 73,9% dos homens e 67,1% das mulheres (Rocha & Silva, 2014); 18,4% dos jovens que referiram ter relações sexuais após o consumo de álcool e, 5,8% após o consumo de drogas ilícitas (Campo-Arias et al., 2010). A prevalência de consumo de álcool antes da relação sexual foi de 16% entre os homens e 9% entre as mulheres (Moghaddam et al., 2015). Outro fator de risco é manter relações com pessoas pouco ou recentemente conhecidas, os índices estão de acordo com o estudo de Campo-Arias et al. (2010), dos quais 40% da amostra tiveram relações sexuais com uma pessoa pouco conhecida; em outro estudo este índice foi menor, com 5,2% (Oliveira et al., 2015).
Em estudo, o número de parceiros entre os estudantes variou de 1 a 15 durante toda a sua vida sexual (Dessunti & Reis, 2012). A multiplicidade de parceiros sexuais também é um fator de risco para IST, os índices chegam a aproximadamente 40% dos jovens (Mehra et al., 2014; Moghaddam et al., 2015). Neste estudo, foram contabilizados 8% dos jovens que responderam ter de oito a 10 parceiros sexuais.
Considera-se a possibilidade de viés nos resultados, pois os participantes podem mentir ou omitir informações relevantes devido à privacidade do tema. Isso não invalida o estudo e deve levar-se em conta um fator limitante pelo fato de não ter sido questionado sobre estado civil dos entrevistados, pois nos demais estudos não há este questionamento.
Conclusão
Este estudo foi importante para identificar o perfil dos universitários da área da saúde quanto ao comportamento sexual de risco. Destaca-se um índice elevado de 52% em relação ao comportamento de risco sexual nos universitários. Não houve diferença significativa entre o grupo que apresentou e o que não apresentou comportamento de risco e a relação com o conhecimento das IST, o que demonstra que deter o conhecimento sobre as IST (práticas de risco) não são suficientes para diminuir o índice das doenças. Outro facto que chamou a atenção, assim como em outros estudos, é o uso inconsistente do preservativo, facto que exige desenvolvimento de trabalhos preventivos com esta população, através de atividades educativas, visando consciencialização e diminuição dos riscos para IST. Os universitários demonstraram ter um bom conhecimento sobre VIH/SIDA, sífilis, HPV e herpes, nas demais IST apresentaram um nível insuficiente de conhecimento, porém não utilizam o preservativo como método de prevenção, indicando vulnerabilidade dos mesmos para contrair estas doenças.
Sugere-se que estudos futuros devem ser realizados com a população universitária com o intuito de consciencializar, prevenir e educar. Pois a prevenção é a medida mais eficaz a ser assumida contra estas doenças, e para tanto a educação em saúde assume esta importância. A universidade, por contar com um grande número de estudantes jovens, em plena fase de atividade sexual, torna-se o principal alvo para um programa de intervenção, visando minimizar riscos para as IST. Portanto este estudo não pode ser generalizado e apenas diz respeito à amostra estudada.
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Recebido para publicação em: 17.03.16
Aceite para publicação em: 22.07.16