Introdução
A integração das famílias no cuidar pressupõe mudanças na organização dos cuidados e na natureza das relações que se estabelecem entre a equipa de saúde, com a pessoa e sua família, na criação de um processo interpessoal terapêutico e significativo (Figueiredo, 2012). Estas mudanças requerem, sobretudo por parte dos enfermeiros, a atitude de valorizar e integrar as famílias como parceiros nos cuidados (Wright & Leahey, 2011). Assim, foram definidos como objetivos para o presente estudo: Conhecer as atitudes dos enfermeiros quanto à importância que atribuem à integração das famílias nos cuidados; e Determinar a relação entre as atitudes dos enfermeiros, quanto à importância que atribuem à integração das famílias nos cuidados e a sua idade, habilitações académicas, tempo na carreira, categoria profissional, sentido de vida e sintomas de depressão/ansiedade.
Enquadramento
Mais do que cuidados inerentes às crises normativas a atenção dos enfermeiros é sobretudo dirigida às crises circunstanciais, por vezes imprevisíveis, acidentais e inesperadas, causadas por eventos de doença que exigem resposta imediata do trinómio pessoa/família/enfermeiro. Apesar dos enfermeiros reconhecerem uma presença crescente da família nos cuidados, continuam a organizar os cuidados com foco no indivíduo, vendo a família como acompanhante (Wright & Leahey, 2011; Oliveira et al., 2011). A qualidade da prática de clínica é amplamente influenciada pela atitude dos enfermeiros face aos familiares. Os estudos têm documentado que a importância e valorização atribuída pelo enfermeiro à família, condiciona o sucesso dos cuidados de enfermagem (Østergaard et al., 2020).
Esta transição exige alterações políticas e filosóficas das instituições de saúde, de forma a potenciar a mudança de atitude nos enfermeiros (Monteiro, 2010). É neste processo de transição, saúde/doença, que em contexto hospitalar, se empreendeu o presente estudo. As atitudes inclusivas das famílias pelos enfermeiros nos contextos clínicos resultam em práticas mais conducentes ao empoderamento e capacitação funcional das mesmas (Wright & Leahey, 2011; Oliveira et al., 2011).
Também a Competência para o Cuidado Incondicional Proativo (CoCIP), variável noética, altamente subjetiva, associada ao desenvolvimento pessoal, pressupõe a descoberta de um sentido de vida pela eleição de valores firmes, promotores da capacidade para confiar (paciência), perseverar (resiliência), esperar (esperança), coping adaptativo e saúde mental (Barros, 2014; Kraus et al., 2014).
Estudos em contexto hospitalar, indicam que os enfermeiros apresentam, maioritariamente, atitudes positivas perante a integração da família nos cuidados de enfermagem (Alves, 2011; Fernandes et al., 2015; Francisco, 2017; Rodrigues, 2013). Quanto aos fatores associados a esta atitude Benzein et al. (2008) concluíram que são os enfermeiros mais velhos, com mais anos de experiência profissional, a exercer nos serviços de pediatria, que têm uma atitude mais positiva face à presença da família nos cuidados, em oposição aos que exercem em unidades de cuidados, e cuidam de pessoas na fase aguda da situação clínica. Outro estudo identificou o título profissional e a formação pós-graduada/mestrado como fatores facilitadores da atitude dos enfermeiros para a integração das famílias nos cuidados (Rodrigues, 2013). Porém, Blondal et al. (2014), num contexto hospitalar de cirurgia, mostrou que são as variáveis demográficas, idade e experiência profissional, que mais influenciam a atitude dos enfermeiros de integrar as famílias nos cuidados. Também o estudo desenvolvido por Fernandes et al. (2015) demonstra que os enfermeiros que exercem no serviço de obstetrícia apresentam em média, atitudes de maior abertura à presença da família, em comparação com os que exercem no serviço de urgência.
No estudo de Francisco (2017), foram identificadas as habilitações académicas, a categoria profissional e a competência emocional dos enfermeiros como fatores preponderantes da atitude integrativa da família.
Não obstante, outras investigações apresentam resultados controversos, nomeadamente, de Rodrigues (2013) e Fernandes et al. (2015), que não identificaram diferenças de média estatisticamente significativas entre as variáveis: sexo, idade, habilitações literárias, experiência profissional, tempo e local de exercício profissional, experiência com familiares doentes, com a atitude dos enfermeiros.
Questão de investigação
Quais são as atitudes dos enfermeiros, quanto à importância que atribuem à integração das famílias nos cuidados de enfermagem? Qual é a relação entre as atitudes dos enfermeiros, quanto à importância que atribuem à integração das famílias nos cuidados de enfermagem e a sua idade, habilitações académicas, tempo na carreira, categoria profissional, sentido de vida e sintomatologia depressiva/ansiedade?
Existem diferenças com significado estatístico entre atitudes dos enfermeiros, quanto à importância que atribuem à integração das famílias nos cuidados de enfermagem e a sua idade, habilitações académicas, tempo na carreira, categoria profissional, sentido de vida e sintomatologia depressiva/ansiedade.
Metodologia
Considerando a natureza da problemática e o referencial teórico, optou-se por um estudo transversal, descritivo-correlacional. O estudo foi desenvolvido num Hospital da Região Centro de Portugal. Os critérios de inclusão no estudo compreenderam todos os enfermeiros a exercer funções em cuidados de saúde diferenciados nos serviços de urgências, unidade de cuidados agudos polivalentes, consultas externas, cirurgia de ambulatório e hospital de dia, que assinassem o consentimento informado e esclarecido. O método de amostragem foi o não probabilístico intencional e acidental. O Consentimento Livre e Esclarecido depois de assinado e os questionários depois de preenchidos foram colocados numa caixa fechada, pela ranhura. Dos 530 questionários distribuídos foram recolhidos 322 (60,8%). Destes, foram eliminados 5 por não estarem devidamente preenchidos, obtendo-se uma amostra total de 317 questionários (59,8%). Os dados foram recolhidos entre março e abril de 2019, com recurso a um questionário composto por três partes. A primeira parte referia-se à condição sociodemográfica e profissional dos participantes, nomeadamente: sexo, idade, estado civil, habilitações académicas, categoria profissional, tempo de carreira e serviço onde exerce funções. A segunda parte avaliou a extensão do Sentido de Vida através da Escala dos Objetivos de Vida (EOV) e do Bem-estar através do Inventário da Saúde Mental (MHI-5). A terceira parte integra a escala que avalia a Importância da Família nos cuidados de Enfermagem - Atitude dos Enfermeiros (IFCE-AE).
A EOV, constituída por dois fatores: Fator 1 - dimensão vivencial e Fator 2 - dimensão existencial (Peralta & Silva, 2006), é a versão portuguesa do Purpose in Life Test (PIL-R). Tem um formato de resposta tipo Likert de sete opções que variam entre discordo totalmente e concordo totalmente, de 1 a 7 pontos, respetivamente, com uma cotação variável entre 20 e 140 pontos. Valores iguais ou superiores a 113 associam-se a uma extensão de Sentido de vida elevada, caracterizada por sentimentos de realização existencial e plenitude pessoal; pontuações entre 92 e 112 indicam um Sentido de Vida moderado e adequado ao contexto da realidade; valores iguais ou inferiores a 91 sugerem uma extensão de Sentido de Vida reduzida (Peralta & Silva, 2006).
O MHI-5 é constituída por 5 itens agrupados nas duas dimensões: Distresse e Bem-estar positivo, com uma escala de resposta Likert de 6 pontos que varia entre Sempre e Nunca, de 6 a 1 pontos, respetivamente. Os resultados são transformados numa nota de 0 a 100, utilizando-se o algoritmo:
Em que a variação da pontuação corresponde à subtração do valor da pontuação mais baixa possível à pontuação mais alta possível. Na interpretação dos resultados é considerado o ponto de corte de 52 pontos para a existência de sintomas graves e de 60 pontos para a existência de sintomas moderados (Pais-Ribeiro, 2011).
A escala IFCE-AE (Oliveira et al., 2011), constituída por 26 itens, e três dimensões: família como parceiro dialogante e recurso de coping; família como recurso nos cuidados de enfermagem; família como um fardo, tem um formato de resposta tipo Likert, de quatro opções que variam entre o discordo completamente (1 ponto) e concordo completamente (4 pontos). A pontuação varia entre 26 e 104 pontos, sendo que quanto maior o score, mais as atitudes dos enfermeiros são integrativas.
Para avaliação da consistência interna foi calculado o coeficiente alpha de Cronbach total da EOV (0,79), da MHI-5 (0,87) e da escala IFCE-AE (0,91).
O procedimento estatístico foi feito por recurso ao software IBM-SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 25.0. Atendendo ao tamanho da amostra e de acordo com o Teorema do Limite Central optou-se pela aplicação de testes paramétricos nomeadamente o teste t-Student e a ANOVA. Para a comparação múltipla de médias recorreu-se ao teste post-hoc de Bonferroni. Considerou-se a existência de diferenças estatisticamente significativas quando p < 0.05.
Na realização do estudo foram respeitados todos os preceitos éticos de acordo com a Declaração de Helsínquia, entre os quais o parecer favorável da Comissão de Ética do Centro Hospitalar (Ref. CE - n.º 11/19).
Resultados
Pela análise da Tabela1 observa-se que a amostra ficou maioritariamente constituída por participantes do sexo feminino (86,4%), com uma média de 42 ± 10 anos de idade, casados (59,3%) e licenciados (55,3%), com a categoria profissional de enfermeiro (47,0%) e um tempo médio de carreira de 19 ± 10 anos. Apresenta, em média, sentido de vida moderado e adequado ao contexto, para o total da EOV, sendo que a maioria dos participantes (53%) apresenta elevado índice de extensão de sentido de vida. Para o total do MHI-5 convertido verifica-se uma média do bem-estar de 66,92 ± 17,34 pontos, sugestiva de ausência de sintomas relevantes, porém, mais de um quarto dos participantes (30,9%) apresenta sintomas de depressão ou ansiedade, moderados a graves. Quanto ao score global da escala IFCE-AE, e às suas dimensões observa-se que a amostra apresenta em média, atitudes mais integrativas da família nos cuidados, reconhecendo a Família como parceiro dialogante e recurso de coping.
Nota. n = Número; % = Percentagem; IFCE-AE = Escala que avalia a Importância da Família nos cuidados de Enfermagem - Atitude dos Enfermeiros; DP = Desvio-padrão
Pela análise da tabela 2, verifica-se que os enfermeiros mais velhos apresentam em média, atitudes mais integrativas na totalidade da escala e nas dimensões: Família como parceiro dialogante e na dimensão: Família como fardo (p < 0,05). Procedendo-se ao teste post-hoc de Bonferroni encontra-se, uma variância significativa no Score médio global, na dimensão: Família como parceiro dialogante e recurso de coping e na dimensão: Família como fardo entre o grupo 25-34 anos com os grupos 45-54 anos, com p < 0,05, e 55-65 anos, com p < 0,05. Esta diferença significativa permite afirmar que a idade, mais concretamente acima dos 45 anos, influencia a atitude integrativa.
Dimensão | Média | Desvio-padrão | F | P | |||
---|---|---|---|---|---|---|---|
IFCE-AE Total | 25-34 anos | 76,06 | 8,66 | 6,224 | 0,000 | ||
35-44 anos | 79,19 | 8,86 | |||||
45-54 anos | 80,74 | 9,56 | |||||
55-65 anos | 82,30 | 10,61 | |||||
Família: parceiro dialogante e recurso de coping | 25-34 anos | 35,02 | 4,31 | 6,225 | 0,000 | ||
35-44 anos | 36,21 | 4,71 | |||||
45-54 anos | 37,36 | 5,12 | |||||
55-65 anos | 38,30 | 5,18 | |||||
Família: recurso nos cuidados de enfermagem | 25-34 anos | 30,98 | 3,62 | 1,075 | 0,360 | ||
35-44 anos | 32,00 | 3,63 | |||||
45-54 anos | 31,61 | 3,93 | |||||
55-65 anos | 31,75 | 4,32 | |||||
Família: fardo | 25-34 anos | 10,06 | 2,21 | 14,21 | 0,000 | ||
35-44 anos | 10,99 | 2,20 | |||||
45-54 anos | 11,78 | 2,17 | |||||
55-65 anos | 12,25 | 2,40 |
Nota. IFCE-AE = Escala que avalia a Importância da Família nos cuidados de Enfermagem - Atitude dos Enfermeiros; F = ANOVA; p = Probabilidade de significância.
Relativamente às habilitações académicas, procedendo-se ao teste t-student (Tabela 3) encontraram-se diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) no score global da escala IFCE-AE e em todas as dimensões. Em todos os casos são os participantes com pós-licenciatura que obtêm resultados médios superiores.
Média | Desvio-padrão | t | P | ||
---|---|---|---|---|---|
IFCE-AE Total | Licenciatura ou bacharelato | 77,81 | 9,20 | -3,307 | 0,001 |
Pós-graduação, especialização ou mestrado | 81,46 | 9,75 | |||
Família: parceiro dialogante e recurso de coping | Licenciatura ou bacharelato | 35,85 | 4,85 | -3,027 | 0,003 |
Pós-graduação, especialização ou mestrado | 37,59 | 4,98 | |||
Família: recurso nos cuidados de enfermagem | Licenciatura ou bacharelato | 31,09 | 3,70 | -2,658 | 0,008 |
Pós-graduação, especialização ou mestrado | 32,27 | 3,92 | |||
Família: fardo | Licenciatura ou bacharelato | 10,87 | 2,31 | -2,652 | 0,008 |
Pós-graduação, especialização ou mestrado | 11,61 | 2,43 |
Nota. IFCE-AE = Escala que avalia a Importância da Família nos cuidados de Enfermagem - Atitude dos Enfermeiros; t = t-student; p = Probabilidade de significância.
Quanto ao tempo de serviço, pela análise da Tabela 4, verifica-se a existência de diferenças estatísticas significativas (p < 0,05) consoante o tempo de carreira dos inquiridos em todos os indicadores da escala IFCE-AE, exceto na dimensão: Família como recurso. Procedendo-se ao teste de Bonferroni, revelam-se diferenças significativas sobretudo entre o grupo 1-10 anos de serviço com os grupos 21-30 anos e 31-40 anos, ambos com p < 0,05. Constata-se que os enfermeiros que exercem há mais de 21 anos atribuem mais importância à família no cuidar.
Média | Desvio- padrão | F | p | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
IFCE-AE Total | 1-10 anos | 76,47 | 8,44 | 5,838 | 0,001 | ||
11-20 anos | 78,43 | 9,28 | |||||
21-30 anos | 79,99 | 9,24 | |||||
31-40 anos | 83,33 | 10,78 | |||||
Família: parceiro dialogante e recurso de coping | 1-10 anos | 35,38 | 4,24 | 5,761 | 0,001 | ||
11-20 anos | 35,62 | 4,95 | |||||
21-30 anos | 36,91 | 4,98 | |||||
31-40 anos | 38,76 | 5,03 | |||||
Família: recurso nos cuidados de enfermagem | 1-10 anos | 31,04 | 3,67 | 1,616 | 0,186 | ||
11-20 anos | 31,92 | 3,64 | |||||
21-30 anos | 31,34 | 3,83 | |||||
31-40 anos | 32,45 | 4,21 | |||||
Família: fardo | 1-10 anos | 10,04 | 2,20 | 12,939 | 0,000 | ||
11-20 anos | 10,90 | 2,28 | |||||
21-30 anos | 11,74 | 2,17 | |||||
31-40 anos | 12,12 | 2,47 |
Nota. IFCE-AE = Escala que avalia a Importância da Família nos cuidados de Enfermagem - Atitude dos Enfermeiros; F = ANOVA; p = Probabilidade de significância.
No referente à categoria profissional (Tabela 5) pode aferir-se que a categoria profissional está relacionada com a atitude integrativa das famílias nos cuidados, pelos enfermeiros. O teste de Bonferroni revela diferenças significativas no score global da escala, na dimensão: família como parceiro dialogante e na dimensão: família como recurso entre os enfermeiros especialistas e os enfermeiros e enfermeiros graduados. Assim, pode-se aferir que os enfermeiros especialistas/chefes de categoria profissional apresentam valores médios superiores desta atitude.
Média | Desvio-padrão | F | p | ||
---|---|---|---|---|---|
IFCE-AE Total | Enfermeiro | 76,58 | 8,79 | 20,494 | 0,000 |
Enfermeiro Graduado | 79,15 | 8,93 | |||
Enfermeiro Especialista/Chefe | 84,96 | 9,48 | |||
Família: parceiro dialogante e recurso de coping | Enfermeiro | 35,30 | 4,62 | 15,427 | 0,000 |
Enfermeiro Graduado | 36,58 | 4,47 | |||
Enfermeiro Especialista/Chefe | 39,10 | 5,21 | |||
Família: recurso nos cuidados de enfermagem | Enfermeiro | 30,98 | 3,68 | 11,558 | 0,000 |
Enfermeiro Graduado | 31,05 | 3,73 | |||
Enfermeiro Especialista/Chefe | 33,43 | 3,73 | |||
Família: fardo | Enfermeiro | 10,30 | 2,18 | 23,527 | 0,000 |
Enfermeiro Graduado | 11,52 | 2,26 | |||
Enfermeiro Especialista/Chefe | 12,42 | 2,25 |
Nota. IFCE-AE = Escala que avalia a Importância da Família nos cuidados de Enfermagem - Atitude dos Enfermeiros; F = ANOVA; p = Probabilidade de significância.
Relativamente à variável “Serviço onde exerce funções” constata-se que os enfermeiros que apresentam atitudes mais cuidativas com as famílias, são os que exercem funções na Unidade de Cuidados Especiais Pediátricos (UCEP), no serviço de psiquiatria e no serviço de cirurgia de ambulatório, pois apresentam, respetivamente, score médio global mais elevado na IFCE-AE (89,33; 87,75 e 86,33).
Através da análise dos dados obtidos (Tabela 6) pode-se aferir que existem diferenças significativas nos resultados da IFCE-AE em todos os grupos de participantes com diferentes extensões de sentido/objetivos de vida, com p < 0,05. Sendo que, quanto maior é a extensão de sentido de vida, mais elevada é a pontuação média na IFCE-AE. Os testes post-hoc de Bonferroni confirmam que no score médio da escala IFCE-AE total e nas suas dimensões família como parceiro e como fardo, se distingue de forma estatisticamente significativa uma extensão de sentido de vida elevados (p < 0,05). Na dimensão: Família como recurso nos cuidados de enfermagem só há diferenças significativas nas pontuações dos grupos com índices de sentido de vida moderado e elevado (p < 0,05). Tendo em consideração o score médio da escala IFCE-AE total, como mais relevante, uma vez que engloba mais itens e agrega todas as dimensões, conclui-se que índices elevados de sentido de vida conduzem a atitudes mais integrativas das famílias nos cuidados.
Média | Desvio padrão | F | p | ||
---|---|---|---|---|---|
IFCE-AE Total | Extensão de SV reduzida | 75,30 | 9,26 | 11,793 | 0,000 |
Extensão de SV moderada | 76,78 | 8,33 | |||
Extensão de SV elevada | 81,53 | 9,81 | |||
Família: parceiro dialogante e recurso de coping | Extensão de SV reduzida | 34,30 | 4,27 | 7,858 | 0,000 |
Extensão de SV moderada | 35,64 | 4,44 | |||
Extensão de SV elevada | 37,48 | 5,13 | |||
Família: recurso nos cuidados de enfermagem | Extensão de SV reduzida | 30,87 | 4,30 | 7,652 | 0,000 |
Extensão de SV moderada | 30,63 | 3,55 | |||
Extensão de SV elevada | 32,31 | 3,81 | |||
Família: fardo | Extensão de SV reduzida | 10,13 | 2,30 | 12,899 | 0,000 |
Extensão de SV moderada | 10,51 | 2,11 | |||
Extensão de SV elevada | 11,74 | 2,41 |
Nota. IFCE-AE = Escala que avalia a Importância da Família nos cuidados de Enfermagem - Atitude dos Enfermeiros; F = ANOVA; p = Probabilidade de significância.
Quanto à relação entre a saúde mental e a importância que os enfermeiros atribuem à família nos cuidados identificam-se variações com significado estatístico entre os resultados da escala IFCE-AE e a existência de sintomatologia depressiva/ansiosa indicada (p < 0,05). Assim, afere-se que a saúde mental interfere na importância que os enfermeiros atribuem à família, sendo que, quando estes indicam melhor bem-estar, ou seja, menor sintomatologia depressiva /ansiosa, expõem atitudes mais integrativas da família (Tabela 7). O recurso a testes de Bonferroni mostra que essas variações são significativas em todos os casos apenas entre o grupo com sintomas graves e sem sintomatologia. Ou seja, os participantes com sintomas graves obtêm, de forma estatisticamente significativa, pontuações mais baixas na IFCE-AE, do que os participantes sem sintomatologia relevante. Desta forma, pode-se aferir que os enfermeiros sem sintomatologia depressiva têm uma atitude mais inclusiva da família.
Média | F | p | |||
---|---|---|---|---|---|
IFCE-AE Total | Sintomas graves | 76,02 | 4,631 | 0,010 | |
Sintomas moderados | 78,07 | ||||
Sem sintomas relevantes | 80,20 | ||||
Família: parceiro dialogante e recurso de coping | Sintomas graves | 35,09 | 3,99 | 0,019 | |
Sintomas moderados | 35,77 | ||||
Sem sintomas relevantes | 37,02 | ||||
Família: recurso nos cuidados de enfermagem | Sintomas graves | 30,54 | 2,294 | 0,103 | |
Sintomas moderados | 31,57 | ||||
Sem sintomas relevantes | 31,78 | ||||
Família: fardo | Sintomas graves | 10,39 | 4,817 | 0,009 | |
Sintomas moderados | 10,73 | ||||
Sem sintomas relevantes | 11,40 |
Nota. IFCE-AE = Escala que avalia a Importância da Família nos cuidados de Enfermagem - Atitude dos Enfermeiros; F = ANOVA; p = Probabilidade de significância.
Discussão
A presente discussão será desenvolvida em função dos objetivos deste estudo, designadamente 1. Conhecer as atitudes dos enfermeiros quanto à importância que atribuem à integração das famílias nos cuidados e 2. Determinar a relação entre as atitudes dos enfermeiros, quanto à importância que atribuem à integração das famílias nos cuidados e a sua idade, habilitações académicas, tempo na carreira, categoria profissional, sentido de vida e sintomas de depressão/ansiedade.
Quanto ao score global da escala IFCE-AE o presente estudo obteve um valor de 79,2 pontos, constatando-se que os enfermeiros apresentam atitudes de suporte, promovendo a inclusão da família nos cuidados de enfermagem. Este resultado é idêntico ao estudo de Fernandes et al. (2015). Outros estudos desenvolvidos em contexto hospitalar apresentaram também indicadores de atitudes de suporte, mas com resultados médios discretamente inferiores (Alves, 2011; Francisco, 2017; Rodrigues, 2013). A nível internacional, o estudo desenvolvido por Blondal et al. (2014) na Islândia apresentou um score médio muito semelhante ao do presente estudo (79,3 pontos). Por sua vez, no Brasil, Ângelo et al. (2014), apresentou no seu estudo um score médio global superior (82 pontos).
No que se refere à identificação de fatores associados às atitudes dos enfermeiros, o presente estudo identifica a idade como fator de influência, sendo os enfermeiros mais velhos a atribuir mais importância à integração das famílias nos cuidados. Corroboram este resultado, os estudos de Frade et al. (2021) e Blondal et al. (2014). Este resultado é refutado por Ângelo et al. (2014), sendo os enfermeiros com mais idade a demonstram atitudes menos integrativas.
Em relação às habilitações académicas, verificou-se que os enfermeiros que possuem pós-licenciatura/especialidade, mestrado e pós-graduação, atribuem maior importância à integração da família nos cuidados. Comprovam esta posição, os resultados do estudo de Rodrigues (2013). Por sua vez, Fernandes et al. (2015) apresenta resultados que negam a relação entre a atitude dos enfermeiros e o grau académico.
Quanto ao tempo de serviço, contata-se que este é um fator de influência positiva, sendo que, são os enfermeiros com mais anos de experiência profissional, que apresentam atitudes mais integrativas. O resultado do estudo de Frade (2021) corrobora esta relação. Este dado pode ser compreendido pelo facto de profissionais de enfermeiros com menos anos de exercício profissional centrarem a sua atividade nos utentes e não nas famílias (Blondal et al., 2014). Uma menor experiência profissional pode condicionar os ganhos em saúde, nomeadamente, se a família for tomada como contexto dos cuidados (Silva et al., 2013). Por sua vez, o estudo de Ângelo et al. (2014) concluiu o oposto, demonstrando que são precisamente os enfermeiros com menos tempo na profissão que apresentam as atitudes mais integrativas das famílias nos cuidados.
O resultado deste estudo indica que, o facto de ser enfermeiro especialista/chefe de categoria profissional, é um fator promissor das atitudes dos enfermeiros. Esta relação é corroborada nos estudos de Rodrigues (2013) e Francisco (2017) e refutada nos estudos desenvolvidos por Alves (2011) e Fernandes et al. (2015).
Quanto ao serviço onde os participantes exercem funções, verifica-se que são os enfermeiros que trabalham nos serviços de UCEP, psiquiatria e cirurgia de ambulatório que, revelam em média, atitudes mais integrativas. Por sua vez, os que trabalham nos serviços de cirurgia, urgência geral e pneumologia/gastro, apresentam em média, atitudes menos inclusivas. O facto de nos serviços de cirurgia e urgência geral as respostas dos participantes documentarem valores médios mais baixos, poderá estar relacionado com a complexidade e exigências do contexto, como acontece em unidades de cuidados urgentes/emergentes de saúde (Benzein et al. 2008).
O resultado de serem os enfermeiros a exercer funções no serviço de cirurgia de ambulatório a apresentar atitudes mais inclusivas face aos que exercem no serviço de cirurgia de internamento, é corroborado no estudo de Blondal, et al. (2014). Os resultados quanto às atitudes integrativas em contexto de psiquiatria são corroborados pelos estudos na área de saúde mental, desenvolvido por Fernandes et al., (2018).
Em continuidade, índices elevados de sentido de vida e uma melhor saúde mental, apresentam-se igualmente como fatores promotores de atitudes inclusivas, reforçando a importância do desenvolvimento CoCIP que habilita para a descoberta de sentido da vida e o coping adaptativo a cada contexto (Barros, 2014; Kraus et al., 2021).
Outros estudos investigaram a influência de fatores, também subjetivos, associados à saúde mental e à atitude integrativa dos enfermeiros. Alves (2011) investigou a relação dos estilos de gestão de conflito com a atitude integrativa dos enfermeiros registando que o recurso a estilos de gestão do conflito que impliquem cedências de ambas as partes e/ou exijam negociação, recorrendo a uma comunicação eficaz, é promotor de atitudes de cooperação e colaboração, promovendo o envolvimento da família. O estudo desenvolvido por Francisco (2017), indica que os enfermeiros com mais empatia, têm atitudes que conferem mais importância à Família, no cuidar.
A atitude que os enfermeiros adotam na sua relação com a família no âmbito dos cuidados, pode reduzir sofrimento, restabelecer redes de comunicação, promover desenvolvimento pessoal e potenciar ganhos em saúde.
Os resultados devem ser interpretados com o cuidado a que as limitações do estudo obrigam: tratando-se de uma amostra não probabilística intencional e acidental, não garante a representatividade da população; sendo um estudo não experimental e de corte transversal, as considerações feitas, principalmente acerca da relação existente entre as variáveis e as atitudes dos participantes, saem fragilizadas.
Conclusão
Dando resposta aos objetivos, conclui-se que os enfermeiros revelam uma pré-disposição de abertura para a prática cuidativa, sensível à inclusão cooperativa da família no processo de cuidados e às necessidades da pessoa. Identificam-se como fatores associados a esta atitude, ser mais velho, ter habilitações académicas mais elevadas, mais tempo de carreira, categoria profissional mais elevada, maior extensão de sentido de vida e melhor saúde mental. O estudo assinala um trabalho pioneiro quanto à análise da atitude de abertura e integração da família nos cuidados pelos enfermeiros, em contexto hospitalar. A reflexão sobre a forma como o desenvolvimento pessoal dos enfermeiros interfere na qualidade da relação com as famílias, apresenta o sentido de vida e a CoCIP como fatores determinantes, modificáveis, da qualidade da prática clínica. Assim, sugere-se o desenvolvimento desta competência na formação de base e especializada, e a replicação do estudo noutros contextos da prática clínica para confirmar os resultados.