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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.17 no.3 Lisboa dez. 2016

https://doi.org/10.15309/16psd170301 

A identidade de género e a influência das atitudes face à homossexualidade/homoparentalidade entre luso-brasileiros

The gender identy and the influence of attitudes towards homosexuality/ homoparenthood among luso-brazilian

 

Marta Reis1, Lúcia Ramiro2, Gina Tomé3, Raphael Fischer4, Carmen Beatriz Neufeld5, & Margarida Gaspar de Matos6

1Aventura Social-Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, Portugal. ISAMB / Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. e-mail: reispsmarta@gmail.com;

2Aventura Social - Faculdade de Motricidade Humana / Universidade de Lisboa, Portugal. ISAMB / Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. e-mail: lisramiro@sapo.pt;  

3Aventura Social - Faculdade de Motricidade Humana / Universidade de Lisboa, Portugal. ISAMB / Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. e-mail: gtome@sapo.pt;

4Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil; Professor da Universidade Estácio de Sá, Brasil. e-mail:raphaelfischerp@gmail.com;  

5Doutora em Psicologia pela Doutora em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil; Professora da Universidade de São Paulo, Brasil; Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil; Professora Doutora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil; e-mail: cbneufeld@usp.br;

6Aventura Social - Faculdade de Motricidade Humana / Universidade de Lisboa, Portugal; ISAMB / Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; WJCR / ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa, Portugal. e-mail: mmatos@fmh.ulisboa.pt

 

Endereço para Correspondência

 

RESUMO

A investigação na área da sexualidade tem evoluído nas últimas décadas e questões como a identidade de género e atitudes face à homossexualidade não se têm mantido constantes ao longo do tempo devido às profundas mudanças sócio-culturais verificadas nos últimos anos. Pretende-se avaliar como a identidade de género e atitudes face à homossexualidade/homoparentalidade se relacionam com o género e diferentes grupos de idade. Administraram-se 636 questionários a 126 homens e 510 mulheres portugueses e brasileiros. Os resultados demonstram que existe uma equidade na identidade de género e a maioria tem atitudes favoráveis relativamente à homossexualidade e homoparentalidade. Encontraram-se diferenças estatisticamente significativas entre géneros e grupos de idade: como esperado as mulheres mais frequentemente se identificam com o género feminino e os homens com o género masculino. Os participantes mais novos mais frequentemente referem não ter uma exclusividade de identidade de género. São as mulheres e os participantes mais novos que apresentam atitudes menos discriminatórias relativamente à homossexualidade/ homoparentalidade. Para a vivência da sexualidade ser positiva é crucial apostar na (re)educação sexual como estratégia da saúde sexual e reprodutiva.

Palavras-chave: Identidade de género, Atitudes, Homossexualidade, Homoparentalidade, Adultos

 

ABSTRACT

Research in the area of sexuality has been evolving over the past decades and issues such as gender of identity and attitudes towards homosexuality they have not remained constant over time, due to the deep social and cultural changes that have occurred in recent years. In this sense, we investigated how gender of identity and attitudes towards homosexuality / homoparenthood are related to gender and different age groups. 636 questionnaires were administered to 126 men and 510 women Portuguese and Brazilian. The results show that there is equity in gender of identity and most have favorable attitudes towards homosexuality and homosexual parenthood. But we found statistically significative differences between genders and age groups: as expected women more often are identified with the feminine gender and men with the masculine gender.  The younger participants more often refered not have a gender identity exclusivity. Women and younger participants have attitudes less discriminatory towards homosexuality / homoparenthood. To experience sexuality positively it’s crucial to invest in (re) sexual education as a strategy of sexual and reproductive health.

Key-words:  Gender identity, Attitudes, Homosexuality, Homosexual parenthood, Adults

 

A investigação na área da sexualidade tem evoluído nas últimas décadas e questões como a identidade de género e atitudes face à homossexualidade não se têm mantido constantes ao longo do tempo devido às profundas mudanças sócio-culturais verificadas nos últimos anos. Neste sentido, enunciou-se o seguinte problema de investigação: que alterações surgiram relativamente à identidade de género e face à homossexualidade, nomeadamente no que se refere à homoparentalidade.

 

Sexo, Género e Identidade de Género

Historicamente, a discussão em torno dos conceitos de sexo e género foi iniciada por Money e colegas na década de 50 (Money, Hampson e Hampson, 1955). Os autores apontam que o “sexo” se refere às caraterísticas físicas que distinguem os homens das mulheres, enquanto que o “género” diz respeito às caraterísticas psicológicas e comportamentais de cada sexo (Muehlenhard e Peterson, 2011). Posteriormente, e ainda entre os autores que estabelecem a distinção entre os dois termos foi desenvolvida a noção de que o “género” remeteria para as influências culturais e o “sexo” estaria mais ligado ao papel dos fatores biológicos (Muehlenhard e Peterson, 2011). 

De uma forma geral e sintetizando, ao “sexo” atribui-se definições relacionadas com o comportamento sexual, os cromossomas, hormonas e toda a anatomia reprodutiva, bem como as categorias relacionadas a esses aspetos, ou ainda, pode ser entendido e definido segundo traços e características de etiologia biológica. Já o “género” engloba na sua definição aspetos como a feminilidade e masculinidade; a noção de grupos sociais; a ideia de categorias e traços/ características de origem social; a noção de categorias relacionadas com os traços do que é considerado ser feminino ou masculino e ainda os estereótipos (crença exagerada associada a uma categoria) (Allport, 1979, citado por Monteiro, 2013), ou expectativas que a sociedade tem e atribui a homens e mulheres (Muehlenhard e Peterson, 2011).

De acordo com Amâncio (1992) o termo género trata-se de um “construto definidor de uma subjectivização do sexo biológico” que se afirmou na psicologia social americana por volta dos anos 70 (Unger, 1986, citado por Amâncio, 1992). A introdução deste conceito significaria que a noção de sexo, enquanto característica individual, seria cada vez menos usual, para dar lugar a uma conceptualização da variável enquanto característica social, à qual estaria subjacente uma categorização social descritiva e normativa (Tajfel, 1972, citado por Amâncio, 1992). Neste âmbito e de acordo com Deaux (1984), a análise em torno desta questão passa de um plano centrado nas diferenças entres homens e mulheres para um outro associado às crenças em relação ao género e aos diferentes papéis atribuídos a cada um deles em sociedade, assimilados através da socialização. A identidade de cada género, bem como as expectativas que lhes estão associadas, surgem como determinantes principais, quer das diferenças entre os sexos, como da diferenciação entre os géneros (Eagly, 1998, citado por Amâncio, 1992).

Segundo Amâncio (1993), a propósito da assimetria nas representações de género: “(…) as categorizações baseadas em características físicas permanentes, o que não é o caso da idade nem da classe, constituem identificadores que os indivíduos transportam consigo, ao longo de toda a sua vida em todos os contextos (…).” (p.129, 130).

A propósito das investigações no domínio das representações sociais (incluindo a identidade de género), emergem vários estudos em cognição social (Fiske e Taylor, 1984) que revelam que a identificação da categoria de pertença é uma dimensão importantíssima ao nível das interações sociais. No entanto, os processos identitários não se limitam aos que envolvem a identificação pelos outros, isto é, à atribuição externa que é feita por determinada identidade. Na verdade, eles envolvem também dinâmicas de acordo com as quais os indivíduos desenvolvem e constroem uma noção muito particular e distintiva de si mesmos e de como gerem essa noção de identidade própria, em diferentes ambientes. Novamente transpondo esta ideia para o nível das análises feitas relativamente ao género, a investigação revelou que as outras pessoas classificam mais os indivíduos do género feminino como “mulheres” do que os do género masculino como “homens”. Além disso, as próprias mulheres também se veem a si mesmas como mulheres enquanto os homens se veem mais frequentemente como indivíduos (e não tanto como pertencendo à categoria dos homens), (Amâncio, 1993).

A par das assimetrias de género e mais concretamente, ao nível das representações sociais e na tentativa de se explicar a relação entre as normas sociais e o comportamento, surge, por exemplo, a Teoria da Identidade Social (TIS) de Tajfel e Turner, 1979 (citado por Hogg, 2001).

Segundo Monteiro (2013): “A Teoria da Identidade Social (TIS) baseia-se no pressuposto de que todos os indivíduos têm a necessidade de um autoconceito positivo, e que a nossa pertença a grupos nos ajuda a conseguir definir e a manter positivo esse autoconceito” (p.520). Adicionalmente e de acordo com a teoria da motivação baseada na identidade (Identity-based Motivation Theory, Oyserman e Destin 2010), a saliência da identidade pessoal significa que as pessoas pensam sobre si mesmas temporariamente como indivíduos, enquanto a saliência da identidade social implica que as pessoas se vejam como parte de um grupo (Pinto, Herter, Rossi e Borges, 2014).

As identidades sociais influenciam o comportamento através das normas do grupo, sendo que, as pessoas serão mais favoráveis a envolverem-se em determinado comportamento se o mesmo estiver de acordo com as normas relevantes para o grupo no qual o sujeito se insere. Com esta afirmação quer-se dizer que as normas do grupo, pelo menos relativamente às pessoas que se identificam fortemente com o grupo, iriam influenciar as intenções comportamentais (Terry, Hogg e White, 1999).

Assim sendo, e referindo-se a identidade social a algo que faz parte do auto conceito do indivíduo derivando da sua perceção de pertença a um grupo socialmente relevante, a questão do género surge aqui também com pertinência por representar um grupo social específico (dos homens ou das mulheres). Deste modo, urge ter em conta o conceito de identidade de género entendido como sendo o próprio sentido que a pessoa tem de si mesma relativamente à forma como se vê e pertence, como sendo homem ou mulher (Stoller, 1964, citado por Deogracias, Johnson, Meyer-Bahlburg, Kessler, Schober e Zucker, 2007). Steensma, Baudewijntje, Annelou, e Peggy (2013), define a identidade de género como o grau em que uma pessoa experiencia ser como os outros de acordo com o sexo a que pertence. É claro que depende em que grau o indivíduo se identifica e do significado que atribui a ser homem ou mulher.

 

Orientação sexual, opinião e atitudes face à homossexualidade/homoparentalidade

A orientação sexual é entendida como a atracção sexual direccionada para alguém do mesmo sexo (homossexualidade), do sexo oposto (heterossexualidade) e por membros de ambos os sexos (bissexualidade) (Reis, Ramiro, Matos, Diniz, & Simões, 2013).

São várias as investigações que referem que o conhecimento, apesar de necessário, não é suficiente para as pessoas modificarem o seu comportamento, uma vez que existem outros factores, tais como atitudes, crenças, aptidões comportamentais e motivação, que podem interferir nos diferentes tipos de comportamento, considerando-se a mudança de comportamentos um processo extremamente complexo, que se desenvolve em várias etapas e difere de indivíduo para indivíduo, de acordo com as suas características psicológicas, sociais e culturais (Matos, 2008; Reis, Ramiro, Matos, Diniz, & Simões, 2013).

Verificando-se actualmente uma maior abertura relativamente às pessoas que se identificam como não sendo heterossexuais, podemos igualmente observar tentativas constantes de questionar os avanços sociais propostos por essa população, nomeadamente em questões de parentalidade ou de reconhecimento por parte da sociedade quanto às suas relações íntimas.

Deste modo, persistem mitos na nossa sociedade acerca da homossexualidade, enraizados na nossa cultura, sendo por vezes idênticos a outros mitos de índole sexista ou racista. Vivemos numa cultura homofóbica que é interiorizada e reproduzida de igual modo pelos profissionais das mais variadas áreas do conhecimento, incluindo os psicólogos, psiquiatras e todos aqueles que lidam de uma forma constante com as questões relacionadas com o funcionamento mental (Crawford, McLeod, Zamboni & Jordan, 1999).

Um dos mitos mais comuns é o de que as crianças que crescem no seio de uma família homossexual serão elas próprias homossexuais futuramente, ou que exibirão alguma ambiguidade em termos da sua sexualidade. Este mito é refutado pelos estudos de Bailey, Bobrow, Wolfe e Mikach (1995) e Golombok e Tasker (1996), entre outros, ao concluírem que a maioria de filhos de homossexuais apresentam uma orientação sexual heterossexual.

Outra questão, que geralmente se verifica, é a de que as crianças com pais homossexuais terão dificuldades ao nível da adaptação social, uma vez que sofrerão o estigma social associado à expressão da sua sexualidade. Embora se possa alegar que este argumento tem claramente em consideração a segurança da criança, coloca um problema de discriminação – não ao nível daqueles que a praticam mas sim nos alvos dessa discriminação (a família) – numa atitude clara de culpabilizar a vítima pelos actos alheios. Tal atitude de culpabilização não se confina ao tema da orientação sexual. Mohr (1988) estabelece um paralelo com os casais inter-raciais, igualmente alvo de discriminação social; de igual modo, Leal (2004) aponta para o facto de determinadas variáveis como a etnia, a condição social e mesmo as características físicas serem igualmente socialmente discriminadas, não sendo, contudo, impedimento de acesso à parentalidade.

Assim, o argumento parece apenas funcionar como forma de institucionalizar a discriminação, uma vez que os estudos efectuados caminham em sentido contrário ao evidenciarem que as crianças de pais homossexuais têm relações satisfatórias e adequadas com os seus pares e os adultos (Patterson 2000, 2004; Perrin, 2002). Ligada intimamente à ideia de desadequação social das crianças de pais homossexuais está a noção de que estas crianças sofrem pela falta de modelos parentais apropriados; considera-se geralmente que existe um défice na estrutura familiar que não permite o desenvolvimento das crianças, por estas não terem contacto com modelos do sexo oposto ao dos seus pais. De acordo com Clarke (2001), tal percepção advém da ideia errónea que os homossexuais apenas se socializam com pessoas do mesmo sexo, evidenciando desta maneira a forma segregadora como se constroem as ideias sobre determinadas populações. Um estudo de Golombok,Spencer e Rutter (1983) indica-nos que os contactos das crianças de mães lésbicas não são exclusivamente homossexuais, mas de igual modo heterossexuais. Devemos ter em conta que este argumento se coloca igualmente em outras formas de família (pais separados, famílias em que existe apenas um progenitor), pelo que não é exclusivo das famílias homossexuais.

Um outro mito recorrente é o de que as crianças de pais homossexuais estarão mais sujeitas a situações de abuso sexual. Contudo, o abuso sexual de crianças não se encontra directamente relacionado com a orientação sexual do indivíduo (Howitt, 1995; Jenny, Roesler & Poyer, 1994; Sarafino, 1979; Stevenson, 2000).

Assim, verificamos, através da análise de alguns dos vários mitos relativos à homossexualidade, que esses mitos não se baseiam em literatura científica mas na perpetuação de estereótipos e preconceitos sobre a população homossexual. Como tal, é importante que tenhamos, enquanto profissionais de psicologia, noção desta realidade e que actuemos no sentido de a contrariar em todos os contextos nos quais nos movimentamos.

Em termos de educação, é fundamental educar os adolescentes e os jovens, antes destes se depararem com tomadas de decisão acerca da sua sexualidade e comportamentos sexuais, o que implica trabalhar na aquisição de conhecimentos mas, também, de atitudes, crenças e competências importantes na promoção de uma vida sexual e reprodutiva saudável (Reis, Ramiro, Matos, Diniz, & Simões, 2013), respeitando simultaneamente a identidade de género e as diferenças de género e de orientação sexual.

Deste modo, torna-se pertinente aprofundar como é que algumas questões importantes e relacionadas com a vivência positiva da sexualidade têm evoluído nos últimos anos, designadamente questões como a identidade de género e as atitudes face à homossexualidade/homoparentalidade.

 

MÉTODO

Participantes

Como se pode ver na tabela 1, a amostra total do estudo é constituída por 636 participantes, dos quais 19,8% são do género masculino e 80,2% do género feminino, com uma média de idades de 31 anos (DP=11,13) e 52% de nacionalidade portuguesa e 48% de nacionalidade brasileira. A maioria dos participantes tem como habilitações o ensino superior (78%) e é trabalhador/estudante (47,2%).

 

 

Instrumentos

Foi aplicado um questionário online pelo programa limesurvey. O formato do questionário consistia em opções de resposta que respeitavam uma escala de 10 pontos (0 = totalmente masculino a 10 = totalmente feminino) para as 3 questões referentes à identidade de género e uma escala tipo Lickert de 5 pontos (1 = discordo totalmente a 5 = concordo totalmente) para as outras 8 questões relativas às atitudes homossexuais.

Foram ainda colocadas questões demográficas como género, idade, nacionalidade, habilitações e situação profissional.

Foram colocadas neste estudo três questões sobre a identidade de género com a finalidade de analisar como os participantes do estudo se veem, como gostariam de ser e como os outros os veem. E oito questões relativas a atitudes face à homossexualidade/homoparentalidade, nomeadamente (1) se existe amor entre casais homossexuais, (2) opinião relativamente ao casamento homossexual, (3) se os direitos conjugais entre casais homossexuais devem ser iguais aos direitos conjugais dos casais heterossexuais, (4) se o direito à adoção por casais homossexuais deveria ser legal em Portugal e no Brasil, (5) se os casais homossexuais possuem condições para adotar crianças, (6) se tivesse, um amigo homossexual a relação de amizade seria prejudicada, (7) no futuro, os filhos de casais homossexuais ainda serão alvo de discriminação social e por último que (8) atitudes/sentimentos sentiam face a demonstrações de carinho públicos entre casais homossexuais.

No questionário os participantes escolheram apenas uma resposta para cada questão, exceto na questão em que se solicitou aos participantes para enunciarem que atitudes/sentimentos sentiam face a demonstrações de carinho públicos entre casais homossexuais, onde foi permitido a cada participante responder a mais de uma atitude/sentimento.

O presente estudo avalia a identidade de género e as diferentes atitudes de aceitação e de homofobia em relação a casais homossexuais e a sua opinião face à adoção por estes casais, numa amostra de 636 pessoas de ambos os géneros com idades compreendias entre os 18 e os 65 anos de idade.

Procedimento

O presente estudo consistiu na aplicação de um questionário online composto por 3 questões sobre identidade de género e 8 questões sobre atitudes face à homossexualidade/homoparentalidade. A aplicação do questionário decorreu nos meses de fevereiro e março de 2015 e a sua divulgação foi feita através das redes sociais que promoveram o efeito “bola de neve”, resultando num total de 636 respostas. A confidencialidade do questionário foi assegurada. Antes do preenchimento, os participantes foram informados que a resposta ao questionário era voluntária, confidencial e anónima e aceitaram participar. O tempo de preenchimento do questionário foi entre os 5 e os 10 minutos.  

 

RESULTADOS

As análises e procedimentos estatísticos foram efectuados através do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS, versão 22.0) para Windows.

Questões sobre a identidade de género/estereótipo de género, opinião e atitudes face à homossexualidade/homoparentalidade – Diferenças entre géneros

Quando inquiridos acerca da identidade de género, nomeadamente “como se veem”, “como são” e “como é que os outros o veem” os participantes distribuem-se de forma equitativa nas três diferentes opções de resposta, na opção de resposta “exclusivamente” genderizado-masculino (26,3%, 26,6%, 25,6%), valores intermédios (36,8%, 31,0%, 35,7%) e “exclusivamente” genderizado feminino (36,9%, 42,5%, 38,7%). Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o género para as três questões: “como se veem” (c2(1) = 84,350; p ≤.001), “como são” (c2(1) = 103, 321; p p ≤.001) e “como é que os outros o veem”  (c2(1) = 93,396; p ≤.001).

As mulheres mais frequentemente referem que se identificam exclusivamente com o género feminino nas três questões (45,7%, 52,4% e 47,8%) e os homens por sua vez mencionam mais frequentemente identificar-se exclusivamente com o género masculino (41,3%, 44,4% e 36,5%).

Relativamente à questão sobre a opinião face à homossexualidade/ homoparentalidade, a maioria dos participantes inquiridos apresenta nas sete questões uma opinião favorável à homossexualidade/homoparentalidade. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o género para as seguintes questões: “adoção de casais homossexuais deve ser legal” (c2(1) = 9,164; p ≤.01) e “casais homossexuais possuem condições para adotar crianças” (c2(1) = 10,778; p ≤.01).

As mulheres mais frequentemente concordam que a adoção de casais homossexuais deve ser legal (77,0%) e que os casais homossexuais possuem condições para adotar crianças (77,6%).

Quanto às atitudes/sentimentos face à homossexualidade mais de um terço dos participantes a afirmar que se sente satisfeito com a evolução da sociedade (39,0%), 17% menciona estar feliz, 40% não mudava de lugar e a homossexualidade é-lhe indiferente e menos de 4% dos participantes refere que se sente enojado, triste, revoltado com a sociedade e que mudava de lugar. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o género e as seguintes atitudes/sentimentos: satisfeito com a evolução da sociedade, enojado, triste e revoltado com a sociedade (c2 (1) = 8,309, p ≤.01; (c2 (1) = 16,972, p = ≤.001; c2 (1) = 4,786, p ≤.05; c2 (1) = 4,648, p ≤.05, respetivamente).

As mulheres (41,8%) referem com mais frequência do que os homens (27,8%) satisfação com a evolução da sociedade. Enquanto os homens mencionam mais frequentemente do que as mulheres sentir-se enojados, tristes e revoltados com a sociedade (10,3%, 4,8% e 3,2%) do que as mulheres (2,4%, 1,6% e 0,8%).

A média total para a escala da identidade de género e opinião face à homossexualidade/homoparentalidade foi de 6,40 (DP=2,3) e de 28,00 (DP=5,3), respetivamente; com os participantes homens a referirem identificar-se mais frequentemente com o género masculino e as participantes mulheres a mencionarem identificar-se mais frequentemente com o género feminino (M=4,83; DP=1,45; M=6,78, DP=2,3, respetivamente) e as participantes mulheres (M=28,28, DP=5,1) a mostrarem ter uma opinião mais favorável à homossexualidade/homoparentalidade que os participantes homens [(M=26,91; DP=5,95;) (t (634) = -9,060, p≤.001; t (634) = -2,608, p≤.01].

Relativamente às atitudes/sentimentos face à homossexualidade/homoparentalidade a média total para as atitudes positivas foi de M=2,56 (DP=0,69) para as atitudes neutras de M=2,80 (DP=0,66) e para as atitudes negativas foi de M=4,23 (DP=0,78), com os homens a demonstrarem ter atitudes mais negativas que as mulheres [(M=4,37; DP=0,95; M=4,19, DP=0,73, respetivamente; t (634) = 2.205, p p≤.05].

Questões sobre a identidade de género, opinião e atitudes face à           homossexualidade/homoparentalidade – Diferenças entre grupos de idade

A análise das diferenças entre os três grupos de idade e a identidade de género revelou diferenças estatisticamente significativas para as três questões: “como se veem” (c2(2) = 15,802; p p≤.001), “como são” (c2(12) = 13,402; p≤.01) e “como é que os outros o veem”  (c2(2) = 24,263; p≤.001).

Os participantes mais novos (18-25 anos) mais frequentemente referem que se identificam nos valores intermédios nas três questões (47,0%, 38,6% e 47,0%) do que os participantes mais velhos (40-65 anos).

Relativamente à questão sobre a opinião face à homossexualidade/ homoparentalidade, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de idade para as seguintes questões: “amor entre casais homossexuais” (c2(2) = 10,797; p p≤.05), “casamento homossexual” (c2(2) = 15,672; p≤.01) e “casais homossexuais possuem condições para adotar crianças” (c2(2) = 16,713; p≤.01).

Os participantes mais novos (18-25 anos) mais frequentemente concordam que existe amor entre casais homossexuais (90,4%), com o casamento homossexual (83,7%) e que os casais homossexuais possuem condições para adotar crianças (83,3%).

Quanto às atitudes/sentimentos face à homossexualidade, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de idades e as seguintes atitudes/sentimentos: satisfeito com a evolução da sociedade e feliz [c2 (2) = 22,850, p≤.001; c2 (2) = 44,251, p≤.001, respetivamente].

Os participantes mais novos (18-25 anos) referem com mais frequência satisfação com a evolução da sociedade (49,4%) e estarem felizes (28,7%).

Verificou-se ainda que os participantes mais novos (do grupo de idades dos 18 aos 25 anos) (M=28,86, DP=4,34; M=2,78; DP=0,76) demostram ter uma opinião e atitudes/sentimentos mais favorável à homossexualidade que os participantes mais velhos [M=27,57, DP=5,6; M=27,26, DP=6,12; M=2,49, DP=0,64; M=2,29, DP=0,46, respetivamente), (F(2)= 5,493, p≤.01; F(2) = 26.880, p≤.001].

 

Factores associados à identidade de género masculino e de género feminino

Foram efetuadas duas análises de regressão logística, através do métodoenter, com objetivo de avaliar os fatores associados à identidade de género masculino e género feminino.

Relativamente aos factores associados à identidade de género masculino e apesar do modelo explicativo ter um valor explicativo baixo (Nagelkerke R2= .015) e existir 78% de casos referindo a indentidade de género masculino, verificamos que as variáveis associadas são o género (homens com 1,8 vezes maior probabilidade de estar neste grupo) [OR 1,77; 95% CI 1,11-2,82; p=0.016] e a opinião face à homossexualidade (com participantes com opinião favorável a ter 1.0 vez maior probabilidade de estar neste grupo) ) [OR 0,9; 95% CI 0,83-0,9; p≤0.000].

Quanto ao segundo modelo, obteve-se um valor ajustado (Hosmer and Lemeshow χ²= 13,913 (8) p=. 084), com um valor explicativo de 24% (Nagelkerke R2= .244) e 66,7% de casos referindo a indentidade de género feminina. Neste segundo modelo, verifica-se que as variáveis associadas são o género (mulheres com 0,2 vezes maior probabilidade de estar neste grupo) [OR 0,22; 95% CI 0,10-0,09; p≤0.000], a idade (participantes no grupo de idade dos 18 aos 25 anos com 0,2 vezes maior probabilidade de estar neste grupo) [OR 0,55; 95% CI 0,33-0,91; p=0.020], a opinião face à homossexualidade (com participantes com opinião favorável a ter 1.0 vez maior probabilidade de estar neste grupo)  [OR 1,06; 95% CI 1,02-1,12; p=0.006] e atitudes positivas face à homossexualidade (com participantes com atitudes positivas a ter 1,0 vez maior probabilidade de estar neste grupo) [OR 0,68; 95% CI 0,50-0,93; p=0.017].

 

DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo central conhecer dois aspetos importantes relacionados com a vivência da sexualidade em portugueses e brasileiros, designadamente caracterizar a identidade de género e analisar as atitudes face à homossexualidade/ homoparentalidade.

A maioria dos participantes é do género feminino e têm como habilitações o ensino superior pelo que a validade externa do estudo com esta limitação.

Relativamente à identidade de género os participantes distribuem-se de forma equitativa entre o ser exclusivamente do género masculino, ser exclusivamente do género feminino e não ter uma exclusividade na sua identidade de género, independentemente do seu sexo biológico

No que diz respeito às atitudes face à homossexualidade/homoparentalidade, os resultados demonstraram que a maioria dos participantes, apresenta uma atitude positiva em relação à homossexualidade e uma atitude muito pouco discriminatória em relação à homoparentalidade.

Verificou-se, ainda, que mais de um terço dos participantes refere que se sente satisfeito com a evolução da sociedade relativamente à homossexualidade/ homoparentalidade.

A análise comparativa mostrou diferenças estatisticamente significativas quanto ao género e diferentes grupos etários para a identidade de género e as as atitudes face à homossexualidade/ homoparentalidade, em que as mulheres mais frequentemente se identificam com a identidade de género feminino e os homens com a identidade de género masculino e os participantes mais novos (18-25 anos) mais frequentemente referem não ter uma exclusividade de identidade de género. Quanto às atitudes face à homossexualidade/ homoparentalidade são as mulheres e os jovens mais novos (18-25 anos) que apresentam atitudes mais favoráveis face à homossexualidade e menos discriminatórias relativamente à homoparentalidade.

No estudo dos factores associados à identidade de género masculino e de género feminino, observa-se que constituem factores associados o género (homens com maior probabilidade de escolherem uma identidade de género masculino e mulheres com maior probabilidade de escolherem uma identidade de género feminino) e a opinião referente à homossexualidade (participantes com atitudes favoráveis com maior probabilidade de não ter escolhido uma exclusividade de identidade de género).

 

CONCLUSÃO

Os resultados revelam uma emergência na mudança do pensamento, tendo em conta a evolução que ocorreu ao longo das últimas décadas sobre os temas analisados reiterando as ideias desenvolvidas pela TIS de Taijel e Turner (citado por Hogg, 2001). Essa reestruturação do pensamento é observável neste estudo, pelas respostas dos participantes que revelaram por um lado não escolher uma identidade de género exclusiva e direcionada apenas com o seu sexo biológico, demonstrando sobretudo que a nível da socialização existiu uma mudança em que o que era considerado, noutras décadas, como comportamentos exclusivos dos homens ou das mulheres. Por outro lado observa-se uma progressiva aceitação da homossexualidade, sobretudo nos participantes mais jovens . Evidencia-se ainda outra evolução a nível social e legal, mas muito recente, que é a questão da homoparentalidade.

Será ainda necessário fazer esforços a nível da sociedade, no sentido de promover a percepção de um ambiente positivo, uma percepção subjectiva de bem-estar, um sentimento de pertença e de não discriminação, uma percepção de auto-eficácia e de valor e, consequentemente, permitir escolhas em termos de identidde de género e preferencias sexuais e ainda opções por estilos de vida saudáveis de forma consistente e sustentada.

Para a vivência da sexualidade de qualquer ser humano ser positiva e não discriminatória é importante que se aposte numa (re)educação sexual como estratégia da saúde sexual e reprodutiva.

 

AGRADECIMENTOS

À Equipa Aventura Social da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa

Ao Grupo Trabalho da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia 

A todos os participantes

À Fundação para a Ciência e a Tecnologia/Ministério da Ciência e do Ensino Superior.

 

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Recebido em 19 de Setembro de 2016/ Aceite em 27 de Novembro de 2016

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