Introdução
A dor lombar ou lombalgia, é um sintoma frequente em grande parte da população mundial, afetando cerca de 60% a 80% dos adultos da população geral, pelo menos uma vez na vida (Nepomuceno et al., 2019). Além disso, a dor lombar é um dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho mais recorrentes, causando absenteísmos no trabalho e custos médicos elevados com o tratamento, sendo assim considerada um importante problema de saúde pública (Cargnin, Schneider, Vargas, & Schneider, 2019; Maciel Júnior et al., 2019).
A dor lombar é classificada como um distúrbio multifatorial, ou seja, diversos aspetos podem estar relacionados com o seu desenvolvimento, tais como fatores biomecânicos, psicossociais, biológicos e ocupacionais (Massuda et al., 2017). Ademais, a lombalgia também apresenta relação íntima com o perfil profissional.
Dentre os profissionais da saúde, a lombalgia é um sintoma comum, principalmente na enfermagem. Enfermeiros e técnicos de enfermagem são trabalhadores com grande risco de desenvolver dor lombar, sobretudo devido as sobrecargas laborais (Cargnin, Schneider, Vargas, & Schneider, 2019).
No entanto, apesar de enfermeiros e técnicos de enfermagem serem profissionais da mesma área, é importante ressaltar que estes exercem funções diferentes na sua rotina profissional; uma vez que estes profissionais convivem com cargas distintas, estando expostos a situações de diferentes riscos ocupacionais (Freire & Costa, 2016).
Assim, as especificidades quanto às cargas laborais e fatores organizacionais aos quais enfermeiros e técnicos de enfermagem estão sujeitos, podem comprometer a qualidade física e/ou mental (Souza et al., 2017; Cargnin, Schneider, Vargas, & Machado, 2019;Pires et al., 2020). Além dos fatores laborais, as condições socioeconómicas também podem estar relacionadas a presença de dor, o que interfere na qualidade de vida destes profissionais (Ribeiro et al., 2019).
Dessa forma, este estudo teve como objetivo comparar o estilo de vida, características sociodemográficas e de trabalho, bem como o nível e perceção de dor entre enfermeiras e técnicas de enfermagem com dor lombar.
Enquadramento
A dor lombar ou lombalgia é definida como uma sensação de algia localizada entre a margem inferior da 12ª costela e a linha glútea inferior (Cargnin, Schneider, Vargas, & Schneider, 2019). Dentre os fatores de risco para o seu desenvolvimento destacam-se fatores individuais, ou seja, o sexo, a idade, o índice de massa corporal (IMC), a qualidade e função muscular, as condições socioeconómicas e outras enfermidades, assim como, fatores profissionais, isto é, as movimentações e posturas inadequadas, a organização e execução laboral e o ambiente de trabalho inapropriado (Ribeiro et al., 2019).
Neste contexto, profissões que exigem carga física, associada a posturas inadequadas e movimentos repetitivos, podem causar dor, especialmente na região lombar, sendo essa uma condição clínica altamente prevalente que afeta ambos os sexos (Lima et al., 2020). Assim, devido as condições adversas de suas atividades e a exposição a diversas cargas que podem estar inter-relacionadas, a área da enfermagem tem sido foco de pesquisas, especialmente no nível hospitalar (Cargnin, Schneider, Vargas, & Machado, 2019).
De acordo com Ribeiro et al. (2019), as condições laborais relacionadas a equipa de enfermagem não são consideradas satisfatórias em diversos países do mundo, podendo se tornar um risco para o surgimento de doenças e sintomas de dor. Estas condições podem ser influenciadas por altas cargas de trabalho, remuneração inadequada, turno de trabalho e categoria profissional.
Vale destacar que a equipa de enfermagem pode ser dividida em três categorias: o enfermeiro, o técnico e o auxiliar de enfermagem, conforme Stolarski et al. (2009).
Além da assistência ao paciente, enfermeiros são responsáveis prioritariamente por desenvolver funções administrativas, de organização e desenvolvimento, que geram menor sobrecarga física, enquanto os técnicos de enfermagem atuam diretamente nas atividades de assistência ao paciente, o que causa maior impacto físico a esses profissionais (Stolarski et al., 2009; Freire & Costa, 2016).
Freire e Costa (2016) também apontam que no ambiente laboral, o número de enfermeiros é inferior ao de técnicos de enfermagem, dessa forma, estes profissionais podem ser expostos a diferentes exigências ocupacionais. Assim, é importante o entendimento específico de cada profissional sobre a sua função.
Questão de investigação
Existem diferenças entre as variáveis sociodemográficas e ocupacionais, estilo de vida e dor entre enfermeiras e técnicas de enfermagem com dor lombar?
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, quantitativo, descritivo e analítico, realizado com trabalhadores de um hospital universitário do Rio Grande do Sul, Brasil, no ano de 2019. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul, sob CAAE nº 99490918.4.0000.5343. O cálculo do tamanho da amostra foi realizado em calculadora online considerando 295 profissionais da enfermagem que atuam no turno diurno, com erro de amostra de 10% e nível de confiança de 95%, sendo necessário 52 participantes.
Participaram neste estudo 143 profissionais de enfermagem, os quais primeiramente foram submetidos a um questionário com critérios de inclusão e exclusão da pesquisa. Foram selecionados enfermeiros e técnicos de enfermagem que relatassem sintomas de dor lombar, de ambos os sexos, com idade entre 18 e 50 anos, que trabalhavam nos turnos da manhã e tarde, atuando em unidades abertas (enfermaria adulto e pediátrica, maternidade e ambulatório) e unidades fechadas (unidades de terapia intensiva adulto e neopediátrica, centros cirúrgicos e obstétricos). Aqueles que concordaram em participar na pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram excluídos da pesquisa profissionais de enfermagem que: foram submetidos a intervenções cirúrgicas previas na coluna vertebral; estivessem em período de gestação; apresentassem diagnóstico de fibromialgia; manifestassem qualquer disfunção clínica que impossibilitasse sua participação no estudo; que sofreram amputação de qualquer membro; ou possuíam IMC ≥ 30 kg/m².
Dos 143 profissionais de enfermagem, 68 preencheram os critérios para a avaliação; destes, 15 não completaram as avaliações pelos motivos de: desistência do profissional; desligamento do funcionário do hospital; funcionários que entraram em férias ou foram afastados no período da coleta. Assim, um total de 53 profissionais de enfermagem finalizaram as avaliações.
Para verificação do estado nutricional, foram verificados o peso (quilograma) e a estatura (centímetros convertidos para metros) para o cálculo do IMC, no qual se dividiu o peso pela estatura ao quadrado para classificar essa variável, foram considerados baixo peso: <18,5 kg/m2, faixa recomendada: 18,5-24,9 kg/m2, sobrepeso: 25-29,9 kg/m2, e obesidade: ≥30 kg/m2 (World Health Organization, 2000).
A avaliação socioeconómica e de estilo de vida foi realizada por meio do Questionário Saúde do Trabalhador e Estilo de Vida, adaptado, constituído por 21 questões referentes a dados de identificação, indicadores económicos, organização diária, atividade física e indicadores de esporte e saúde, sendo este questionário validado para a população em estudo (Pohl et al., 2010), a classificação socioeconómica foi avaliada seguindo o Critério de Classificação Econômica do Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, tal instrumento conta com um questionário que pontua de 0 a 100, sendo que quanto maior a pontuação, melhor o nível socioeconómico, após foi feita a classificação em Classe A e B (de 29 a 100 pontos; renda média maior ou igual a 5 salários mínimos) e C e D (de 0 a 28 pontos; renda média inferior a 5 salários mínimos). Os sujeitos da pesquisa também responderam ao questionário STarT Back Screening Tool (SBST- Brasil), que se refere ao risco de mau prognóstico no tratamento primário da lombalgia (Pilz et al., 2014). O questionário é composto por 9 questões, sendo que nas primeiras oito há duas opções de resposta concordo e discordo, a primeira resposta vale um ponto e a segunda zero e no nono item há as opções nada, pouco, moderada, muito e extremamente, em que as três primeiras pontuam zero e as duas últimas um ponto cada. Após a soma dos pontos, o escore de zero a três é classificado como baixo risco. Para um resultado maior que três na pontuação total, consideram-se os pontos da subescala psicossocial (questões 5 a 9), em que a pontuação igual ou menor que três é considerado como médio risco, e se for maior que três classifica-se como alto risco (Pilz et al., 2014).
A intensidade da dor dos profissionais de enfermagem também foi aferida. Para isso, utilizou-se a Escala Visual Analógica da Dor (EVA), que consiste em níveis de zero a dez, sendo que zero significa ausência total de dor e dez o nível de dor máxima vivenciada pelo indivíduo (Martinez et al., 2011). Sendo assim, ao aplicar a EVA, os profissionais de enfermagem autorreferiram sua perceção de dor na região lombar no momento da avaliação.
Os dados foram analisados através do programa IBM SPSS Statistics for Windows (versão 23.0). As variáveis categóricas foram expressas em frequência e percentual e as variáveis contínuas em média e desvio-padrão ou mediana e intervalo interquartil. A amostra foi dividida em dois grupos a partir da categoria profissional: enfermeiros e técnicos de enfermagem. Para a comparação de grupos foi realizado o teste Qui-quadrado de Pearson ou teste Exato de Fisher (variáveis categóricas) e teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados; a comparação de variáveis numéricas foi realizada através do teste U de Mann-Whitney ou teste t de Student para amostras independentes; considerando p <0,05.
Resultados
A amostra deste estudo foi composta por 53 profissionais de enfermagem do sexo feminino, dos quais 81% eram técnicas de enfermagem e 19% enfermeiras. A média de idade foi de 32,2 anos entre as técnicas de enfermagem e 32,6 anos entre as enfermeiras. Ao analisar as características sociodemográficas por categoria de trabalho, não se observou diferença estatística para idade (p = 0,690), estado civil (p = 1,000) e presença de filhos (p = 0,318). No entanto, ao comparar a classe socieconômica, verificou-se que 58% técnicas de enfermagem pertencem a classe C e D, enquanto 80% enfermeiras pertencem a classe socioeconómica A e B, apresentando diferença estatística (p = 0,039; Tabela 1).
Variáveis | Técnicas de Enfermagem n = 43 n (%) | Enfermeiras n = 10 n (%) | p | ||
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Sexo | |||||
Feminino | 43 (81) | 10 (19) | - | ||
Idade† | 32 (16) | 33 (14) | 0,690b | ||
Classe Socioeconômica | |||||
A e B | 18 (42) | 8 (80) | 0,039a | ||
C e D | 25 (58) | 2 (20) | |||
Estado Civil | |||||
Solteiro | 30 (70) | 7 (70) | 1,000a | ||
Casado | 13 (30) | 3 (30) | |||
Filhos | |||||
Sim | 21 (49) | 3 (30) | 0,318a | ||
Não | 22 (51) | 7 (70) |
Nota. n = Frequência absoluta; % = Frequência relativa; † = Mediana e intervalo interquartil. aTeste Exato de Fisher; bteste U de Mann-Whitney; p = nível de significância estatística.
Nas características de estilo de vida a partir da categoria profissional, nenhuma variável apresentou diferença estatística (p < 0,05); porém, há variáveis importantes a serem destacadas, como o número elevado tanto de técnicas de enfermagem (74%), como enfermeiras (60%) não praticantes de atividade física, bem como o alto percentual de uso de medicamentos por ambas categorias (74% das técnicas de enfermagem e 60% das enfermeiras), sendo predominante o uso de anticoncecional (60,5%), seguido de antidepressivos (18,5%), anti-hipertensivos (7,9), suplemento vitamínico (7,9), tireoidianos (2,6%) e analgésico (2,6%). Além disso, pode-se observar que grande parte das técnicas de enfermagem (81%) e enfermeiras (80%) não apresentam distúrbios de sono. Em relação à jornada doméstica de trabalho, ao comparar os dois grupos, observa-se que a maioria das técnicas de enfermagem (56%) possui uma jornada doméstica maior que duas horas diárias enquanto a maioria das enfermeiras (70%) possui uma jornada doméstica menor que 2 horas (Tabela 2).
Variáveis | Técnicas de Enfermagem n = 43 n (%) | Enfermeiras n = 10 n (%) | p | ||
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Atividade física | |||||
Sim | 11 (26) | 4 (40) | 0,442a | ||
Não | 32 (74) | 6 (60) | |||
Horas de sono | |||||
<7 horas | 21 (49) | 6 (60) | 0,728a | ||
≥7 horas | 22 (51) | 4 (40) | |||
Distúrbio de sono | |||||
Sim | 8 (19) | 2 (20) | 1,000a | ||
Não | 35 (81) | 8 (80) | |||
Jornada doméstica de trabalho | |||||
<2 horas | 19 (44) | 7 (70) | 0,175a | ||
≥2 horas | 24 (56) | 3 (30) | |||
Tabagismo | |||||
Sim | 3 (7) | 1 (10) | 1,000a | ||
Não | 40 (93) | 9 (90) | |||
Consumo de bebida alcoólica | |||||
Frequentemente | 10 (23) | 3 (30) | 0,063b | ||
Raramente | 17 (40) | 7 (70) | |||
Nenhuma | 16 (37) | - | |||
Medicamento | |||||
Sim | 32 (74) | 6 (60) | 0,442a | ||
Não | 11 (26) | 4 (40) |
Nota. n = frequência absoluta; % = frequência relativa. aTeste Exato de Fisher; b: Teste Qui-quadrado de Pearson; p = nível de significância estatística.
Acerca das características de trabalho, a partir da categoria profissional, observou-se que apenas a variável turno de trabalho apresentou diferença estatística (p < 0,05), na qual 47% das técnicas de enfermagem atuam pela manhã, 51% pela tarde e 2% em ambos turnos, enquanto 30% das enfermeiras trabalham no turno da manhã, 30% no turno da tarde e 40% nos dois turnos. Apesar de as outras variáveis não apresentarem diferença estatística, foi possível verificar que, quanto à postura predominante no trabalho, 60% das técnicas de enfermagem trabalham em pé e 40% sentada e alternada, já as enfermeiras, 40% exercem as suas atividades em pé e 60% sentada e alternada (Tabela 3)
Variáveis | Técnicas de Enfermagem n = 43 n (%) | Enfermeiras n = 10 n (%) | p | ||
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Turno de Trabalho | |||||
Manhã | 20 (47) | 3 (30) | |||
Tarde | 22 (51) | 3 (30) | 0,001a | ||
Manhã e Tarde | 1 (2) | 4 (40) | |||
Unidade de trabalho | |||||
Aberta | 25 (58) | 6 (60) | 1,000b | ||
Fechada | 19 (42) | 4 (40) | |||
Tempo de atividade (meses) † | 48 (60) | 104 (171,5) | 0,250c | ||
Outra atividade remunerada‡ | |||||
Sim | 10 (24) | 1 (10) | 0,668b | ||
Não | 32 (76) | 9 (90) | |||
Postura predominante no trabalho | |||||
Em pé | 26 (60) | 4 (40) | 0,300b | ||
Sentada e alternada | 17 (40) | 6 (60) | |||
Como se sente após um dia de trabalho | |||||
Muito bem/Bem | 9 (21) | 2 (20) | |||
Um pouco cansada | 20 (46) | 4 (40) | 0,900a | ||
Muito cansada/exausta | 14 (33) | 4 (40) |
Nota. n = frequência absoluta; % = frequência relativa. † Mediana e intervalo interquartil; aTeste do Qui-quadrado de Pearson; bTeste de Fisher; cTeste U de Mann-Whitney; ‡ 1 missing; p = nível de significância estatística.
Ao analisar-se a diferença entre os grupos quanto ao SBST-Brasil, IMC e perceção de dor, nenhuma variável apresentou diferença estatística. Entretanto, notou-se que 60% das técnicas de enfermagem apresentaram risco baixo na classificação do SBST, 33% risco médio e 3% risco alto; das enfermeiras 90% apresentou risco baixo e 10% risco médio. Quanto a classificação do IMC, 60% das técnicas de enfermagem apresentam excesso de peso, enquanto 70% das enfermeiras apresentam peso normal. Em relação a EVA, a maioria das técnicas de enfermagem (56%) e enfermeiras (70%) referiram EVA <5 (Tabela 4).
Variáveis | Técnicas de Enfermagem n = 43 n (%) | Enfermeiras n = 10 n (%) | p | ||
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Pontuação SBST‡ | 3 (3) | 2 (2) | 0,339b | ||
Classificação SBST | |||||
Risco Baixo | 26 (60) | 9 (90) | 0,199a | ||
Risco Médio | 14 (33) | 1 (10) | |||
Risco Alto | 3 (7) | - | |||
IMC em kg/m2† | 25,0 (2,8) | 23,9 (2,5) | 0,262c | ||
Classificação IMC | |||||
Peso normal | 17 (40) | 7 (70) | 0,156d | ||
Excesso de Peso | 26 (60) | 3 (30) | |||
EVA‡ | 4 (4) | 4 (4) | 1,000b | ||
Classificação EVA | |||||
< 5 | 24 (56) | 7 (70) | 0,494d | ||
> 5 | 19 (44) | 3 (30) |
Nota. n = frequência absoluta; % = frequência relativa. † média e desvio padrão; ‡ mediana e intervalo interquartil; aTeste do Qui-quadrado de Pearson; bteste U de Mann-Whitney; cTeste t de Student para amostras independentes; dTeste Exato de Fisher; p = nível de significância estatística; SBST = STarT Back Screening Tool; IMC = Índice de Massa Corporal; EVA = Escala Analógica Visual da Dor.
Discussão
Neste estudo todas as profissionais da equipa de enfermagem eram do sexo feminino, entre as quais prevaleceu o número de técnicas de enfermagem, como no estudo de Pires et al. (2020), realizado com profissionais de enfermagem, no qual foi observado prevalência do sexo feminino, bem como, predominância de técnicas de enfermagem em relação às enfermeiras. Em relação ao prevalecimento a do sexo feminino, Santos et al. (2017), explicam que apesar de estarem ocorrendo mudanças neste cenário, a feminilização ainda é uma característica forte entre os profissionais de saúde, uma vez que mais de 90% das vagas são ocupadas por mulheres.
O perfil socioeconómico encontrado no presente estudo vai de acordo com a pesquisa de Lombardi e Campos (2018), o qual identificou que a remuneração dos técnicos de enfermagem tende a diminuir pela metade em relação a dos enfermeiros, uma vez que, no nosso estudo, as técnicas de enfermagem possuíam classe económica inferior quando comparada às enfermeiras.
Em relação ao turno de trabalho, no presente estudo há mais enfermeiras que atuam em dois turnos quando comparado com as técnicas de enfermagem, achados que corroboram com o estudo de Freire et al. (2015), realizado com profissionais de terapia intensiva. Diferente do nosso estudo, Freire et al. (2015) ainda identificaram que os enfermeiros possuíam uma jornada de trabalho maior em relação aos técnicos de enfermagem, sendo que ter uma longa jornada de trabalho pode estar relacionado com a inatividade física.
No presente estudo, apesar de a maioria dos profissionais não possuírem uma dupla jornada de trabalho, observou-se que a maior parte dos profissionais de ambas categorias não praticavam atividade física. Este achado também foi encontrado no estudo de Pimenta e Assunção (2016), realizado com enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, em que prevalecia o número de profissionais que não realizavam atividade física.
A atividade física traz diversos benefícios, como a diminuição do estresse, da ansiedade e depressão, melhora nas atividades cognitivas e nas relações interpessoais, bem como no aumento da disposição e energia para a realização das atividades diárias e de trabalho (Freire et al., 2015). Além disso, Massuda et al. (2017), constataram no seu estudo que o nível de atividade física praticada possui relação inversa com a ocorrência e intensidade de dor lombar nos profissionais de enfermagem, ou seja, sujeitos que praticam atividade física, relatam menos dor lombar em relação aos que não praticam. Este achado corrobora com o nosso estudo, ao ponto que o mesmo foi realizado com profissionais de enfermagem que relataram presença de dor lombar e na sua maioria não praticavam atividade física.
No estudo de Maciel Júnior et al. (2019), é possível observar que a média do IMC dos enfermeiros é maior do que as de técnicos de enfermagem, o que sugere que há mais enfermeiros classificados com excesso de peso ou obesidade. Porém, no nosso estudo verificou-se que dentre as duas categorias profissionais, mais técnicas de enfermagem foram classificadas com excesso de peso em relação às enfermeiras. Ademais, ainda se destaca que em relação ao IMC, indivíduos que foram classificados com sobrepeso e obesidade tendem a desenvolver dor lombar com maior frequência (Nepomuceno et al., 2019).
Quanto a intensidade da dor lombar, a percentagem de enfermeiras que declararam EVA > 5 é menor em relação às técnicas de enfermagem, categoria profissional na qual um maior número de indivíduos foram identificados com excesso de peso. Nesse sentido, o IMC pode ser um fator considerável, uma vez que a intensidade da dor tende a aumentar conforme o peso aumenta (Massuda et al., 2017). É importante ressaltar que, a intensidade da dor pode desenvolver estresse, sofrimento psíquico e insatisfação, o que influencia na capacidade do trabalho (Cargnin, Schneider, Vargas, & Schneider, 2019).
Neste estudo, ainda foi possível observar que um percentual elevado de técnicas de enfermagem (81%) e enfermeiras (80%) não apresentam distúrbios de sono, o que pode estar associado ao turno e jornada de trabalho. De acordo com um estudo de Viana et al. (2019), realizado com enfermeiros, os profissionais que trabalhavam no turno diurno, com uma jornada de trabalho de 6h por dia, apresentavam uma qualidade de sono melhor que os trabalhadores do turno noturno, com jornadas de 12 horas de trabalho e descanso nas 36 horas posteriores.
Entre as limitações deste estudo, aponta-se o fato deste ser de caráter transversal, o que impede a relação entre causa e efeito. Outro aspeto a ser considerado é a falta de variáveis que abrangem as condições de trabalho, como a presença e utilização de equipamentos auxiliares, dificuldades de manuseamento, bem como, o conhecimento do profissional acerca das intervenções a serem adotadas em casos de sobrecarga física, o que não permite relacionar estes dados com as demais variáveis estudadas. Ademais, considerando o fato de a amostra ter sido composta exclusivamente de mulheres, não é possível extrapolar tais achados para toda a população de profissionais de enfermagem, cabendo destacar que esse fato se deu devido à população objeto do estudo ser composta maioritariamente de mulheres e os homens não foram contemplados, pois foram excluídos de acordo com os critérios de exclusão. Como aspetos positivos, considerando que ainda existem poucos estudos que comparam estas duas categorias profissionais, nosso estudo pode colaborar para pesquisas futuras, e também contribuir no planeamento de ações em saúde considerando as especificidades de cada categoria. Ainda cabe destacar que há baixo uso de analgésicos e miorrelaxantes na amostra estudada, o que reduz vieses que poderiam interferir nos resultados.
Conclusão
Com este estudo objetivou-se analisar as diferenças entre técnicas de enfermagem e enfermeiras com dor lombar, já que estes, apesar de serem profissionais da mesma área, exercerem funções laborais diferentes. Apesar disso, ao comparar as características sociodemográficas, estilo de vida, características ocupacionais e a diferença entre os grupos em relação ao IMC, SBST Brasil e perceção de dor, observa-se que há diferença estatística somente para classe socioeconómica e turno de trabalho; vale destacar, ainda que a maioria dos profissionais de ambas categorias não realizam atividade física. Desta forma, conclui-se que não há diferença quanto a variáveis de estilo de vida, socioeconómicas, ocupacionais, estado nutricional e a presença de dor entre enfermeiras e técnicas de enfermagem.
Apesar de não serem evidenciadas diferenças entre as categorias, através do presente estudo é possível identificar que a dor lombar é um problema prevalente em enfermeiras e técnicas de enfermagem, independente das características sociodemográficas, econômicas e laborais. Assim, destaca-se a importância do desenvolvimento de novas estratégias para prevenção da dor lombar a serem implementadas no ambiente de trabalho destas profissionais, com o intuito de instrumentaliza-los acerca da ergonomia adequada e hábitos saudáveis e prevenir a dor lombar, uma vez que em ambos grupos a dor lombar fazia-se presente.