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Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283

Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.14 Coimbra set. 2017

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

Maria de Lourdes de Souza*

* Ph.D., Professora da Pós Graduação em Enfermagem, Presidente do Instituto Repensul, Universidade Federal de Santa Catarina

 

Tecnologia de rede: um paradoxo

Gosto da vida e da morte, pois com elas aprendo diuturnamente, e despertam em mim o respeito e a gratidão. Muitos dos requerimentos da vida e da morte têm dado origem à produção de conhecimento e de tecnologias. Aqui, pois, elejo a tecnologia de redes! Por quê? Rede é uma tecnologia para potencializar produção de conhecimento, disseminação e incorporação na prática, por meio da aproximação de diferentes talentos, articulando-se através de objetivos comuns. Portanto, não é uma reunião de iguais, e sim, de diferentes que têm interesses comuns. Também não é somente uma ferramenta informatizada, ou uma técnica que, por si só, garante o cumprimento da sua finalidade, pois sabe-se que os recursos de informática e de computação impulsionam a comunicação ágil e a difusão de informações, de modo simultâneo, em múltiplos espaços. Tecnologias de informação e de computação servem, também, para aumentar o potencial de trabalho dos profissionais, e de suporte para a educação em enfermagem (Ward, 1997; Washer, 2002).

Os suportes de computação para a rede também se constituem em paradoxo porque demonstram que o mesmo profissional pode estar presente, ao vivo, e, ao mesmo tempo, em mais de um lugar. Em rede isto é possível, sim. As sessões em rede reúnem participantes de diversas instituições, países, formações, atividades, que trabalham em diferentes continentes. Isto é um paradoxo porque muitas das redes cumprem um dos seus requerimentos − a produção de conhecimento − , mas fazem-no com uma enorme competitividade e, por conseguinte, distanciam-se da finalidade relativa à solidariedade e à incorporação do conhecimento produzido na prática.

Mas o processo criativo, pelo menos na enfermagem, e porque não dizer na Saúde, enquanto área de saber e fazer, não se pode distanciar da prática. É na prática e com a prática que se comprovam ou negam paradigmas, tradições e se constroem evidências. É na prática que as ideias emergem, e estas são fundamentais para a formação de projetos de pesquisa e de produção tecnológica. Assim, podemos também relacionar esta perspetiva de rede ao que foi sistematizado por Allee (2000) e por Wenger (1998), onde a organização em rede possibilita que o processo criativo se torne acessível a diferentes atores, de modo simultâneo e complementar, mudando, de certa forma, a dinâmica vigente, inclusive, de poder e de decisões.

Em rede, deixamos de ser exclusivamente consumidores de conhecimento e de tecnologias, para sermos atores ativos na proposição de ideias, na concepção de produtos e de processos (com registo de patentes e de propriedade intelectual) e na condução de projetos coordenados por enfermeiros, com a participação de outros profissionais. Assim, no contexto da rede devem emergir os convites para a superação dos limites, para a fluidez das ideias e para as construções teórico-práticas que resultem em tecnologias, sendo que estas últimas devem ser inseridas no processo de produção.

Os enfermeiros devem valorizar mais o saber construído ao longo da história da enfermagem e desenvolver tecnologias com justificativas que sejam plausíveis para o sistema produtivo. As redes, portanto, devem agregar lideranças com estágios de desenvolvimento diferentes, além de impulsionar a produção de ideias que resultem em inovação em cada nicho de trabalho dos enfermeiros, seja na educação, na assistência, na pesquisa ou na produção tecnológica. É em rede que os enfermeiros desvelam a ciência e a arte da enfermagem, postas em prática ao serviço da humanidade, nas mais diferentes circunstâncias, do nascer ao morrer. Em rede reafirmam-se os valores de respeito à vida e à morte, pregando uma nova contratualidade para a produção de pesquisas, com produção de tecnologias e de inovações que preservem a segurança dos pacientes e, por conseguinte, com um efetivo exercício da autonomia dos enfermeiros.

Em rede todos ganham, sejam instituições, profissionais ou pessoas que, num processo de colaboração, superam as suas marcas e constroem oportunidades para garantir a participação dos enfermeiros no setor produtivo. Em rede há estímulo para ser criativo sem subalternidade científica e para que as pesquisas fundamentem propostas de inovação para a prática da enfermagem, mas exige também a reafirmação da importância do trabalho do enfermeiro em todo o sistema produtivo, e não somente como coadjuvante no processo de cura.

O enfermeiro tem este compromisso ético com a sociedade e com esta profissão que ela mesma criou para fazer face às suas necessidades no processo de viver e morrer. Muitos dos processos e produtos que são comercializados no mundo, na área da saúde e da educação, são decorrentes das ideias dos enfermeiros, sendo que grande parte delas não foi valorizada como ponto de partida e de chegada para a produção tecnológica, nos requerimentos da vida e da morte.

Afirmo ainda o respeito e a gratidão aos editores da Revista de Enfermagem Referência, desde a sua criação, no ano de 1998, pelos estudos e esforços para garantir a inovação na própria Revista, desvelando assim escritas, saberes, práticas, investigações, tecnologias e desejos de outrem, para lhes dar visibilidade internacional.

 

Referências bibliográficas

Allee, V. (2000). Knowledge networks and communities of practice. OD Practitioner, 32(4), 1-15. Recuperado de: http://methodenpool.uni-koeln.de/communities/~%20OD%20Practitioner%20Online%20-%20Vol_%2032%20-%20No_%204%20(2000)%20~.htm        [ Links ]

Ward, R. (1997). Implications of computer networking and the Internet for nurse education, 17(3), 178-83.         [ Links ]

Washer, P. (2002). Professional networking using computer-mediated communication. Br J Nurs, 11(18), 1215-1218.         [ Links ]

Wenger, E. (1998). Communities of practice: learning, meaning and identity (6th ed.). Cambridge: Cambridge University Press.         [ Links ]


Network technology: a paradox

I appreciate life and death because they teach me constantly and make me feel deeply respectful and grateful. The multiple demands of life and death have given rise to the production of knowledge and technologies. Among these, I choose to write about network technologies! Why? Because the network technology boosts the production, dissemination, and translation of knowledge by combining different talents through common goals. Therefore, it is a meeting between different people with common interests rather than a meeting of peers. In addition, it goes beyond a computer tool or technique which, by itself, ensures the fulfillment of its purpose. Computing and information technologies are known to promote the communication and dissemination of knowledge in multiple spaces at the same time. These technologies also enhance professionals' potential and support nursing education (Ward, 1997; Washer, 2002).

Computer support for the Network is also a paradox because it allows professionals to be present in multiple places at the same time. Networks make it possible. Network sessions gather participants from various institutions, countries, areas of expertise, and activities, working in different continents. This is a paradox because many networks meet the requirement of knowledge production, but with a high competitiveness, drifting away from the purpose of solidarity and translation of knowledge into practice.

However, in nursing, and probably in the health area in general, the creative process cannot distance itself from practice. It is in and through clinical practice that paradigms or traditions are confirmed or denied and evidence is built. Practice gives rise to ideas for the development of research projects and the production of technology. Thus, this network perspective is in line with Allee (2000) and Wenger (1998), who argue that the network organization allows the creative process to become accessible to different people at the same time, somehow changing the ongoing dynamics, including the dynamics of power and decision-making.

In a network, we move from our roles as merely consumers of knowledge and technologies to become active members involved in the proposal of ideas, design of products and processes (through the registration of patents and intellectual property), and development of nurse-led projects, in collaboration with other professionals. Thus, a network should encourage professionals to overcome limits, exchange ideas, and develop theoretical-practical constructs resulting in technologies, which should integrate the production process.

Nurses should focus more on the knowledge built throughout the history of nursing and develop technologies with viable explanations for the production system. Therefore, networks should aggregate leaderships in different stages of development, as well as boost the production of ideas that result in innovation in every area of nurses' work, whether education, care delivery, research, or production of technology. It is through networks that nurses reveal the science and art of nursing, which are put into practice at the service of the individual, in different circumstances, from birth to death. Networks reiterate the value of respect for life and death, advocating for a new contractual model for research production that focus on the production of technologies and advances that preserve patient safety and lead nurses to effectively exercise their autonomy. In a network, everyone wins, whether institutions, professionals, or people who, in a collaborative process, overcome themselves and build opportunities to ensure nurses' participation in the production sector. In a network, creativity is encouraged, without scientific subalternity, so that innovative proposals for nursing practice can be explored. In addition, nurses' work and its importance must be reaffirmed throughout the production system, seeing them as more than just complementary support to the healing process. Nurses have an ethical commitment towards society and this profession that was created to meet its needs in the process of living and dying. Many health and education-related processes and products that are commercially available worldwide derive from nurses' ideas; however, most of them were not valued as a starting and finishing point for technological production in the demands of life and death.

Finally, I would like to express my respect and gratitude to the editors of the Journal of Nursing Referência for their studies and efforts to ensure innovation since it was created, in 1998. The Journal gives international visibility to the knowledge, practice, research, technology, and desire of others.

 

References

Allee, V. (2000). Knowledge networks and communities of practice. OD Practitioner, 32(4), 1-15. Retrieved from: http://methodenpool.uni-koeln.de/communities/~%20OD%20Practitioner%20Online%20-%20Vol_%2032%20-%20No_%204%20(2000)%20~.htm

Ward, R. (1997). Implications of computer networking and the Internet for nurse education, 17(3), 178-83.

Washer, P. (2002). Professional networking using computer-mediated communication. Br J Nurs, 11(18), 1215-1218.

Wenger, E. (1998). Communities of practice: learning, meaning and identity (6th ed.). Cambridge: Cambridge University Press.

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