Introdução
A prática de enfermagem não se limita apenas a procedimentos técnicos. Compreende, também, um conjunto de ações e cuidados amplos que permitem estabelecer uma relação que favoreça um ambiente propício à manifestação das preocupações e medos do doente (Gomes, 2015). A consulta pré-operatória de enfermagem (CPOE) permite construir uma relação que facilite a comunicação centrada no doente. O enfermeiro conhece a história do doente, através de uma entrevista e, posteriormente, adequa intervenções às necessidades identificadas (Pettersson et al., 2018).
Com frequência, os doentes no período de acolhimento, verbalizam informações díspares a respeito da preparação pré-operatória, podendo assim comprometer todo o procedimento anestésico e/ou cirúrgico. Manifestam, também, medo relativo ao pós-operatório imediato e incertezas ligadas ao momento da alta clínica e à recuperação pós-cirúrgica no domicílio. Concomitantemente, o curto período de permanência no internamento limita o contacto dos enfermeiros com os doentes, no que diz respeito à transmissão de informações sobre o pós-operatório. Assim, é frequente os doentes sentirem dúvidas e dificuldades no autocuidado após a alta, acabando por contactar ou recorrer de novo ao hospital.
O estudo foi realizado num hospital privado, em Portugal, onde o doente, no pré-operatório, tem uma consulta com o cirurgião e com o anestesista, sendo que toda a informação referente à preparação pré-operatória é transmitida posteriormente por uma colaboradora do secretariado clínico via telefone. Resulta, assim, que o primeiro contacto com o enfermeiro ocorre somente no dia do acolhimento, isto é, no pré-operatório imediato. Com base na problemática enunciada, realizou-se um estudo descritivo, correlacional, quase-experimental em que se pretende: avaliar, no pós-operatório, a satisfação do doente com a informação recebida; analisar a influência da consulta pré-operatória de enfermagem na satisfação das necessidades informativas do doente.
Enquadramento
A enfermagem, para além de ser uma disciplina do conhecimento, é também uma profissão autorregulada, com o objetivo de satisfazer as necessidades de saúde da pessoa em todas as etapas do seu ciclo vital (Nunes, 2017). Para o desenvolvimento das atividades em enfermagem perioperatória é essencial mobilizar diversos conhecimentos teóricos e práticos através de um processo bem delineado (Association of periOperative Registered Nurses, 2018). Essas atividades têm também que acompanhar teorias e modelos que satisfaçam as necessidades do doente. Meleis (2012) afirma que os enfermeiros na sua prática são confrontados com pessoas que estão a vivenciar processos de transição que envolvem alterações de saúde, nas relações, expetativas e capacidades dos papéis. Assim, esta transição exige que o ser humano obtenha conhecimentos novos e mude os seus comportamentos. Também Orem considera na sua teoria o autocuidado como uma prática de atividades que privilegia a melhoria e o amadurecimento das pessoas que a iniciam e a desenvolvem, tendo por base espaços de tempo específicos (Queirós et al., 2014).
No período perioperatório, a informação permite ao doente desenvolver respostas adequadas às diferentes situações que vivenciam e possibilita uma participação efetiva na tomada de decisão (Gonçalves et al., 2017). De acordo com Bayraktar et al. (2018) é importante conciliar a vertente escrita (folhetos) com a verbal para aumentar a qualidade dos cuidados de enfermagem, promover o autocuidado, melhorar a satisfação do doente e diminuir os riscos de readmissão hospitalar. Melgo (2015) aponta que o doente reage de uma maneira muito própria perante a cirurgia, pelo que é fundamental a prestação de cuidados individualizados. Assim, a consulta de enfermagem é definida como uma ferramenta que permite atender à individualidade do doente para melhorar a sua capacidade de autocuidado (Portaria nº306-A/2011 de 20 de dezembro). Os autores Pettersson et al. (2018) defendem que a CPOE permite focar a comunicação centrada no doente e concluíram que, colocar uma pergunta aberta logo no início da consulta, possibilita aos doentes narrar as suas perspetivas, medos e experiências. Também os autores Lau e Chamberlain (2017) defendem a implementação pré-operatória de uma avaliação multidisciplinar, através de consultas, que permite aos diferentes profissionais de saúde identificar fatores de risco, informar o doente sobre todo o processo cirúrgico e satisfazer as suas necessidades, com o objetivo de minimizar as morbilidades, o tempo de internamento e aumentar a satisfação do doente e qualidade de vida.
A satisfação consiste numa perceção pessoal resultante de boas práticas (Ribeiro, 2003). Desse modo, a Lei de Bases da Saúde (Lei n.o 95/2019 de 4 de setembro) refere que é necessário avaliar a satisfação dos doentes e dos profissionais. Em contexto de cuidados de enfermagem, os autores Marques et al. (2018) defendem que é importante os enfermeiros focalizarem-se nos domínios profissional, confiança e educativo com o objetivo de aumentar a satisfação do doente.
Questão de Investigação/ Hipótese
Qual a influência da consulta pré-operatória de enfermagem na satisfação das necessidades informativas do doente?
A satisfação das necessidades informativas dos doentes é diferente consoante receberam ou não consulta pré-operatória de enfermagem.
Metodologia
Foi desenvolvido um estudo descritivo, correlacional, quase-experimental. Ao grupo experimental (GE) foi realizada a CPOE, seguindo um guião pré-estabelecido e os doentes que o constituíram receberam um folheto informativo sobre a preparação para a cirurgia e o percurso hospitalar. Os doentes do grupo de controlo (GC) seguiram os procedimentos pré-operatórios implementados na instituição onde se realizou o estudo. A avaliação do processo em ambos os grupos foi realizada no pós-operatório, imediatamente antes da alta clínica, pela aplicação de um questionário que permitiu perceber a satisfação dos sujeitos relativamente às informações transmitidas.
Definiu-se uma amostra não probabilística acidental em que os critérios de inclusão foram: idade igual ou superior a 18 anos; capacidade para ler, interpretar e dar respostas por escrito; ter acuidade auditiva, visual e sem alterações mentais; doentes previstos para cirurgia programada. A CPOE foi a variável independente em estudo e a variável dependente a satisfação das necessidades informativas do doente. Além disso, definiram-se também algumas variáveis atributo para caraterizar os sujeitos. Cada CPOE teve a duração de 20 minutos e foi iniciada por uma questão aberta que permite ao doente desenvolver o seu discurso e ao enfermeiro identificar as necessidades informativas. Para a colheita de dados foi utilizado um questionário, composto por duas partes. A primeira avaliava alguns dados sociodemográficos, familiares e clínicos; e a segunda possibilitou a avaliação da satisfação dos doentes relativamente às informações obtidas no pré-operatório, através da escala Satisfação dos doentes com a informação transmitida no pré-operatório no hospital, não validada para a população portuguesa e adaptada de Ribeiro (2003). Esta escala, do tipo Likert, é constituída por 22 questões e está subdividida em duas partes: a primeira, comporta 12 questões, permite determinar a frequência com que a informação foi transmitida no pré-operatório, a segunda avalia a satisfação com a informação transmitida no pré-operatório e é constituída por 10 questões, uma das quais que se subdivide em quatro alíneas. Cada questão da escala tem quatro hipóteses de resposta, pontuadas de 0 a 3. O score da primeira parte varia entre o mínimo de 0 e 36 pontos e da segunda parte entre 0 e 39 pontos. A determinação do α de Cronbach desta escala adaptada permitiu obter um resultado de 0,943.
A colheita de dados decorreu entre agosto e outubro de 2019. As CPOE foram realizadas no dia em que os doentes efetuavam os exames complementares de diagnóstico. O instrumento de colheita de dados foi aplicado a ambos os grupos em estudo no período pós-operatório, imediatamente antes da alta clínica. Escolheu-se este momento de avaliação para que os doentes pudessem refletir se as informações transmitidas no pré-operatório tinham correspondido às realidades vivenciadas ao longo do internamento. Os dados colhidos foram tratados informaticamente com recurso ao IBM SPSS Statistics, versão 25.0. Foram utilizadas técnicas de estatística descritiva e inferencial, aplicando-se o teste de Kolmogorov-Smirnov e verificou-se que a amostra não apresentava distribuição normal, pelo que foi utilizado o teste não paramétrico, U de Mann-Whitney. Foram considerados como estatisticamente significativos os resultados em que o nível de significância foi inferior a 0,05.
Garantiram-se todos os procedimentos éticos. A participação dos doentes foi precedida pela explicação de um conjunto de informações e foi dado a assinar um consentimento informado e esclarecido. Foi realizado o pedido de autorização do uso e adaptação da escala original à autora Ribeiro (2003). Foi igualmente dirigido pedido de autorização ao órgão máximo da instituição hospitalar onde foi efetuado o estudo e pedido de parecer à Comissão de Ética da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Ambos os pedidos obtiveram parecer positivo.
Resultados
A amostra foi constituída por 90 doentes, 40 do GE e 50 do GC. Dentro das sete especialidades cirúrgicas existentes no contexto onde decorreu o estudo (ortopedia, cirurgia geral, plástica reconstrutiva, urologia, ginecologia, otorrinolaringologia e neurocirurgia) é possível verificar uma predominância de doentes da especialidade de ortopedia (GC = 26,0%; GE = 42,5%). Quanto ao sexo, no GC houve maior número de doentes do sexo feminino (52,0%) e no GE maior número de doentes do sexo masculino (55,0%). A idade dos doentes do GC variou entre os 31 e os 82 anos, sendo a média 58,30, a mediana 57,50 e o desvio-padrão 13,84. No GE situou-se entre os 18 e os 82 anos de idade, com média ٥٩,٩٣, mediana 62,50 e desvio-padrão 17,58. Dentro dos grupos etários definidos, destacou-se o dos adultos (40 aos 64 anos) no GC (52,0%) e o dos idosos (≥ 65 anos) no GE (47,5%). No que concerne aos antecedentes cirúrgicos, a maioria dos doentes já tinha sido submetido a procedimentos cirúrgicos (GC = 80,0%; GE = 77,5%; Tabela 1).
Variável | GC; n = 50 | GE; n = 40 |
Especialidade cirúrgica | Ortopedia - 26,0% | Ortopedia - 42,5% |
Sexo | Feminino - 52,0% | Masculino - 55,0% |
Idade | Média - 58,30 anos | Média - 59,93 anos |
Antecedentes cirúrgicos | Sim - 80,0% | Sim - 77,5% |
Nota. GC = Grupo de controlo; GE = Grupo experimental; n = Frequência absoluta.
A análise dos resultados da primeira parte da escala, referente à frequência com que a informação foi transmitida, mostrou que o GC apresentava uma média de 26,82, uma mediana de 28,00, uma moda de 30,00 pontos, com um desvio-padrão de 5,46. O valor mínimo apresentado foi de 10,00 pontos e o máximo de 36,00 pontos. No GE, a média foi 34,25, a mediana 35,00, a moda 36,00 pontos e o desvio-padrão foi 2,17. A pontuação variou entre 27,00 e 36,00 pontos. Na análise dos resultados da segunda parte, dedicada à satisfação com a informação transmitida, foi possível verificar que o GC obteve como média 26,54, mediana 27,50 e moda 33,00, com desvio-padrão 7,75. O valor mínimo apresentado foi de 12,00 pontos e o máximo de 39,00. No GE, a média foi 36,47, a mediana 38,50, a moda 39,00 e o desvio-padrão 3,73. A pontuação variou entre 26,00 e 39,00 pontos (Tabela 2).
1.ª parte da escala | 2.ª parte da escala | ||||
GC | GE | GC | GE | ||
Média | 26,82 | 34,25 | 26,54 | 36,47 | |
Mediana | 28,00 | 35,00 | 27,50 | 38,50 | |
Moda | 30,00 | 36,00 | 33,00 | 39,00 | |
Desvio-padrão | 5,46 | 2,17 | 7,75 | 3,73 | |
Mínimo | 10,00 | 27,00 | 12,00 | 26,00 | |
Máximo | 36,00 | 36,00 | 39,00 | 39,00 |
Nota. GC = Grupo de controlo; GE = Grupo experimental.
Pela análise da primeira parte da escala, verificou-se que o GE apresenta uma maior percentagem de respostas sempre, apresentando valores maioritariamente entre os 57,5% e os 100%, enquanto que o GC obteve uma percentagem entre os 6,0% e os 76,0%. Destacam-se as questões sobre a preocupação em manter um ambiente calmo, simpatia e paciência no atendimento, foram as que obtiveram maiores percentagens de respostas sempre (60,0% - 76,0%) no GC. As questões referentes a: informações para lidar com as necessidades; ensinos de acordo com as necessidades; explicação compreensível; importância dada aos problemas do doente destacam-se no GE com respostas sempre acima de 85,0%, enquanto que no GC predominou às vezes (30,0% - 40,0%). A preocupação em envolver a família obteve no GC 30,0% de respostas nunca e no GE 57,5% de respostas sempre.
No que diz respeito à segunda parte da escala, é importante destacar diferenças consideráveis nos níveis de satisfação dos doentes quanto à informação que receberam. Globalmente, 81,5% dos doentes do GE manifestaram-se satisfeitos com a informação transmitida no pré-operatório, enquanto que no GC foram apenas 44,2%. Quanto ao nível de insatisfação, no GE foi de 0,6%, enquanto que o GC se situou nos 19,7% (Figura 1).
As questões sobre o pré-operatório (preparação para a cirurgia e o percurso hospitalar) apresentaram valores de satisfação entre os 90,0% e os 92,5% no GE e no GC entre os 60,0% e 70,0%. Quanto à informação fornecida no folheto informativo, o GE apresentou 75,0% de respostas satisfeito enquanto que o GC obteve 74,0% de respostas não se aplica/sem opinião. Sobre os cuidados pós-operatórios imediatos e a ter no domicílio, destacamos que não houve insatisfeitos no GE, apresentando valores acima de 77,5% de satisfação. No GC, verificámos respostas de insatisfação entre os 18,0% e os 32,0% e entre 34,0% e os 50,0% de satisfeito. Quando questionados sobre a quantidade e adequação da informação, a forma como era transmitida, os conhecimentos dos profissionais e o tempo disponibilizado para escutar dúvidas e medos, no GE verificámos entre os 70,0% e os 95,0% de respostas satisfeito e 2,5% de insatisfeito. No GC, estas questões obtiveram maioritariamente valores de respostas nem satisfeito/nem insatisfeito entre os 38,0% e os 42,0% e de respostas insatisfeito entre os 12,0% e os 26,0%.
O teste de Kolmogorov-Smirnov revelou que a amostra não apresenta distribuição normal (p < 0,001). O principal interesse deste estudo consistiu em analisar a relação entre o nível de satisfação das necessidades informativas dos doentes e a CPOE. Para isso, foi aplicado o teste de U de Mann-Whitney, tendo-se verificado uma diferença estatisticamente significativa entre a satisfação das necessidades informativas dos doentes que receberam CPOE (postos médios = 64,51) e os que não receberam (postos médios = 30,29), com um nível de significância inferior a 0,001 (U = 239,5; Z = - 6,232). Face a este resultado, aceita-se a hipótese formulada. A satisfação das necessidades informativas dos doentes é claramente superior no grupo que recebeu a CPOE.
Discussão
Em ambos os grupos, a amostra da população inquirida foi constituída maioritariamente por doentes da especialidade de ortopedia. Relativamente aos antecedentes cirúrgicos, a amostra, nos dois grupos em estudo, foi constituída essencialmente por doentes já submetidos pelo menos a uma intervenção cirúrgica anteriormente. Este resultado está em concordância com os números apontados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde é referido que a quantidade de doentes operados em 2018 é a mais elevada de sempre (SNS, 2019). Corroborando o referido, sendo o GE constituído por maior percentagem de idosos (47,5%), pode justificar o motivo para nesse grupo haver mais doentes do foro ortopédico.
Reportando os resultados obtidos através da primeira parte da escala aplicada, é possível verificar que os doentes do grupo alvo da CPOE receberam mais informação para poder vivenciar o processo cirúrgico. De um modo geral, os resultados revelam que há uma preocupação na atual dinâmica da instituição em estabelecer uma relação de simpatia e cortesia com o doente ao longo do pré-operatório, todavia, não garante uma aproximação suficiente que lhe possibilite demonstrar as suas necessidades e os seus problemas e, por conseguinte, o ajude a vivenciar esta fase de mudança pessoal, familiar e social. A questão relativa ao envolvimento da família também se destacou no GE face ao GC. Corroborando estes factos, o estudo de Gonçalves et al. (2017) revela que os enfermeiros devem adotar uma posição privilegiada em relação à informação ao doente e família, por ser a classe profissional mais presente.
Quanto aos resultados apurados na análise descritiva da segunda parte da escala, bem como no teste estatístico aplicado à hipótese que relaciona o nível de satisfação das necessidades informativas dos doentes e a CPOE, é possível afirmar de forma clara que este tipo de consulta contribuiu para aumentar o nível de satisfação dos doentes relativamente às informações transmitidas. Outros autores defendem que a CPOE é uma ferramenta privilegiada na criação do relacionamento de confiança enfermeiro-doente e permite satisfazer as necessidades emocionais e informativas características destes momentos de ansiedade (Gonçalves et al., 2017; Pettersson et al. 2018). Com o suporte dos resultados dos autores anteriormente mencionados, é razoável referir que este estudo permite corroborar a evidência científica existente. No entanto, devem interpretar-se os resultados com prudência, sem extrapolar para outras realidades, ou contextos, visto que a amostra do estudo era de dimensão reduzida e referente apenas a uma instituição de saúde.
A CPOE foi iniciada com uma entrevista informal, possibilitando ao enfermeiro/investigador avaliar as necessidades e de seguida, planear as intervenções de acordo com a individualidade do doente. Esta prática é defendida no estudo de Pettersson et al. (2018), porque permite incluir os discursos dos doentes no contexto clínico, esclarecer dúvidas e clarificar conhecimentos acerca do processo cirúrgico. Os doentes do GE apresentaram valores mais elevados de satisfação relativamente à quantidade de informação transmitida e à adequação dessa informação às suas necessidades, quando comparados com os do GC. Estes resultados demonstram que a CPOE permitiu ao enfermeiro intervir de acordo com a individualidade do doente, estando em consonância com os resultados apurados por Melgo (2015) que defende a importância de adotar uma prestação que permita identificar as necessidades do doente e planear cuidados individualizados, minimizando o desconforto gerado por todo o processo cirúrgico.
A inconsistência de informações sobre o pré-operatório incorre no risco de comprometer o procedimento anestésico e/ou cirúrgico. Para superar esta dificuldade, foi entregue um folheto informativo aos doentes do GE. Esta intervenção revelou elevada percentagem de satisfação com a informação escrita fornecida. A par disso, os resultados obtidos através das questões sobre as informações transmitidas acerca da preparação para a cirurgia e o percurso a efetuar no hospital foram mais elevados quando comparados com os do GC. A CPOE assume aqui uma posição importante na melhoria dos cuidados e no controlo de vazios existentes na preparação do doente para o procedimento anestésico-cirúrgico. Assim, neste âmbito, os resultados obtidos são corroborados pela literatura, nomeadamente o estudo de Bayraktar et al. (2018), ao demonstrar que conciliar a transmissão verbal e ferramentas não-verbais é eficaz na educação pré-operatória, na gestão das emoções e no aumento da satisfação do doente. Além disso, no folheto constavam informações importantes sobre a prevenção da infeção do local cirúrgico (ILC), de acordo com a Norma 020/2015 da Direção-Geral da Saúde (2015). Sendo o doente um dos pilares para o sucesso cirúrgico, a CPOE revela-se, assim, importante como uma estratégia fundamental para promover a educação pré-operatória, informando-o sobre as medidas que pode adotar no sentido de contribuir para a prevenção da ILC e consequentemente alcançar uma mais rápida e melhor recuperação. Esta prática privilegia os cuidados de enfermagem autónomos e dá visibilidade à qualidade dos mesmos perante os doentes.
Ao longo das consultas verificou-se a existência de medos e dúvidas associados ao pós-operatório imediato e após alta clínica. As respostas às questões relacionadas com esse tema mostraram níveis mais elevados de satisfação no GE, face ao GC, demonstrando assim que os doentes que receberam a CPOE sentiram-se mais confiantes relativamente aos cuidados que devem adotar no internamento e no domicílio, de forma a minimizar desconfortos e potenciar a recuperação. Corroborando estes resultados, Pettersson et al. (2018) concluíram que a CPOE é importante no envolvimento do doente no seu processo de cuidados através da educação pré-operatória e, concomitantemente, na compreensão de toda a informação transmitida, essencial na minimização do risco de complicações pós-operatórias. Também o estudo de Mendes et al. (2018) defende que a prestação de cuidados de enfermagem ao longo do processo cirúrgico, começando na CPOE, influencia a qualidade dos resultados do doente após a recuperação cirúrgica.
Tendo em conta os resultados deste estudo e as evidências científicas, constata-se a importância da enfermagem na compreensão da experiência de transição que o doente cirúrgico vivencia. Esta compreensão exige avaliar as necessidades e a individualidade do doente e do seu meio envolvente, partindo da perspetiva do próprio, para posteriormente planear e implementar intervenções autónomas de enfermagem. Neste âmbito, surge a CPOE como uma aliada do processo de cuidados, ao privilegiar a proximidade e a construção de uma relação terapêutica fundamental na satisfação das necessidades informativas do doente.
No que toca às limitações existentes ao longo da realização do estudo, é possível identificar o tempo estabelecido para a conclusão do trabalho que determinou o período de colheita de dados e, por conseguinte, o tamanho da amostra.
Conclusão
Os doentes apresentam muitas incertezas e dúvidas sobre o processo cirúrgico. Atualmente, o tempo de internamento para intervenção cirúrgica é cada vez mais limitado, pelo que a relação terapêutica enfermeiro-doente fica comprometida. Para colmatar esses défices, a CPOE é encarada como uma atividade autónoma fulcral para a preparação pré-operatória e a recuperação cirúrgica.
De acordo com os resultados obtidos, é possível concluir que os doentes que tiveram a CPOE percecionaram receber mais informação para poder vivenciar o processo cirúrgico e, por conseguinte, sentiram-se mais satisfeitos para vivenciar esta transição. A consulta permitiu ao enfermeiro apostar na educação pré-operatória como ferramenta para avaliar, planear e intervir de acordo com a individualidade e as necessidades informativas do doente, reduzindo o impacto emocional gerado pelas alterações consequentes da cirurgia. Este momento privilegia a transmissão de informações verbais e escritas importantes na prevenção de lacunas aquando da preparação para a cirurgia, bem como na promoção do autocuidado após a mesma. A consulta pré-operatória é eficaz na construção da relação enfermeiro-doente, pois permite ao enfermeiro escutar atentamente os problemas e as dúvidas do doente para posteriormente planear intervenções autónomas.
Para além destes ganhos para o doente, este estudo também permitiu momentos de reflexão entre os enfermeiros de perioperatório para mudarem práticas e comportamentos que privilegiassem uma avaliação inicial detalhada e uma preparação para alta clínica eficaz. A nível dos benefícios para a instituição hospitalar, a CPOE tem potencial para influenciar a redução de custos, pela diminuição de disparidades na preparação pré-operatória que podem comprometer a realização da cirurgia. Além disso, influencia a qualidade dos cuidados, garante um aumento da satisfação por parte dos doentes e, por conseguinte, conduz à fidelização aos serviços prestados.
Neste sentido, sugere-se a realização de um estudo, que permita avaliar a influência de uma consulta pós-operatória de enfermagem e o envolvimento da família/pessoa significativa na recuperação pós-operatória e na promoção do autocuidado. Seria de igual forma importante o incremento de programas de formação interna dirigidos a todos os enfermeiros do perioperatório com o objetivo de adquirirem mais competências na gestão da informação colhida ao doente, inclusive na continuidade de cuidados ao longo das diferentes fases cirúrgicas. Por último, sugere-se a validação da escala Satisfação dos doentes com a informação transmitida no pré-operatório no hospital.