Serviços Personalizados
Journal
Artigo
Indicadores
- Citado por SciELO
- Acessos
Links relacionados
- Similares em SciELO
Compartilhar
Revista de Enfermagem Referência
versão impressa ISSN 0874-0283
Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.18 Coimbra set. 2018
https://doi.org/10.12707/RIV18001
ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO
RESEARCH PAPER
Adaptação e validação do Questionário Geral de Bem-Estar Psicológico: análise fatorial confirmatória da versão reduzida
Adaptation and validation of the Psychological General Well-Being Index: confirmatory factor analysis of the short version
Adaptación y validación del Cuestionario General de Bienestar Psicológico: análisis factorial confirmatorio de la versión reducida
Maria da Conceição Alves Rainho Soares Pereira*
Maria Cristina Quintas Antunes**
Isabel Maria Antunes Rodrigues da Costa Barroso***
Teresa Isaltina Gomes Correia****
Irma Da Silva Brito*****
https://orcid.org/0000-0002-8825-4923
Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro******
* Ph.D., Professor Coordenador, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000-801, Vila Real, Portugal [crainho@utad.pt]. Contribuição no artigo: coordenação do estudo desde a conceção à análise, tratamento estatístico, análise estatística e discussão e escrita de parte do artigo. Morada para correspondência: Av. Cidade de Orense, 38, 3º Esq., 5000-691, Vila Real, Portugal.
** Ph.D., Professora Adjunta, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000-801, Vila Real, Portugal [mantunes@utad.pt]. Contribuição no artigo: recolha de dados, tratamento estatístico, análise estatística e discussão e escrita de parte do artigo.
*** MSc., Professor Adjunto, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000-801, Vila Real, Portugal [imbarroso@utad.pt]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica, recolha de dados, discussão e escrita de parte do artigo.
**** Ph.D., Professora Coordenadora, Escola Superior de Saúde de Bragança, 5300-146, Bragança, Portugal [teresaicorreia@ipb.pt]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica, escrita de parte do artigo e revisão do manuscrito.
***** Ph.D., Professora Adjunta, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, 3046-851, Coimbra, Portugal [irmabrito@esenfc.pt]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica, tratamento estatístico e revisão do manuscrito.
****** Ph.D., Professora Coordenadora, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000-801, Vila Real, Portugal [mjmonteiro@utad.pt]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica, discussão e escrita de parte do artigo.
RESUMO
Enquadramento: O bem-estar psicológico é uma perceção pessoal que pode ter repercussões nos comportamentos de saúde dos estudantes. Para avaliar o bem-estar psicológico são necessários instrumentos, preferencialmente em versão reduzida, com propriedades psicométricas adequadas.
Objetivo: Validar o Questionário Geral de Bem-Estar Psicológico, versão reduzida (QGBEP-R) e verificar as suas propriedades psicométricas, após a tradução a partir do short version Psychological General Well-Being Index (PGWB-S) com 6 itens, escolhido pelas excelentes propriedades psicométricas na versão original.
Metodologia: Foi utilizada a análise fatorial confirmatória, através da modelagem de equações estruturais e técnica de máxima verossimilhança, para validar a estrutura fatorial original. Participaram no estudo 300 estudantes universitários portugueses, cuja seleção aleatória resultou de uma amostra global de 1400.
Resultados: A análise fatorial confirmatória evidenciou um modelo ajustado unifatorial, com 6 itens.
Conclusão: Os resultados permitiram concluir que o QGBEP-R possui boas propriedades psicométricas e é válido para ser utilizado em estudantes universitários portugueses.
Palavras-chave: bem-estar; análise fatorial; estudantes; educação superior
ABSTRACT
Background: Psychological well-being is a personal perception which can impact students’ health behaviors. To evaluate psychological well-being, instruments should be preferably short and have adequate psychometric properties.
Objective: To validate the Questionário Geral de Bem-Estar Psicológico, versão reduzida (QGBEP-R) and verify its psychometric properties, after translation of the 6-item short version of the Psychological General Well-Being Index (PGWB-S). This Index was chosen because of the excellent psychometric properties of its original version.
Methodology: The original factor structure was validated using confirmatory factor analysis through structural equation modeling and maximum likelihood estimation. A total of 300 students were randomly selected from a total sample of 1,400 Portuguese university students.
Results: The confirmatory factor analysis revealed a fit 6-item one-factor model.
Conclusion: The QGBEP-R has good psychometric properties and is valid for use in Portuguese university students.
Keywords: well-being; factor analysis, statistical; students; education, higher
RESUMEN
Marco contextual: El bienestar psicológico es una percepción personal que puede tener repercusiones en los comportamientos relativos a la salud de los estudiantes. Para evaluar el bienestar psicológico son necesarios instrumentos, preferentemente en versión reducida, con propiedades psicométricas adecuadas.
Objetivo: Validar el Questionário Geral de Bem-Estar Psicológico, versão reduzida (QGBEP-R), y verificar sus propiedades psicométricas, después de traducirlo a partir del short version Psychological General Well-Being Index (PGWB-S) con 6 ítems, escogido por las excelentes propiedades psicométricas de la versión original.
Metodología: Se utilizó el análisis factorial confirmatorio, a través del modelado de ecuaciones estructurales y una técnica de máxima verosimilitud con el objetivo de validar la estructura factorial original. En el estudio participaron 300 estudiantes universitarios portugueses, a los cuales se seleccionó de forma aleatoria de una muestra global de 1400.
Resultados: El análisis factorial confirmatorio demostró un modelo ajustado unifactorial, con 6 ítems.
Conclusión: Los resultados mostraron que el QGBEP-R tiene buenas propiedades psicométricas y es válido para usarlo en estudiantes universitarios portugueses.
Palabras clave: bienestar; análisis factorial; estudiantes; educación superior
Introdução
O estudo do bem-estar psicológico assume maior relevância durante a frequência do ensino superior. De facto, esta etapa constitui um acontecimento de vida caracterizado por processos de adaptação, por vezes comprometedores da saúde e da consolidação de estilos de vida saudáveis (Pedroso & Brito, 2014). Os estudantes do ensino superior estão expostos a solicitações e exigências desde a sua admissão na instituição, aliadas às expectativas, e às aspirações a um futuro profissional com sucesso. Decorrente deste enquadramento constata-se um aumento de problemas psicoafetivos, de que são exemplos a depressão e a ansiedade (Freire & Tavares, 2011), o consumo e dependência de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas (Prince, Carey, & Maisto, 2013), alimentação inadequada, inatividade física (Sousa, José, & Barbosa, 2013), com repercussões negativas na saúde e bem-estar. Assim, uma socialização saudável e o estabelecimento de normas adequadas, bem como a relação com professores, pares e família pode minimizar os efeitos adversos (Matos et al., 2015).
A importância do estudo do bem-estar psicológico em estudantes do ensino superior prende-se com o facto de ser um período de grandes mudanças, pela necessidade de adaptação a novas exigências, mas também por ser um período de oportunidade para a consolidação de estilos de vida saudáveis. Nesta etapa da sua vida, os estudantes devem ter oportunidade de potenciar a sua saúde mental e emocional, sendo fundamental assegurar as condições para um desenvolvimento integral, promotor do bem-estar, em virtude da vulnerabilidade da fase transacional que atravessam (Pedroso & Brito, 2014).
No âmbito do projeto integrado no Peer-education Engagement and Evaluation Research Instituições de Ensino Superior Salutogénicas (PEER-IESS), a utilização de instrumentos de autorrelato demasiado longos para avaliar o bem-estar psicológico tem sido uma dificuldade para a adesão à participação. Na revisão da literatura, foram encontrados poucos questionários de bem-estar psicológico em versão reduzida, com propriedades psicométricas adequadas. Foi selecionado o short version Psychological General Well-Being Index (PGWB-S) de Grossi et al. (2006), validado para a população italiana, que inclui dimensões como a vitalidade, o autocontrolo e perceção da ansiedade. A vitalidade é entendida como a energia positiva que é percebida pelo indivíduo, que contribui para o bem-estar que resulta do entusiasmo e vivacidade e, neste sentido, torna-se um constructo complexo e dinâmico. A ansiedade enquanto fenómeno universal é experimentado pelas pessoas de forma subjetiva. A ansiedade é definida como um estado emocional transitório, caracterizado por apreensão, tensão e preocupação que se traduz por emoções subjetivas que variam de intensidade ao longo da vida (Davidoff, 2001). No que respeita ao autocontrolo, considerado como mudança cognitiva, requer a alteração do significado emocional mudando a forma de pensar sobre uma determinada situação. Quando se verifica a modulação da resposta estamos em presença de um autocontrolo eficiente, ajudando a lidar com as emoções (Gross & Thompson, 2007).
No presente estudo realizou-se a adaptação e validação da versão em português deste instrumento, o Questionário Geral de Bem-Estar Psicológico - Reduzido (QGBEP-R).
Enquadramento
O conceito de bem-estar é recente e o seu estudo tem suscitado interesse da comunidade científica. Nas últimas décadas, tem vindo a ser reforçado à medida que os estudos vão confirmando a sua estrutura (Galinha, 2008).
Em finais do século passado, o bem-estar psicológico tornou-se um constructo estudado por diferentes autores. De acordo com Deci e Ryan (2008), a conceção hedónica (bem-estar subjetivo) define o bem-estar na vertente de prazer e felicidade; a conceção eudaimónica (bem-estar psicológico) conceptualiza o bem-estar em termos de autodeterminação, da procura de sentido para a vida, do aperfeiçoamento contínuo e do crescimento pessoal (Deci & Ryan, 2008; Ryff, 2013). Foi Ryff quem propôs o modelo teórico de bem-estar fundamentado no conceito aristotélico de eudaimonia, o que
significa procura da excelência pessoal, em que o bem-estar psicológico pode ser identificado a partir de recursos psicológicos que a pessoa dispõe, nomeadamente processos cognitivos, afetivos e emocionais, que são globalmente descritos a partir de seis dimensões centrais do funcionamento psicológico positivo: aceitação de si, crescimento pessoal, objetivos na vida, relações positivas com os outros, domínio do meio e autonomia. (Lopes, 2015, p. 2)
Neste sentido, o bem-estar psicológico integra aspetos psicológicos como vitalidade, autocontrolo e baixa ansiedade.
O estudo do bem-estar psicológico em estudantes universitários é relevante, em virtude de neste período do ciclo vital ocorrerem grandes mudanças, mas também é um período de grandes oportunidades de desenvolvimento.
Também o percurso académico constitui um período de transição com mudanças significativas, exigindo aos estudantes competências e mobilização de recursos que facilitem a adaptação cognitiva e emocional (Shojaee & French, 2014). Tratando-se de jovens adultos, as informações sobre o bem-estar psicológico merecem especial atenção, em função das repercussões que podem ter sobre a qualidade de vida e saúde. É também uma preocupação dos professores e de todos os que estão comprometidos no processo de desenvolvimento dos estudantes do ensino superior.
O processo de adaptação de versões fiáveis, a um novo contexto cultural requer um processo que assegure a equivalência conceptual relativamente ao instrumento original. Para este fim, a adaptação de um instrumento inclui a tradução, a adaptação cultural e idiomática e a comprovação das propriedades psicométricas.
Para identificar os níveis de bem-estar psicológico, os instrumentos devem ser preferencialmente em versão reduzida, com propriedades psicométricas adequadas para obter resultados válidos e confiáveis. Este estudo teve como objetivo validar a versão reduzida do QGBEP-R, por forma a possibilitar a sua aplicação a estudantes portugueses do ensino superior.
Questão de Investigação
A versão reduzida do PGWB-S (QGBEP-R), em português, evidencia propriedades psicométricas para validação convergente e de consistência interna, adequadas para medir o bem-estar psicológico em estudantes do ensino superior?
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo para validação do instrumento QGBEP-R, que avalia o bem-estar psicológico em estudantes universitários. A amostra ficou constituída por 300 estudantes de diferentes cursos de licenciatura, de uma instituição de ensino superior sediada no norte de Portugal. A amostra resultou da seleção aleatória de casos com a condição de selecionar pelo menos 20% dos 1400 estudantes dessa mesma instituição, que responderam a um questionário integrado no projeto PEER-IESS em que os autores são investigadores. Os estudantes da amostra tinham uma média de idades de 20,8 ± 4,8 anos, sendo 52,7% do género feminino. A maioria dos participantes eram solteiros (96,3%), não viviam sozinhos durante o ano letivo (71,3%) e não usufruíam de bolsa de estudo (62,1%).
A tradução é o primeiro passo quando se pretende adaptar um questionário, seguida da sua aplicação e análise das qualidades psicométricas. O PGWB-S de Grossi et al. (2006) foi inicialmente traduzido e adaptado para português por Rainho et al. (2012), a partir da sua versão original em inglês, no âmbito do qual se realizou um ensaio piloto da aplicação da versão traduzida, bem como a tradução inicial. A retrotradução do PGWB-S foi realizada por um professor de língua inglesa, com domínio da língua portuguesa, no sentido de respeitar as especificidades gramaticais da língua portuguesa, e por um psicólogo com domínio dos dois idiomas, de modo a garantir também a equivalência ao constructo psicológico subjacente.
O QGBEP-R é composto por seis itens, alguns respondidos em escala tipo likert de frequência, com cinco alternativas de resposta, de nunca a sempre; outros em escala tipo likert de intensidade, também com cinco alternativas de resposta, de senti-me cheio de energia a senti que não tinha nenhuma energia ou vitalidade em relação a tudo. O valor das pontuações atribuídas aos itens 2, 3, e 6 são invertidos, só posteriormente se calcula a pontuação total de bem-estar psicológico somando a pontuação nos seis itens, cujo valor pode variar entre zero (0) e trinta (30). Pontuações mais elevadas correspondem a níveis superiores de bem-estar psicológico.
Para estimar se a versão traduzida (QGBEP-R) mede o mesmo construto da versão original (PGWB-S de Grossi et al., 2006), deve existir uma estrutura fatorial similar entre a versão original e a traduzida. No sentido de testar o ajustamento do QGBEP-R na amostra em estudo, utilizou-se a análise fatorial confirmatória (AFC), que se justifica uma vez que o instrumento foi originalmente submetido ao mesmo tipo de análise por Grossi et al. (2006) na sua primeira versão em língua italiana. Na sequência, foi analisada a consistência interna, utilizando o coeficiente a de Cronbach. A aplicação da AFC a um conjunto de itens pode contribuir para identificar que fatores/construtos estão subjacentes ao conjunto de itens. A AFC justifica-se, pois dispõe de informação prévia da estrutura fatorial relatada por Grossi et al. (2006), o que permitiu a definição das variáveis a inserir no modelo. A avaliação global do modelo diz respeito ao grau de excelência do seu ajustamento à matriz de covariância populacional se esta estiver disponível.
Neste estudo, optou-se pela análise de equações estruturais (AEE) que, como afirma Marôco (2010), avalia a qualidade do ajustamento de um modelo teórico e a estrutura das correlações entre as variáveis medidas. As relações entre as variáveis observadas (itens) e os fatores são modelados por uma série de regressões lineares, usando uma matriz de covariâncias (Byrne, 2013). As medidas utilizadas para verificar a adequação do modelo aos dados da amostra foram as que mais frequentemente têm sido referidas na literatura (Kahn, 2006), cujos valores de referência se descrevem na Tabela 1, onde se apresenta a síntese das medidas utilizadas na apreciação do ajustamento dos modelos testados.
A determinação das estimativas na AFC foi realizada através do método da máxima verossimilhança (Maximum Likelihood [MLE]).
Para estimar o coeficiente de fiabilidade interna dos itens do questionário, utilizámos o coeficiente alfa (a) de Cronbach, cujos valores podem variar entre 0 e 1. A consistência interna avalia a fiabilidade com que um determinado conjunto de itens estimam um constructo.
Este estudo integra uma investigação mais ampla, aprovada pela Comissão de Ética da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (parecer 1/2012), que recomendou o respeito estrito do anonimato dos participantes na aplicação dos questionários, condicionando os procedimentos relativos ao teste-reteste. A recolha de dados foi realizada em sala de aula, através de autopreenchimento do questionário em suporte de papel, cujo preenchimento demorou em média 15 minutos de forma voluntária, tendo sido garantido aos estudantes a confidencialidade e anonimato da informação obtida. Também lhes foi referido o objetivo do estudo e foi-lhes garantido que poderiam desistir a qualquer momento do preenchimento do questionário sem que daí adviesse qualquer prejuízo pessoal ou institucional.
Os dados recolhidos foram submetidos a análise, através do software AMOS 22.0 e IBM SPSS Statistics, versão 24.0.
Resultados
A média das pontuações totais do QGBEP-R foi de 18,9 ± 4,9, variando as pontuações entre quatro e 30. Foram avaliados os parâmetros de assimetria e achatamento, o valor de assimetria foi de -0,355 e o de achatamento foi de -0,106, o que indica uma distribuição normal das pontuações de bem-estar psicológico nesta amostra (Tabela 2).
Estrutura fatorial
Procedeu-se à AFC que se fundamentou na premissa de que já existia informação prévia sobre que variáveis que medem o constructo em análise: bem-estar psicológico (Grossi et al., 2006), o que permitiu a definição das variáveis a inserir nos modelos. Utilizou-se a modelagem de equações estruturais (MEE), em que as relações entre as variáveis observadas e os fatores (dimensões) são modeladas por uma série de regressões lineares, usando uma matriz de covariâncias.
A determinação das estimativas foi realizada através do método da máxima verosimilhança (MMV). Calcularam-se os índices de ajustamento, que permitiram determinar a adequação dos modelos testados (de medida e estruturais, estabelecidos com os dados recolhidos).
No modelo inicial do QGBEP-R as variáveis observadas (itens) apresentaram índices de qualidade de ajustamento sofríveis. Procedeu-se à análise dos índices de modificação, no sentido de especificar o modelo inicial, e no intuito de encontrar um modelo ajustado para a presente amostra. Os itens 4 e 5, apresentaram trajetórias com outros itens e índices de modificação elevados. Procedeu-se à correlação dos erros (variância própria de cada item) para cada par de itens, no sentido de manter a coerência teórica. Seguidamente, descrevem-se os resultados obtidos: o item 4 apresentou trajetória com o item 5 e um índice de modificação (MI = 30,49). Dado o elevado valor, julgou-se conveniente a adoção da seguinte correlação: erro (e4) associado ao item 4 “Durante o último mês, sentiu-se emocionalmente estável?” e erro (e5) do item 5 “Durante o último mês, sentiu-se alegre?”. Estes dois itens concorrem para a determinação da mesma dimensão Bem-estar, o que permitiu o relacionamento dos erros entre estas duas variáveis observadas (itens).
Após a especificação do modelo, é necessário calcular as estimativas dos parâmetros, as estatísticas do modelo inicial e do especificado (Tabela 3).
Neste estudo, a AFC mostrou que um modelo unidimensional de bem-estar psicológico com seis itens é ajustado. Na Tabela 4 são apresentados os valores dos índices de qualidade de ajustamento que foram obtidos.
Conforme pode ser observado na Tabela 4, o qui-quadrado por graus de liberdade (2/gl) apresentou um valor inferior a 5 (1,836), indicando um ajustamento aceitável quando se comparam as diferenças entre a matriz prevista pelo programa estatístico e a matriz real; o valor de p, que indica existirem diferenças significativas entre a matriz de covariâncias geradas pelo programa e a matriz real, pode ser negligenciado justificando-se pelo elevado número de sujeitos da amostra.
O CFI é um índice de ajustamento incremental, que considera a complexidade de um modelo, comparando o modelo em estudo com um mais restritivo, que não especifica relações entre variáveis. O CFI compara a discrepância entre os dados e o modelo hipotético mais restritivo. O valor índice deve ser superior a 0,90, e no presente estudo o valor de CFI foi 0,944, indicando um bom ajustamento dos dados ao modelo.
Os valores de RMSEA medem a discrepância ou erro de ajustamento da matriz da amostra em estudo e matriz de covariância populacional, e também indicam um bom ajustamento (RMSEA = 0,053; p = 0,11). Valores inferiores a 0,05 indicam um bom ajustamento, no entanto aceitam-se valores inferiores a 0,08 para amostras grandes.
A carga fatorial de cada um dos itens na dimensão ou no fator Bem-estar psicológico podem ser apresentadas sob forma de diagrama de caminhos, onde as setas indicam o tipo de relação entre as variáveis. No diagrama do modelo do QGBEP-R as cargas fatoriais padronizadas e as elipses representam as variáveis latentes, e os retângulos as variáveis observadas.
A validade fatorial é avaliada pelos pesos fatoriais padronizados (i). A Figura 1 apresenta os pesos fatoriais e todas as saturações apresentam significância estatística na respetiva dimensão, verificando-se variabilidade na magnitude ( = 0,56 a = 0,86). Todos os itens evidenciam um valor de saturação padronizado superior a 0,5 ( = 0,50), o que indica um valor aceitável, assumindo-se que o modelo unifatorial do bem-estar psicológico apresenta validade fatorial (Marôco, 2010).
O diagrama de caminhos (Figura 1) mostra os resultados do modelo de medida do questionário em análise, com seis itens (variáveis observadas), o qual é unifatorial.
Os itens apresentam carga fatorial padronizada () superior ao valor de referência ( = 0,5), e estatisticamente significativa, o que pode também ser verificado pela baixa pontuação do erro-padrão, evidenciado pelos parâmetros estimados, em que só o item 6 apresentou valor elevado: coeficiente padronizado = 0,572; erro-padrão = 0,064; valor crítico = 8,963. Se o valor crítico é superior a 2,58, observa-se significância estatística, condição que se verifica nesta análise (Tabela 5).
Na análise dos valores de carga fatorial padronizados, observa-se um valor aceitável na relação entre cada item e o fator, o que permite afirmar que as variáveis observadas medem o bem-estar psicológico, dado que todos os valores mostraram significância estatística, o que indica que a validade convergente foi estabelecida (Marôco, 2010). A validade convergente diz respeito à magnitude com que a variável latente (bem-estar psicológico) se correlaciona com os itens que a constituem, ou seja, se as variáveis observadas (itens) convergem estatisticamente.
Após a análise fatorial apresentam-se, de seguida, os resultados da análise de consistência interna. A Tabela 6 mostra os resultados da análise de consistência interna do questionário, designadamente a média e a variância se o item for removido, a correlação item-total corrigida, o quadrado da correlação múltipla e o valor do alfa de Cronbach que resultaria se for removido o item.
Os resultados da análise mostraram que o QGBEP-R apresenta boa consistência interna(alfa de Cronbach = 0,86). Estes resultados são consistentes com o estudo Grossi et al. (2006; alfa de Cronbach = 0, 731).
Discussão
O presente estudo teve como objetivo proceder à adaptação e validação da versão em português do QGBEP-R. A unidimensionalidade e a validade convergente do modelo foram comprovadas. O ajustamento do modelo unifactorial testado foi confirmado pois todos os itens apresentaram um valor padronizado superior a 0,5, sendo um valor aceitável (Marôco, 2010). No processo de validação do QGBEP-R, foram respeitados os pressupostos de Kline (2011) e Byrne (2013), ou seja, construiu-se o modelo a partir das variáveis observadas (itens) e, na sequência, verificaram-se os índices de ajustamento e as cargas fatoriais dos itens.
Neste estudo foram realizados os procedimentos estatísticos que permitiram verificar se os itens estimavam com fiabilidade o bem-estar psicológico e se este era unidimensional, de acordo com a proposta teórica dos autores da versão original (Grossi et al., 2006). A validação de instrumentos de avaliação de características psicológicas é fundamental, quer para a investigação, quer para a intervenção em saúde (Grossi & Compare, 2014). A relevância deste estudo deve-se ao facto de proceder à validação do questionário (QGBEP-R), previamente traduzido e adaptado para português por Rainho et al. (2012), que disponibiliza uma medida unidimensional de bem-estar psicológico, adequado para o preenchimento por estudantes do ensino superior, num curto espaço de tempo. Sublinha-se a sua importância para o processo de monitorização do bem-estar psicológico e implementação de intervenções específicas para este grupo.
Conclusão
Os resultados obtidos atestaram a validade de construto do QGBEP-R apontando para um ajustamento adequado do modelo unifatorial, tendo sido observada uma adequada validade convergente. O QGBEP-R mostrou-se fidedigno e válido para medir o bem-estar psicológico em estudantes do ensino superior. Sendo um questionário breve tem ainda a vantagem de ser motivador para a participação dos estudantes, viabilizando a sua aplicação no âmbito da rede de escolas envolvidas no projeto PEER-IESS.
Em futuros estudos serão realizados os procedimentos de teste-reteste para verificar a estabilidade da medida, bem como a replicação da AFC em outras amostras de estudantes do ensino superior, dada a limitação de este estudo ter sido realizado numa amostra de uma única instituição do ensino superior do interior norte de Portugal. Recomenda-se ainda a análise da invariância fatorial do modelo para ambos os sexos.
Referências bibliográficas
Byrne, B. M. (2013). Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications, and programming. New York, NY: Routledge.
Campana, A. N., Tavares, M. C., & Silva, D. (2009) Structural equations modeling: Presentation of a multivariate statistical approach to research in Physical Education. Motricidade, 5(4), 59-80. doi:10.6063/motricidade.5(4).170. [ Links ]
Davidoff, L. L. (2001). Introdução à psicologia (3ª ed.). São Paulo, Brasil: Pearson Makron Books.
Deci, E. L., & Ryan, R. M., (2008). Hedonia, eudaimonia, and well-being: An introduction. Journal of Happiness Studies, 9, 1-11. doi:10.1007/s10902-006-9018-1 [ Links ]
Freire, T., & Tavares, D. (2011). Influência da autoestima, da regulação emocional e do género no bem-estar subjetivo e psicológico de adolescentes. Revista de Psiquiatria Clínica, 38, 184-188. doi:10.1590/S0101-60832011000500003 [ Links ]
Galinha, I. C. (2008). Bem-estar subjectivo: Factores cognitivos, afectivos e contextuais. Coimbra, Portugal: Quarteto. [ Links ]
Grossi, E. & Compare, A. (2014). Psychological General Well-Being Index (PGWB). In A. C. Michalos, & P. George (Eds.), Encyclopedia of quality of life and well-being (pp. 5152-5156). Dordrecht. Holland: Springer. [ Links ]
Grossi, E., Groth, N., Mosconi, P., Cerutti, R., Pace, F., Compare, A., & Apolone, G. (2006). Development and validation of the short version of the Psychological General Well-Being Index (PGWB-S). Health and Quality of Life Outcomes, 4, 88. doi:10.1186/1477-7525-4-88. [ Links ]
Gross, J., & Thompson, R. (2007). Emotion regulation: Conceptual foundations. In J. J. Gross (Ed.), Handbook of emotion regulation (pp. 3-24). New York, NY: Guilford Press.
Kahn, J. H. (2006). Factor analysis in counseling psychology research, training, and practice: Principles, advances, and applications. The Counseling Psychologist, 34, 684-718. doi:10.1177/0011000006286347. [ Links ]
Kline, R. (2011). Principles and practices of structural equation modeling. New York, The Guilford Press. [ Links ]
Lopes, J. J. (2015). Bem-estar psicológico em estudantes do ensino superior: Relação com as variáveis socio demográficas, pessoais e académicas (Tese de doutoramento), Universidade de Évora, Portugal. Recuperado de https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14604/2/Tese%20com%20Cr%C3%ADticas%20do%20J%C3%BAri%20%20-%20Resumo%20%C3%8Dndice.pdf.
Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: Fundamentos teóricos, software & aplicações. Pêro Pinheiro, Portugal: Report Number. [ Links ]
Matos, M. G., Reis, M. C., Simões, C., Gomez-Baya, D., Mota, C., Tomé, G., Gaspar, T., & Machado, M. C. (2015). Em tempo de recessão, os adolescentes portugueses continuam saudáveis e felizes ou são ainda saudáveis mas já não felizes? Arquivos de Medicina, 29(5), 116-122. [ Links ]
Pedroso, R., & Brito, I. (2014). Saúde dos estudantes do ensino superior de enfermagem: Estudo de contexto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Coimbra, Portugal: ESEnfC, UICISA: E [ Links ]
Prince, M. A., Carey, K. B., & Maisto, S. A. (2013). Protective behavioral strategies for reducing alcohol involvement: A review of the methodological issues. Addictive Behaviors, 38(7), 2343-2351. doi:10.1016/j.addbeh.2013.03.010. [ Links ]
Rainho, C., Antunes, C., Carvalho, A., Barroso, I., Monteiro, M. J., & Mateus, S. (2012). Bem-estar psicológico e perceção de saúde geral em estudantes do ensino superior. Revista de Enfermagem Referência, 3(Sup), 334. [ Links ]
Ryff, C. D. (2013). Eudaimonic well-being and health: Mapping consequences of self-realization. In A. S. Waterman (Ed.), The best within us: Positive psychology perspectives on Eudaimonia (pp. 77-98). Washington, WA: American Psychological Association.
Shojaee, M., & French, C. (2014). The relationship between mental health components and locus of control in youth. Psychology, 5, 966-978. doi:10.4236/psych.2014.58107 [ Links ]
Sousa, T. F., José, H. P., & Barbosa, A. R. (2013). Condutas negativas à saúde em estudantes universitários brasileiros. Ciência & Saúde Coletiva, 18(12), 3563-3575. doi:10.1590/S1413-81232013001200013. [ Links ]
Recebido para publicação em: 09.01.18
Aceite para publicação em: 13.07.18