Introdução
A nível global, a infeção por VIH constitui um problema de saúde pública, com repercussões não só ao nível da saúde das populações como a nível económico e demográfico. A infeção por VIH originou, desde o seu início, na década de oitenta do século XX, 78 milhões de infeções. Na atualidade, afeta mais de 2,3 milhões de pessoas a nível europeu (European Centre for Disease Prevention and Control [ECDC] & World Health Organization [WHO], 2022). Ao longo do tempo foi construído um caminho, dinamizado por mudanças, que foram transformando a biografia desta infeção. Com a introdução da terapêutica antirretroviral combinada, a infeção por VIH assumiu o perfil de doença crónica (White House Office of National AIDS Policy (ONAP), 2021), originando aos portadores desta infeção, uma visão renovada e promissora face à sua continuidade de vida (Dutra et al., 2019).
O papel dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) é elementar neste processo, uma vez que constitui para a maioria da população, pela sua proximidade com o cidadão, o primeiro ponto de contacto com os cuidados de saúde. No entanto, verifica-se alguma dificuldade na organização e descentralização na oferta de rastreio e cuidados para a prevenção e controlo da infeção por VIH (Araújo et al., 2018; Guedes et al., 2021).
No sentido de acompanhar o percurso da infeção por VIH e o seu controlo efetivo, torna-se cada vez mais premente a capacitação dos enfermeiros para que estes detenham as competências necessárias à prestação de cuidados seguros e de qualidade ao indivíduo, família e comunidade. Torna-se necessário perspetivar a promoção e manutenção de comportamentos saudáveis, assim como o controlo desta infeção a par de uma alteração na resposta dos serviços de saúde (Barbosa et al., 2020; Guedes et al., 2021; Velásquez et al., 2020).
Deste modo, surge a necessidade de avaliar a auto perceção dos enfermeiros face às competências que detêm para o desenvolvimento de ações de aconselhamento e educação para a saúde com vista à prevenção e controlo da infeção por VIH em contexto de CSP. De facto, os enfermeiros são, frequentemente, influenciados pelo seu conhecimento ou formação, mas também por emoções, motivações, atitudes e comportamentos profissionais (Araújo et al., 2018; Barbosa et al., 2020; Guedes et al., 2021; Silva et al., 2017).
Pretendeu-se com este estudo conhecer a auto perceção dos enfermeiros face às competências que detêm na PCI por VIH e analisar a sua relação com a formação na área.
Enquadramento
A normalização da infeção por VIH e do seu rastreio, proporcionou uma visão otimista oferecida pelos diferentes progressos do mundo científico e trouxe à vida das pessoas portadoras de VIH maior longevidade e qualidade de vida (Dutra et al., 2019). Neste esforço contínuo de melhoria dos indicadores a Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS, 2015) definiu como objetivos a 2030 eliminar a pandemia da Sida, tendo como meta: 95% das pessoas diagnosticadas; destas, 95% em tratamento e destas, 95% com carga viral indetetável (meta: 95-95-95). Para este desidrato, a Direção-Geral da Saúde (2014) preconiza a realização do diagnóstico e rastreio laboratorial da infeção pelo VIH entre os 18 e os 64 anos e, em todas as idades, mediante situações especificas, previstas em norma. Neste progresso em muito contribuiu a implementação de estratégias organizadas para a PIC desta infeção. Neste processo, salienta-se fundamentalmente as boas práticas dos profissionais de saúde, que ao longo destas décadas, contribuíram para o efetivo controlo da infeção. No entanto, ainda muito há a fazer no sentido da PIC por VIH, nomeadamente a descentralização dos serviços de testagem, para uma maior acessibilidade, a implantação de uma política de educação permanente junto da população pelo enfermeiro de família, a criação de políticas de incentivo institucionais e a formação dos profissionais de saúde (Silva et al., 2017; Velásquez et al., 2020).
O enfermeiro de família é assim “o profissional de enfermagem que, integrado na equipa multiprofissional de saúde, assume a responsabilidade pela prestação de cuidados de enfermagem globais a famílias, em todas as fases da vida e em todos os contextos da comunidade” (Decreto-Lei n.º 118/2014, p. 4070), contribuindo para a PCI por VIH. Contudo, há que manter os profissionais capacitados, motivados e empoderados para boas práticas de saúde nesta área de intervenção (Araújo et al., 2018; Thomas et al., 2021). Torna-se necessário a realização de estudos que nos permitam avaliar os conhecimentos, atitudes e comportamentos dos enfermeiros na promoção da saúde e na prevenção e controlo da infeção por VIH (Silva et al., 2017; Velásquez et al., 2020).
Questão de investigação/Hipótese
Quais as competências auto percebidas pelos enfermeiros, em contexto dos CSP, na prevenção e controlo da Infeção por VIH?
Existe relação entre a formação especifica em prevenção e controlo da infeção VIH e a auto perceção da competência.
Metodologia
Tratou-se de um estudo descritivo-correlacional, que teve como objetivos: conhecer a auto perceção dos enfermeiros de família face às competências que detêm na prevenção e controlo da infeção por VIH e a sua relação com a formação que possuem na área. Os participantes deste estudo foram 125 enfermeiros selecionados por amostragem de conveniência a partir dos enfermeiros que exercem funções em Unidades de Saúde Familiar (USF) e Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) da Região Norte de Portugal.
Como instrumento de colheita de dados utilizou-se um formulário, que foi aplicado aos participantes entre os dias 15 de dezembro de 2019 e 15 de janeiro de 2020 através da plataforma digital Google forms, contendo questões relacionadas com aspetos sociodemográficos, profissionais, de formação em VIH, e questões que integram a Escala de Avaliação da Perceção de Competências dos Enfermeiros em contexto de CSP, no Controlo da Infeção VIH e Sida (ECAPC-VIH_CSP; Lima, 2020). A ECAPS-VIH_CSP apresentou boas características psicométricas (( de Cronbach de 0,936) é constituída por 19 itens que avaliam conhecimentos e competências, operacionalizados numa escala de tipo Likert de 1 a 7 pontos, em que o 1 representa o nível inferior de conhecimento, recurso ou intervenção (Lima, 2020). Diferencia-se em quatro dimensões: (i) competências ao nível da prevenção e redução das complicações da infeção VIH; (ii) competências relacionadas com a execução do teste rápido VIH; (iii) conhecimentos em epidemiologia, profilaxia e normas; (iv) competências de promoção de realização do teste rápido VIH, apresentando um valor de Kaiser Meyer-Olkin de 0, 895 (Lima, 2020).
Os dados foram tratados através de medidas estatísticas descritivas e inferenciais, recorrendo-se ao programa informático do IBM SPSS Statistics, versão 25.0 para Windows.
Este estudo teve aprovação da Comissão de Ética onde foi realizado o estudo (Parecer nº 120/CE/JAS, de 13 de dezembro de 2020) e cumpriu os princípios éticos inerentes à investigação em seres humanos.
Resultados
Participaram no estudo 125 elementos, sendo que 76,8% eram do sexo feminino (n = 96), com uma média de 43,31 ± 7,4 anos. A grande maioria dos participantes apresentaram como habilitações literárias a licenciatura (n = 100; 80%), seguindo-se o grupo dos participantes com grau de mestre (n = 23; 18,4%). Dois participantes tinham o curso de bacharelato em enfermagem.
A maior parte dos participantes exercia funções em USF (n = 96; 76,8%) e os restantes em UCSP, possuem um tempo médio de exercício profissional de 19,95±6,9 anos e um tempo médio de exercício profissional em CSP de 14,26±6,3 anos. Um total de 49,6% dos participantes eram especialistas (62 participantes), sendo que a sua maioria era especialista em enfermagem comunitária (n = 21; 33,87%), seguindo-se por ordem decrescente o grupo dos especialistas em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica (n = 13; 20,97%), dos especialistas em enfermagem de saúde infantil e pediátrica (n = 10; 16,13%), dos especialistas em saúde materna e obstétrica (n = 9; 14,52%), dos especialistas em enfermagem de reabilitação (n = 8; 12,9%) e finalmente um enfermeiro especialista em enfermagem médico-cirúrgica.
A auto perceção de competências por parte dos enfermeiros, em contexto de CSP, no controlo da infeção VIH e Sida, através da aplicação da ECAPC-VIH_CSP diferiu no que se refere à média entre os itens e nas dimensões (Tabela 1). O total da Escala apresentou uma média de 4,44 ± 1,24, o que revelou um nível médio de conhecimentos e competências. A dimensão “competência ao nível da prevenção e redução das complicações da infeção VIH” foi a que apresentou nível médio mais elevado de conhecimentos e competências (M = 4,97 ± 1,32), seguida da competência conhecimentos em epidemiologia, profilaxia e normas (M = 4,24 ± 1,46), e depois a dimensão “competências relacionadas com a execução do teste rápido VIH” (M = 4,14 ± 1,57) e, por último, a dimensão “competências de promoção de realização do teste rápido” (M = 3,97 ± 1,58).
Itens | Média | Desvio- padrão | |
---|---|---|---|
1. Realizo intervenções de educação para a saúde no sentido de informar e sensibilizar os meus utentes para a infeção por VIH | 4,81 | 1,754 | |
2.Sinto-me capacitado (a) para promover a adesão do utente com infeção por VIH a estilos de vida saudáveis | 5,05 | 1,549 | |
3. Faço avaliação e intervenção ao utente, no que se refere aos comportamentos relacionados com a sua sexualidade | 5,25 | 1,517 | |
4. Na realização do teste rápido VIH, explico os procedimentos e as estratégias a desenvolver caso o resultado do mesmo seja positivo | 4,78 | 1,958 | |
5. Quando o teste rápido VIH tem resultado reativo, desenvolvo intervenções que visem sensibilizar o utente para informar o(s) seu(s) parceiro(s) sexual(ais) | 4,52 | 2,062 | |
6. Sinto-me capacitado (a) para desenvolver estratégias de controlo da infeção por VIH | 5,08 | 1,473 | |
7. Tenho conhecimento que o aconselhamento está inerente à realização de teste VIH e Sida | 5,28 | 1,790 | |
8. Sinto-me capacitado (a) para transmitir um resultado de teste VIH reativo | 3,93 | 2,126 | |
9. Disponho de tempo para realizar aconselhamento inerente à realização de teste rápido para a infeção por VIH | 3,54 | 1,869 | |
10. Quando o utente demonstra relutância em realizar o teste, estímulo a expressão dos seus sentimentos | 4,71 | 1,840 | |
11. Tenho conhecimento de parceiros sociais que deem apoio aos utentes com infeção VIH | 3,73 | 1,829 | |
12. Após teste com resultado negativo para a infeção por VIH, avalio eventuais falsas perceções de imunidade por parte do utente, reforçando as diferentes estratégias de prevenção combinada | 4,80 | 1,782 | |
13. Tenho conhecimento sobre a Profilaxia Pós-Exposição | 4,38 | 1,878 | |
14. Tenho conhecimento sobre a Profilaxia Pré-Exposição | 4,01 | 2,112 | |
15. Tenho conhecimento sobre o perfil epidemiológico da infeção por VIH no meu ACES | 3,43 | 1,696 | |
16. Tenho conhecimento sobre as normas e orientações da DGS relativas ao controlo da infeção por VIH | 5,14 | 1,623 | |
17. Proponho a todos os utentes, que procuram a equipa de saúde para diagnóstico ou tratamento de Tuberculose, a realização de teste rápido VIH | 3,92 | 1,937 | |
18. Proponho a realização do teste rápido para a deteção da infeção por VIH a todos os meus utentes | 3,52 | 1,716 | |
19. Proponho a todos os utentes, que procuram a equipa de saúde para diagnóstico ou tratamento de outras Infeções Sexualmente Transmissíveis, a realização de teste rápido VIH | 4,46 | 1,886 | |
Dimensões | |||
Competências ao nível da prevenção e redução das complicações da infeção VIH (itens: 3, 4, 10, 12, 13, 17, 19) | 4,97 | 1,32 | |
Competências relacionadas com a execução do teste rápido VIH (itens: 11, 14, 15, 16, 18) | 4,14 | 1,57 | |
Conhecimentos em epidemiologia, profilaxia e normas (itens: 1, 2, 5, 6) | 4,24 | 1,46 | |
Competências de promoção de realização do teste rápido VIH (itens 7, 8, 9) | 3,97 | 1,58 | |
Total da Escala | 4,44 | 1,24 |
Nota. VIH = Vírus da Imunodeficiência Humana; DGS = Direção Geral da Saúde; ACES = Agrupamento de Centros de Saúde.
No que se refere à formação em VIH e Sida, a maioria dos participantes (n = 88; 70,4%) referiu ter formação em Infeção por VIH e Sida, dos quais 80,7% (n = 71) referiram a formação em serviço como o contexto formativo, 8% referiram ter tido formação em congresso, 6% referiram a formação por via académica e 4 referiram ter feito formação noutro contexto formativo. Relativamente ao tempo médio de formação 64,8% dos participantes (n = 57) referiram ter tido formação entre 1 a 10 horas, 11,4% (n = 10) entre 11 a 20 horas e 10,2% referem ter tido mais de 20 horas de formação. Os restantes 13,6% dos participantes não especificaram a duração da formação.
No sentido de analisarmos a relação entre a existência de formação em infeção por VIH e a auto perceção das competências, foi realizado o teste U de Mann-Whitney, tendo-se concluído que, em todas as dimensões da ECAPC-VIH_CSP, se verificam relações estatísticas significativas. A formação em VIH e Sida está associada a maior competência (conhecimentos e competências), conforme apresentado na Tabela 2.
Dimensões e total da escala | Valor Médio com formação | Valor Médio sem formação | Z (teste U de Mann Whitney) | Significância ( p ) |
Competências ao nível da prevenção e redução das complicações da infeção VIH | 68,83 | 46,76 | 3,254 | 0,001 |
Competências relacionadas com a execução do teste rápido VIH | 68,26 | 50,49 | 2,507 | 0,012 |
Conhecimentos em epidemiologia, profilaxia e normas | 68,01 | 51,08 | 2,389 | 0,017 |
Competências de promoção de realização do teste rápido VIH | 67,98 | 51,55 | 2,377 | 0,017 |
Total da Escala | 69,73 | 47,00 | 3,202 | 0,001 |
Nota. VIH = Vírus da Imunodeficiência Humana; Z = Resultado do teste U de Mann Whitney; p = Nível de significância.
Discussão
Neste estudo conclui-se que o nível de competências auto percecionado pelos enfermeiros de família, que apresentam em média 20 anos de exercício profissional e 14 anos em CSP é médio, o que revela a necessidade de um maior investimento na formação pelos enfermeiros nesta área científica, tal como referem vários autores (Araújo et al., 2018; Thomas et al., 2020; Tshering et al., 2020). Os resultados obtidos corroboram um estudo realizado por Boakyea e Mavhandu-Mudzusic (2019), numa amostra de 247 enfermeiros do Ghana, que apresentaram de igual forma resultados satisfatórios ao nível de conhecimentos, e com atitudes também satisfatórias. No entanto, os resultados deste estudo, são inferiores aos resultados obtidos por Ehsanul Huq et al. (2019), numa amostra de enfermeiros que trabalham e têm experiência de 1 a 5 anos com pessoas com VIH e Sida (78,4%), que obtiveram valores superiores de conhecimentos geral e de atitudes de 3,25 e de 3,42 em 5, respetivamente. Por outro lado, no Brasil, um estudo realizado por Barbosa et al. (2020) concluiu que as práticas autoreferidas pelos profissionais de saúde de aconselhamento para prevenção da infeção por VIH mostrou-se inadequada, indicando a necessidade de intensificar a sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde.
No presente estudo, verificaram-se competências suficientes relacionadas com a execução do teste rápido VIH, tendo sido a segunda dimensão com média inferior, facto que é corroborado num estudo qualitativo (Araújo et al., 2018) realizado junto de nove enfermeiras dos CSP de Recife (Brasil), onde concluíram fragilidades para a realização de testes rápidos de VIH, nomeadamente na capacitação para a realização de aconselhamento pré e pós-teste e a necessidade de melhorar as ações de educação para a saúde. Também num estudo realizado junto de enfermeiros de família no Brasil (Silva et al., 2017), verificaram-se dificuldades sentidas pelos enfermeiros, pela ausência de participação de outros profissionais no processo de capacitação, na comunicação do resultado de teste reativo. Associada à dimensão “competências relacionadas com a execução do teste rápido VIH” está, com menor nível de competência, situada num nível insuficiente, a competência de promoção de realização do teste rápido VIH. Estes resultados podem comparar-se aos de um estudo realizado junto de médicos dos CSP na Bélgica que relataram várias barreiras para o teste de VIH iniciado pelo profissional, desde desconforto pessoal, medo de oferecer o teste VIH e conhecimento limitado dos benefícios do diagnóstico precoce do VIH, falta de diretrizes e tempo disponível (Apers et al., 2020). Os resultados do presente estudo reforçam a necessidade de mais competências por parte dos enfermeiros para a implementação massiva do rastreio do VIH de acordo com a Norma nº 58/2011 (DGS, 2014), para o cumprimento da meta 95-95-95 (UNAIDS, 2015).
Num estudo realizado no Quénia por Smith et al. (2016), concluíram a importância de um maior investimento na capacitação de enfermeiros. É fundamental garantir que todos os enfermeiros estejam preparados para fornecer serviços abrangentes de cuidados e tratamento de VIH. Efetivamente, no presente estudo, concluímos que maior formação sobre VIH e Sida se associa positivamente a maior competência. Sabe-se que os processos formativos são geradores de ambientes adequados e propícios ao desenvolvimento do profissional, influenciando a segurança e qualidade dos cuidados prestados ao utente (Thomas et al., 2021).
A dimensão “competências ao nível da prevenção e redução das complicações da infeção VIH” foi, de todas as dimensões, a que apresentou maior média. A realização de educação para a saúde no sentido de informar e sensibilizar os utentes para esta infeção é de extrema importância, considerando que permite uma maior literacia por parte do utente, e consequentemente vai influenciar no início precoce da terapêutica anti retroviral (TARV), o que pode levar à supressão vírica - “treatment as prevention” (TasP) -, restringindo a dimensão do reservatório VIH latente, principal barreira para a cura do VIH, conservando assim o sistema imunológico do utente (Rouleau et al., 2019).
O presente estudo apresenta como limitações o tamanho e a seleção não probabilística da amostra, facto que limita a extrapolação dos resultados para os enfermeiros dos CSP, pelo que se recomenda a realização de novos estudos de investigação. A inclusão de tópicos relevantes relacionados ao VIH e Sida nos currículos escolares e na formação contínua de enfermeiros e o treino prático orientado, podem melhorar o conhecimento e a atitude dos enfermeiros em relação à prestação de cuidados, contribuindo para um maior controlo da infeção por VIH através de um trabalho estruturado e integrado em rede (Araújo et al., 2018; Guedes et al., 2021; Silva et al., 2017; Thomas et al., 2021).
Conclusão
Como disciplina do conhecimento e do exercício prático, a enfermagem deve alicerçar os seus procedimentos em evidências científicas operacionalizáveis que suportem, não só a avaliação das necessidades dos utentes, como também dos profissionais. Só assim, se pode objetivar a implementação de cuidados seguros e de qualidade, originando resultados efetivos decorrentes dessas mesmas intervenções.
Sendo a infeção por VIH, uma prioridade constante no panorama de saúde nacional e internacional e assumindo os CSP como a principal porta de entrada para o SNS, o enquadramento teórico baseou-se na descrição e aprofundamento desta temática, passando para a exposição da temática no contexto dos CSP, realçando quais as implicações no indivíduo, na família, mas também nos profissionais e quais as competências de atuação perante o controlo desta infeção.
Neste estudo, conclui-se que os enfermeiros dos CSP apresentam um nível médio de auto perceção da competência face ao controlo da infeção por VIH. Revelam também a existência de uma associação positiva entre a formação e uma maior competência no que se refere a conhecimentos e competências face à prevenção e controlo da infeção por VIH por parte dos enfermeiros de família.
Futuramente, seria desejável avaliar a perceção da competência dos enfermeiros, junto de uma amostra de maior dimensão, assim como em contextos distintos.
O estudo desenvolvido pretende ser um contributo para a clarificação das perceções face às estratégias implementadas pelos enfermeiros na prevenção e controlo da infeção por VIH no contexto dos CSP, auxiliando estes profissionais a consciencializarem-se da sua relevância, contribuindo assim para a melhoria da qualidade do exercício profissional em enfermagem a qual deriva de um maior investimento na formação nesta área especifica.
Neste sentido, acredita-se que, através da identificação de áreas prioritárias de intervenção chave no domínio da prevenção e controlo da infeção por VIH, com recurso à investigação, se possa definir a orientação da oferta formativa. Contribuindo, assim, para o desenvolvimento das competências dos enfermeiros, promovendo a articulação da qualidade e segurança dos cuidados nos diferentes contextos de saúde com vista à prevenção e controlo da infeção por VIH, e cumprindo as metas: 95% das pessoas diagnosticadas; destas, 95% em tratamento e destas, 95% com carga viral indetetável, através da implementação massiva do rastreio do HIV nos CSP.