SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.18 número1Auto-conceito espontâneo numa perda de peso bem-sucedida: Estudo qualitativo pluralistaPropriedades psicométricas da escala de auto-eficácia geral em idosos brasileiros índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.18 no.1 Lisboa abr. 2017

https://doi.org/10.15309/17psd180102 

Modelando a sintomatologia psicótica: a arte como recurso terapêutico em saúde mental

Modeling the psychotic symptomatology: the art as therapeutic resource in mental health

Victor Hugo Palma1, Luís Barriga2, Sandra Cruz3, & Ana Paula Gama4

 

1Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Departamento de Psicologia e Ciências da Educação, 8005-139 Faro, Portugal; E-mail: victorhugopalma@sapo.pt

2 Instituto Superior Dom Afonso III, 8100-507; E-mail: luisdbarriga@gmail.com;

3 Universidade do Algarve, Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo 8005-139 Faro, Portugal; E-mail: spmcruz@icloud.com;

4Universidade de Huelva, Faculdade de Ciências da Educação, Departamento de Psicologia Clínica e Experimental, 21071 Huelva, Espanha. E-mail: aapgama@gmail.com.

 

Endereço para Correspondência

 

RESUMO

O objetivo geral do presente estudo foi verificar a relação entre uma Oficina de Cerâmica Artística (OCA) e a qualidade de vida (QdV), o coping proativo e a autoestima de pessoas com diagnóstico de esquizofrenia de ambos os géneros (masculino e feminino) e se os resultados obtidos eram estáveis no tempo. Para tal, foi constituída uma amostra de conveniência (n = 9) no Forúm Sócio-Ocupacional de Faro da ASMAL, sendo que, os participantes, encontravam-se medicados e em fase estabilizada da doença. A OCA foi implementada ao longo de cinco meses, com frequência semanal de duas sessões de 90 minutos cada e o protocolo de avaliação administrado em três momentos de observação (antes, depois da intervenção e 27 dias após a mesma) foi composto pelo WHOQOL-Bref, Escala de Coping Proativo e Escala de Autoestima de Rosenberg. Considerando os resultados obtidos, a OCA produziu melhorias ao nível da QdV e do coping proativo dos participantes, embora, o mesmo, não tenha ocorrido ao nível da autoestima, verificando-se ainda que, estes, não se revelaram estáveis no tempo, e, no género feminino, a intervenção foi mais eficaz relativamente à perceção geral da QdV e à perceção geral da saúde.

Palavras-chave: Esquizofrenia, Oficina de Cerâmica Artística, Qualidade de Vida, Coping Proativo, Autoestima

 

ABSTRACT

The general aim of this study was to check the relationship between an Artistic Ceramics Workshop and quality of life, proactive coping and self-esteem of people with schizophrenia diagnosis of both genders (male and female) and check if the obtained results were stable in time. Therefore was constituted a convenience sample (n = 9) in Forum Socio-Occupational Faro's ASMAL, and that, the participants were medicated and phase stable disease. The Artistic Ceramics Workshop was implemented for the period of five months with frequency of two sessions weekly of each 90 minutes and the evaluation protocol was made in three different observation moments (before, after the intervention and 27 days after the intervention) was composed by WHOQOL-Bref, a Proactive Coping Scale and Rosenberg Self-esteem Scale. Considering the obtained results, the Artistic Ceramics Workshop produced significant improvement considering the quality of life and the proactive coping of participants. The same didn't happened when concerning to self-esteem. It was also verified that the obtained results were not stable in time, and with the female gender the intervention was more effective in terms of the general perception of quality of life and general perception of health.

Keywords:Schizophrenia, Artistic Ceramics Workshop, Quality of Life, Proactive Coping, Self-esteem

 

A esquizofrenia é uma das mais graves e incapacitantes doenças mentais, que afeta cerca de 1% da população portuguesa (Afonso, 2010; Cordo, 2003). De quadro clínico diverso e podendo a sintomatologia alterar-se ao longo do curso da doença, tem como característica central a perda de contacto com a realidade (Afonso, 2010; Neto, 2006; Pedinielli & Gimenez, 2006; Vaz-Serra, Pereira & Leitão, 2010). Esta, pode instalar-se de forma insidiosa ou aguda (Afonso, 2010; Ayuso & Miralles, 2006; DSM-IV-TR, 2002), sendo que, o período de maior risco, situa-se entre o final da adolescência e o início da idade adulta (Afonso, 2010; Ayuso et al., 2006; DSM-IV-TR, 2002; Neto, 2006; Pinheiro, Cazola, Sales, & Andrade, 2010; Vaz-Serra et al., 2010), podendo no género feminino ocorrer mais tardiamente (Afonso, 2010; Centeno, Pino & Rojo, 2006; Castle, McGrath & Kulkarni, 2003; DSM-IV-TR, 2002), porém, não sendo o fator idade considerado como determinante na exclusão do diagnóstico da doença (Afonso, 2010; Vaz-Serra et al., 2010), raramente ocorre antes dos dez ou depois dos 50 anos de idade (Bragança, Matos & Sousa, 2003; Centeno et al., 2006; Cordeiro, 2005; Vaz-Serra et al., 2010). No presente, a necessidade de intervenções multidisciplinares na reabilitação das pessoas com esquizofrenia é consensual (Gonçalves-Pereira, Xavier, Neves, Barahona-Correa & Fadden, 2006; Sá Júnior & Souza, 2007), sendo a intervenção farmacológica com recurso a antipsicóticos, o primeiro passo no tratamento da doença (Afonso, 2010; Braconnier, 2007; Caballo, 2008; Cordeiro, 2005; Gonçalves-Pereira et al., 2006). A sua atividade sedativa diminui a agitação dos doentes e, na maior parte dos casos, é eficaz no controlo da sintomatologia positiva (Afonso, 2010), não se verificando o mesmo relativamente aos sintomas negativos (Afonso, 2010; Lefley, 2005; Meyer, 2007), logo, deve incluir-se intervenções psicossociais para aumentar a eficácia do tratamento (Afonso, 2010; Caballo, 2008; Coelho & Palha, 2006; Kern, Glynn, William, Horan, & Marder, 2009; Vaz-Serra et al., 2010), devendo ambas estar presentes desde a fase inicial da doença e acompanhar a sua evolução com as devidas adaptações ao momento (Afonso, 2010; Caballo, 2008).

As atividades desenvolvidas nas oficinas terapêuticas podem proporcionar a materialização dos pensamentos e das emoções, tornando-se um meio de comunicação alternativo (Bezerra & Oliveira, 2002; Brunello, Castro & Lima, 2001; Rocha, 2005; Sanz-Aránguez & Del Rio, 2010; Valladares, 2008), podendo também contribuir para a alteração das rotinas da pessoa com doença mental (Brunello et al., 2001; Lima, 2004; Silva, 2007), retirando-a de uma posição passiva para assumir uma posição ativa (Rocha, 2005) e dar-lhe a oportunidade de constatar que, também ela, tem capacidade para executar tarefas com sucesso (Shirakawa, 2000). Apresentam ainda uma função integrativa, por serem desenvolvidas em grupo, logo, podem contribuir para superar dificuldades no relacionamento interpessoal (Brunello et al., 2001; Cordo, 2003; Lima, 2004; Sadock & Sadock, 2007; Silva, 2007) e estabelecer vínculos para além do núcleo familiar (Brunello et al., 2001; Silva, 2007). As pessoas com esquizofrenia passam também a ter acesso à cultura da comunidade, e, ao serem reconstruidas as relações com o meio (Brunello et al., 2001; Guerra, 2004; Lima, 2004), pode este facto atuar em oposição ao processo de exclusão, a que, a grande maioria destes doentes está sujeito (Brunello et al., 2001). A modelagem do barro é uma atividade utilizada com regularidade nas oficinas terapêuticas (Galletti, 2004; Lima, 2004), por não exigir habilidades muito elaboradas, ser independente do grau de escolaridade (Chiesa, 2004), pela grande plasticidade deste material, o que facilita a sua manipulação (Chiesa, 2004; Philippini, 2009), e, sendo as experiências sensoriais de importância extrema para o ser humano (Couvreur, 2001), este é um meio por excelência para que estas sejam vivenciadas (Chiesa, 2004; Valladares, 2004). Para além do anteriormente referido, os benefícios a nível motor pelo facto de serem utilizadas as duas mãos (Bezerra et al., 2002; Coscrato & Bueno, 2009; Sanz-Aránguez et al., 2010), a tridimensionalidade das obras produzidas (Chiesa, 2004; Philippini, 2009), a possibilidade de produzir objetos utilitários com uma componente estética (Navarro, 1997) e o facto da modelagem de peças em barro permitir um contacto direto com o material com o qual vamos trabalhar (Chiesa, 2004; Philippini, 2009), são fatores que valorizam esta atividade quando comparada às demais (Navarro, 1997).

O objetivo geral deste estudo foi analisar a relação entre a OCA e a QdV, o coping proativo e a autoestima de pessoas com diagnóstico clínico de esquizofrenia de ambos os géneros (masculino e feminino) e se os dados obtidos eram estáveis no tempo.

 

MÉTODO

Participantes

A amostra foi constituída por conveniência, composta por nove pessoas do género masculino (n = 6; 66,7%) e feminino (n = 3; 33,3%), com idades compreendidas entre os 19 e os 60 anos (Média = 34,11; DP = 13,07) e diagnóstico de esquizofrenia. Estas recebiam apoio no Forúm Sócio-Ocupacional de Faro da ASMAL, eram acompanhadas em regime de ambulatório pelos respetivos psiquiatras na consulta externa no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de Faro, EPE (n = 8) e Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE (n = 1), encontrando-se as mesmas medicadas e em fase estabilizada da doença.

Material

Para avaliar a QdV foi utilizado o World Health Organization Quality of Life-Bref (WHOQOL-Bref), adaptado por (Vaz-Serra et al., 2006). Este instrumento é constituído por 26 itens, dois dos quais relativos a uma faceta geral (Faceta Geral de QdV) composta por dois itens que avaliam a perceção geral da QdV e a perceção geral da saúde e os restantes 24 permitem avaliar a QdV a partir de quatro domínios distintos: Domínio Físico, Domínio Psicológico, Domínio Relações Sociais e Domínio Ambiente. Esta é uma escala de tipo Likert com cinco alternativas de resposta, em que, o participante deve assinalar a opção que melhor corresponde à sua situação, tendo como referência as duas últimas semanas. As pontuações mais altas representam melhor QdV (Vaz-Serra et al., 2006).

Para avaliar o coping proativo utilizou-se a Escala de Coping Proativo (ECP), traduzida e adaptada por (Cruz & Gomes, 2007), cujo objetivo é avaliar as estratégias de confronto ativas utilizadas pelas pessoas quando se confrontam com um problema (e.g., imaginar soluções a adotar, perceber os obstáculos como desafios). O instrumento é composto por 14 itens, respondidos numa escala tipo Likert de quatro pontos, em que, os valores mais elevados, significam maior utilização do confronto proativo (Cruz et al., 2007).

Para avaliar a autoestima foi utilizada uma versão portuguesa da Rosenberg Self-Esteem Scale (RSES) (Rosenberg, 1965), que avalia a autoestima global, traduzida e adaptada por Santos e Maia (2003). É constituída por 10 itens, cinco considerados indicadores de atitudes positivas e cinco considerados indicadores de atitudes negativas, misturados entre si, para tornar a estrutura da escala menos transparente. É uma escala de tipo Likert com quatro alternativas de resposta, em que, a obtenção de valores mais elevados evidencia níveis de autoestima global mais elevados (Santos et al., 2003).

A análise dos dados obtidos foi efetuada com recurso ao programa informático IBM SPSS Statistics 20.

 

RESULTADOS

A amostra foi inicialmente composta por 12 pessoas com esquizofrenia, embora três das quais apenas tenham frequentado a OCA: duas sessões (n = 1) e quatro sessões (n = 2). Assim sendo, registou-se mortalidade experimental (n = 3) e esta ficou reduzida a nove participantes. Tendo em conta o género dos mesmos, recorrendo ao teste não paramétrico de Mann-Whitney para amostras independentes e considerando um nível de significância de 5%, apenas foram verificadas diferenças estatísticas significativas entre os grupos na subescala “Overall” (U = 1,500; p = 0,04) da escala WHOQOL-Bref, no segundo momento de observação (Quadro 1).

 

 

Recorrendo ao teste não paramétrico de Friedman, considerando um nível de significância de 5%, verificou-se a existência de diferenças estatísticas significativas em todas as escalas e subescalas em estudo (Quadro 2).

 

 

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos referem-se aos participantes cuja assiduidade foi elevada (superior a 75% das sessões da OCA) e estiveram presentes nos três momentos de observação e, assim sendo, pode supor-se que os mesmos estavam motivados para este tipo de intervenção, tendo igualmente em conta as verbalizações produzidas (e.g., “olha também consigo fazer”, “pensava que era mais dificil”, “gosto muito disto”, “já consigo fazer coisas iguais às das lojas”). Considerando o abandono precoce dos três participantes e as suas verbalizações para o justificar (e.g., “não gosto disto”, “gosto mais de outras atividades”, “não consigo fazer nada de jeito”), pode o mesmo ser explicado pela falta de motivação relativamente a este tipo de atividade, facto este abordado por (Crawford et al., 2012), quando referem que nem todos os doentes estão motivados para intervenções que utilizam atividades criativas como recurso terapêutico. Relativamente aos dados obtidos, referentes às habilitações literárias dos participantes, verificou-se que vão ao encontro da revisão de literatura efetuada, onde é referido que, a maior parte destes doentes, apresenta um baixo nível de escolaridade (Marques-Teixeira, 2007; Pinheiro et al., 2010), facto este verificado ainda, relativamente às baixas taxas de casamento (Louzã Neto & Elkis, 2007; Marques-Teixeira, 2007), às baixas taxas de emprego (Marques-Teixeira, 2007; Pinheiro et al., 2010) e ao não reconhecimento da doença pelo próprio, que ocorre num grande número de casos (Afonso, 2010; Louzã Neto et al., 2007; Pedinielli et al., 2006; Vaz-Serra et al., 2010).

Na escala WHOQOL-Bref, os valores obtidos registaram uma subida do primeiro (Média = 75,6250; DP = 15,1368) para o segundo momento de observação (M= 98,7778; DP = 12,34684) e uma descida do segundo para o terceiro momento de observação (M= 90,4444; DP = 11,02396), porém, deve salientar-se que os valores deste último, mantiveram-se mais elevados quando comparados aos do primeiro momento de observação. Os resultados obtidos, sugerem que a intervenção produziu melhorias na QdV dos participantes, mas não se revelaram estáveis no tempo, podendo este facto estar de acordo com (Afonso, 2010; Caballo, 2008), quando referem que a esquizofrenia é na maior parte dos casos uma doença crónica, e, assim sendo, as intervenções psicossociais devem acompanhar a sua evolução com as devidas adaptações ao momento, uma vez que, as competências desenvolvem-se, mas também sofrem transformações ao longo do tempo. O facto da intervenção em causa ter produzido beneficios na QdV dos participantes, está de acordo com (Cordo, 2003; Silva, 2007), sendo por estes referido que através do trabalho desenvolvido nas oficinas terapêuticas e da valorização do mesmo, as pessoas com doença mental podem melhorar a sua QdV e com (Coscrato et al., 2009; Valladares, 2004), quando referem que a arte utilizada como recurso terapêutico, pode contribuir para melhorar a QdV destes doentes. Considerando os diversos domínios (físico, psicológico, relações sociais e ambiente) que constituem a escala “WHOQOL-Bref” e as melhorias produzidas pela intervenção em todos eles, corroborando o referido pelos autores consultados, pensamos ser pertinente referi-los. Assim sendo, a modelagem de peças em barro para (Chiesa, 2004; Valladares, 2004) é um meio por excelência para serem vivenciadas experiências sensoriais diversas, para (Bezerra et al., 2002; Coscrato et al., 2009; Sanz-Aránguez et al., 2010) pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades motoras e para (Chiesa, 2004; Rocha, 2005) pode promover a diminuição da ansiedade e da agressividade. Para (Bezerra et al., 2002; Chiesa, 2004; Coscrato et al., 2009; Rocha, 2005; Valladares, 2008), a arte utilizada como recurso terapêutico pode proporcionar às pessoas com doença mental a expressão do pensamento e das emoções, através de comunicação não verbal e para (Sanz-Aránguez et al., 2010) pode favorecer a perceção e a atenção. Para (Bezerra et al., 2002; Cordo, 2003; Sadock et al., 2007; Silva, 2007; Valladares, 2008) as atividades desenvolvidas nas oficinas terapêuticas podem ter uma função integrativa, contribuindo para estimular as relações interpessoais e para (Brunello et al., 2001; Guerra, 2004; Lima, 2004; Valladares, 2008) permitem o reencontro entre a pessoa com doença mental e a cultura da comunidade, podendo este contribuir para a reconstrução das relações com o meio.

Relativamente à Escala de Coping Proactivo (ECP), os resultados obtidos sugerem que a intervenção produziu melhorias ao nível do coping proativo, ou seja, nas estratégias de confronto ativas utilizadas pelos sujeitos quando se confrontam com um determinado problema, embora os dados não se tenham revelado estáveis 27 dias após a intervenção. Na revisão de literatura efetuada, não foram encontradas referências à relação entre a arte utilizada como recurso terapêutico e o coping proativo, para que, desta forma, os resultados obtidos pudessem corroborar ou refutar os de outros autores.

Relativamente à Escala de Autoestima de Rosenberg (RSES), os resultados obtidos sugerem que, a intervenção, não produziu melhorias ao nível da autoestima global dos participantes, não corroborando o referido pelos autores consultados na revisão de literatura efetuada e não se revelaram estáveis no tempo. Considerando que, a autoestima para (Santos et al., 1999; Santos et al., 2003) consiste na avaliação positiva ou negativa que as pessoas fazem das suas características, considerando que, para (Santos et al., 2003), a autoestima avaliada através da RSES, quando é baixa, indica

desvalorização e insatisfação para com o próprio, considerando que, para (Mosquera et al., 2006), a mesma não é estática, considerando que, os participantes estavam supostamente motivados para este tipo de atividade, tendo em conta a assiduidade e as verbalizações produzidas (e.g., “olha também consigo fazer”, “pensava que era mais dificil”, “gosto muito disto”, “já consigo fazer coisas iguais às das lojas”), considerando ainda que, para (Fox, 1997), as pessoas não valorizam da mesma forma as suas características, focando-se nos domínios onde pretendem ser bem sucedidas, logo, se um indivíduo tem a perceção de que tem competências para desempenhar uma tarefa com sucesso, e, caso consiga atingi-lo, terá como resultado uma autoestima elevada, porém, se o mesmo não é bem sucedido, poderá este facto gerar baixa autoestima. Assim sendo, pensamos que, a regressão verificada nos resultados obtidos pode ser explicada pela presença de variáveis parasitas (críticas hostis e sarcasmos), que podem ter enviesado os dados. Estas, foram proferidas por alguns observadores/recetores ao longo da exposição efetuada na úlltima sessão da intervenção, dirigidas aos participantes da OCA, relacionadas com as peças concebidas, na sua grande maioria, na fase inicial da mesma, podendo ter contribuido para uma autoavaliação negativa das suas características e consequente desvalorização e insatisfação para com o próprio. Deve por último referir-se que, foram expostas todas as peças produzidas na OCA sem terem sido submetidas a processo algum de seleção e que, o segundo momento de observação, ocorreu logo após o final da exposição.

Concluímos que, a OCA, produziu melhorias ao nível da QdV global, embora os resultados obtidos não se tenham revelado estáveis no tempo, porém, deve salientar-se, que os benefícios prolongaram-se para além do final da intervenção, uma vez que, os resultados obtidos no terceiro momento de observação, embora inferiores aos do segundo, mantiveram-se mais elevados quando comparados aos registados antes da intervenção. Concluímos também, que a intervenção foi mais eficaz no género feminino, relativamente à perceção geral da QdV e à perceção geral da saúde. Concluímos igualmente, que a intervenção produziu melhorias ao nível do coping proativo, embora os resultados não se tenham revelado estáveis no tempo, nem tenham sido registadas diferenças significativas entre os géneros. Concluímos ainda, que a intervenção não produziu melhorias ao nível da autoestima global dos participantes, os resultados obtidos não se revelaram estáveis no tempo e não foram registadas diferenças significativas entre os géneros.

 

REFERÊNCIAS

Afonso, P. (2010). Esquizofrenia: Para além dos mitos, descobrir a doença. Cascais: Principia.         [ Links ]

American Psychiatric Association. (2002). Diagnostic and statistical manual of mental disorder (4thed. text review) (DSM-IV-TR). Washington, DC: Author. (tradução portuguesa). Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Ayuso, D., & Miralles, P. (2006). Actividades de la vida diaria. Barcelona: Masson.         [ Links ]

Bezerra, D. & Oliveira, J. (2002). A atividade artística como recurso terapêutico em saúde mental. Boletim da Saúde, 16(2), 135-137.         [ Links ]

Braconnier, A. (2007). Manual de psicopatologia. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Bragança, M., Matos, M. & Sousa, R. (2003). Esquizofrenia de a a z. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Brunello, M., Castro, E. & Lima, E. (2001). Atividades humanas e terapia ocupacional. In C. Bartalotti & M. Carlo (Orgs.). Terapia ocupacional no brasil: Fundamentos e perspectivas (pp.41-59). São Paulo: Plexus Editora.         [ Links ]

Caballo, V. (2008). Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais (2ªed.). São Paulo: Livraria Santos Editora.         [ Links ]

Castle, D., McGrath, J. & Kulkarni, J. (2003). As mulheres e a esquizofrenia. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Centeno, M., Pino, O. & Rojo, J. (2006). Esquizofrenia. In J. Ruiloba (Org.). Introducción a la psicopatologia y la psiquiatria (pp.447-468) (6ªed.). Barcelona: Masson.         [ Links ]

Chiesa, R. (2004). O diálogo com o barro: O encontro com o criativo. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Coelho, C. & Palha, A. (2006). Treino de habilidades sociais aplicadas a doentes com esquizofrenia. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Cordeiro, J. (2005). Manual de psiquiatria clínica (3ªed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.         [ Links ]

Cordo, M. (2003). Reabilitação de pessoas com doença mental. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Coscrato, G. & Bueno, S. (2009). A luz da arte nos centros de atenção psicosssocial: Interface com o cuidado. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 1(2), 142-149.         [ Links ]

Couvreur, C. (2001). A qualidade de vida: Arte para viver no século XXI. Loures: Lusociência.         [ Links ]

Crawford, M., Killaspy, H., Barnes, T., Barrett, B., Byford, S., Clayton, K., . . . & Waller, D. (2012). Group art therapy as an adjunctive treatment for people with schizophrenia: Multicentre pragmatic randomised trial. BMJ: British Medical Journal, 344, e846. doi:org/10.1136/bmj.e846        [ Links ]

Cruz, F. & Gomes, R. (2007). Escala de “coping” proativo: Versão para investigação. Manuscrito não publicado, Universidade do Minho, Braga.         [ Links ]

Fox, K. (1997). The physical self and processes in self-esteem development. In K. Fox (Ed.). The physical self: From motivation to well-being (pp.111-139). Champaign: Human Kinetics Editor.         [ Links ]

Galletti, M. (2004). Oficina em saúde mental: Instrumento terapêutico ou intercessor clínico? Goiânia: Editora da Universidade Católica de Goiás.         [ Links ]

Gonçalves-Pereira, M., Xavier, M., Neves, A., Barahona-Correa, B. & Fadden, G. (2006). Intervenções familiares na esquizofrenia: Dos aspectos teóricos à situação em portugal. Acta Médica Portuguesa, 19(1), 1-8.         [ Links ]

Guerra, A. (2004). Oficinas em saúde mental: Percurso de uma história, fundamentos de uma prática. In C. Costa & A. Figueiredo (Orgs.). Oficinas terapêuticas em saúde mental: Sujeito, produção e cidadania (pp.23-58). Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria.         [ Links ]

Kern, R., Glynn, S., William, P., Horan, W. & Marder, S. (2009). Psychosocial treatments to promote functional recovery in schizophrenia. Schizophrenia Bulletin, 35, 347-361. doi: 10.1093/schbul/sbn177        [ Links ]

Lefley, H. (2005). O papel das famílias na integração comunitária: A promoção de serviços de saúde mental, investigação e recovery. In T. Duarte, M. Moniz, F. Monteiro & J. Ornelas (Coords.). Participação e empowerment das pessoas com doença mental e seus familiares (pp.57-79). Lisboa: AEIPS Edições.         [ Links ]

Lima, E. (2004). Oficinas, laboratórios, ateliês, grupos de atividades: Dispositivos para uma clínica atravessada pela criação. In C. Costa & A. Figueiredo (Orgs.). Oficinas terapêuticas em saúde mental: Sujeito, produção e cidadania (pp.59-81). Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria.         [ Links ]

Louzã Neto, M. & Elkis, H. (2007). Psiquiatria básica (2ªed.). Porto Alegre: Artmed Editora.         [ Links ]

Marques-Teixeira, J. (2007). Neurocognição, cognição social e funcionamento social na esquizofrenia. Saúde Mental, 9(6), 7-9.         [ Links ]

Meyer, J. (2007). Antipsychotic safety and efficacy concerns. Journal of Clinical Psychiatry, 68, 20-26.         [ Links ]

Navarro, M. (1997). A decoração de cerâmica. Lisboa: Editorial Estampa.         [ Links ]

Neto, M. (2006). Convivendo com a esquizofrenia: Um guia para portadores e familiares. São Paulo: Prestígio Editorial.         [ Links ]

Pedinielli, J. & Gimenez, G. (2006). As psicoses do adulto. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Philippini, A. (2009). Linguagens, materiais expressivos em arteterapia: Uso, indicações e propriedades. Rio de Janeiro: Wak Editora.         [ Links ]

Pinheiro, T., Cazola, L., Sales, C. & Andrade, A. (2010). Fatores relacionados com as reinternações de portadores de esquizofrenia. Cogitare Enfermagem, 15(2), 302-307.         [ Links ]

Rocha, R. (2005). Enfermagem em saúde mental (2ªed.). Rio de Janeiro: Editora Senac Nacional.         [ Links ]

Sadock, B. & Sadock, V. (2007). Compêndio de psiquiatria: Ciência do comportamento e psiquiatria clínica (9ªed.). Porto Alegre: Artmed Editora.         [ Links ]

Sá Júnior, A. & Souza, M. (2007). Avaliação do comprometimento funcional na esquizofrenia. Revista de Psiquiatria Clínica, 34(2), 164-168.         [ Links ]

Santos, P. & Maia, J. (2003). Análise factorial confirmatória e validação preliminar de uma versão portuguesa da escala de auto-estima de rosenberg. Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, 2, 253-268.         [ Links ]

Sanz-Aránguez, B. & Del Río, M. (2010). La creación artística como tratamiento de la esquizofrenia: Una aproximación metodológica. Archivos de Psiquiatría, 73(2), 1-18. Acedido a 5, janeiro, 2012, em http://www.archivosdepsiquiatria.es/index.php?journal=adp&page=article&op=viewFile&path%5B%5d=34&path%5B%5D=3        [ Links ]

Shirakawa, I. (2000). Aspectos gerais do manejo do tratamento de pacientes com esquizofrenia. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22(1), 56-58.         [ Links ]

Silva, V. (2007). Oficinas em saúde mental: Possibilidades de estabilização e inserção social. In J. Filho & V. Franco (Orgs.). Aprendizes da clínica: Novos fazeres psi (pp.95-122). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Valladares, A. (2004). A arteterapia e a reabilitação psicossocial das pessoas em sofrimento psíquico. In A. Valladares (Org.). Arteterapia no novo paradigma de atenção em saúde mental (pp.11-13). São Paulo: Vetor.         [ Links ]

Valladares, A. (2008). A arteterapia: Humanizando os espaços de saúde. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Vaz-Serra, A., Canavarro, M., Simões, M., Pereira, M., Gameiro, S., Quartilho, M., Rijo, D., Carona, C. & Paredes, T. (2006). Estudos psicométricos do instrumento de avaliação da qualidade de vida da organização mundial de saúde (whoqol-bref) para português de portugal. Psiquiatria Clínica, 27(1), 41-49.         [ Links ]

Vaz-Serra, A., Pereira, M. & Leitão, J. (2010). Qualidade de vida em doentes esquizofrénicos. In M. Canavarro & A. Vaz-Serra (Coords.). Qualidade de vida e saúde: Uma abordagem na prespectiva da organização mundial de saúde (pp.271-282). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.         [ Links ]

 

Endereço para Correspondência

Rua Brigadeiro Eduardo José dos Santos, nº4 2ºesq., 8800-698 Tavira. Telf.: 962767239. E-mail: victorhugopalma@sapo.pt

 

Recebido em 07 de Agosto de 2014

Aceite em 29 de Dezembro de 2016

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons