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Revista de Enfermagem Referência
versão impressa ISSN 0874-0283versão On-line ISSN 2182-2883
Rev. Enf. Ref. vol.serV no.2 Coimbra abr. 2020
https://doi.org/10.12707/RIV19061
ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)
RESEARCH PAPER (ORIGINAL)
Incidência e tipo de traumatismo vascular periférico em pessoas submetidas a exames de diagnóstico por imagem
Incidence and type of peripheral vascular trauma in people undergoing diagnostic imaging exams
Incidencia y tipo de traumatismo vascular periférico en personas sometidas a exámenes de diagnóstico por imagen
Cristina Arreguy-Sena1
https://orcid.org/0000-0002-5928-0495
Romanda da Costa Pereira Barboza Lemos*1
https://orcid.org/0000-0003-2534-9359
Marcos Antônio Gomes Brandão2
https://orcid.org/0000-0002-8368-8343
Anabela de Sousa Salgueiro-Oliveira3
https://orcid.org/0000-0002-8231-8279
Luciene Muniz Braga4
http://orcid.org/0000-0002-2297-395X
Paula Krempser1
https://orcid.org/0000-0003-4838-6873
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil
2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
3 Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal
4 Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil
RESUMO
Enquadramento: A punção venosa é um procedimento frequente na assistência de enfermagem, sendo necessário mapear/identificar possíveis problemas relacionados, considerando as especificidades dos exames diagnósticos, para subsidiar a assistência.
Objetivo: Analisar a incidência e os tipos de manifestações de traumatismo vascular periférico em pessoas que realizaram tomografia computadorizada e ressonância magnética.
Metodologia: Coorte retrospetiva de documentos setoriais e coorte prospetiva com pessoas que foram puncionadas para realizar tomografia computadorizada e ressonância magnética com contraste. Dados colhidos entre junho e dezembro de 2018, tratados com estatística descritiva e cálculo da incidência.
Resultados: Participaram 76 usuários e 2.946 registos das fichas de punções venosas. Na coorte retrospetiva, a incidência de extravasamento de contraste foi de 8,4%. Na coorte prospetiva, a incidência de traumatismo vascular foi de 52,6%. As manifestações identificadas foram eritema, dilatação da veia, resíduo de sangue, equimose e endurecimento.
Conclusão: Identificadas manifestações que podem ser tratadas/minimizadas, cabendo ao enfermeiro a tomada de decisão baseada em evidências científicas que sustentem a prática, visando a segurança dos usuários e a qualificação do cuidado de enfermagem.
Palavras-chave: enfermagem; diagnóstico por imagem; veias; cateterismo periférico; diagnóstico de enfermagem
ABSTRACT
Background: The venipuncture is a frequent procedure in nursing care, being necessary to map/identify possible related problems, taking into account the specificities of diagnostic examinations, to support care delivery.
Objective: Analyze the incidence and type of peripheral vascular trauma manifestations in people undergoing computed tomography and magnetic resonance imaging.
Methodology: Retrospective cohort of sectorial documents and prospective cohort with individuals punctured for computed tomography and magnetic resonance imaging with contrast. Data collected from June to December 2018, subject to descriptive statistics and incidence measurement.
Results: The study included 76 patients and 2,946 records of venipuncture evaluation forms. In the retrospective cohort, the incidence of extravasation of contrast was 8,4%. In the prospective cohort, the incidence of vascular trauma was 52,6%. The manifestations identified were erythema, vein dilation, blood residue, ecchymosis, and hardening.
Conclusion: The manifestations identified can be treated/minimized, being the nurse responsible for decision-making based on scientific evidence, aiming at patient safety and quality of nursing care.
Keywords: nursing; diagnostic imaging; veins; catheterization, peripheral; nursing diagnosis
RESUMEN
Marco contextual: La venopunción es un procedimiento frecuente en la atención de enfermería, y es necesario mapear/identificar los posibles problemas relacionados, considerando las especificidades de las pruebas diagnósticas, para subvencionar la atención.
Objetivo: Analizar la incidencia y los tipos de manifestaciones de los traumatismos vasculares periféricos en personas sometidas a una tomografía computarizada y a una resonancia magnética.
Metodología: Cohorte retrospectiva de documentos sectoriales y cohorte prospectiva con personas que se sometieron a una punción para realizarse una tomografía computarizada y una resonancia magnética de contraste. Los datos recogidos entre junio y diciembre de 2018 se trataron con la estadística descriptiva y el cálculo de la incidencia.
Resultados: Participaron 76 usuarios y 2946 registros de las fichas de venopunción. En la cohorte retrospectiva, la incidencia de extravasación de contraste fue del 8,4%. En la cohorte prospectiva, la incidencia de traumatismo vascular fue del 52,6%. Las manifestaciones identificadas fueron eritema, dilatación de la vena, residuo de sangre, equimosis y endurecimiento.
Conclusión: Se identificaron manifestaciones que pueden ser tratadas/minimizadas, y el enfermero es responsable de tomar decisiones basadas en las pruebas científicas que respaldan la práctica, con el objetivo de mantener la seguridad de los pacientes y la calidad de los cuidados de enfermería.
Palabras clave: enfermería; diagnóstico por imagen; venas; cateterismo periférico; diagnóstico de enfermería
Introdução
Os avanços tecnológicos possibilitam importantes transformações ao nível mundial, incluindo conquistas para a área da saúde. A criação de equipamentos que utilizam raios X, como na tomografia computadorizada (TC), e outros tipos de radiação, como na ressonância magnética (RM) para formação de imagens do corpo humano, facilitou o diagnóstico das doenças para uma terapêutica adequada. A Unidade de Diagnóstico por Imagem (UDI) presta serviço de apoio diagnóstico, sendo considerada uma área essencial para a dinâmica do funcionamento dos serviços de saúde devido ao desenvolvimento técnico e científico, permitindo eficiência nos processos de decisão clínica e/ou cirúrgica que impactam sobre o tratamento e acompanhamento dos clientes (Sales, Oliveira, Spirandelli, & Cândido, 2010).
A imagem formada pelas diferentes radiações possibilita a distinção das estruturas anatómicas de acordo com sua densidade e espessura, permitindo a sua diferenciação conforme o contraste natural. Porém, algumas dessas estruturas possuem densidades semelhantes, impedindo a sua diferenciação e, com isso, surgem os contrastes artificiais, que são administrados por via intravascular e contribuem para melhorar a qualidade das imagens (Cruz, 2012).
A atuação dos profissionais de enfermagem na área de diagnóstico por imagem visa assegurar a qualidade da assistência prestada aos clientes que são submetidos aos exames, promovendo a humanização no atendimento. Uma das atribuições da equipa de enfermagem nas UDIs para a realização dos exames é realizar a punção venosa e inserção de um cateter venoso periférico para viabilizar a administração de meios de contraste. Este é um procedimento invasivo que requer competência profissional devido à sua complexidade técnico-científica, além de habilidade psicomotora (Oliveira et al., 2019). Apesar de a punção venosa ser considerada um procedimento simples e comum na assistência de enfermagem, podem ocorrer complicações locais e sistémicas no local da punção e áreas próximas, as quais devem ser evitadas e/ou minimizadas (Danski, Johann, Vayego, Oliveira, & Lind, 2016).
O extravasamento de contraste é um dos tipos de traumatismo mais relatado nas UDIs, com variação entre 0,1% e 1,2%. Estas taxas são consideradas baixas, embora estejam associadas à gravidade do evento (Conner et al., 2017). Alguns fatores intervenientes podem influenciar na ocorrência de extravasamento de contraste, a exemplo no calibre dos cateteres intravasculares e também na velocidade de infusão do medicamento (Tamura et al., 2017).
Na literatura consultada não foram encontrados, registos de incidência de outros tipos de traumatismo vascular nas punções venosas realizadas nas UDIs, facto que justificou a realização da presente investigação.
Para que uma punção venosa seja efetiva é necessário que a equipa de enfermagem tenha conhecimento técnico-científico de anatomia e fisiologia, microbiologia. Além disso, é imprescindível adotar na prática clínica as recomendações e evidências científicas das boas práticas para assegurar a segurança dos usuários e a atualização constante do profissional de enfermagem, visando uma assistência qualificada e que minimize as complicações e/ou danos (Melo et al., 2015). Diante disso, o objetivo da investigação consistiu em analisar a incidência e os tipos de manifestações de traumatismo vascular periférico em pessoas que realizaram TC e RM.
Enquadramento
Os meios de contraste utilizados nos exames de imagem, também conhecidos como contrastes, são substâncias químicas que, de acordo com suas propriedades físico-químicas, possibilitam a sua diferenciação quando comparados às estruturas corporais. Estas propriedades são consideradas para direcionar os cuidados relacionados com a sua eficácia e segurança na sua administração. Diferentes tipos de substâncias atuam como contrastes, sendo a sua escolha dependente do tipo de exame a ser realizado (Cruz, 2012).
Os contrastes são considerados substâncias irritantes e vesicantes, isto é, desencadeiam reação inflamatória, dor e até necrose tecidual em caso de extravasamento nos tecidos. A infusão em alta pressão, que ocorre principalmente nos exames de TC, potencia o risco de extravasamento. Por este motivo, é imprescindível garantir uma via intravascular prévia, com o calibre compatível com a infusão, para prevenir/minimizar a ocorrência do extravasamento (Conner et al., 2017).
Além do extravasamento, outras complicações locais podem ocorrer após a punção venosa, inserção e, permanência de um cateter venoso periférico, como flebite, endurecimento, eritema, dilatação da veia, oclusão, dano no nervo, ligamento ou tendão, trombose, deslocamento do cateter, hematoma, espasmo venoso e infeção local (Danski et al., 2016; Tamura et al., 2017).
Alguns fatores podem contribuir para a ocorrência dos traumatismos vasculares, como o tipo de cateter utilizado, a preparação do local da punção, o tipo de infusão, a técnica de inserção e o tempo de permanência do cateter, além de características intrínsecas da pessoa que será puncionada (Danski et al., 2016; Krempser, Arreguy-Sena, & Barbosa, 2013).
Essas complicações locais são denominadas de traumatismo vascular periférico (TVP), definido como um dano em veia ou em tecido adjacente. Muitas destas lesões são passíveis de ser minimizadas ou até mesmo evitadas com adoção de algumas medidas preventivas, como ajustes na pressão e tempo do garroteamento durante a visualização/palpação da veia, escolha do calibre do cateter de acordo com o calibre do vaso e com a velocidade de infusão, utilização da técnica assética com utilização de uma quantidade mínima de antissético, fixação adequada do cateter venoso periférico, compressão do local pelo tempo necessário após a retirada do cateter venoso, entre outros (Krempser et al., 2013).
O diagnóstico de enfermagem risco para trauma vascular direciona a assistência de enfermagem nesta temática, além de ser considerado um parâmetro para aferir a qualidade do cuidado. Ele corrobora que é possível prevenir/minimizar a ocorrência de traumatismo vascular, juntamente com a adoção de medidas preventivas que envolvem uma releitura da prática assistencial de enfermagem, justificando o desenvolvimento de pesquisas na temática (Arreguy-Sena & Carvalho, 2009).
Questões de Investigação
Qual a incidência e os tipos de manifestações de traumatismo vascular periférico identificadas em pessoas que realizaram TC e RM em uma UDI?
Metodologia
Investigação realizada na UDI de um hospital universitário situado na região da Zona da Mata do Estado de Minas Gerais (Brasil), responsável pelo atendimento de atenção secundária à saúde, conveniados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, onde eram realizados, em média, 2.000 exames/mês, sendo que, deste quantitativo, 350 são TCs e 300 são RMs.
Realizada coorte retrospectiva dos 2.946 registos obtidos através das fichas de avaliação das punções venosas periféricas, impresso que existiu no setor nos anos de 2016 e 2017, onde eram realizados os registos relacionados com as punções venosas realizadas, sendo que em cada ficha eram registadas 10 pessoas que foram atendidas no setor. No entanto, esta ficha somente continha informações referentes ao extravasamento de contraste. Para identificar outros tipos de traumatismo vascular que podem ocorrer nas punções venosas para exames de TC e RM, surgiu a necessidade de realização da coorte prospectiva com 76 pessoas que tiveram as suas veias puncionadas para a realização de TC e/ou RM, registando também por fotografia o local da punção venosa periférica após a retirada do cateter intravascular.
A coorte prospetiva foi realizada com 76 pessoas somente, pois durante a recolha dos dados houve um período longo de desabastecimento de contraste, com cancelamento dos exames, prejudicando a continuação da recolha dos dados.
Foram critérios de inclusão para as fichas de avaliação das punções venosas: todos os registos referentes às pessoas atendidas na UDI advindos do recorte temporal compreendido entre o período de 30 de setembro de 2016 a 31 de dezembro de 2017, período em que a ficha existiu no setor. Critérios de exclusão: documentos que não estavam disponíveis durante o período de recolha de dados e registos de usuários que se encontravam internados quando foram atendidos na unidade. A amostra foi censitária, por isso não houve previsão de reposição de perdas.
Para o segmento dos participantes realizou-se um convite individual aos clientes previamente agendados para realizarem TC e/ou RM na UDI. Foram considerados critérios de inclusão: pessoas ? 18 anos; pessoas que não possuíam limitações na fala, que dificultassem/impossibilitassem a livre expressão e coerência dos dados; e pessoas que necessitariam de punção venosa para realizarem o exame de TC e/ou RM na UDI. Critérios de exclusão: apresentar intercorrências com risco de morte durante a realização do exame.
Foram criados dois instrumentos para a recolha dos dados, sendo um impresso destinado a recolher as informações contidas nas fichas de avaliações das punções venosas (género, idade, exame realizado, local da punção, número de tentativas, uso de contraste e extravasamento de contraste), e outro destinado a nortear as informações a serem captadas no acompanhamento das punções realizadas nos usuários (género, idade, cor da pele, rendimento pessoal, estado civil, escolaridade, religião, ocupação e exame realizado, calibre do dispositivo intravenoso, número de tentativas de punção venosa, características da rede venosa e local da punção). As fotografias das punções venosas que compuseram a coorte prospetiva eram realizadas após a remoção do cateter intravascular, caracterizando o término do exame, e foram utilizadas para registar os tipos de traumatismo vascular que surgiram durante a recolha.
Os dados foram colhidos com o apoio do aplicativo Open Data Kit (ODK). O conteúdo obtido via ODK foi encaminhado para armazenamento em nuvem e captado em folha Excel for Windows para posteriormente serem tratados de acordo com tipo de informação obtida.
Os dados foram importados da folha Excel para o software IBM SPSS Statistics, versão 22.0, sendo analisados segundo estatística descritiva (frequência simples, percentual e medidas de dispersão e de tendência central) e cálculo da incidência.
Foram atendidos todos os aspetos éticos e legais de pesquisa envolvendo seres humanos e obtido parecer favorável (CAAE: 1 84973518.0.0000.514).
Resultados
A coorte retrospetiva foi composta de 2.946 registos obtidos através das fichas de avaliação das punções venosas. A maioria dos participantes era do género feminino, com idade entre 48-57 anos e 58-67 anos (27,7% e 21,6%, respetivamente). O exame realizado com maior frequência foi a TC (50,6%). A punção venosa periférica foi realizada em 73,4% dos participantes, o principal local da punção foi o membro superior esquerdo (19,4%), com mediana de uma tentativa de punção venosa. Destaca-se que apesar de as punções terem sido realizadas em maioria no membro superior esquerdo (MSE), em 1.524 registos (70,4%) não havia registo referente ao local da punção. O contraste foi utilizado em 54,5% dos participantes. A incidência de extravasamento de contraste foi de 8,4% (Tabela 1).
Integraram a coorte prospetiva 76 pessoas. Houve predomínio de mulheres (59,2%), com idade entre 48 e 68 anos (17,1% e 28,9%, respetivamente), com mediana de 57,5 anos. O exame realizado com maior frequência foi a TC com contraste (61,9%).
Na Tabela 2, apresenta-se a caracterização das punções de veias periféricas dos participantes na coorte prospetiva. Utilizou-se, com maior frequência, o cateter venoso periférico 20 gauge, com êxito na primeira tentativa de punção (81,6%), realizada, predominantemente, no membro superior esquerdo (68,4%). Em relação ao perfil da rede venosa dos participantes, 86,9% das veias foram classificadas como elásticas e com flexibilidade; 38,2% de médio calibre; 98,7% como palpáveis; 80,3% com trajeto retilíneo; 81,6% visíveis; 71,1% das veias foram puncionadas em articulação; e 68,4% das punções venosas foram consideradas fáceis. Cabe mencionar que não foi identificada nenhuma manifestação de traumatismo vascular do tipo infiltração/extravasamento durante o período de ocorrência da coorte prospetiva.
O tempo de permanência do cateter venoso periférico, compreendido entre a realização da punção venosa e o término do exame para liberação do cliente, foi em torno de 30 minutos para os exames de TC e 1 hora para os exames de RM. A fixação e a estabilização do cateter venoso periférico foram realizadas com esparadrapo comum. Após a retirada do cateter venoso periférico realizou-se compressão no local da inserção, em todos os casos, com colocação de curativo oclusivo no sítio de inserção do cateter.
Apesar de não terem ocorrido casos de extravasamento de contraste durante a coorte prospectiva, foi possível identificar, com registos fotográficos, a presença de outros tipos de manifestações de traumatismo vascular decorrentes das punções venosas para a realização do exame (Tabela 3). A incidência de traumatismo vascular foi de 52,6%. As manifestações de traumatismo vascular identificadas e documentadas por meio de registo fotográfico, foram: eritema (25%), dilatação da veia (17,1%), resíduo de sangue (13,2%), equimose (9,2%) e endurecimento (3,9%). Foi encontrada pelo menos uma manifestação de traumatismo vascular em 38,2% dos locais de punção venosa periférica após remoção do CVP.
Figura 1. Manifestações de traumatismo vascular periférico nos locais puncionados para fins de exame de imagem, e documentadas por meio de registos fotográficos.
Discussão
No que tange ao perfil dos participantes, tanto na coorte retrospetiva quanto na prospetiva, houve o predomínio de mulheres. Segundo Botton, Cúnico, e Strey (2017), as mulheres procuram por atendimento com mais frequência, gerando assim uma maior taxa de atendimentos quando comparadas com os homens.
A faixa etária predominante entre os participantes (48 a 68 anos) reflete o envelhecimento populacional no Brasil, manifestada pela inversão da pirâmide populacional, que impacta na saúde pública do país. Um estudo que analisou os desafios relacionados ao envelhecimento populacional e o planejamento das políticas públicas (Miranda, Mendes, & Silva 2016) mostrou que o país ainda não está preparado para atender às demandas geradas pelo envelhecimento populacional. Isso traz reflexos em diferentes áreas, incluindo o sistema de saúde, em que será necessária a sua reestruturação contínua e multidisciplinar. Os autores destacam a importância de prover políticas públicas específicas que assegurem uma atenção integral a essa população, com enfoque na promoção da saúde, prevenção dos agravos e qualidade de vida, reconhecendo as características do envelhecimento para possibilitar que a população idosa se mantenha integrada na sociedade.
A punção venosa periférica realizada predominantemente no membro superior esquerdo em ambas as coortes pode ser devido à disposição do mobiliário no serviço, pois a mesa auxiliar para apoio dos materiais utilizados para punção localiza-se ao lado esquerdo da cadeira de punção, ou devido a preferência do cliente.
A busca por veias visíveis, palpáveis, de médio/grande calibre, retilíneas garantem ao profissional maior probabilidade de êxito nas punções, indicando o predomínio dessas também (Nobre & Martins, 2018; Oliveira et al., 2019).
A seleção pelo cateter venoso periférico de maior calibre é justificada pelas particularidades dos exames, pois os contrastes são administrados com alto fluxo (até 5mL/segundo), especialmente nos exames de TC, em que o volume chega a 100mL (Acauan & Rodrigues, 2015).
A seleção da veia deve ser criteriosa, priorizando as de maior calibre. Além disso, as propriedades físico-químicas dos contrastes, como a viscosidade, também sinalizam a necessidade de punções venosas de maior calibre, facilitando sua tolerabilidade. É preconizada a utilização de cateter intravascular flexível de calibre compatível com o calibre da veia escolhida, preferencialmente de tamanhos nº18G e nº20G (Pacheco Compaña, Gago Vidal, & Méndez Díaz, 2014).
A fixação e a estabilização dos cateteres intravasculares foram realizadas com esparadrapo comum na unidade. Foram identificados nos registos fotográficos resíduos da cola do esparadrapo na pele dos participantes, após retirar o cateter intravascular. Os resíduos de cola de esparadrapo são difíceis de remover, sendo necessária a fricção da pele. Tal facto pode desencadear traumatismos e diminuição da integridade da pele do usuário.
A estabilização do cateter venoso periférico impede o seu deslocamento dentro do vaso sanguíneo, preservando a sua integridade, além de minimizar traumatismos mecânicos. É imprescindível também a utilização de coberturas para proteger o local de inserção do cateter, minimizando a possibilidade de infeção da corrente sanguínea. As fitas adesivas não estéreis (esparadrapo comum e fita microporosa) não devem ser utilizadas para estabilização e/ou cobertura do cateter intravascular, pois podem ser facilmente contaminadas, aumentando o risco de infeção (Marschall et al., 2014).
A cobertura indicada para cobrir e fixar o cateter venoso periférico deve ser estéril, podendo ser semioclusiva, utilizando gaze e fita adesiva estéril, ou utilizando curativo transparente estéril. A aplicação do adesivo transparente estéril é recomendada, pois permite a visualização do sítio de inserção do cateter, facilitando a sua avaliação. A utilização deste tipo de adesivo facilita a identificação imediata de diferentes manifestações de traumatismo vascular, incluindo infiltração/extravasamento, podendo interromper a infusão precocemente, ao detetar pequenas quantidades de líquido infiltrado/extravasado (Bausone-Gazda, Lefaiver, & Walters 2010; Marschall et al., 2014).
A incidência de extravasamento de contraste, encontrada na coorte retrospectiva foi superior aos valores documentados em outro estudo, que variaram entre 0,1% a 1,2% (Pacheco Compaña et al., 2014). O extravasamento de contraste pode ocorrer durante a sua administração manual ou por meio de uma bomba injetora, em taxas de fluxo alta ou baixa. Como a administração do contraste é em bolus (manual), na maioria das vezes, o extravasamento envolve grandes volumes de contraste. O contraste gadolínio, utilizado na RM, é considerado menos tóxico quando comparado ao contraste iodado, utilizado na TC. No entanto, eles geralmente não causam lesões mais graves, pois, na RM, o contraste é injetado em volumes menores comparado à TC (Silva, Bitencourt, & Chojniak, 2018).
As propriedades físico-químicas dos contrastes indicam a necessidade de monitoramento de sua infusão com maior frequência, pois características como viscosidade e hiperosmolaridade aumentam as chances de ocorrência de extravasamento (Rose & Choi, 2015).
As manifestações de traumatismo vascular identificadas foram: eritema, dilatação da veia, resíduo de sangue, equimose e endurecimento. Resultados semelhantes foram encontrados num estudo realizado com pessoas internadas em clínica médica, cuja incidência de traumatismo vascular foi 56,52% (Danksi et al., 2015), com predominância de flebite (36,54%), infiltração (23,08%), tração acidental do cateter (17,31%), obstrução (15,38%), infeção local (3,85%), extravasamento (1,92%) e tromboflebite (1,92%). Num estudo brasileiro realizado com pessoas atendidas num serviço de urgência e emergência, a incidência de traumatismo vascular foi de 55% (Krempser et al., 2013), sendo identificado por dor (38,9%), diminuição da capacidade funcional do membro puncionado ou parte dele (2,8%), edema (19,1%), endurecimento (6,9%), solução de integridade/continuidade (6,3%), hiperemia, equimose, hematoma (20,8%), secreção no sítio de inserção do cateter (0,7%) e aumento ou diminuição da temperatura local (4,5%).
As manifestações encontradas aproximam-se dos estudos citados por serem características oriundas do próprio processo de punção de vasos periféricos, pela presença do cateter e do tipo de solução infundida (Danski et al., 2015; Krempser et al., 2013). Por este motivo, quando não é possível evitar que o traumatismo vascular ocorra, ações devem ser tomadas para minimizar os seus efeitos. Portanto, o enfermeiro deve refletir sobre as suas práticas e os cuidados de enfermagem que envolvem o processo de punção de veias periféricas. Os cuidados de enfermagem devem ser fundamentados em evidências científicas, para uma maior capacidade de prevenir o traumatismo vascular, e reconhecimento dos sinais e sintomas que o caracterizam, quando já instalado, por forma a intervir adequadamente, com foco na segurança do usuário.
Ao analisar as possíveis limitações, percebe-se que a amostra reduzida de participantes da coorte prospetiva e também o facto de o local de inserção do cateter não ter sido acompanhado por, pelo menos, 48 horas após o término do exame possibilitou somente a identificação destas manifestações, sendo que muitas delas são desencadeadas por fatores relacionados com as especificidades dos exames, e, por isso, não podem ser alteradas pelo enfermeiro.
Deve-se considerar a vulnerabilidade dos usuários com veias puncionadas, utilizando-se classificações padronizadas sobre os tipos de veias, para garantir que a veia escolhida seja a mais adequada ao tipo e características dos medicamentos e taxa de infusão. A utilização de dispositivos tecnológicos para visualização de veias, como o ultrassom, é uma ferramenta que facilita a punção venosa nas veias classificadas como difíceis, permitindo escolher a veia mais adequada para cada usuário, sendo um instrumento que subsidia a tomada de decisão do enfermeiro, garantindo segurança nos cuidados (Oliveira, Danski, & Pedrolo 2016).
Conclusão
A incidência de extravasamento de contraste, identificada somente na coorte retrospetiva, foi de 8,4%. Na coorte prospetiva, a incidência de traumatismo vascular foi de 52,6%, sendo identificadas as seguintes manifestações de traumatismo vascular: eritema (25%), dilatação da veia (17,1%), resíduo de sangue (13,2%), equimose (9,2%) e endurecimento (3,9%).
As manifestações de traumatismo vascular evidenciadas podem ser sanadas ou minimizadas, com a utilização de materiais adequados e novas tecnologias disponíveis, como o adesivo transparente para fixação e melhor visualização do local da punção e o uso do ultrassom para visualização das veias para sua escolha criteriosa, cabendo ao enfermeiro a tomada de decisão baseada em evidências científicas que sustentem a sua prática, com vista à segurança dos usuários e à qualificação do cuidado de enfermagem.
Os resultados encontrados subsidiaram a aquisição de novos insumos e tecnologias, possibilitando mudança nos protocolos institucionais para melhorias na qualidade da assistência. Torna-se necessária a realização de novos estudos para avaliar se as tecnologias implementadas contribuíram para a melhoria dos resultados e também podem surgir estudos com o impacto de cada tecnologia para a assistência de enfermagem.
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Contribuição de autores:
Conceptualização: Krempser, P., A. S., Lemos, R. C. P. B., Arreguy-Sena, C.
Tratamento de dados: Lemos, R. C. P. B., Arreguy-Sena, C.
Análise formal: Lemos, R. C. P. B., Arreguy-Sena, C.
Aquisição de financiamento: Lemos, R. C. P. B., Arreguy-Sena, C.
Investigação: Arreguy-Sena, C., Lemos, R. C. P. B.
Metodologia: Arreguy-Sena, C., Lemos, R. C. P. B.
Administração do projeto: Arreguy-Sena, C.
Recursos: Lemos, R. C. P. B.
Software: Arreguy-Sena, C., Lemos, R. C. P. B.
Supervisão: Arreguy-Sena, C.
Validação: Braga, L. M., Brandão, M. A. G., Salgueiro-Oliveira, Krempser, P.
Visualização: Braga, L. M., Krempser, P., A. S., Lemos, R. C. P. B., Arreguy-Sena, C.
Escrita - rascunho original: Lemos, R. C. P. B., Arreguy-Sena, C.
Escrita - análise e edição: Braga, L. M., Brandão, M. A. G., Salgueiro-Oliveira, Krempser, P., A. S., Lemos, R. C. P. B., Arreguy-Sena, C.
* Autor de correspondência:
Romanda da Costa Pereira Barboza Lemos
Email: romanda.barboza@gmail.com
Como citar este artigo: Arreguy-Sena, C., Lemos, R. C., Brandão, M. A., Salgueiro-Oliveira, A. S., Braga, L. M., & Krempser, P. (2020). Incidência e tipo de traumatismo vascular periférico em pessoas submetidas a exames de diagnóstico por imagem. Revista de Enfermagem Referência, 5(2), e19061. doi:10.12707/RIV19061
Recebido: 03.10.19
Aceite: 10.01.20