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Revista de Enfermagem Referência
versão impressa ISSN 0874-0283
Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.20 Coimbra mar. 2019
https://doi.org/10.12707/RIV18079
ARTIGO TEÓRICO/ENSAIO
THEORETICAL PAPER/ESSAY
Identidade da enfermeira: uma reflexão iluminada pela perspetiva de Dubar
The identity of the female nurse: a reflection from the perspective of Dubar
Identidad de la enfermera: una reflexión desde la perspectiva de Dubar
Marinagela Aparecida Gonçalves Figueiredo*
http://orcid.org/0000-0003-1382-7819
Maria Angélica de Almeida Peres**
http://orcid.org/0000-0002-6430-3540
* Ph.D., Enfermeira, Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG/Brasil, 36000-300, Minas Gerais, Brasil [mary.hujf@gmail.com]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica; recolha e análise de dados e discussão, escrita do artigo. Morada para correspondência: Rua Dr. Antônio Vieira Penna, nº 426-202, São Mateus, 36000-300, Minas Gerais, Brasil.
** Ph.D., Enfermeira, Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 20211-110, Rio de Janeiro, Brasil [angelica.ufrj@uol.com.br]. Contribuição no artigo: orientação na seleção de fontes bibliograficas, análise de dados e discussão, escrita do artigo.
RESUMO
Enquadramento: Os estudos sobre a identidade profissional configuram-se como um desafio de investigação e instigam muitas reflexões.
Objetivo: Refletir sobre o processo de formação da identidade profissional da enfermeira segundo Florence Nightingale, precursora da enfermagem moderna no mundo.
Principais tópicos em análise: Reflexão teórica que se debruça sobre duas obras seminais escritas por Florence Nightingale: “Notes on Hospitals” (1859), e “Notes on Nursing: what it is, and what it is not” (1860), ancorada nos conceitos de Claude Dubar sobre a identidade profissional.
Conclusão: Os estudos apontaram que a identidade profissional da enfermeira nightingaleana se constituiu no espaço hospitalar, a partir do conhecimento e da prática dos princípios de cuidados e de administração, mediados pela disciplina, definidos por Nightingale. Evidenciaram que Nightingale, ao implantar o seu modelo de ensino, provocou uma rutura da identidade legitimada pelas ordens religiosas da época, o que pode ter contribuído para a (re/de)construção da identidade profissional das enfermeiras.
Palavras-chave: história da enfermagem; construção social da identidade; educação em enfermagem; cuidado de enfermagem
ABSTRACT
Background: Studies on professional identity constitute a challenge for research and instigates many considerations.
Objective: To reflect on the process of construction of the professional identity of the female nurse according to Florence Nightingale, a precursor of modern nursing in the world.
Key topics under analysis: Theoretical reflection which focuses on two seminal works written by Florence Nightingale: “Notes on Hospitals” (1859), and “Notes on Nursing: what it is and what it is not” (1860), based on the concepts of Claude Dubar about professional identity.
Conclusion: The studies pointed out that the professional identity of the nightingalean nurse was shaped in the hospital, stemming from the knowledge and practice of the principles of care and administration, oriented by discipline, defined by Nightingale. They showed that, by implementing her education model, Nightingale caused a detachment from the identity legitimized by religious orders of that period, which may have contributed to the (re/de)construction of the professional identity of female nurses.
Keywords: history of nursing; social construction of identity; education in nursing; nursing care
RESUMEN
Marco contextual: Los estudios sobre la identidad profesional se configuran como un desafío de investigación y provocan muchas reflexiones.
Objetivo: Reflexionar sobre el proceso de formación de la identidad profesional de la enfermera según Florence Nightingale, precursora de la enfermería moderna en el mundo.
Principales temas en análisis: Reflexión teórica en torno a dos obras muy importantes escritas por Florence Nightingale: “Notes on Hospitals” (1859) y “Notes on Nursing: what it is, and what it is not” (1860), basada en los conceptos de Claude Dubar sobre la identidad profesional.
Conclusión: Los estudios apuntaron a que la identidad profesional de la enfermera nightingaleana se constituyó en el espacio hospitalario, a partir del conocimiento y de la práctica de los principios de los cuidados y de la administración, mediados por la disciplina, definidos por Nightingale. Se observó que Nightingale, al implantar su modelo de enseñanza, provocó una ruptura de la identidad legitimada por las órdenes religiosas de la época, lo que puede haber contribuido a la (re/de)construcción de la identidad profesional de las enfermeras.
Palabras clave: historia de la enfermería; construcción social de la identidad; educación en enfermería; atención de enfermería
Introdução
Os estudos sobre a identidade profissional configuram-se como “um exercício de autoconhecimento das enfermeiras com consequente explicação de sua identidade e da identidade da profissão” (Padilha, 2006, p. 535). Estes estudos reafirmam o papel da história “no desenvolvimento contínuo de identidade identidade de indivíduos, grupos, nações ou gerações” (Nelson, 2009, p. 782) e na reflexão de que “A história reflete e constitui identidade” (Nelson & Wall, 2010, p. 01). Para Dubar (2012), as identidades constroem-se durante os processos de socialização no trabalho e na educação, dentro das instituições.
Este artigo é uma reflexão teórica sobre o processo de formação da identidade profissional da enfermeira na fase da enfermagem moderna, em duas obras seminais escritas por Nightingale: “Notes on Hospitals” (Nightingale, 1859), e “Notes on Nursing: what it is, and what it is not” (Nightingale, 1860). Estas obras foram publicadas no idioma da autora (inglês), adquiridas na livraria do Museu Florence Nightingale, localizada em Londres/Inglaterra. Esta reflexão é baseada no referencial teórico de Claude Dubar. Florence Nightingale, “uma figura convincente no desenvolvimento da enfermagem, [sua] identidade, posição pública e posição dentro das profissões de cuidados de saúde” (Nelson & Rafferty, 2010, p. 06), personalidade mundialmente reconhecida como precursora da enfermagem moderna, fase histórica em que a profissão vive atualmente.
A primeira obra apresenta o relatório das condições sanitárias do Hospital de Renkioi (localizado na atual cidade de Istambul), no qual a autora atuou durante a Guerra da Criméia (1854-1856), e uma descrição detalhada de como deveria ser a construção e o funcionamento de hospitais para o cuidado aos doentes. A segunda obra discorre sobre os princípios básicos dos cuidados de enfermagem aos doentes e com ambiente hospitalar. Está redigido sobre a forma de manual, com o intuito de ser um material de formação para as enfermeiras. Apresenta um corpo de conhecimentos específicos diferente do conhecimento médico e detalha as competências que as enfermeiras precisam de desenvolver. As competências são explicadas ao longo de todo o livro, mas principalmente nos capítulos “Gestão básica das atividades”, “Criar falas expectativas e conselhos” e “Observação do doente”. O contributo de Nightingale é um marco histórico no que concerne à profissionalização da enfermagem (Lopes, 2012, p. 05-06). A identidade, segundo a conceção teórica deste estudo, é um processo “simultaneamente estável e provisório, individual e coletivo, subjetivo e objetivo, biográfico e estrutural, dos diversos processos de socialização que, em conjunto, constroem os indivíduos e definem as instituições” (Dubar, 2005, p. 136). A identidade é construída por cada geração com base em categorias e posições herdadas da geração precedente, mas também por meio das estratégias identitárias nas instituições onde os indivíduos atuam (Dubar, 1997, p. 118). Para tal, os indivíduos necessitam de referências identitárias reconhecidas pelos demais na sua prática.
As aptidões, atribuições, características, competências e habilidades dos indivíduos compõem a identidade profissional, que no caso da enfermagem foi constituída pelas determinações que a envolveram: o saber da enfermagem conhecimento, arte e ética; a sua história a sua prática, os seus atributos, as relações de poder e a questão de género; e a formação da sua identidade consolidada no espaço hospitalar.
As transformações ocorridas ao longo dos anos, no campo da saúde e da educação, embora tenham elevado a enfermagem mundial à condição de profissão, requerem ainda de maiores estudos sobre as suas origens, especialmente no que concerne às suas heranças históricas, o que justifica este estudo e contribui para o pensamento crítico sobre a história, a cientificidade, a profissionalização e a formação da identidade da enfermeira. Refletir sobre o processo de formação da identidade profissional da enfermeira nightingaleana, ancorado nos conceitos de Claude Dubar, constituiu o objetivo deste estudo.
Desenvolvimento
Após tradução das obras de Nightingale, foram realizadas leituras que viabilizaram a reflexão sobre os aspetos referentes à identidade profissional da enfermeira, que contribuíram para a construção dessa identidade a partir das relações sociais, profissionais e o contexto hospitalar, ao longo do tempo, descritas pela autora. Estes aspetos, apresentados na Figura 1, possibilitaram uma melhor visualização e aplicação dos conceitos de Dubar, referencial teórico deste estudo.
No século XIX, várias transformações ocorreram em todos os campos sociais, incluindo na saúde, o que leva ao avanço da medicina e favorece a reorganização dos hospitais. Além de ser um espaço de cura, o hospital incorpora o desenvolvimento técnico-científico, transformando-se num lugar de formação, não só dos futuros médicos como também dos demais profissionais que se encontravam neste mesmo espaço. Nightingale (1860) idealizou a criação da Nightingale Training School for Nurses at Saint Thomas Hospital, considerando o hospital como um ambiente onde as enfermeiras eram preparadas para os cuidados de enfermagem. É neste cenário que a enfermagem moderna se desenvolveu. Nightingale foi uma figura mítica no seu tempo, a Dama da lâmpada, reconhecida como a fundadora da profissão moderna de enfermagem, visionária de uma abordagem mais ampla da saúde, na qual a doença era um processo natural e, desta forma, os cuidados e tratamentos deveriam ser simples, seguros, pautados nos cuidados com o ambiente (McDonald, 2010). Nightingale tinha muitos conhecimentos sobre a organização dos hospitais e o cuidado aos doentes, acumulados ao longo das suas viagens para conhecer e aprender os cuidados de enfermagem, além da sua atuação como voluntária no Hospital de Scutari e como superintendente em hospitais de Londres, que a inspiraram a escrever as obras selecionadas. Além do seu reconhecimento como a primeira teórica na área da enfermagem, a teoria ambientalista, na sua segunda obra, deu “a base explicativa de uma profissão” (Carvalho, 2009, p. 641). Acerca do hospital como lócus de formação da identidade profissional, Dubar (2005, p. XXI) refere que:
Todas as identidades são denominações relativas a uma época histórica e de um tempo de contexto social. Assim, todas as identidades são construções sociais e de linguagem que são acompanhadas em maior ou menor grau, por racionalizações e reinterpretações que, às vezes, as fazem passar por essências intemporais.
É a partir das sucessivas socializações que ocorrem com os indivíduos, no seu processo de trabalho, e ou de educação, que as identidades se formam no contexto das instituições (Dubar, 2012).
Nightingale é considerada uma reformadora social devido à sua visão de um sistema global de cuidados de saúde. Antes da criação da escola de formação, Nightingale atuava na reforma de hospitais em Londres. Com base em estudos matemáticos, comprovou a relação entre a diminuição dos índices de mortalidade e o cuidado prestado no Hospital de Scutari, tornando-se a primeira mulher a publicar um trabalho estatístico e a ser aceite como membro da Royal Statistical Society e membro honorário da American Statistical Association (McDonald, 2010). Lopes e Santos, (2010, p. 185) relatam que em 1885 um grupo de cidadãos de Londres que apoiavam Nightingale, angariaram fundos com o objetivo de “Florence levar a cabo reformas dos hospitais civis e estabelecer um Instituto para formação de Enfermeiras”. Desta forma, em 1860, em Londres, foi implantado um sistema de ensino, idealizado por Nightingale, que visava a profissionalização da enfermagem, até então mantida na sua fase pré-profissional, sob a condução de religiosos ou qualquer pessoa que se dedicasse ao cuidado de pessoas doentes, tivessem, ou não, formação (Padilha, Nelson, & Borestein, 2011). Neste sistema, Nightingale definiu os pontos essenciais para o funcionamento da escola: direção a cargo de uma enfermeira; ensino sistematizado; seleção de candidatos do ponto de vista físico, moral, intelectual e aptidão profissional; estreita associação das escolas de formação com os hospitais, mantendo a sua independência financeira e administrativa; residência à disposição das estudantes durante o período de formação, próximo ao hospital. Nightingale, na formação das enfermeiras, visava a aquisição de habilidades e comportamentos, atributos pessoais e profissionais como uma forma de melhoria do status social e o reconhecimento como pessoas competentes; para atingir este objetivo, determinou o modelo do vestuário, as relações, a moral e a ética como requisitos para a seleção das candidatas. Para Carvalho (2013), as atribuições da enfermeira, segundo as proposições de Nightingale, “conformam a arte peculiar de cuidar em enfermagem e a específica identidade profissional”; “a identidade profissional emerge definida nas proposições nightingaleanas, a partir de 1860, na concepção magistral de Notas sobre Enfermagem - o que é e o que não é” (p. 27). A criação da escola fundada por Florence Nightingale levou a uma rutura da prática empírica, exercida por leigos, pela emergência de uma prática sistematizada e racional, alicerçada em conhecimento científico (Teodósio, 2014). A mesma pode ainda ser responsável pela formação de uma nova identidade profissional a partir da consolidação da enfermagem como uma profissão, no cruzamento do seu saber com a ideologia, o qual assume o significado de abnegação, obediência, dedicação, marcando profundamente a profissão de enfermagem até aos dias atuais. Para Teodósio (2014, p. 23), essa conceção confirma-se no livro “Notes on Nursing: what it is, and what it is not” (1860), no qual Nightingale ressalta a vocação, a religiosidade e a devoção como perfil de enfermeiros. Goodrick e Reay (2010) evidenciam que o discurso em livros de enfermagem é um veículo de comunicação que procura legitimar as identidades profissionais.
Sobre os deveres das enfermeiras, Nightingale descreveu os atributos inerentes à prática da enfermeira: vocação genuína e amor pelo trabalho; dever e consciência; conhecimento e experiência; observação diária e vigilância constante dos doentes; preparação formal e sistemática das enfermeiras.
O processo de construção da identidade profissional da enfermeira decorre de seus saberes, sua história, sua inserção nas diversas instâncias políticas bem como das relações que estabelece com os demais profissionais da área e com pessoas a quem presta cuidados. (Queirós, 2015, p. 49)
Para Dubar (2005, p. 328): “os *saberes profissionais* que implicam articulações entre saberes práticos e saberes técnicos estão no centro da identidade estruturada pelo ofício”. A identidade profissional da enfermeira foi construída, baseada nos “atributos profissionais” (Carvalho, 2009, p. 27), idealizados por Nightingale, tendo como base os princípios de cuidados, administração, disciplina e a formação da enfermeira no espaço hospitalar. Pela incorporação da forma de pensar e agir de um grupo ocorre a socialização, a base da identidade profissional que se constrói em sucessivas socializações. Ao socializarem-se, os indivíduos apreendem os valores e as normas do grupo que passa a ser referência nas suas atitudes, condutas e comportamentos (Dubar, 2005).
Quanto à disciplina, Nightingale percebeu a importância das normas durante a formação e as experiências vivenciadas em hospitais de Londres e, principalmente, em Scutari, quando encontrou diversas dificuldades para a sua administração. No hospital, a falta de recursos, condições de higiene, resistência do corpo médico, grande número de feridos da guerra e o despreparo das voluntárias que a seguiram, desafiaram Nightingale a imprimir uma disciplina que impactou o trabalho da enfermagem e o seu cuidado. A partir das experiências, ao retornar a Londres, criou um sistema de ensino para formação das enfermeiras com foco na formação, na vocação e na disciplina (Lopes & Santos, 2010). Em “Notes on Hospital” de Florence Nightingale (1858), a apropriação das normas e condutas equivaliam a comportamentos profissionais desejados, os quais deviam ser postos em prática no hospital, constituindo parte da realidade do mundo do trabalho à época, o que denota a identidade profissional construída no e pelo trabalho. Na construção da identidade ocorrem várias identificações no sistema relacional dos sujeitos, positivas ou negativas, que se integram “através da coerência de uma linguagem, isto é, através da estruturação dos signos e dos símbolos”(Dubar, 1997, p. 32), o que pode ser observado em Notes on Nursing: what it is and what it is not (1860).
As duas obras escolhidas para este estudo permitiram refletir sobre a formação da identidade profissional da enfermeira no contexto da sua prática e do saber/poder da enfermagem à época.
A reflexão teórica sobre a construção da identidade da enfermeira a partir das produções de Nightingale possibilitou pensar um outro modo de contextualizar a enfermagem enquanto profissão, considerando os fragmentos que constituíram a sua história. As obras estudadas apresentam os elementos que constituiram o campo da educação em enfermagem em todo o mundo e os aspetos que legitimaram o seu saber sobre o ambiente, o cuidado, a prática e a identidade profissional. Assim, este estudo contribui para o pensamento crítico sobre a cientificidade da profissão e traz à tona as ideias da personalidade que permitiram que a enfermagem caminhasse enquanto profissão. As reflexões sobre o passado da profissão permitem refletir sobre a sua história como indispensável para entender o presente e o futuro. A reflexão sobre a história da enfermagem é um ponto de partida para entender as nuances do desenvolvimento da enfermagem, e não apenas uma referência em cima da historiografia ou dos livros que já foram escritos, mobilizando profissionais, professores e estudantes para a importância desta, contribuindo para reduzir as insuficiências neste campo de saber, estabelecendo a ponte entre passado e presente, para construção do futuro.
Conclusão
Estudar as duas obras de Nightingale que apontam aspetos relevantes para a criação e o desenvolvimento de um sistema de ensino tão importante, que levou a profissão de enfermagem para outra fase histórica, foi relevante.
A reflexão proposta contribui para o pensamento crítico sobre a construção da identidade profissional da enfermeira moderna por Nightingale e suscita novas reflexões sobre esta identidade ao longo do processo de evolução da profissão, até aos dias atuais.
Este estudo aponta várias evidências de que Nightingale, por meio da elaboração de relatórios sanitários, propostas e projetos de construção de hospitais, do seu funcionamento, e dos princípios de cuidados aos doentes e para com o ambiente, contribuiu para a formação da identidade profissional da enfermeira. Esta afirmação apoia-se nos conceitos de Dubar apresentados e discutidos neste artigo.
O modelo nightingaleano, difundido mundialmente a partir do século XIX, trouxe a abordagem de como deveria ser um hospital restaurador da saúde, propício ao cuidado das enfermeiras, e o que é, e o que não é enfermagem, e o que identifica a enfermeira nightingaleana.
Há evidências de que Nightingale, ao criar e implantar o modelo de ensino, levou a uma rutura com a identidade legitimada pelas ordens religiosas, por meio dos seus conceitos, o que pode ter contribuído para a (re/des)construção da identidade profissional das enfermeiras.
Tornam-se necessários novos estudos nos países onde o modelo nightingaleano foi implantado, para o confronto científico das conceções no campo da história da enfermagem. A questão da identidade profissional envolve múltiplos fatores na sua formação, oriundos da história da enfermagem sobre a construção do saber e da profissionalização.
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Recebido para publicação em: 26.10.18
Aceite para publicação em: 02.02.19