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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher
versão impressa ISSN 0874-6885
Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher no.38 Lisboa dez. 2017
ESTADO DA QUESTÃO
Associação Portuguesa de Teologias Feministas
Fernanda Henriques, Teresa Toldy
A Associação Portuguesa de Teologias Feministas (APTF) foi criada em 2012, suprindo uma lacuna fundamental no nosso espaço cultural e religioso, uma vez que Portugal era dos poucos países europeus, senão o único, onde não havia uma associação de teólogas feministas.
Como se pode ler na primeira publicação da APTF, Mulheres que ousaram ficar. Contributos para a Teologia Feminista, de 2012, a APTF “resulta da vontade de dar voz às reflexões em torno de teologias feministas produzidas em Portugal e não só, relançando, assim, o debate sobre as Mulheres na Igreja, contribuindo para o aprofundamento da investigação teológica feminista e procurando criar condições para a troca de experiências de investigação entre investigadoras feministas de Teologia a nível nacional e internacional. A associação optou pela designação ‘teologias feministas', uma vez que não só reúne teólogas portuguesas feministas, como também membros de outras áreas do saber com um grande interesse na teologia numa perspetiva feminista, isto é, uma perspetiva crítica face ao lugar atribuído às mulheres nas religiões (mais especificamente, na teologia cristã) e uma perspetiva de reconstrução do discurso teológico a partir das experiências de fé das mulheres narradas por elas próprias”.
No quadro desta grande intencionalidade, a atividade da APTF tem-se concretizado na realização de Colóquios e na publicação de textos, na sua grande maioria oriundos dos mesmos.
Desde o ano da sua fundação, a APTF organizou quatro Colóquios Internacionais, três dos quais em parceria com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, mais concretamente com o seu Observatório da Religião no espaço público. Cada um dos colóquios foi dedicado a temas essenciais da vida cultural e espiritual contemporânea, temas esses analisados numa ótica feminista. Assim:
• O primeiro colóquio, realizado em 2011, foi subordinado ao mote E Sara riu-se: Mulheres que ousaram a desconstrução. Neste colóquio de lançamento da associação tomou-se o riso de Sara, a sua ‘descrença', como paradigma da rutura com uma certa ordenação do mundo que as mulheres provocaram, ao longo dos tempos, em todos os lugares e de muitos modos. O objetivo não consistia em destruir, mas sim em interrogar a partir do lugar histórico, político, social, económico, cultural, religioso e ôntico-espiritual das mulheres: O que dizem as mulheres de si mesmas? O que dizem as mulheres de Deus? Como é que as mulheres dizem Deus? Que diferença faz o ‘lugar' que ocupam? Interrogações que deixam entrever a emergência do sujeito feminino no discurso teológico e que acrescentam mais humanidade à Humanidade.
• Um ano depois, e já com a criação formal da Associação Portuguesa de Teologias Feministas, o mesmo grupo fundador realizou o segundo Colóquio Internacional intitulado: “‘Quem me tocou?' – O corpo nas teologias feministas”. No meio da multidão, uma mulher toca em Jesus. No meio da multidão, Jesus sente-se tocado por uma mulher e pergunta quem lhe tocou. O presente colóquio pretendeu trazer para o centro da discussão um facto: as mulheres têm corpo. E o seu corpo, as suas vidas em corpo, lidas, ao longo da história da Igreja e da teologia, como lugar de tentação, são reivindicados por mulheres como lugar de encontro com o religioso as teologias feministas têm, pois, corpo. O colóquio abordou esta realidade a partir de diversas perspetivas: embora centrado na teologia, procurou articular este saber com outros saberes.
• O terceiro colóquio, em plena crise económico-financeira, teve lugar em 2013 e foi dedicado às questões da pobreza e das margens, tendo como título «... que não haja indigentes entre vós». Da dignidade e do porvir. O colóquio pretendia chamar a atenção para o facto de as mulheres se encontrarem entre as mais pobres de entre os pobres, juntamente com os seus filhos, mas também serem heroínas que procuram, no seu dia a dia, negar a morte como última palavra da história.
• Finalmente o quarto colóquio, realizado em 2014, já depois da eleição do Papa Francisco, anunciando ventos de mudança, foi dedicado à «reforma da Igreja católica». Movidas pelo desejo de debater algumas temáticas ligadas à reforma da Igreja, as organizadoras do colóquio pretendiam colocar algumas interrogações: que lugar têm as mulheres na reconstrução da Igreja? Serão elas “o ângulo morto da reforma de Francisco”? Terão todas as reformas de passar por Francisco? De que estamos, realmente, à espera?
Para além de querer ser espaço de encontro de investigadoras e investigadores nacionais, através da apresentação de intervenções focadas nas respetivas temáticas, cada um dos colóquios realizados contou também com personalidades internacionais de relevo, tanto do Sul da Europa, como do Norte, católicas e protestantes, nomeadamente, Marie-Thérès Wacker (exegeta alemã), Teresa Forcades i Vila (teóloga sistemática), Mercedes Navarro e Lucia Ramon, Carmen Bernabé (na altura, Presidente da Associação de Teólogas Espanholas), Kari Elisabeth Børresen (teóloga sistemática falecida recentemente), Ivoni Richter Reimer (exegeta da Pontifícia Universidade Católica de Goiás), Bärbel Wartenberg-Potter (Bispa da Igreja Luterana Alemã), Marta Zubia Guinea (teóloga sistemática) e Maaike de Haardt (na altura, presidente da European Society of Women in Theological Research, da qual fazem parte alguns dos membros da Associação Portuguesa de Feministas).
Por outro lado, com exceção do quarto colóquio, de todos os outros foi escolhido material para publicação.
Do primeiro colóquio resultou o livro Mulheres que ousaram ficar. Contributos para a Teologia Feminista, publicado pela editora Letras & Coisas.
O segundo colóquio originou o livro Quem me tocou? O corpo na simbólica religiosa, publicado pelo Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.
Do terceiro colóquio resultou o caderno n.º 8 do CES, de novembro de 2014, com o título Visões da justiça a partir das Teologias Feministas.
A associação é também solicitada, através de membros concretos, para intervir nos média, quando surgem situações relacionadas com a Igreja Católica e as mulheres.