Introdução
Os registos de enfermagem têm sido tema de reflexão pelo seu papel determinante no desempenho profissional dos enfermeiros.
Considerados como uma atividade autónoma dos enfermeiros, os registos de enfermagem são “narrações de eventos relevantes, escritos por enfermeiros em modelos próprios e resultantes da prestação de cuidados de enfermagem” (Silva, 1995, p. 17). As notas de enfermagem são uma parte dos registos de enfermagem e utilizam uma linguagem de texto livre e manuscrito narrando os factos verificados em relação à prestação de cuidados (Silva, 1995).
Documentar os cuidados de enfermagem permite promover a sua continuidade, produzir documentação sobre os cuidados, possibilita a sua avaliação, facilita a investigação e otimiza a gestão dos mesmos. É o meio através do qual se pode mostrar a visibilidade do exercício profissional para fora do grupo profissional, produzindo indicadores a partir da informação documentada (Silva, 2006).
É Florence Nightingale que nos meados do séc. XIX, início da enfermagem moderna, atribui grande importância aos registos de enfermagem e os considera fundamentais na prestação de cuidados. Reportava a necessidade de se fazerem registos claros e precisos em relação ao aquecimento e ventilação, iluminação, condições sanitárias e higiene, ruído e seleção e administração da dieta adequada. Os dados recolhidos tinham a finalidade de gerir da melhor forma a prestação de cuidados nas áreas deficitárias encontradas (Nightingale, 1860).
Nos anos 60, com a teoria holística, o enfermeiro regista todos os passos do seu raciocínio de enfermagem: avaliação inicial, identificação de problemas, determinação dos resultados esperados, planeamento das prescrições de enfermagem, execução dos cuidados e avaliação da eficácia/eficiência dos cuidados prestados (Silva, 1995).
Durante esta época, a documentação de enfermagem não era arquivada com o processo do doente e simplesmente eliminada após a sua alta.
É na década de 70 que a documentação em enfermagem se torna essencial refletindo as mudanças na profissão de enfermagem. Assim, na década de 70 os registos de enfermagem eram efetuados de uma forma exaustiva, nos anos 80 eram pouco relacionados com as ações de enfermagem e nos anos 90 passaram a estar relacionados com o cliente (Dias et al., 2001).
O aparecimento do processo de enfermagem nos anos 50, nos EUA, impôs-se como parte integrante dos cuidados de enfermagem e aplica uma metodologia sistemática do raciocínio em enfermagem (Silva, 1995). Os registos de enfermagem são elementares para documentar todas as fases do processo de enfermagem e a utilização de uma linguagem padronizada é fundamental para a sua aplicação.
A sua correta implementação permite ao enfermeiro uma melhor gestão no processo de cuidado e evita a duplicação de registos (Silva et al., 2019).
Os enfermeiros tiveram a necessidade de criar uma linguagem comum que permitisse organizar, uniformizar, quantificar e promover a eficácia das suas práticas. Os sistemas tradicionais em suporte de papel deram origem aos Sistema de Informação em Enfermagem (SIE), acompanhando as novas tecnologias de informação permitindo a gestão de toda a informação produzida (Cunha et al., 2019). O contributo da investigação em enfermagem nesta área facilitou a transição do modelo tradicional de registos de enfermagem para modelos SIE com base em novas estruturas e incorporando uma linguagem padronizada. As organizações de saúde têm acompanhado os novos padrões de exigência para responder aos atuais desafios, criando novos sistemas de informação.
Os SIE são uma realidade nas instituições de saúde pelo que se tornou pertinente realizar um estudo histórico com o objetivo de conhecer o percurso dos registos efetuados pelos enfermeiros em contexto hospitalar, antes da criação dos SIE. Este estudo situa-se entre 1958, data da criação do Ministério da Saúde e Assistência e 1998, aquando da fundação da Ordem dos Enfermeiros. É a partir da criação do Ministério da Saúde e Assistência que surge o interesse pelos problemas dos enfermeiros em relação à sua formação e exercício profissional, levando à revisão do ensino, criação e alargamento das escolas de enfermagem e à estruturação das carreiras de enfermagem. A criação da Ordem dos Enfermeiros foi fundamental para a profissão de enfermagem permitindo a sua autorregulação.
Todo o conhecimento tem a sua dimensão histórica e quanto mais sistemática for a pesquisa, mais segura e coerente será a sua interpretação.
No sentido de alargar esta pesquisa, tornou-se pertinente fazer a análise das publicações sobre registos de enfermagem, nas revistas portuguesas, no período temporal selecionado.
O recurso às publicações periódicas baseia-se no facto de a produção da escrita profissional da enfermagem e a sua publicação regular em revistas técnicas contribuir para a divulgação e desenvolvimento do conhecimento técnico e científico (Machado, 2014). Considerando as revistas portuguesas de enfermagem como um meio de divulgação do conhecimento, na época em estudo, a análise das publicações sobre registos de enfermagem permite identificar os aspetos retratados e analisar o conhecimento transmitido. Neste estudo não foram incluídas as publicações em jornais, sebentas e livros.
Em Portugal, durante as décadas de 50, 60 e 70, a escrita profissional de enfermagem era baseada na tradução de livros e artigos estrangeiros publicados nas revistas de enfermagem e noutras revistas técnicas, permitindo a divulgação do conhecimento técnico e científico que se verificava a nível internacional. Este aspeto contribuiu para o desenvolvimento da produção da escrita profissional de enfermagem e a publicação regular das revistas técnicas e profissionais adquiriu mais força e expressão. É a partir da década de 90 que este facto se torna mais notório pelas ações que contribuíram para o desenvolvimento e crescimento profissional (Machado, 2014).
Neste contexto, levantou-se a seguinte questão de investigação: o que se publicou sobre registos de enfermagem, nas revistas portuguesas de enfermagem entre 1958 e 1998?
Para responder à questão de investigação, estabeleceram-se como objetivos: identificar as revistas portuguesas de enfermagem existentes entre 1958 e 1998, assinalar as que publicaram conteúdos sobre os registos de enfermagem, identificar o número de publicações, a categoria dos autores, os conteúdos abordados e em que contextos foram produzidos.
Metodologia
A análise bibliométrica foi a metodologia selecionada para este estudo, a qual permite mapear o conhecimento científico numa determinada área de pesquisa, evidenciando as ligações entre as principais publicações, autores, instituições, temas e outras características do campo em estudo (Oliveira et al., 2019).
Como critérios de inclusão, as revistas consultadas deveriam ser publicadas entre 1958 e 1998, em Portugal, e os artigos a analisar deveriam conter o termo “registos” ou “registos de enfermagem” ou “documentação” no seu título, ou outra designação relacionada com a documentação dos cuidados de enfermagem, como é o caso dos aspetos relacionados com a aplicação do processo de enfermagem. Os autores dos artigos poderiam ser nacionais ou estrangeiros.
Com base no estudo de Machado sobre a divulgação do conhecimento em periódicos de enfermagem no séc. XX e início do séc. XXI, fez-se um levantamento das revistas portuguesas de enfermagem publicadas entre 1958 e 1998 (Machado, 2014). Em seguida consultou-se o catálogo bibliográfico das bibliotecas da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e da Universidade Católica Portuguesa, núcleo de enfermagem, com o objetivo de identificar as revistas disponíveis para consulta. Obteve-se uma amostra de 504 revistas para consulta de acordo com a Tabela 1. As entidades responsáveis pela publicação destas revistas são associações profissionais, organizações profissionais, escolas de enfermagem, instituições hospitalares e outras entidades editoriais.
Revista | Entidade responsável | Data da publicação | Números consultados |
Servir | Associação Católica dos Profissionais de Enfermagem e Saúde | 1960-1998 | 210 |
Enfermagem | Associação Portuguesa de Enfermeiros Associação de Enfermeiros da Sala de Operações Portugueses | 1985-1996 | 27 |
Divulgação | Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil | 1987-1996 | 12 |
Ecos de Enfermagem | Sindicato dos Enfermeiros do Norte | 1988-1998 | 50 |
Nursing (edição portuguesa) | Ferreira e Bento | 1988-1998 | 120 |
Enfermagem em Foco | Sindicato dos Enfermeiros Portugueses | 1991-1998 | 34 |
Nephro's | Associação Portuguesa de Enfermeiros de Diálise e Transplantação | 1993-1994 | 4 |
Sinais Vitais | Formasau, Formação e Saúde Limitada | 1994-1998 | 21 |
Enfermagem Oncológica | Sociedade Portuguesa de Enfermagem Oncológica | 1996-1998 | 5 |
Informar | Escola Superior de Enfermagem da Imaculada Conceição | 1995-1998 | 13 |
Revista Portuguesa de Enfermagem | Instituto de Formação em Enfermagem | 1996 | 2 |
Pensar Enfermagem | Escola Superior de Enfermagem de Maria Fernanda Resende | 1997-1998 | 4 |
Referência | Escola Superior de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca | 1998 | 2 |
A consulta das revistas realizou-se presencialmente nas bibliotecas da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e da Universidade Católica Portuguesa, entre os meses de maio e junho de 2019. Em relação à revista Servir, só se encontravam disponíveis para consulta as publicações a partir de 1960, embora a sua publicação tenha sido iniciada em 1952 (Machado, 2014).
Numa primeira fase foi feita a análise do índice de cada revista com a leitura dos títulos dos artigos publicados e identificados os que se inseriam nos critérios de inclusão. Seguiu-se a leitura integral dos artigos selecionados e feita a análise bibliométrica das publicações.
Resultados e discussão
Inicialmente foram identificados 34 artigos e após a aplicação dos critérios de inclusão obteve-se um resultado de 22 artigos publicados entre 1958 e 1998.
O primeiro artigo encontrado foi publicado pela revista Servir em 1984 e o segundo surge 3 anos mais tarde, em 1987. Entre 1989 e 1998 surgem publicações todos os anos, dispersas pelas várias revistas. Nos anos de 1997 e 1998 foram publicados o maior número de artigos, tal como apresentado na Tabela 2.
Título do artigo | Autores | Ano | Revista |
Os registos como instrumentos de avaliação dos benefícios da enfermagem | Romano, Alfredo N.; Silva, João F. | 1984 | Servir |
Registos | Carmo, Dulce | 1987 | Servir |
Documentação na triagem | Blythin, Peter | 1989 | Nursing |
Registos de enfermagem no bloco operatório | Pudner, Marianne; Hutchings, Berverly | 1989 | Nursing |
Processo de Enfermagem - o que é e como aplicá-lo | Simeão, Maria J. | 1990 | Servir |
Os registos de enfermagem no bloco operatório | Pinheiro, Maria J. | 1991 | Nursing |
Reflexão sobre a importância da comunicação escrita em enfermagem | Pereira, Isabel C. | 1992 | Servir |
Registos de enfermagem | Rodeia, João | 1993 | Servir |
Cuidar bem, sem registar? | Bruges, Maria L.; Bettencourt, Merícia; Delgado, Rosalina | 1994 | Servir |
Manifestação das intervenções de cuidar independentes e interdependentes em enfermagem | Ferraz, Isabel | 1995 | Servir |
Registos de enfermagem…possível influência de um modelo teórico de enfermagem na elaboração de notas de evolução | Marques, Deolinda et al. | 1996 | Enfermagem |
Os registos na prática de enfermagem | Ramalhão, Maria A. | 1996 | Divulgação |
Registos de enfermagem num serviço de urgência: uma breve reflexão sobre os mesmos | Murcho, Nuno | 1997 | Enfermagem em Foco |
É urgente aprender a registar | Xavier, Sandra | 1997 | Enfermagem em Foco |
Reflexão sobre a incompatibilidade dos registos de enfermagem e o corretor | Correia, Maria A. | 1997 | Enfermagem em Foco |
Registos de enfermagem | Figueiredo, Ana; Figueiredo, Pedro | 1997 | Enfermagem Oncológica |
Objetividade e subjetividade dos registos de enfermagem | Pinho, Fátima | 1997 | Informar |
Processo de enfermagem informatizado | Úria, Manuel; Lopes, Sara | 1997 | Servir |
Processo de enfermagem 5 - papelada sem fim | Nancy, Roper; Logan, Win; Tierney, Alison | 1998 | Enfermagem |
Gestão dos registos com aplicação do processo de enfermagem - experiência num serviço de medicina | Gomes, Sérgio | 1998 | Enfermagem |
Guia orientador sobre registos de enfermagem | Albuquerque, Ana; Delgado, Rosalina | 1998 | Referência |
A importância do processo de enfermagem na comunicação | Caseiro, Helena; Fortunato, Zélia | 1998 | Sinais Vitais |
A revista Servir tem um maior número de publicações (oito), seguida da revista Nursing, Enfermagem e Enfermagem em Foco, com três publicações. A revista Divulgação, Informar, Enfermagem Oncológica, Sinais Vitais e Referência publicaram um artigo cada. Nas revistas Ecos de Enfermagem, Nephro’s, Revista de Enfermagem Portuguesa e Pensar Enfermagem não foi encontrada nenhuma publicação no âmbito dos registos de enfermagem, no período selecionado.
Três dos artigos são traduções de autores estrangeiros relacionados com registos de enfermagem na triagem dos doentes, bloco operatório e aplicação do processo de enfermagem. Os restantes autores são enfermeiros portugueses com funções na área da gestão, prática clínica e ensino da enfermagem, numa dispersão nacional.
Verificou-se que a média de publicação de cada autor, nesta temática, foi de um artigo, exceto dois dos autores que surgem em duas publicações. Quatro dos artigos publicados resultam de trabalhos de investigação realizados em serviços hospitalares, no âmbito dos registos de enfermagem. Dois artigos resultaram de trabalhos realizados no âmbito do mestrado em ciências de enfermagem e um foi realizado no âmbito do curso de especialização em enfermagem médico-cirúrgica. Um dos artigos foi elaborado com o objetivo de orientar os estudantes de enfermagem na realização de registos, durante o ensino clínico. As restantes publicações são artigos de reflexão e opinião.
São vários os pontos de interesse dos autores e traduzem aspetos relevantes sobre os registos de enfermagem, no período em estudo. O conhecimento gerado nestas publicações está relacionado com a definição de registos, a sua importância e finalidade, tipologia de registos e orientações para a sua realização. Descrevem o papel dos registos na implementação do processo de enfermagem, na investigação científica, na segurança, individualização e avaliação dos cuidados de enfermagem. Referem-se também à informatização dos registos, aspetos éticos e legais e a sua contribuição para a autonomia da profissão de enfermagem.
Para Rodeia (1993), Ramalhão (1996) e Pinho (1997), os registos de enfermagem são um meio de comunicação escrita que permite transmitir informação entre os elementos da equipa de saúde, constituem uma prova documental dos cuidados prestados ao cliente e são um testemunho escrito da tomada de decisão.
Quanto à sua finalidade, os autores referem que os registos de enfermagem facilitam a comunicação e permitem conhecer a evolução do estado do cliente, planear os cuidados de enfermagem, garantir a sua individualização e continuidade, avaliar a eficácia das intervenções, verificar o cumprimento das prescrições médicas, proporcionar segurança através da uniformização dos cuidados, salvaguardar a responsabilidade do enfermeiro, formular dados estatísticos, contribuir para a investigação científica, formação em serviço e gestão de recursos humanos e materiais (Romano & Silva, 1984; Rodeia, 1993; Ramalhão, 1996; Albuquerque & Delgado, 1998; Gomes, 1998).
Quanto à tipologia dos registos, é atribuída importância ao conhecimento dos enfermeiros sobre todos os regulamentos da instituição relativamente aos processos de registos para poderem efetuar registos de forma exata, concisa e legível (Rodeia, 1993; Ramalhão, 1996). Os registos deveriam seguir a política hospitalar criada para o efeito, fundamentada em conhecimentos sólidos e serem específicos de acordo com o contexto em que se inserem (Murcho, 1997).
A inclusão dos registos de enfermagem no restante processo clínico do cliente foi uma sugestão apontada na primeira publicação encontrada, já que uma parte dos registos era inutilizada, perdendo-se um conjunto de informações indispensáveis para a avaliação dos cuidados prestados (Romano & Silva, 1984).
É a partir da década de 90 que os autores destacam a importância da existência de um modelo conceptual como guia orientador para efetuar registos e a aplicação prática do processo de enfermagem. Silva (2006) refere que foi no início desta década que se inicia a reflexão sobre a utilização do pensamento crítico como estratégia para o desenvolvimento das práticas de enfermagem, estando relacionado com o processo de enfermagem. Para Marques et al. (1996), os registos de enfermagem deveriam refletir o esquema mental do processo de enfermagem sendo fundamentais para a sua implementação. A documentação das várias fases que o compõem, desde a apreciação até à avaliação, permite a individualização dos cuidados prestados, estabelecer prioridades, transmitir a informação de forma exata de modo a assegurar a continuidade e a individualização dos cuidados aumentando a humanização dos mesmos. A linguagem científica utilizada possibilita uma uniformização das ações desenvolvidas (Simeão, 1990).
É também na década de 90 que se dá início à informatização dos registos de enfermagem com a implementação do processo de enfermagem informatizado. Os autores sugeriram a criação de um sistema de registos que possibilitasse o registo rápido e eficiente e que garantisse uma transmissão da informação concisa, completa e rápida do que foi registado (Murcho, 1997). Neste contexto salienta-se a importância dos estudos desenvolvidos por Silva (1995, 2006) na área dos SIE, os quais devem dar resposta às necessidades de informação e documentação sentidas pelos enfermeiros.
A ausência de publicações entre 1958 e 1984 foi justificada por alguns autores com a parca valorização que era atribuída aos registos de enfermagem (Rodeia, 1993).
Verificou-se que só a partir da década de 80 é que os registos de enfermagem se tornaram assunto de publicação nas revistas portuguesas de enfermagem, ganhando maior destaque na década de 90. Embora se considere que foi a partir desta década que as publicações periódicas tiveram mais força e expressão (Machado, 2014), a crescente importância atribuída aos registos de enfermagem verificou-se num período com grandes alterações a nível da profissão de enfermagem.
Em 1981 foram introduzidas alterações na carreira de enfermagem com o objetivo de uma melhor prestação de cuidados, melhor aproveitamento dos recursos humanos e perspetivas de realização e progressão profissionais. Segundo esta alteração, o enfermeiro ao prestar cuidados deveria avaliar as necessidades de cuidados de enfermagem, programar, executar e avaliar os resultados. A realização destas etapas atribui importância aos registos de enfermagem. A carreira publicada em 1981 sofreu pequenas alterações em 1983 e 1985.
A integração do ensino da enfermagem no sistema educativo nacional, a nível do ensino superior politécnico surge em 1988. As escolas de enfermagem tinham a competência de proporcionar a formação científica e técnica adequada para a prestação de cuidados de enfermagem geral e também ao nível de cuidados mais complexos, nos estudos superiores especializados. É no âmbito da educação em enfermagem que se verificaram algumas publicações sobre registos de enfermagem destacando o seu papel neste contexto. De acordo com o estudo de Cunha et al. (2010), quanto maior a categoria profissional e a formação pós-graduada dos enfermeiros, mais facilitadora será a implementação de um sistema de registos.
Em 1991 surge uma nova reformulação da carreira de enfermagem e onde pela primeira vez se incluem os registos de enfermagem como uma atividade inerente aos cuidados de enfermagem, também referido por alguns autores (Bruges et al., 1994).
O Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro (REPE), publicado em 1996, tinha o objetivo de clarificar conceitos, caracterizar os cuidados de enfermagem, especificar as competências dos enfermeiros, definir responsabilidades, direitos e deveres dos mesmos. Os cuidados de enfermagem são considerados como intervenções autónomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro, no âmbito da sua área de atuação. Os registos de enfermagem são referidos como meio de avaliação das intervenções de enfermagem.
Em 1998, foi criada a Ordem dos Enfermeiros, a qual promove a regulamentação e disciplina da prática dos enfermeiros, assegurando o cumprimento das normas deontológicas e garantindo a dignidade do exercício da enfermagem.
Estes acontecimentos contribuíram para a autonomia dos enfermeiros e o registo sistemático de todas as ações de enfermagem constitui um caminho para a afirmação da profissão, pois a visibilidade do exercício profissional dos enfermeiros só é possível através da produção de indicadores que resultam da informação documentada (Silva, 2006).
Conclusão
É a partir da década de 80 que surgem publicações sobre registos de enfermagem, abordando aspetos relacionados com a sua importância, tipologia, o seu papel na implementação do processo de enfermagem, investigação científica, segurança dos cuidados de enfermagem e registos eletrónicos.
Os registos acompanham a recomposição profissional da enfermagem. Verificou-se que à medida que surgiram alterações na profissão, as publicações nesta área aumentaram, contribuindo para a valorização dos registos de enfermagem.
Após a reformulação da carreira em 1991, da publicação do REPE em 1996 e da Ordem do Enfermeiros em 1998, surge um maior número de publicações. A autonomia tem um papel fundamental no desempenho profissional dos enfermeiros e os registos de enfermagem, como atividade autónoma são determinantes para a afirmação da profissão.
Os assuntos abordados retratam a realidade dos registos de enfermagem aquando da sua publicação permitindo compreender os contextos em que se inseriam. Deste modo, contribuem para o percurso dos registos de enfermagem até à aplicação de modelos SIE.