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Psicologia

versão impressa ISSN 0874-2049

Psicologia vol.18 no.1 Lisboa jan. 2004

https://doi.org/10.17575/rpsicol.v18i1.410 

Representações da masculinidade e da feminilidade e retratos de homens e de mulheres na literatura portuguesa

Representations of masculinity and femininity and portraits of men and women in Portuguese literature

 

Gabrielle Poeschl*; Aurora Silva**; Alain Clémence***

*Universidade do Porto.

**Centro de Psicologia da Universidade do Porto, docente na Universidade Fernando Pessoa.

***Universidade de Lausana.

 


RESUMO

Uma análise dos trabalhos produzidos no último século sobre as representações da masculinidade e da feminilidade revela que estas foram objecto de poucas transformações, apesar das importantes mudanças ocorridas na situação social das mulheres. As imagens dos homens e das mulheres transmitidas pela família, pela escola e pelos meios de comunicação social também não reflectem as transformações da vida das mulheres. Por isso, muitos autores concluem que essas imagens contribuem para a permanência das representações tradicionais da masculinidade e da feminilidade e, logo, para a manutenção das relações assimétricas entre homens e mulheres. O estudo que apresentamos incide sobre as mensagens transmitidas aos alunos nas obras designadas como leituras obrigatórias no ensino secundário. Examinam-se as diferenças entre os retratos dos autores de romance do séc. XIX e as imagens e representações actuais da masculinidade e da feminilidade, e discutem-se as razões e as consequências da manutenção dos antigos modelos femininos nas representações sociais e nas produções culturais actuais.1

Palavras-chave Representações sociais, género, mass media, socialização, reprodução social.


ABSTRACT

An analysis of the work produced on the representations of masculinity and femininity during the past century reveals that these were object of few transformations, in spite of the important changes that occurred in women's social condition. The images of men and women transmitted by family, school and mass media also do not reflect the transformation of women's lives. Therefore, many authors conclude that those images contribute to the permanence of the traditional representations of masculinity and femininity, and, consequently, to the maintenance of the asymmetrical relations between men and women. The study presented here aims at analyzing the messages transmitted to the Portuguese pupils by the writings designated as compulsory readings at the secondary school level. We examine the differences between the portraits depicted by the authors of the 19th century and present-day images and representations of masculinity and femininity, and we discuss the reasons and consequences of the maintenance of old feminine models in present-day social representations and cultural productions.


 

As representações da masculinidade e da feminilidade destacam-se pelas poucas transformações de que foram objecto, apesar das mudanças ocorridas na situação social das mulheres. Esta estabilidade é tanto mais digna de nota quando se sabe que as representações da masculinidade e da feminilidade foram estudadas ao longo de quase um século de investigação.

Pode-se fazer remontar, com efeito, ao início do séc. XX as primeiras tentativas dos psicólogos para captar e descrever a especificidade da natureza feminina e da natureza masculina. A investigação então desenvolvida situa-se num contexto sócio-histórico que convém recordar (cf. Poeschl, no prelo). Em primeiro lugar, as mudanças provocadas pela revolução industrial vão suscitar, por parte de vários segmentos populacionais, discursos destinados a proteger a ordem social. Para a burguesia industrial, trata-se de lutar contra o perigo que representa o pauperism© da classe trabalhadora, visto como anti-social e fonte de criminalidade1 (Cicchelli-Pugeot & Cicchelli, 1998), incentivando a adopção generalizada do mo delo burguês de organização familiar. Este modelo caracteriza-se por três aspectos uma educação diferenciada para rapazes e raparigas desde a primeira infância, a colocação das mulheres em casa e a atribuição aos homens do papel de ganha-pão que desempenham através de um trabalho assalariado (Cicchelli-Pugeo & Cicchelli, 1998).

O modelo burguês de organização familiar vai, de facto, estender-se à totalidade das classes sociais ao longo do séc. XIX, já que os objectivos da burguesia industrial convergem com os dos sindicatos e dos trabalhadores, preocupados em afastar as mulheres (e as crianças) dos locais de trabalho para proteger o emprego masculino (Scott, 1994). Para justificar a manutenção das mulheres em casa, os sindicatos afirmam que a constituição física das mulheres as destina a ser mães e esposas; que o corpo feminino, sendo mais fraco do que o corpo masculino, não pode resistir ao trabalho na fábrica; que o trabalho na fábrica toma as mulheres inapta: para amamentar e dar à luz filhos saudáveis (Scott, 1994).

Em segundo lugar, a adopção generalizada do modelo burguês de organiza ção familiar vai gerar a necessidade de justificar as posições ocupadas pelos doií sexos na sociedade (Shields, 1986). Portanto, as ciências sociais e humanas que se desenvolvem nessa altura integram as comparações entre homens e mulheres na: suas diferentes tentativas para hierarquizar os grupos sociais. As conclusões acera da inferioridade das mulheres que se retiram dessas hierarquizações servem, entre outros, para justificar que a educação das raparigas seja limitada à aquisição das competências necessárias para desempenhar os papéis de esposa e de mã( (Shields, 1986). Face à grande maioria da elite intelectual masculina do séc. XIX — por exemplo, Comte (1927), Darwin (1871), Durkheim (1893) ou Freud (1908) — que converge na asserção de que a superioridade masculina é natural e universal raros são os autores que tomam posição a favor das mulheres. John Stuart Mil (1869) e Engels (1974) pertencem à minoria dos que procuram mostrar que as relações entre os sexos são social e historicamente construídas e que denunciam a subordinação das mulheres.

Do lado dá elite intelectual feminina, as poucas investigadoras da época procuram combater os preconceitos acerca das mulheres. Helen Thompson Woolej publica em 1910 os resultados dos seus estudos sobre as diferenças entre os sexos, evidenciando uma grande semelhança entre homens e mulheres. Leta Stetter Hollingworth (1916) denuncia as pressões exercidas pelos grupos dominantes sobre as mulheres para que se dediquem à maternidade e à domesticidade. Esta autora sublinha, nomeadamente, a contradição entre a constante referência dos discursos dominantes ao instinto maternal e a existência de leis que proíbem a contracepção, o aborto, o abandono de crianças e o infanticídio, e afirma que o papel atribuído às mulheres na sociedade tem como único objectivo impedir que elas vivam uma vida própria. Nos anos 20, a primeira onda de feminismo consegue conquistar alguns direitos fundamentais para as mulheres da América e da Europa do Norte, nomeadamente o direito de voto, o direito à propriedade e o acesso à educação (Connell, 1993). Partindo do princípio que a obtenção do direito de voto para as mulheres vai assegurar a igualdade entre os sexos (Crawford & Unger, 2000), o debate social sobre os sexos perde vitalidade, enquanto que se levanta, evidentemente, a questão de saber porque é que se a subordinação das mulheres não é justa e natural, se conseguiu estabelecer (Connell, 1993).

É neste contexto que Terman inicia cerca de vinte anos de investigação destinada a "clarificar as ideias confusas que correm actualmente sobre a masculinidade e a feminilidade da personalidade" (Lorenzi-Cioldi, 1994, p. 22). Apesar de os seus trabalhos sobre a inteligência não terem revelado diferenças entre homens e mulheres, e de os estudos de Wooley (1910) o obrigarem a admitir que os dois sexos são iguais relativamente a outras habilidades — como "habilidade musical, habilidade artística, habilidade matemática, e mesmo habilidade mecânica" (Bem, 1993, p. 102) —, Terman estava convencido da existência de diferenças entre os sexos. Assim, em colaboração com Miles, Terman torna a interrogar milhares de indivíduos sobre um conjunto de sentimentos, interesses, atitudes e comportamentos que deveriam traduzir essas diferenças, e leva a cabo o seu objectivo: construir o primeiro instrumento capaz de avaliar a dimensão da masculirúdade-feminilidade psicólogica, o teste de atitudes e de interesses (Terman & Miles, 1936).

Os trabalhos de Terman e Miles têm consequências importantes: conferem uma legitimidade científica à ideia de que existe uma natureza masculina, oposta à natureza feminina, e que a dimensão masculirúdade-feminilidade da personalidade pode ser medida (Bem, 1993). Para além disto, definem os dois pólos dessa dimensão. Contudo, visto que estes pólos são definidos combase nas representações do que mais diferencia os homens e as mulheres, as maneiras de ser típicas dos dois sexos correspondem aos papéis mais tradicionais. Por outras palavras, a mulher típica diferencia-se do homem típico pela riqueza das suas emoções, pela sua timidez, pela sua docilidade, pela sua natureza ciumenta; preocupa-se com as relações com os outros e os afazeres domésticos, enquanto que o homem típico se preocupa com os objectos mecânicos, as actividades financeiras, ou as actividades exteriores (Lorenzi-Cioldi, 1994). Por último, estes trabalhos difundem a ideia de que a conformidade às normas dos grupos — que contribuem de forma importante para a identidade dos indivíduos — é um indicador de saúde mental, enquanto que os desvios a estas normas traduzem um fraco ajustamento social ou patologias, nomeadamente a homossexualidade (Shields, 1986).

Vinte anos mais tarde, as diferenças entre homens e mulheres são explicitamente associadas às esferas pública e privada, pela ligação que Parsons estabelece entre os temperamentos masculino e feminino e os papéis masculino e feminino. Segundo Parsons (Parsons & Bales, 1956), o papel do homem é de natureza instrumental e o papel da mulher de natureza expressiva. O desempenho destes papéis orienta as personalidades de modo que, tipicamente, o homem se focaliza na realização de objectivos, inibe as suas emoções, age em função do seu interesse pessoal e estabelece relações úteis para alcançar as suas metas, enquanto que, tipicamente, a mulher é sensível, compreensiva, flexível, preocupa-se com as necessidades afectivas da família, mostra as suas emoções e valoriza os outros pelas suas qualidades pessoais (Lorenzi-Cioldi, 1994).

Baseando-se no seu conhecimento do funcionamento dos pequenos grupos,

Parsons e Bales (1956) afirmam que um único membro da família não pode conciliar os comportamentos expressivos e instrumentais; apoiando-se na análise transcultural de Zelditch (1956), declaram que a divisão dos papéis familiares é universalmente efectuada em função do sexo; finalmente, invocando a necessidade — assumida pela teoria psicanalítica — de as crianças se identificarem com o progenitor do mesmo sexo, concluem que é desejável uma clara divisão dos papéis. Por outras palavras, as famílias mais eficazes e mais coesivas são aquelas em que os homens e as mulheres desempenham, respectivamente, os papéis instrumental e expressivo (cf. Brown, 1988). Estas ideias acarretam toda uma indústria de aconselhamento, de terapia e de trabalho social, na medida em que os papéis sexuais são concebidos como normativos e estabelecem diferentes esquemas de desvio (Connell, 1993).

As ideias de Parsons suscitam reacções variadas. Nos meios académicos, questiona-se a complementaridade dos papéis feminino e masculino, a impossibilidade de uma mesma pessoa desempenhar os papéis instrumental e expressivo e a satisfação proporcionada pela divisão dos papéis familiares (Herla, 1987). Estudos realizados em meio natural revelam que em muitas famílias os homens manifestam mais comportamentos socioemocionais positivos do que as mulheres (Waxier & Mishler, 1970). O quadro teórico de Parsons inspira também algumas autoras da segunda onda de feminismo. Para Friedan (1963), por exemplo, é necessária tuna mudança na identidade e nas expectativas das mulheres. Aposição desfavorecida das mulheres é, com efeito, atribuída a expectativas tradicionais estereotipadas, partilhadas pelos homens e internalizadas pelas mulheres. Num discurso que lembra de alguma forma o de Hollingworth (1916), Friedan afirma que essas expectativas são difundidas pelos agentes de socialização, nomeâdamente, a família, a escola, os medias. Para eliminar as desigualdades, é preciso quebrar os estereótipos oferecendo, por exemplo, uma melhor educação às raparigas e promulgando legislações contra as discriminações no mundo do trabalho (Connell, 1993).

As autoras da segunda onda de feminismo começam também a questionar as conclusões da investigação sobre as diferenças entre homens e mulheres. Como Wooley o tinha feito meio século atrás, elas empenham-se em mostrar que não existem diferenças entre os sexos. Assim, Maccoby e Jacklin,(1974) analisam mais do que 1400 estudos publicados até à data sobre as diferenças entre homens e mulheres, relativamente às capacidades cognitivas, aos temperamentos e aos comportamentos sociais, e concluem que existem apenas quatro diferenças consistentes: os homens possuiriam capacidades numéricas e de visualização espacial superiores às das mulheres e as mulheres possuiriam capacidades verbais superiores às dos homens. Os homens seriam também mais agressivos do que as mulheres (Deaux, 1990).

Os resultados de Maccoby e Jacklin (1974) contrastam dramaticamente com as conclusões da investigação que se realiza, na mesma altura, sobre os estereótipos sexuais, e que evidenciam que, geralmente, os indivíduos acreditam na existência de diferenças entre os sexos. Estudos baseados em traços de personalidade concluem, com efeito, que existe um elevado consenso acerca das características que diferenciam os homens e as mulheres (Crawford & Unger, 2000). As crenças dos indivíduos sobre as diferenças entre os sexos podem resumir-se, de forma geral, em dois conjuntos de traços fortemente correlacionados que, em conformidade com as conclusões de Parsons (1956), associam a instrumentalidade aos homens e a expressividade às mulheres (Broverman, Vogei, Broverman, Clarkson & Rosenkrantz, 1972), dimensões também designadas por agenticidade e comunalidade (Bakan, 1966). Por outras palavras, verifica-se, nos anos 70, que os homens são vistos como mais activos, competentes, racionais, assertivos, independentes, agressivos, ambiciosos, dominantes, autoconfiantes, directos, aventureiros e persistentes do que as mulheres, e que as mulheres são vistas como mais calorosas, gentis, amigáveis, prestáveis, sensíveis, preocupadas com o bem-estar dos outros e dispostas a exprimir sentimentos positivos do que ps homens.

Na actualidade ainda, estes traços formam a base dos estereótipos de género que se encontram na sociedade ocidental (Swim, 1994) e que se podem captar também em Portugal (Amâncio, 1994). Eles estão presentes nas representações dos dois sexos, que incluem, para além disso, uma grande diversidade de elementos como papéis, comportamentos, interesses ou características físicas (Spence, Deaux & Helmreich, 1985). Assim, num estudo recente, realizado em Portugal com jovens e adultos de ambos os sexos (Silva & Poeschl, 2001-2002), encontrou-se, nas representações dos homens e das mulheres, que ainda é mais típico dos homens terem uma vida social activa (associando aos homens bebida, futebol, noctívago, café, desporto, jogar, mulherengo), e que ainda é mais típico das mulheres ocuparem-se principalmente da família e da sua aparência (associando às mulheres trabalho doméstico, cabeleireiro, pintura, telenovela, filhos, arrumar, cozinhar, limpar, beleza).

Portanto, as representações da natureza masculina e da natureza feminina têm-se mantido sem mudanças significativas desde o início do séc. XX, aparentemente impermeáveis à evolução da situação das mulheres que, na actualidade, participam em massa no mundo do trabalho e têm muitas vezes um nível de escolaridade mais elevado do que os homens (Baudelot & Establet, 1992). Neste sentido, a permanência dessas representações não confirma as predições das feministas que viam na educação das raparigas e no acesso das mulheres ao mundo do trabalho uma forma de quebrar os estereótipos (Friedan, 1963); também não responde às expectativas das autoras que multiplicaram os estudos sobre as diferenças entre os sexos com o intuito de combater os estereótipos sexuais pela demonstração da ausência de tais diferenças (Eagly, 1995; Archer, 1996).

O consenso entre homens e mulheres acerca da sua natureza respectiva também não reflecte o violento debate que desde os anos 80 sacode a investigação sobre as diferenças entre os sexos, e que questiona tanto a validade dos resultados obtidos como os a priori dos investigadores e os objectivos dessa investigação (Eagly, 1995; ver também Poeschl, nó prelo). Pelo contrário, as representações da masculinidade e da feminilidade parecem conformes às imagens dos homens e das mulheres difundidas pelos agentes de socialização, nomeadamente, a família, a escola e os meios de comunicação social.

As imagens dos homens e das mulheres

A análise dos conteúdos dos livros de imagens ou de histórias para crianças, dos manuais escolares, da imprensa escrita e da televisão, que se desenvolve também a partir dos anos 70, evidencia inúmeras diferenças no modo como os dois sexos são apresentados (Burr, 1998; Crawford & Unger, 2000).

A análise da publicidade televisiva dos anos 70 revela assim que a maioria das figuras centrais são masculinas, sendo os homens muitas vezes apresentados no papel de peritos. Os homens proporcionam frequentemente conselhos a mulheres, sendo as mulheres geralmente apresentadas como consumidoras (McArthur & Resko, 1975). Dados semelhantes encontram-se em estudos mais recentes, nomeadamente em Portugal, onde se verifica que 66% das figuras centrais são masculinas, sendo 72% dos homens apresentados como peritos (Neto & Pinto, 1998). As mulheres são, em média, mais jovens do que os homens, sugerindo que o que é importante para as mulheres é a juventude e a beleza, ao passo que para os homens é a sabedoria (Neto & Pinto, 1998). Apesar de as mulheres na publicidade actual terem um maior leque de actividades profissionais do que tinham na publicidade dos anos 50 e serem descritas com menor frequência no papel de domésticas, elas continuam a desempenhar este papel com maior frequência do que os homens (Allen & Coltrane, 1996).

De forma semelhante, a análise dos programas televisivos revela que os homens se encontram em maior número do que as mulheres nos papéis principais. Um estudo recente revela, por exemplo, que 57% das personagens de espectáculos de comédia e 71% das personagens de espectáculos de acção e de aventuras são masculinas (Davis, 1990). Os homens aparecem em situações ligadas à vida profissional, ao passo que as mulheres são apresentadas como centradas no casamento e na maternidade e preocupadas com a aparência; quando têm uma actividade profissional, essa é muitas vezes de baixo estatuto (Burr, 1998). As personagens femininas são, em média, dez anos mais jovens do que as personagens masculinas (Crawford & Unger, 2000).

A mesma descrição dos dois sexos pode ser observada nos desenhos animados: as personagens masculinas são mais numerosas e mais instrumentais do que as femininas e as personagens femininas são mais comunais do que as masculinas. Apesar de se registar algum progresso na forma de apresentar as mulheres — que são, desde 1980, mais numerosas e menos estereotipadas do que dantes—as personagens masculinas nunca desempenham o papel cuidante, enquanto as personagens femininas são descritas neste papel 46% do tempo (Thompson & Zerbinos, 1995).

Aanálise da imprensa escrita apresenta características semelhantes. Em 1976, Goffman nota que a publicidade das revistas e dos jornais norte-americanos sugere uma diferença de estatuto entre homens e mulheres: os homens desempenham muitas vezes o papel de peritos e são fisicamente apresentados numa posição superior à das mulheres (cf. Burr, 1998). Na mesma altura, um estudo realizado em Portugal evidencia duas formas de apresentar as mulheres: por um lado, em imagens "da vida quotidiana", elas acompanham um homem, sempre sorridentes; por outro, com atitudes sugestivas, elas utilizam o seu corpo para promover produtos de beleza ou outros produtos de consumo (Barreno, 1976). Se as mulheres são mais frequentemente descritas num contexto profissional na actualidade do que há quarenta anos atrás, também são mais vezes apresentadas como objectos decorativos ou sexuais (Crawford & Unger, 2000).

Um exame do conteúdo da imprensa escrita revela que, na grande maioria dos casos, a primeira página dos diários se refere a homens ou apresenta comentários masculinos (Crawford & Unger, 2000). Quando se fala de mulheres em posição de poder ou de prestígio comenta-se a sua aparência física e o seu vestido, independentemente do assunto em causa (ver também Barreno, 1976). As páginas desportivas consagram mais espaço aos desportistas masculinos do que às desportistas; dão mais atenção às ginastas e patinadoras do que às jogadoras de futebol ou de basquete; sublinham a força e o poder do corpo masculino e a beleza e a delicadeza do corpo feminino (Crawford & Unger, 2000).

As preocupações femininas exprimem-se nas revistas femininas. Numa análise das três principais revistas norte-americanas entre 1949 e 1980, Ferguson (1983) revela que até os anos 70 os temas mais frequentes dizem respeito à manutenção das relações familiares (com o marido e os filhos) e ao cuidado com a aparência. Temas relacionados com a contracepção e a conciliação entre família e trabalho aparecem mais tarde, sem mostrar uma mudança nas ideias acerca da feminilidade e dos papéis tradicionalmente femininos (cf. Burr, 1998). A sexualidade aparece, hoje em dia, como uma das grandes preocupações femininas, sendo mais importante do que o emprego e a família e, sem dúvida, mais importante do que a política, a economia e os problemas sociais (Crawford & Unger, 2000).

As revistas para raparigas adolescentes não procuram despertar outros interesses nas suas leitoras (Crawford & Unger, 2000): a análise de uma revista americana de grande difusão revela que mais de 60% dos artigos em cada número tratam de moda,beleza, alimentação e decoração (Peirce, 1990). Não se encontraram grandes diferenças relativamente às revistas europeias, mas sim relativamente às revistas destinadas aos rapazes adolescentes, em que 30% dos artigos são dedicados a viagens, carros e motos, e a filmes, CD e jogos de computador (Willemsen, 1998).

As grandes dicotomias actividade-passividade e esfera pública-esfera privada são já definidas na imprensa infantil. Efectivamente, uma análise das revistas de língua francesa destinadas às crianças dos 0 aos 7 anos revela que os heróis dos episódios apresentados mensalmente às crianças desenvolvem mais frequentemente do que as heroínas actividades exteriores em companhia de amigos. Pelo contrário, as heroínas são muitas vezes apresentadas no quadro familiar aparecendo, por exemplo, duas vezes mais do que os heróis na cozinha usando avental (Dafflon-Novelle, 2002).

As representações estereotipadas dos dois sexos não estão ausentes dos livros escolares. Numa análise dos livros de textos destinados aos alunos da terceira classe, Child, Potter e Levine revelam, em 1946, que esses apresentam as mulheres como dedicadas, meigas e tímidas, mas raramente activas, ambiciosas ou criativas. Pelo contrário, os homens são descritos como espertos e são os heróis das histórias em 73% dos casos (cf. Montagu, 1999). Nos anos 70, um estudo realizado em

Portugal revela que, nos livros de textos para os alunos da escola primária, os homens, detentores do poder e do saber, são definidos essencialmente pelo trabalho profissional e nunca desempenham tarefas domésticas; as mulheres, sem preocupações e inteiramente dependentes dos homens, são definidas pela função maternal e raramente têm uma actividade profissional (Fontaine, 1977). Anos depois, os homens e as mulheres apresentados aos alunos continuam conformes aos estereótipos sexuais (Michel, 1986). Apesar de algumas modificações nas actividades dos dois sexos, as personagens femininas são descritas como sendo tão passivas e dependentes como há cinquenta anos atrás e as personagens masculinas não são menos instrumentais (Kortenhaus & Demarest, 1993).

As imagens difundidas pelos meios de comunicação de massa e pelas instituições de ensino continuam a propagar as ideologias desenvolvidas no séc. XIX, apesar das mudanças ocorridas na situação das mulheres. Já que muitas vezes não se nota nada de estranho no modo como os dois sexos são apresentados, podemos considerar que essas imagens traduzem uma representação ainda largamente difundida da masculinidade e da feminilidade (Burr, 1998). Para alguns autores, essas imagens também têm uma função: justificam a discriminação das mulheres (Barreno, 1976), apresentando as diferenças entre homens e mulheres como naturais ou como conformes a uma norma que corresponde ao justo equilíbrio social (Fontaine, 1977).

Partindo do princípio que as imagens difundidas contribuem também para a construção da identidade sexual dos jovens e para a sua socialização nos papéis tradicionalmente atribuídos aos dois sexos (Dafflon-Novelle, 2002), pode-se perguntar se as leituras propostas no percurso escolar proporcionam aos adolescentes imagens alternativas da masculinidade e da feminilidade.

Retratos de homens e mulheres na literatura portuguesa

Para responder a esta questão, procurámos examinar como são descritos os homens e as mulheres nas obras literárias designadas como leituras obrigatórias no ensino secundário português.

Método

Selecção dos textos literários

A selecção dos retratos de homens e de mulheres a analisar foi efectuada com base em vários critérios. Em primeiro lugar, procurámos conhecer as obras literárias designadas como leituras obrigatórias entre o sétimo e décimo segundo ano de escolaridade. Conseguimos obter junto do Departamento do Ensino Secundário os programas de, português e as respectivas leituras obrigatórias relativamente aos anos de 1991 e 1997.

Em segundo lugar, realizámos um inquérito acerca das leituras obrigatórias junto de 10 professores de português, 5 do sexo masculino e 5 do sexo feminino, com um tempo de serviço que varia entre os 16 e os 30 anos. Foi solicitado a esses professores, através de uma entrevista informal, que nos referissem, para cada ano que leccionavam ou que já leccionaram, os autores portugueses e as obras de leitura obrigatória de que se recordavam. Três autores e obras surgiram referidos por todos os professores, a saber: Os Maias de Eça de Queiroz, Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett e Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco. Verificou-se que as obras e os autores referidos constam dos programas de português obtidos junto do Departamento do Ensino Secundário.

Uma vez que, para além dos autores e das obras, pretendíamos seleccionar algumas personagens para o estudo, elaborámos, num terceiro momento, um pequeno questionário que foi administrado a 20 adultos, 10 homens e 10 mulheres, solteiros e casados, com idades que variavam entre 21 e 68 anos. O questionário era constituído por duas partes, que seguiam a mesma sequência. Na primeira parte, apresentava-se o objectivo do questionário, explicando que fazia parte, de uma investigação onde se procurava conhecer a opinião de leitores sobre alguns aspectos relacionados com romancistas portugueses. Em seguida, convidávamos os responderdes a pensar numa personagem que correspondesse a uma mulher típica e numa personagem que correspondesse a um homem típico, tendo por base os romances de autores portugueses lidos. Recolhíamos ainda os dados sociodemográficos dos inquiridos.

Na segunda parte, pedíamos aos inquiridos para identificar o nome da personagem feminina e da personagem masculina em que tinham pensado e para referir algumas informações sobre a caracterização das personagens e o seu papel na história. Pedíamos, ainda, que indicassem dez razões pelas quais as personagens eram consideradas, respectivamente, uma mulher típica ou um homem típico. Este pedido tinha por objectivo promover uma escolha que reflectisse efectivamente uma personagem considerada típica, pelo que esta informação não foi tratada. No quadro 1 apresentamos uma síntese das personagens evocadas por obra e autor.

Uma análise global do quadro 1 permite concluir que no total foram referidos seis autores, dos quais apenas dois actuais, José Saramago e Augustina Bessa Luís. Os autores mais referidos são, para além de José Saramago, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e Almeida Garrett. As personagens identificadas com maior frequência foram, respectivamente, Maria Eduarda e Carlos da Maia de Os Maias de Eça de Queiroz, Teresa e Simão de Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, e Joaninha e Carlos das Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett. Estas personagens, nas respectivas obras, são consideradas protagonistas ou personagens de relevo e mantêm uma relação amorosa em tomo da qual grande parte da trama se desenvolve. A partir do cruzamento das referências fornecidas pelos docentes, das leituras obrigatórias que constam dos programas de português, e das personagens identificadas como homens e mulheres típicos, decidimos reter para a análise as seis personagens que obtiveram uma frequência de evocação mais elevada.

Escolhidas as personagens era necessário encontrar as passagens dos romances em que estas são caracterizadas. Para a selecção recorremos ao conhecimento que possuímos das obras e às sugestões apresentadas nos Cadernos de Português do Ensino Secundário (Cabral, 1997a; Mendes, Dias & Geirinhas, 1999; e Cabra 1997b, respectivamente, para Maria Eduarda e Carlos da Maia de Os Maias, Simã e Teresa de Amor de Perdição e Joaninha e Carlos das Viagens na Minha Terra).

Material

O material submetido à análise é constituído por um corpus composto por25037pa lavras e dividido em seis unidades de contexto iniciais, que correspondem às des crições das seis personagens seleccionadas.

Análise dos dados

O material recolhido foi submetido a um programa de análise de dados textuai (Alceste, versão 4.5). Este programa, cujo objectivo é quantificar um texto para ex trair as estruturas significantes mais fortes, permite estudar a estrutura formal d; co-ocorrência das palavras num determinado corpus, efectuando tuna classificaçãt hierárquica descendente, baseada na distância do qui-quadrado, numa tabela de palavras que cruza o conjunto das formas lematizadas (reduzidas à raiz) em prove niência das passagens seleccionadas.

Resultados

O corpus foi subdividido em 638 unidades de contexto elementares (UCE) de 15,lí palavras em média. Estas unidades elementares foram definidas pelo programa e correspondem a duas ou três linhas de texto, ou seja, mais ou menos a uma frase. Dentro das 638 UCE, 544 foram classificadas, o que representa 85,27% do materialrecolhido.

Dentro das 25037 palavras que compõem o corpus, 5724 são formas lexicais distintas, dentro das quais 3652 aparecem apenas uma vez. As formas distintas foram reduzidas, por lematização, a 973 formas; destas foram analisadas 749, citadas no mínimo 3 vezes. A análise de classificação hierárquica levou a uma partição das formas reduzidas em cinco classes: duas descrevem as mulheres, duas descrevem os homens e a última reúne características que são associadas aos dois sexos.

A primeira classe contém 63 UCE, o que representa 11,58% do texto analisado. As palavras mais frequentes são: preto, bela, brilho, desenho, veludo, gentil (x2>30,00), feições, boca, ar, rosto, vestido, verde, expressão, sorrir, arte (X2>20,00) e ainda alta, azul, cabelo, pequena, rara, seda (x2>15,00). A classe faz claramente referência aos atributos físicos e à aparência, evocando a beleza e a meiguice. Trata-se de uma dimensão especificamente feminina, uma vez que as palavras referidas são associadas de forma significativamente menos frequente ao sexo masculino (x2=16,70). As palavras incluídas nesta classe provêm sobretudo do autor Almeida Garrett (x2=151,80), sendo menos utilizadas por Camilo Castelo Branco (x2=41,43).

A segunda classe é composta de 134 UCE, ou seja 24,63% do texto analisado. Compreende sobretudo as palavras morte, esperança, infeliz, mártir, coração, amiga (x2>20,00), degredo, morrer, agonia, desgraça, injúria (x2>15,00) e também amada, condenada, fé, amor, cuidar e forças (x2>10,00). A classe reflecte uma imagem de sofrimento e dádiva. Tal como a classe anterior, é especificamente feminina, uma vez que as palavras incluídas são associadas de forma sigmficativamente menos frequente ao sexo masculino (%z=12,77). As palavras são sobretudo usadas por Camilo Castelo Branco (x2=187,38) e menos por Eça de Queiroz (x2=149,78) e Almeida Garrett (x2=4,45).

A terceira classe contém 194 UCE, representando 35,66% do texto analisado. Inclui sobretudo as palavras braços, erguer, gritar, repente, brutalidade, amante (x2>10,00) e conhecer, arrebatamento, apertar, beijos, aparência, baixo, lábios, olhos, longo, ombros (x2>5,00). Estes termos fazem referência aos atributos físicos e evocam a força e a paixão. Eles são conotados com o sexo masculino, sendo significativamente menos frequentes na descrição das personagens femininas (x2=12,88). As palavras provêm sobretudo de Eça de Queiroz (xz=244,18), sendo significativamente menos utilizadas por Camilo Castelo Branco (x2=190,90) e por Almeida Garrett (x2=12,87).

Na quarta classe, que contém 55 UCE, ou seja 10,11% do texto analisado, as palavras mais frequentes são luxo, medicina, doente, laboratório, doutor, cavalos, cela (x2>30,00), diletante, estudos, livro, amigos, graça, médico (x2>20,00) e conhecido, trabalhar, rico, poeta, noite, gosto e considerado (x2>10,00). As palavras incluídas nesta classe sugerem uma ligação ao contexto laborai e à vida social. Tal como a classe anterior, esta classe traduz uma imagem masculina, uma vez que estas palavras estão significativamente menos associadas às personagens femininas (x2=17,56). É também característica de Eça de Queiroz (x2=244,18), uma vez qt as palavras que estão incluídas nesta classe são significativamente menos utiliz; das por Camilo Castelo Branco (x2=34,71) e por Almeida Garrett (x2=2,15).

Por último, a quinta classe inclui 98 UCE, o que corresponde a 18,01% do texl analisado, e engloba as palavras pai, primo (x2>45,00), filho, futuro, mãe (x2>10,00 assim como tia, filha e criança (x2>5,00). Esta classe, que faz uma ligação directa família e parentalidade, é comum aos dois sexos e é sobretudo característica d Camilo Castelo Branco (x2=140,53).

Discussão

Os nossos resultados revelam alguns factos interessantes relativamente às representações da masculinidade e da feminilidade. Em primeiro lugar, muitas personagens de romances de autores portugueses que correspondem a uma mulher típica a um homem típico foram escolhidas em obras do séc. XIX! Em segundo lugar, análise dos retratos das seis personagens assim seleccionadas evidencia visões es pecíficas da masculinidade e da feminilidade, que se sobrepõem aos estilos dos artores. Com efeito, se o estilo literário fosse determinante na construção da personagens, a análise devia ter extraído três classes, fazendo corresponder a cad uma um autor diferente. Não foi isso que aconteceu, e a análise revela—para alén de uma dimensão de relações familiares comuns aos dois sexos — duas classes ca racterísticas da natureza masculina e duas classes características da natureza feminina. Assim, a imagem das mulheres evoca, por um lado, a beleza e a meiguice sugerindo uma certa fragilidade, e apresenta as mulheres como objectos decorativos e, ao mesmo tempo, de desejo. Por outro lado, as mulheres são descritas como virtuosas e com capacidade de sofrer, de perdoar e de se sacrificar, o que realça uma outra faceta da sua natureza passiva.

De forma complementar, a imagem dos homens evoca a força e a iniciativa na relação amorosa, motivada pelo objecto de desejo. No entanto, a actividade que caracteriza a natureza masculina não se esgota nessa relação. Os homens são associa dos à esfera pública por uma grande diversidade de actividades: os estudos, í ocupação profissional, o estatuto social e a vida social. Duas grandes dicotomia! são assim delineadas nas obras analisadas: a fragilidade feminina vs. a força masculina e a passividade feminina vs. a actividade masculina.

Em terceiro lugar, as dimensões extraídas pela análise ainda permanecem nas representações actuais da masculinidade e da feminilidade, o que significa que as crenças acerca da natureza feminina e da natureza masculina sobreviveram às mudanças na situação das mulheres. Pode-se notar, contudo, uma variação nas imagens recolhidas nas obras literárias do séc. XIX e nas produções culturais actuais: z imagem da mulher sofredora foi substituída pela imagem da mulher sedutora, mãe e esposa feliz. Esta mudança tem como consequência principal tomar positivos alguns aspectos até lá negativos da natureza feminina. No entanto, a valorização da beleza e da capacidade de sedução feminina proporciona um prestígio às mulheres no imaginário mas não na sociedade real, o que possibilita a manutenção da ordem social (Chombart de Lauwe, 1984).

Observações conclusivas

As representações da masculinidade e da feminilidade foram objecto de poucas transformações durante os cem últimos anos. Este facto é intrigante na medida em que se registaram, neste período de tempo, importantes mudanças na situação social das mulheres. Na explicação da permanência das representações tradicionais pode-se incluir, sem dúvida, a difusão de imagens estereotipadas dos homens e das mulheres nas produções artísticas e culturais. Ao contrário do que Moscovici (1961, 1976) observou acerca da psicanálise no estudo em que introduziu o conceito de representações sociais, não há diversidade no modo de descrever os homens e as mulheres. As constantes oposições entre a actividade masculina e a passividade feminina, e as actividades exteriores dos homens e as actividades interiores das mulheres não só revelam as representações veiculadas pela nossa sociedade, como também propagam crenças acerca dos papéis apropriados aos homens e às mulheres.

Assim, a grande maioria das produções culturais continuam, na actualidade, a oferecer uma visão dos homens e das mulheres em conformidade com aquela que se estruturou nas ideologias do séc. XIX. As poucas transformações que ocorreram nas imagens apresentadas são as concessões indispensáveis para ajustar os antigos retratos às realidades sociais actuais. Sendo assim, essas imagens podem continuar a insinuar-se nas representações que as pessoas veiculam da masculinidade e da feminilidade, indicando o que devem ser e o que devem fazer para serem verdadeiramente homem ou mulher.

A falta de mudança nos retratos femininos poderia, no entanto, traduzir mais do que os esforços masculinos para preservar a sua dominação sobre as mulheres: ela poderia também reflectir a dificuldade das mulheres para definir a sua identidade de uma forma que, em simultâneo, seja positiva e distinta da identidade masculina (cf. Chombart de Lauwe, 1984). Pode-se inferir que, enquanto as mulheres não mudarem as suas expectativas (Friedan, 1963) nem procurarem viver uma vida própria (Hollingworth, 1916), as condições necessárias para mudar as relações entre os sexos não serão preenchidas.

 

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Notas

1Este estudo foi realizado com o apoio da FCT e do POCTI (Projecto POCTI/36451/PSI/00/2000),comparticipado pelo FEDER. A correspondência relativa a este trabalho pode ser endereçada a Gabrielle Poeschl, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto, Rua do Campo Alegre, 1055,4169-004 Porto (e-mail: gpoeschl@psi.up.pt).

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