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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças v.12 n.1 Lisboa  2011

 

Escala comportamental de suporte social familiar para adolescentes com diabetes (DFBS)

Paulo Almeida1 & M. Graça Pereira2

 

1 Hospital S. João, Porto

2 Universidade do Minho, Escola de Psicologia

 

Contactar para E-mail: jpaulo.c.almeida@gmail.com; gracep@psi.uminho.pt

 

RESUMO

O suporte social familiar tem um papel importante na promoção da adesão ao tratamento e no controlo metabólico. O presente trabalho teve como objectivo a adaptação da Escala Comportamental de Suporte Social Familiar na Diabetes (DFBS) numa amostra de 256 adolescentes com Diabetes Tipo 1. Os resultados apontam para uma composição da escala em 33 itens, organizados em 2 componentes : Controlo-Aconselhamento e Afecto, que explicam 33.3% da variabilidade, apresentando cada subescala um alfa de .76 e .81, respectivamente, e a escala total um alfa de .91. Ao nível da validade externa os resultados no DFBS correlacionam-se positivamente com a adesão ao tratamento e negativamente com o controlo metabólico e stress face à diabetes. Não se verificaram diferenças entre rapazes e raparigas ao nível do suporte social familiar. Em suma, a escala DFBS demonstrou possuir as qualidades psicométricas que permitem a sua utilização em adolescentes diabéticos tipo 1.

Palavras-chave: adolescentes, diabetes tipo I, família, suporte social.

 

Diabetes family behaviord scale for adolescents

ABSTRACT

Family Social Support is very important on treatment adherence and metabolic control. This paper intended to adapt the diabetes family behavior scale in a sample of 256 adolescents with diabetes type 1. Results show the scale as including 33 items, organized in two dimensions: Control/Advice and Affect that explained 33.3% of variance with each subscale presenting an alpha of .76 and .81 respectively. In terms of external validity, scores in DFBS are positively correlated with adherence and negatively and negatively metabolic control and stress to diabetes. No differences were found between boys and girls regarding family social support. Overall, DFBS showed the psychometric properties necessary for its utilization with adolescents with type 2 diabetes.

Keywords: adolescents, diabetes type 1, family, social support.

 

O suporte social é um constructo importado para a psicologia, sendo o seu uso inicial da sociologia, com Durkheim (Vaux, 1988) mas foi a partir da década de 70 do século passado que passou a ser objecto de estudo na psicologia social e posteriormente integrado no modelo transaccional de stress/ aptidões de confronto (através dos estudos de Cassel em 1974 , de Caplan em 1974 ou de Cobb ou 1976 – citados por Vaux, 1988) e integrado posteriormente nos estudos de psicologia da saúde (Ribeiro, 1998). E como tal tem sido definido e avaliado de forma diversa. Cada autor tende a focar os aspectos específicos de uma definição omnibus (Secco & Moffatt, 1994). Este constructo tem sido descrito como o grau em que as necessidades sociais básicas do indivíduo (de afiliação, de afecto, de identidade, de pertença, de segurança ou de aprovação) são satisfeitas através da interacção com os outros (Thoits, 1986) por meio de apoio sócio-emocional ou de ajuda relacionada com exigências relativas ao trabalho ou à família (podendo ser também de carácter económico) podendo referir-se também à “existência ou quantidade de relações sociais em geral ou, em particular referir-se às relações conjugais, de amizade ou organizacionais” (Ornelas, 1994, p. 334). Esta informação pode provir do outro membro do casal, dos amigos, colegas de trabalho ou outros personagens do mundo social do sujeito.

Este suporte social pode tomar vários aspectos. Inicialmente, como referimos, considerou-se apenas o número de contactos sociais de um indivíduo, mas posteriormente passou-se a incluir também aspectos funcionais como o tipo de relação, a satisfação com essa relação (Ogden, 1999; Taylor, 1995), ou o tipo de apoio recebido (emocional, informativo ou tangível). Temos assim os modelos genéricos (que procuram ligar o suporte social com componentes biológicas gerais); modelos centrados no stress (em que a relação stress/biológico é mediada pelo suporte social); e modelos de processo (descrevem o tipo de mediação psicossocial entre o stress e a saúde especificando os efeitos directos e indirectos ou protectores nessa relação).

Um avanço importante na clarificação processual do conceito de suporte social foi apresentado por Schwarzer e Leppin (1991). Segundo estes autores, a conceptualização do suporte social requer uma perspectiva funcional que foque os aspectos positivos do conteúdo relacional (i.e. , a função e a qualidade das relações sociais benéficas). Para os referidos autores estas podem ser subdivididas em categorias agrupando o suporte emocional, o suporte instrumental, o suporte tangível, a estima e a avaliação, entre outras. É esta perspectiva que encontramos em alguns dos instrumentos actuais (Harter, 1985; La Greca et al., 1995; La Greca & Thompson, 1998; McKelvey et al., 1993):

1) Suporte Emocional – refere-se a comportamentos que promovem sentimentos de bem-estar, envolve a expressão de empatia, cuidado e preocupação em relação à pessoa, fornecendo uma sensação de segurança, conforto e pertença num período de stress (como o do diagnóstico de uma doença crónica);

2) Suporte de Estima – ocorre através da expressão de aceitação positiva, da expressão de acordo ou encorajamento relativamente a ideias ou sentimentos. Este tipo de suporte contribui para o estabelecimento de um sentimento de competência, de dignidade e de valor pessoal;

3) Suporte Tangível ou Material – agrupa acções que servem para resolver problemas concretos ou tarefas quotidianas e envolve a assistência directa, tal como o fornecer dinheiro, bens materiais ou auxílio na realização de tarefas;

4) Suporte Informativo – processo de fornecimento de informações com o objectivo de promover um melhor auto-conhecimento ou do mundo e inclui dar conselhos, orientações, instruções ou feedback sobre a actuação da pessoa. Pode, por vezes, ser confundido com o suporte emocional.

 

SUPORTE SOCIAL E STRESS

Para se compreender o modo como o suporte social se articula com o stress temos que recuar ao modelo das aptidões de confronto de Lazarus e Folkman (1984), que diferenciava avaliação primária (percepção das exigências da situação stressante) e avaliação secundária (apreciação dos recursos pessoais para enfrentar uma situação ameaçadora). “Se um indivíduo sente que controla uma situação difícil recorrendo à ajuda disponível no seu ambiente social, do processo de avaliação resultará um menor nível de stress. A percepção da disponibilidade de um contexto social apoiante representa uma estratégia alternativa para lidar com a situação de que pode resultar uma avaliação de dano, perda, ameaça ou mudança menos danosa ou inexistente. Pelo contrário, a percepção de isolamento social implica a perda de uma estratégia de confronto, nomeadamente procurar ajuda, implicando que a pessoa se apoie unicamente em opções não sociais. Enquanto este tipo de suporte social exerce uma influência directa na avaliação de stress, a integração objectiva no contexto social é uma variável antecedente que pode ter um efeito indirecto. O suporte social cognitivo serve de mediador entre a integração social e a avaliação de stress” (Schwarzer & Leppin, 1991, p. 110), pelo que pode ser considerado um factor de protecção contra o stress.

Thoits (1986) conceptualiza o suporte social comportamental como uma estratégia de coping, argumentando que diversas situações de stress originam diferentes necessidades, as quais requerem e ilicitam estratégias de enfrentamento específicas. Nesta perspectiva, o suporte social deverá ser mais eficaz quando os seus fornecedores sugerem ou participam nas estratégias mais eficazes para lidar com a situação conducente à resolução do problema associado a um stressor específico. Esta conceptualização do suporte social, como uma assistência a uma estratégia de confronto, fez desenvolver a noção que um suporte social eficaz depende do emparelhamento entre a necessidade do indivíduo e aquilo que recebe do seu contexto social (matching hypothesis – Modelo de Emparelhamento) (Cohen & McKay, 1984). Esta hipótese sugere que apenas quando existe um emparelhamento entre a necessidade desencadeada pelo acontecimento stressante e o tipo de apoio recebido existirá um efeito amortecedor da experiência de stress.

 

DIABETES E SUPORTE SOCIAL

A diabetes Tipo 1 é uma patologia crónica auto-imune, resultante da ausência de secreção de insulina pelas células beta do pâncreas. Como consequência ocorre um aumento da concentração de glicose no sangue e a incapacidade para utilizar e armazenar os hidratos de carbono (WHO, 2008). Esta patologia, cuja etiologia não está completamente esclarecida, atinge cerca de 6% da população portuguesa em idade pediátrica ( Rodrigues et al., 1997). É uma das patologias crónicas que tem um tratamento mais exigente e cuja não adesão coloca o paciente em risco substancialmente acrescido de morbilidade e mortalidade. São frequentes as complicações agudas, a curto prazo (hipoglicemias e hiperglicemias) devido, na maior parte das situações, à não adesão terapêutica, originando sintomas físicos como o cansaço, tremores, sudação abundante, palpitações e palidez. Como a glicose é a principal fonte de energia do sistema nervoso central, pode surgir falta de concentração, confusão, excitação ou ansiedade. As consequências do não tratamento das crises agudas serão o coma e a morte, em situação extrema (International Society of Pediatric and Adolescent Diabetes, ISPAD, 1995; Sperling, 1996; 2000; World Health Organization, WHO, 2008).

As implicações a longo prazo (dificilmente observáveis no adolescente) resultantes de mau controlo metabólico continuado e má adesão terapêutica, manifestam-se através de, entre outras, perturbações do sistema cardiovascular, renal e visual. Este tipo de morbilidade pode repercutir-se na qualidade de vida do paciente e representa um problema de saúde pública importante (International Society of Pediatric and Adolescent Diabetes, ISPAD, 1995, 2000; Sperling, 1996; World Health Organization, WHO, 2008).

O tratamento exige a administração de insulina exógena (para correcção imediata dos desequilíbrios metabólicos) através de múltiplas injecções diárias, a implementação de uma dieta equilibrada de hidratos de carbono e a regulação destes aspectos com a actividade física diária, em função dos resultados de auto-monitorização glicémica realizada por múltiplas colheitas diárias de gota sanguínea (ISPAD, 1995; ISPAD, 2000; WHO, 2008).

O apoio que o jovem diabético recebe da família é um dos aspectos mais salientes para a sua adaptação à diabetes e também para o ajudar a lidar com as exigências da doença e do tratamento, nos aspectos materiais e psicológicos. Uma família que fornece calor, conselhos, apoio e estratégias efectivas de resolução de problemas possibilitará ao jovem diabético melhores condições para aderir ao tratamento (Ellerton, Stwart, Ritchie, & Hirth, 1996).

A presença de uma doença crónica (como a diabetes) é uma fonte de stress particular. A família deve ser capaz de coordenar as transformações da adolescência com as necessidades do paciente (e de se adaptar a estas) mas a doença como fonte de stress vai interagir com as decorrentes do contacto com sistemas extra familiares e com as resultantes dos processos de transição da família ao longo da adolescência (Seiffge-Krenke, 1998). Quando a família não consegue coordenar os seus recursos pode ser impedido o desenvolvimento de uma aliança cooperativa entre os subsistemas (Altschuler, 1997; Kassiou & Tsamasiros, 1999) e, para se acomodar às exigências da doença crónica, vários aspectos do quotidiano da vida familiar tornam-se stressantes quer para o adolescente, quer para a família no seu todo – surgindo níveis de conflitualidade por vezes elevados.

Danielson, Hamel-Bissell, e Winstead-Fry (1993), baseando-se na literatura publicada, refere que a família tem a capacidade para desempenhar potencialmente actividades em todos os domínios dos cuidados de saúde. Agindo ao nível da prevenção primária, a família pode influenciar o envolvimento em comportamentos protectores da acção de factores de risco ou na escolha de estilos de vida (nomeadamente de comportamentos promotores da saúde, como a alimentação) (Danielson et al., 1993). Na prevenção secundária, o significado que a família atribui aos sintomas e à doença pode influenciar as decisões relativamente à procura de cuidados de saúde e à adesão ao tratamento (Petrie & Weinman, 1997). Neste caso a mãe exerce um papel fundamental na articulação entre a família, e em especial a criança, e os serviços de saúde. A prevenção terciária refere-se ao tratamento da doença com vista à reposição do estado de saúde. Nesta situação, o papel da família é múltiplo: assegura a prestação de cuidados de saúde, presta cuidados ao paciente (assegura a adesão ao regime terapêutico estipulado) e fornece-lhe suporte social, bem como aos restantes membros (Danielson et al., 1993)

 

SUPORTE SOCIAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DIABETES

O suporte social aparece também como uma variável importante na prevenção da doença, na promoção da saúde ou na adesão terapêutica ou recuperação de uma doença (Schwarzer & Leppin, 1991). No caso da doença crónica (situação stressante), o suporte social desempenha um papel importante, devendo ser considerado, a par da integração social do sujeito, como uma variável fundamental (Schwarzer & Leppin, 1991), tendo um papel importante no comportamento relacionado com a adesão terapêutica, dado que as variáveis psicológicas serão mais afectadas pelos processos próximos do que por processos sociológicos mais distantes (Schwarzer & Leppin, 1991).

Combinada com a diminuição dos comportamentos relativos à saúde (ou de adesão terapêutica), a génese e progressão da doença será facilitada pela ausência de suporte social (Schwarzer & Leppin, 1991). Ellerton, Stwart, Ritchie, e Hirth (1996) estudaram o suporte social recebido por crianças com doença crónica (fibrose quística, espinha bífida e diabetes) e verificaram que, em todos os grupos, os membros da família eram referidos como os maiores fornecedores de suporte.

Durante a infância, os pais assumem a responsabilidade pela maior parte do regime terapêutico da diabetes mas com a chegada da adolescência a responsabilidade vai mudando para as mãos do adolescente, o qual poderá não ter competências para realizar o tratamento com eficácia. Apesar de esta mudança ser importante numa perspectiva desenvolvimental, a comunicação sobre a doença pode ser escassa e a partilha das responsabilidades entre pais e adolescente não ser claramente definida, com custos para a adesão terapêutica. As exigências desenvolvimentais da adolescência e a necessidade de adesão ao regime terapêutico da diabetes são muitas vezes conflituosas, levando a adolescente a seguir uma e abdicar da outra componente. Para o adolescente com diabetes, as exigências da adolescência podem, em determinados momentos, parecer mais importantes (e pressionantes) que a adesão terapêutica (Burroughs, Pontius, & Santiago, 1993; Cerreto & Travis, 1984).

No presente estudo tivemos como objectivo traduzir e adaptar para a população portuguesa uma escala de suporte social para crianças e adolescentes com diabetes (Diabetes Family Behavior Scale, DFBS), analisando a sua consistência interna e relação com critérios externos (adesão ao tratamento da diabetes, controlo metabólico e stress face à diabetes).

 

MÉTODO

Participantes

Com este objectivo recorremos a uma amostra de conveniência, constituída por utentes da Consulta de Diabetologia Pediátrica do Departamento de Pediatria do Hospital de S. João – Porto. Os critérios de Inclusão foram os seguintes: Crianças e adolescentes com idades entre 10 e 18 anos, inclusive; Utentes da Consulta de Diabetologia Pediátrica do Hospital de S. João; Preencham os critérios da ISPAD (International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes) e da IDF (International Diabetes Federation – Europe) (ISPAD, 1995, 2000) para o diagnóstico de Diabetes Tipo 1; Diagnosticadas pelo menos há 1 ano; Estarem em Regime de Ambulatório (não internados); Ausência de gravidez; Ausência de doença aguda; Desenvolvimento intelectual normal.

A amostra é constituída por 256 adolescentes, sendo 130 (50,8%) do sexo masculino e 126 (49,2%) do sexo feminino. As idades estão compreendidas entre os 10 anos e 18 anos, estando os sujeitos distribuídos de forma homogénea ao longo do intervalo estabelecido, sendo a média das idades de 14,7 anos (DP =28,3 meses). A duração da diabetes é, em média de 79,9 meses (DP =48,3 meses).

O diagnóstico da diabetes foi realizado em média aos 8.3 anos (DP = 3.5 anos), existindo uma grande proximidade na idade de diagnóstico da diabetes para os sujeitos do sexo masculino (idade média do diagnóstico de 8.1 anos; desvio padrão de 3.8 anos) e do sexo feminino (idade de diagnóstico média 8.5 anos; desvio padrão de 3.3 anos). A duração média da doença é de 6.7 anos (DP= 3.9 anos), havendo, tal como para a idade de diagnóstico, uma grande proximidade entre sexo feminino (média 6.4 anos; desvio padrão de 3.7 anos) e masculino (média 6.4 anos; desvio padrão de 4.0 anos).

Procedimentos

No dia da Consulta de Diabetologia Pediátrica, os doentes (e família, uma vez que são menores) foram contactados pelo autor, sendo-lhes explicados os objectivos e a metodologia do trabalho de investigação, a sua utilidade, e pedido consentimento informado para participar no estudo. Os questionários foram distribuídos de forma individual aos adolescentes, tendo estes sido encaminhados para um local onde pudessem responder com privacidade, durante o período que mediava entre a colheita de sangue para análise e a Consulta de Endocrinologia Pediátrica. Foi ainda realizada uma colheita de sangue para determinação da Hemoglobina glicosilada (parâmetro de avaliação bioquímica do controlo metabólico da diabetes).

O processo de tradução e adaptação teve como base a orientação proposta por Bradley (1996) e decorreu de acordo com o seguinte procedimento:

a) Tradução pelo investigador e simultaneamente por tradutor independente;

b) Confronto das versões para elaboração da primeira versão em português;

c) Retroversão por tradutor independente, não conhecedor da versão inicial em língua inglesa;

d) Confronto de versões (original e retrovertida), com o objectivo de avaliar a identidade do conteúdo dos itens;

e) Adaptação e correcção dos termos técnicos por pediatra;

f) Pré-teste com 12 doentes para avaliar a adequação e compreensão dos itens da versão experimental;

g) Elaboração das versões a utilizar no estudo.

 

INSTRUMENTOS

Escala comportamental de suporte social familiar para adolescentes com diabetes (Diabetes Family Behavior Scale, McKelvey, Waller, North, & Marks, 1993)

A Diabetes Family Behavior Scale (DFBS) é composta por 47 itens que avaliam os comportamentos específicos da família relativos à diabetes, considerados como relevantes para ajudar a criança ou adolescente a lidar com as exigências da doença e do tratamento. Os estudos realizados com esta escala têm sido conduzidos no contexto das investigações enquadradas no modelo de stress / aptidões de confronto / suporte social, com adolescentes com Diabetes Tipo 1, num leque de idades sobreponível ao da nossa população de estudo.

A DFBS pretende avaliar duas áreas do apoio familiar: 1) Controlo-Aconselhamento (guidance-control) – 15 itens; e Afecto (warmth-caring) – 15 items; os restantes 17 itens não integram qualquer subescala. Pode ainda ser calculado um Resultado Global do suporte social, que resulta da soma das respostas a todos os itens da escala – não referindo os autores a razão da inclusão dos restantes 17 itens na escala (McKelvey, Waller, North, & Marks, 1993) . O sujeito (criança ou adolescente) deverá seleccionar a resposta que melhor descreve o que acontece na sua família, numa escala tipo Lickert de 5 pontos (1-Sempre a 5- Nunca). Na cotação (em que alguns dos itens são notados em sentido inverso) o resultado obtém-se pela adição dos itens assinalados. Os valores mais elevados indicam menor suporte social. O estudo das características psicométricas foi efectuado utilizando o coeficiente alfa de Cronbach, encontrando os autores os seguintes resultados para a escala original: Escala total:.86; Aconselhamento:.81; Afecto:.79 (McKelvey, Waller, North, & Marks, 1993). Ao nível da validade da escala, utilizando um critério externo, os autores encontraram resultados, apesar de baixos, no sentido desejado. De facto, referem que a correlação entre o valor da hemoglobina glicosilada (HbA1c), (ideal é que seja um valor baixo) e o resultado total da escala é de -.12 (p<.03) com a subescala Controlo-Aconselhamento (r=-.17, p<.002) e para o Afecto (r=-.06, p<.29).

Adesão ao Tratamento (Almeida & Pereira, 2003a)

O questionário de Adesão ao tratamento avalia o grau em que o paciente cumpre as prescrições fundamentais para o controlo da diabetes (adesão à dieta prescrita quer no tipo de alimentos quer na regularidade da ingestão, administração de insulina, prática de exercício físico ou auto-monitorização da glicemia). As respostas indicadoras da frequência de realização do comportamento prescrito (adesão terapêutica) são notadas numa escala tipo Likert, variando entre 1- Sim/sempre e 4- Não/nunca, sendo também questionada a autonomia do adolescente para realizar as pesquisas de glicemia e para a auto-administração de insulina. A análise dos resultados revelou uma organização dos 5 itens em dois componentes que explicam 59,53% da variância total dos resultados. O componente 1, designado de Adesão ao Tratamento Médico , explica 32.7% da variância. O componente 2 foi nomeado de Adesão Comportamental ao Tratamento , sendo responsável por 25% da variância dos resultados. Os valores mais baixos indicam um nível superior de adesão às recomendações terapêuticas.

Stress Face a Diabetes (Herschbach, Duran, Waadt, Zetler, Amm, & Marten-Mittag, 1997); versão de investigação de Almeida & Pereira 2003b)

O Questionário de Stress face à diabetes (QSD–R) é composto por 45 itens que avaliam a presença de stress relacionado com a presença da diabetes ou as suas exigências terapêuticas e que podem perturbar (pelo excesso da sua presença ou da sua intensidade) o equilíbrio do adolescente devido à ausência de mecanismos de resposta adequada. A resposta é assinalada ao longo de uma escala tipo Lickert com 6 alternativas (de 0 – Não acontece comigo ou não me preocupa; 1- Preocupa pouco; a 5 – Preocupa muito), sendo os valores mais elevados indicadores de níveis de stress mais altos. A versão portuguesa, para adolescentes, apresenta uma organização dos itens em 6 componentes, tendo sido reduzida a 40 itens. Estes organizam-se nos componentes de forma diversa da proposta que serviu da base, o que é compreensível pois foram eliminados os itens de uma subescala (relação conjugal), acrescentados novos itens e reformulados outros, com o objectivo de revelar as preocupações do adolescente com a diabetes.

O componente 1 agrupa 7 itens que se referem a “ Queixas somáticas ”. O componente 2 , inclui itens que reflectem situações de “ Stress Social e Escolar ”. O componente 3 , manifesta expressões de “ Ansiedade/Depressão ”. O componente 4 , refere especificamente o “ Stress face à Hipoglicemia ”. O componente 5 , revela manifestações de “ Stress face ao médico ”. Por fim, o componente 6 , agrupa aspectos que se referem à “ Stress face ao Tratamento ”.

 

RESULTADOS

Estudo da Fidelidade

As características psicométricas na versão portuguesa foram determinadas por uma avaliação da fidelidade, seguindo uma metodologia semelhante à original.

Iniciamos o nosso estudo partindo da versão integral do DFBS, estudando as suas características na amostra de 256 indivíduos. Começamos por avaliar a consistência interna do DFBS, realizando uma avaliação do grau de homogeneidade das respostas dos indivíduos aos itens. Para tal calculamos o coeficiente alfa de Cronbach, conforme se apresenta no Quadro 1.

 

Quadro 1

Alfa de Cronbach da Escala comportamental de suporte social familiar para adolescentes com diabetes (DFBS)

 

Dado que os itens 6, 8, 18, 39 e 44 se correlacionam negativamente com a escala e os itens 19 e 24 têm correlação nula, foram eliminados no passo seguinte.

Estudo de Validade

Para investigar a validade do constructo procedemos a uma análise de componentes principais com rotação varimax, e com definição prévia de 2 componentes, à semelhança da escala original. Os resultados obtidos confirmam a distribuição dos itens em dois componentes. Constatamos que alguns dos itens não saturavam em qualquer factor pelo que procedemos a uma análise com 3 e 4 componentes o que não forneceu resultados satisfatórios dado que nem era integrado um maior número de itens na solução, nem a variância explicada era superior nem o arranjo dos itens era consistente com qualquer referencial teórico. A organização dos itens em dois componentes engloba 33 itens que explicam 33.3% da variabilidade dos resultados (quadro 2).

 

Quadro 2

Estrutura da “Escala comportamental de suporte social familiar para adolescentes com diabetes (DFBS)

 

O componente 1, responsável por 23.1% da variância dos resultados, engloba 23 itens. É compos to pela maioria dos itens da sub-escala original “afecto” (11 itens), por um item que originalmente estava na escala “controlo/aconselhamento” ( “ os meus pais encorajam-me a fazer exercício físico todos os dias ” ) sendo que os restantes 11 itens não integravam nenhuma sub-escala da versão original.

Esta sub-escala apresenta uma consistência interna (alfa de ,81) superior à encontrada pelos autores para a versão original (Alfa de .79), com uma grande homogeneidade entre os itens (quadro 3).

 

Quadro 3

Alfa de Cronbach da Escala comportamental de suporte social familiar para adolescentes com diabetes (DFBS)

 

O componente 2, que integra 10 itens, explica 10.2% da variância dos resultados, é composto por 9 itens pertencentes à sub-escala Controlo-Aconselhamento (1, 3, 13, 16, 21, 28, 29, 31 e 40), saturando também o item 9, que não estava inserido em nenhuma sub-escala da versão original. Optamos por eliminar o item 10 (reduzindo esta subescala para 10 itens) por possibilitar um incremento significativo da consistência da escala, o que se traduz numa elevação do valor de alfa para .76, o que o aproxima do obtido pelos autores da escala original (.81). O conteúdo destes itens é quase exclusivamente constituído por itens da sub-escala original “controlo / aconselhamento”; a única excepção é o item 7 ( “ os meus pais lêem coisas sobre diabetes ” ) que não se afastará de uma atitude de procura de informação por parte dos pais com vista a um controlo da diabetes do filho ou do seu aconselhamento (quadro 4).

 

Quadro 4

Alfa de Cronbach da Escala comportamental de suporte social familiar para adolescentes com diabetes (DFBS)

 

O resultado final da análise de validade do DFBS aponta para uma composição da escala com 33 itens, organizados em 2 componentes : (1) Controlo-Aconselhamento - a média desta sub-escala é 45.9 e o desvio padrão obtido de 16.5; e (2) Afecto, o que é quase totalmente sobreponível com a versão original. Esta sub-escala apresenta média de 32.1 (desvio padrão de 8.4).

A consistência interna da escala total (Alfa de .91) é ligeiramente mais elevada que a apresentada pelos autores para a escala original (Alfa de .86) – a média dos resultados da versão adaptada do DFBS é 78.0 com desvio padrão de 20.9. Dada a coerência deste arranjo dos itens com o constructo teórico subjacente, mantivemos esta organização dos itens na versão de estudo. O quadro 5 apresenta a versão final.

 

Quadro 5

Alfa de Cronbach da Escala comportamental de suporte social familiar para adolescentes com diabetes (DFBS)

 

A análise da validade externa (ou convergente) do constructo foi efectuada do modo proposto pelos autores, inserida no modelo stress/suporte social avaliado através da correlação com a adesão comportamental ao tratamento, com o valor de hemoglobina glicosilada e também com o nível de stress face à diabetes através das respostas ao QSD-R, podendo-se constatar que os valores obtidos no DFBS Total se correlacionam de forma significativa com o comportamento de adesão ao tratamento (r=-.229; p=.004), significando que quanto mais elevado o suporte social familiar maior a adesão ao tratamento; a subescala “Afecto” correlaciona-se também com a Adesão (r=-.178; p=.02) e o mesmo acontece com a subescala “Controlo” (r=-.270; p=.001). Estes valores significam que, tal como hipotetisado, a um aumento do suporte social familiar corresponde uma maior adesão ao tratamento da diabetes.

O DFBS Total correlaciona-se no mesmo sentido com o controlo metabólico, indicado pelo valor de Hemoglobina glicosilada (r=-.192; p=.003); as subescalas Afecto (r=-.192; p=.003) e Controlo (r=-.125; p=.04) apresentam também correlações com a referida variável bioquímica indicadora do controlo metabólico. O significado destes valores é, tal como para a adesão ao tratamento, que o maior suporte familiar está associado ao melhor equilíbrio da diabetes.

No presente estudo de validade externa procuramos ir para além dos valores anunciados pelos autores e, como previsto no modelo de stress/suporte social, fomos investigar se ao aumento do suporte social familiar corresponderia uma diminuição do stress face à diabetes. Constatamos que o DFBS Total se correlaciona com o Stress face à diabetes (resultado total ao QSD-R r=-.135; p=.04), sendo que a um suporte social familiar mais elevado corresponde menor stress face à diabetes; a dimensão Afecto do Suporte Social Familiar está igualmente correlacionada com o resultado total do QSD-R (r=-.196; p=.003) mas a dimensão Controlo não se correlaciona com o resultado global do QSD-R. Estes resultados vão de encontro aos princípios defendidos pelos autores e pelo modelo teórico em que se enquadra o suporte social/stress.

Validade discriminante

Numa fase seguinte procuramos realizar estudos complementares com esta escala avaliando a sua capacidade para discriminar (sensibilidade da escala) diferenças na percepção do suporte social entre adolescentes de diferentes sexos.

Efectuando um teste t de Student, para amostras independentes, verificamos que a nota global do DFBQ é semelhante (e estatisticamente não significativa : (f=.657; t=142; p=.887) , entre adolescentes do sexo feminino (M=95.3, dp=17.5) e do sexo masculino (M=93.9; dp=19.5). A análise destes resultados permite referir que a DFBQ não revelou diferenças na percepção de suporte social familiar entre adolescentes quanto ao sexo.

 

DISCUSSÃO

A versão portuguesa do DFBS apresenta-se com um número total de itens mais reduzido que a versão total original, tendo passado de 47 para 33 itens agrupados em 2 factores que avaliam , por um lado, o suporte emocional da família para lidar com o stress relacionado com a diabetes (23 itens) e, por outro lado o suporte directo/indirecto e informativo (10 itens) relacionado com as exigências de controlo do tratamento/doença, por outro lado. A escala revela uma consistência interna satisfatória, com valores de alfa de Cronbach que se aproximam dos valores apresentados pelos autores para a versão original.

Por fim, apresenta validade convergente, correlacionando-se de forma significativa com um questionário de stress face à diabetes significando que a um aumento do suporte social familiar corresponde uma diminuição do stress – o que vai de encontro ao pressuposto pelo modelo stress/suporte social. A versão adaptada do DFBS correlaciona-se igualmente com o comportamento de adesão ao tratamento da diabetes e com o controlo metabólico sendo que maior suporte familiar está associado a uma maior adesão ao tratamento e melhor controlo metabólico da diabetes. Os níveis de correlação entre o valor da hemoglobina glicosilada e o resultado total e das sub-escalas da DFBS obtidos para a amostra do nosso estudo são mais elevados que os registados pelos autores na versão original.

Assim a adaptação da DFBS reúne as condições necessárias para a sua aplicação em adolescentes portugueses com diabetes.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 28 de Abril de 2009/ Aceite em 1 de Abril de 2010

 

ANEXO

ESCALA COMPORTAMENTAL DE SUPORTE SOCIAL FAMILIAR PARA ADOLESCENTES COM DIABETES

Lê cada frase com atenção e assinala a resposta que melhor descreve o que acontece na tua família. Não há respostas certas ou erradas. Se não tiveres a certeza, marca o que achas que é mais verdade.