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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.19 no.3 Lisboa dez. 2018

https://doi.org/10.15309/18psd190308 

Contributo para a validação da versão portuguesa da escala de autenticidade

Contribution to the validation of the portuguese version of the authenticity scale

Isabel Faustino Balbino1, Iolanda Costa Galinha2, Camila de Campos Morais3, Sara Samoqueira Calado3

1Fundação Manuel Gerardo de Sousa e Castro, 7800-318 Beja, Portugal

2Universidade Autónoma de Lisboa, CIP - Centro de Investigação em Psicologia da UAL, 1150-293 Lisboa, Portugal; CIS-2IUL - Centro de Investigação e de Intervenção Social do ISCTE-IUL, 1649-026 Lisboa, Portugal; APPsyCI - Centro de Investigação de Psicologia Aplicada, Capacidades e Inclusão do ISPA, 1140-041 Lisboa, Portugal. igalinha@autonoma.pt

3Departamento de Psicologia, Universidade Autónoma de Lisboa, 1150-293 Lisboa, Portugal


 

RESUMO

O estudo pretendeu contribuir para a validação da versão portuguesa da Escala de Autenticidade (Wood, Linley, Maltby, Baliousis, & Joseph, 2008). Segundo a literatura, não existiam ainda medidas de Autenticidade validadas para o português, embora a Escala de Autenticidade já esteja validada em países como Turquia, Itália, Holanda, Canadá, Suécia e Sérvia. Neste sentido, recolheu-se uma amostra de 374 participantes, de várias regiões de Portugal, 69% mulheres e 31% homens, com idades entre os 18 e os 85 anos. O estudo foi transversal e a amostra não probabilística. Procedeu-se ao método clássico de tradução e retroversão da escala original de 12 itens, com três dimensões de quatro itens cada. O contributo para a adaptação da versão portuguesa da Escala de Autenticidade seguiu quatro passos: a) análise fatorial exploratória da estrutura dimensional da Escala, com os pesos fatoriais dos itens a ponderar acima de 0,40 no fator principal e abaixo de 0,20 nos fatores secundários; b) análise da consistência interna global e das três dimensões da Escala, com alfas de Cronbach entre 0,70 e 0,80; c) análise correlacional entre as três dimensões da Escala de Autenticidade, com correlações entre -0,27 e 0,80; e d) análise fatorial confirmatória através de modelos de equações estruturais, com um ajustamento de χ251 = 94,81; p < 0,001; CFI=0,97; RMSEA=0,05; SRMR=0,04. Os resultados indicaram qualidades psicométricas excelentes de validade e fidelidade da versão portuguesa da Escala de Autenticidade, semelhantes à versão original e aos estudos de validação internacionais, garantindo um instrumento robusto para a medição da Autenticidade.

Palavras-chave: escala de autenticidade, validação portuguesa, psicométrico, validade, fidelidade


 

ABSTRACT

The purpose of this study was to contribute to the validation of the Portuguese version of the Authenticity Scale (Wood, Linley, Maltby, Baliousis, & Joseph, 2008). According to the literature, there were no authenticity measures validated for Portuguese. Although, the Authenticity Scale has already been validated in a variety of countries, including Turkey, Italy, the Netherlands, Canada, Sweden and Serbia. A sample of 374 participants, from various regions of Portugal, was collected (69% women and 31% men, aged between 18 and 85 years). The study was cross-sectional and the sample was non-probabilistic. The classic method of translation and back-translation of the original scale of 12 items, with three dimensions (with four items each) was used. The contribution to the adaptation of the Portuguese version of the Authenticity Scale followed four steps: a) exploratory factorial analysis of the dimensional structure of the Scale, with the factorial weights of items above 0,40 in the main factor and below 0,20 in the secondary factors; b) analysis of the internal consistency of the three dimensions and the overall Scale, with Cronbach’s alphas between 0,70 and 0,80; c) correlational analysis between the three dimensions of the Authenticity Scale with correlations between -0,27 and 0,80; d) confirmatory factorial analysis through structural equation models, with an adjustment of χ251 = 94,81, p <0,001; CFI = 0,97; RMSEA = 0,05; SRMR = 0,04. The results indicated excellent psychometric qualities of validity and fidelity of the Portuguese version of the Authenticity Scale, similar to the original version and the international validation studies, ensuring a robust instrument for the measurement of Authenticity.

Keywords: authenticity scale, portuguese validation, psychometric, validity, fidelity


 

Com o objetivo de estudar a autenticidade e perante a ausência de uma medida de autenticidade validada para a população portuguesa, considerámos pertinente e necessário proceder à análise psicométrica da versão portuguesa da Escala de Autenticidade de Wood, Linley, Maltby, Baliousis, e Joseph (2008).

A opção pela validação da Escala de Autenticidade (Wood et al., 2008), em detrimento de outras medidas de autenticidade disponíveis, como o Authenticity Inventory (Goldman & Kernis, 2002, 2004), prendeu-se com o facto de a Authenticity Scale demonstrar melhores propriedade psicométricas em estudos anteriores. O Authenticity Inventory carece de estudos sobre a validade e fidelidade da escala, a par de inconsistências quanto à sua estrutura dimensional (Grégoire, Baron, Ménard & Lachance, 2014; Ménard, 2008). A Authenticity Scale tem sido estudada com valores robustos para a sua estrutura, dimensionalidade e a estabilidade temporal, na sua versão original (Susing, Green, & Grant, 2011; Wood et al., 2008), bem como, em estudos de validação subsequentes para outras línguas e nações.

A validação de uma escala da autenticidade para a população portuguesa é uma mais-valia para várias áreas de investigação e intervenção em Psicologia. Uma das áreas é a psicoterapêutica e a clínica (Grégoire et al., 2014; Pinto, Maltby, Wood & Day, 2012; White & Tracey, 2011), onde várias abordagens (Psicodinâmica, Existencial e Humanista) valorizam a Autenticidade como um indicador de saúde psicológica (Pinto et al., 2012) e defendem que a avaliação e a tomada de consciência da Autenticidade podem ajudar a orientar o cliente quanto às direções a adotar na mudança terapêutica (Grégoire et al., 2014). Outra área é a da orientação vocacional, White e Tracey (2011) apontam para a importância de medir e promover as dimensões da Autenticidade, uma vez que cotações baixas na escala estão relacionadas com níveis superiores de indecisão na carreira profissional. Na área organizacional, a medição da autenticidade é importante para apoiar o aconselhamento, a formação e a mentorização. Acedendo à Autenticidade mediante instrumentos, podem explorar-se os resultados com os participantes e promover-se intervenções mais apropriadas, para a melhoria no clima e nos resultados das organizações (Grégoire et al., 2014; Susing et al., 2011). A consciência de si, a auto-regulação e o discernimento dos próprios impulsos, motivações e valores, a par com o desenvolvimento de comportamentos integrados, promovem um funcionamento ótimo das pessoas e das organizações (Susing et al., 2011). Ainda no contexto organizacional, o potencial do estudo e da medição da Autenticidade reside também ao nível da liderança. Segundo Toor e Ofori (2009), a liderança autêntica (que é passível de formação) encontra-se associada ao Bem-Estar Psicológico dos líderes e dos seguidores.

Recentemente, tem havido um interesse crescente no conceito de autenticidade, o que tem promovido uma interação entre as abordagens humanísticas teóricas e empíricas, combinando métodos de rigorosa verificação científica e as teorias de psicologia humanística e aconselhamento (Di Fabio, 2014). Para permitir o progresso do estudo sobre o construto de autenticidade, é necessário identificar e quantificar a autenticidade como variável individual diferencial e verificar empiricamente as hipóteses sobre a relação entre autenticidade e bem-estar (Wood et al., 2008).

Nos últimos anos, a autenticidade foi alvo de discussões sistemáticas, particularmente nas áreas da psicologia social e da sociologia cultural (Vannini & Williams, 2009). Ao longo deste tempo, a autenticidade foi definida por vários autores e segundo várias perspetivas. A autenticidade tem sido definida como um elemento integrador e organizador da personalidade (Sheldon, Ryan, Rawsthorne & Ilardi, 1997); como uma orientação de valor (Medlock, 2012); como uma atitude (Schmid, 2001); e como um ideal (Beltrami, 2012). Vanini (2006) designou-a como uma experiência emocional, um sentimento sobre o self, Sebold e Carraro (2013) descrevem-na como a singularização da existência e apropriação de si e Vannini e Williams (2009) definiram-na como uma qualidade inerente a um objecto, processo ou pessoa, como algo genuíno e identificável por quem a exerce. Porém, foi dentro da perspetiva humanista de Rogers que alguns investigadores encontraram uma definição de autenticidade clara, de fronteiras e conteúdo definidos, permitindo elaborar instrumentos objetivos e sensíveis para a medir junto da população (Susing et al., 2011; Wood et al., 2008).

A autenticidade, na ótica humanista, e particularmente na Abordagem Centrada na Pessoa, é entendida como uma finalidade e coloca a pessoa num estado dinâmico de pleno funcionamento - a personalidade total (Ménard & Brunet 2012; Rogers, 1951). Schmid (2001) define-a, ainda, acima de uma atitude terapêutica ou de uma simples condição estática inerente à pessoa, como um processo que se pode empreender com vista ao crescimento saudável e integral.

Apesar do amplo estudo teórico e clínico da autenticidade, o estudo empírico do conceito foi bastante negligenciado, por não haver até ao ano de 2008, medidas diretas e psicometricamente válidas da autenticidade (Wood et al., 2008). Para que o estudo da autenticidade pudesse avançar, houve necessidade de identificar e quantificar a autenticidade como uma variável de diferença individual. Na sequência da definição de Rogers (1961/2009), Barrett-Lennard acrescenta que a autenticidade é um constructo tripartido com uma correspondência entre três níveis: “(a) a experiência organísmica da pessoa, (b) a sua simbolização consciente e (c) a sua manifestação comportamental e comunicação” (Wood et al., 2008). Autores como Maltby, Wood, Day e Pinto (2012), Susing et al. (2011) e Wood et al. (2008) descreveram o funcionamento da autenticidade como explanamos de seguida. Entre (a) e (b) pode existir ou não correspondência, o seu gradiente de relação expressa o grau de Auto-Alienação consoante haja negação, distorção ou integração de (a) para (b). Entre (b) e (c) pode também existir ou não correspondência, na medida em que (b) e (c) se aproximam aumenta o Viver Autêntico (expresso em comportamentos e comunicação congruentes com o self percebido). Finalmente, entre (a), (b) e (c) pode ou não existir a Aceitação da Influência Externa (passando de uma atitude saudável de escutar os outros para uma atitude de assumir, acriticamente, o ponto de vista deles).

A Escala de Autenticidade

Auto-Alienação, Viver Autêntico e Aceitação da Influência Externa, são as dimensões pelas quais a Autenticidade é medida na escala construída por Wood et al. (2008) que pretendemos validar neste estudo. Inicialmente a escala foi constituída com 25 itens, distribuídos por 3 dimensões. No entanto, para se tornar mais pequena e prática, foi diminuída para 12 itens, 4 para cada dimensão, obtendo valores psicométricos mais elevados. Atualmente, a escala consiste em três dimensões de quatro itens cada, medidos através de uma escala de Likert de 7 pontos (1 = não me descreve; 7 = descreve-me muito bem) (Tekin & Satici, 2014). A dimensão da autoalienação mede em que medida os indivíduos estão "fora de contato" com eles mesmos. A dimensão do viver autêntico mede o grau em que os comportamentos são consistentes com a própria consciência da experiência interna. E, por último, a dimensão da aceitação de influência externa mede o grau em que as relações interpessoais influenciam os comportamentos individuais. Indivíduos com pontuações mais altas na Escala de Autenticidade estarão mais em contato com a sua experiência interna, comportando-se de maneira mais consistente com os próprios valores e tendo menor tendência para se adequar às expectativas dos outros (Grégoire et al., 2014). Esta correspondência nunca é total, mas quanto maior for, mais o dinamismo interno da pessoa será autêntico. Ao mesmo tempo, a pessoa deve perceber, assumir e lidar com os seus estados fisiológicos, pensamentos e sentimentos, de acordo com as convicções e valores emergentes da sua consciência, em construção intra e interpessoal (White & Tracey, 2011; Wickham, 2013).

Estudos de Validação e Caraterísticas Psicométricas da Escala de Autenticidade

A escala de autenticidade de Wood et al (2008) foi validada e utilizada em estudos em vários países, como na Turquia, Itália, Holanda, Canadá, Suécia e Sérvia. Começando pela Turquia, em 2013, foram investigadas as propriedades psicométricas da versão turca da Escala de Autenticidade num estudo realizado em duas etapas. No primeiro passo, a versão turca da escala foi administrada a 165 estudantes universitários (97 mulheres, 68 homens). Para examinar a estrutura fatorial da escala, realizou-se uma análise fatorial confirmatória. No segundo passo, os dados foram recolhidos de 240 (161 mulheres, 79 homens) estudantes universitários para examinar validade concorrente e a validade preditiva da escala. Os resultados da análise fatorial confirmatória forneceram bons índices de ajustamento (c2/sd = 1,49; RMSEA =0,05; CFI =0,95; IFI =0,95; GFI =0,92). Cada subescala esteve significativamente correlacionada com o bem-estar subjetivo e com a autonomia. Além disso, a autenticidade contribuiu para a variância do bem-estar subjetivo, após o controlo da autonomia. Em conclusão, os resultados demonstram que a versão turca da Escala de Autenticidade é válida e confiável (Ilhan & Özdemir, 2013).

Em Itália também foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar as propriedades psicométricas da escala de autenticidade. Os participantes foram 132 estudantes do quinto ano, da Toscana, sendo 58 do sexo masculino (43,94%) e 74 do sexo feminino (56,06%), com uma média de idades de 18,32 anos (DP = 0,49). Foi verificada a estrutura fatorial da versão italiana da EA através de uma análise fatorial confirmatória (AFC). A adequação do modelo foi apurada com base não só sobre o valor de χ2, mas também foram considerados outros índices de ajustamento, tais como, a relação entre o valor de χ2 e graus de liberdade (χ2 / gl). Verificou-se também a confiabilidade da EA, calculando o alfa de Cronbach e as correlações item-total. Além disso, para verificar a validade concorrente, foram analisadas as correlações da EA com escalas de auto-estima de Rosenberg (RSES), de satisfação global com a vida (SWLS) e afeto positivo e negativo (PANAS). Os resultados demonstraram correlações item-total todas positivas e significativas, como esperado, variando de 0,31 a 0,78 para a dimensão auto-alienação; de 0,30 a 0,79 para a dimensão viver autêntico; de 0,34 a 0,78 para a dimensão aceitação da influência externa. As correlações da versão italiana da escala de autenticidade com o RSES, o SWLS, o PA e o NA (RSES = 0,34; SWLS = 0,31; PA = 0,36; NA = -0,47) sublinham uma adequada validade concorrente em relação às outras medidas, confirmando a relação que surgiu na literatura entre a Escala de Autenticidade e aspetos de bem-estar subjetivo. A partir dos resultados deste estudo, também foi possível concluir que a versão italiana da EA é uma ferramenta válida e confiável para a medição de autenticidade no contexto italiano (Di Fabio, 2014).

Na Holanda, realizou-se um estudo com foco na autenticidade específica do trabalho estatal, para investigar a associação entre autenticidade no trabalho, bem-estar e resultados de trabalho. Uma série de dez análises de regressão hierárquica separadas, utilizando dados de 685 participantes, indicou que depois de controlar as características selecionadas do trabalho e as variáveis demográficas, a autenticidade no trabalho, representou em média 11% da variância do bem-estar e dos resultados de trabalho. A fim de avaliar a importância relativa das três subescalas da autenticidade, foi feita uma análise post-hoc adicional. Portanto, calculou-se a média das três subescalas de autenticidade para todas as variáveis do estudo (envolvimento e satisfação no trabalho, realização pessoal, cinismo, exaustão emocional, intenção de rotatividade e desempenho no papel). A média entre as variáveis do estudo, viver autêntico, auto-alienação e aceitação da influência externa, representaram 2,1%, 8,8% e 0,4% da variância dessas variáveis, respetivamente, mostrando que a auto-alienação é a dimensão mais fortemente relacionada com os outros conceitos do estudo (Bosch & Taris, 2014).

No Canadá (Québec) realizou-se um estudo que se subdividia em dois, com o objetivo de analisar as propriedades psicométricas de uma tradução francesa da Escala de Autenticidade. Foi realizado um primeiro estudo com uma amostra geral de 188 pessoas, onde se avaliou a confiabilidade desta tradução, bem como, a sua validade de constructo e validade discriminante em relação aos traços de personalidade do modelo Big Five. No segundo estudo, com uma amostra de 437 pessoas, foi efetuada uma análise fatorial confirmatória para confirmar a estrutura encontrada no Estudo 1 e a estrutura fatorial obtida por Wood et al. (2008). Os resultados mostraram que as três subescalas estiveram intercorrelacionadas. A aceitação de influência externa esteve correlacionada com o viver autêntico (r = -0,29, p< 0,01) e com a auto-alienação (r= 0,45, p< 0,01). O viver autêntico também esteve correlacionado com a auto-alienação (r= -0,32, p< 0,01). Estes coeficientes foram comparáveis ​​aos obtidos por Wood et al. (2008), que variaram de -0,44 a 0,40. Além disso, as subescalas estiveram moderadamente correlacionadas, sugerindo que elas medem constructos distintos e relacionadas. Em síntese, estes resultados indicam que a estrutura da versão francesa da escala é boa e semelhante à versão original. A escala possui boa confiabilidade, com pontuações entre 0,77 a 0,82 e estabilidade temporal, durante um período de 8 semanas, entre 0,54 e 0,69 (Grégoire et al.2014).

Em 2015, na Suécia, fez-se um estudo com o objetivo principal de investigar as relações entre a determinação e vários tipos de bem-estar (satisfação com a vida, harmonia na vida e bem-estar psicológico) e se essas relações são mediadas pelo senso de coerência e pela autenticidade. Neste estudo, a escala de autenticidade obteve um a de Cronbach de 0,86 (Vainio & Daukantaite, 2015). Por último, um estudo mais recente, pretendeu avaliar as propriedades psicométricas da escala de autenticidade na Sérvia, numa amostra inicial de 706 alunos e numa segunda medição em 206 alunos, com um intervalo de 10 semanas entre as medições. Os coeficientes de correlação de Pearson indicam correlações significativas da sub-escala Viver autêntico com as subescalas de Aceitação de influência Externa e Auto-alienação (r = -28 e r = -0,21) e uma correlação positiva entre as subescalas de Aceitação de influência Externa e Auto-alienação (r = 0,65). A consistência interna das subescalas de aceitação da influência externa e auto-alienação na medição inicial e no reteste variou entre 0,71 e 0,76. A consistência interna da subescala viver autentico é aceitável, apresentando um alfa de Cronbach de 0,68, na medição inicial e de 0,63 na segunda medição. A análise fatorial confirmatória (c2/sd = 2,61; RMSEA=0,05; SRMR=0,04; CFI=0,98; NFI=0,96) demonstrou-se que o ajustamento da escala é bom. Porém, uma estrutura bi-fatorial da escala indica um ajustamento mais satisfatório (c2/sd = 2,26; RMSEA=0,04; SRMR=0,03; CFI=0,99; NFI=0,98). Este modelo bi-fatorial foi definido através de três dimensões: viver autêntico, aceitação da influência externa e auto-alienação e um fator de autenticidade superordenado. Os resultados desta análise foram novamente confirmados na medida de reteste (Grijak, 2017).

No presente estudo, procurámos testar as qualidades psicométricas da versão portuguesa da EA, em quatro grandes objetivos, desenvolvidos através da:

a) Análise fatorial exploratória da estrutura dimensional da EA-Pt. De acordo com o estudo da versão original da EA (inglesa) e dos estudos de validação posteriores, esperamos que os itens se agrupem em três dimensões com quatro itens cada: Viver Autêntico (itens 1, 8, 9 e 11), Auto-Alienação (itens 2, 7, 10 e 12) e Aceitação de Influência Externa (3, 4, 5 e 6).b) Análise da consistência interna global e das dimensões da EA. Em concordância com os estudos anteriores, esperamos obter medidas de consistência interna adequadas na versão traduzida para português, com valores de alfa de Cronbach acima de 0,70.

c) Análise das intercorrelações entre as dimensões da EA-Pt. Prevê-se que a Auto-Alienação (AA) se correlacione moderada e positivamente com a Aceitação de Influência Externa (AIE) e moderada e negativamente com o Viver Autêntico (VA) e que este se correlacione fraca e negativamente com a AIE. Assim, a estrutura proposta é multifatorial, com os fatores relacionados.

d) Análise Fatorial Confirmatória da estrutura da EA-Pt. Na sequência da análise fatorial exploratória, espera-se que a análise fatorial confirmatória confirme a estrutura tridimensional da escala, com valores de ajustamento adequados.

Método
Participantes

A amostra é constituída por 374 participantes, 259 mulheres (69%) e 115 homens (31%), entre os 18 e os 85 anos (M = 38,32; DP=15,03), 44% da amostra é solteira, 42% casada, e os restantes 14% têm outros estados civis. Quanto à situação profissional, 24% é estudante, 62% exerce uma profissão, e 14% tem outra situação profissional. Quanto à escolaridade, 9% dos participantes tem o 9º ano, 44% tem o ensino secundário, 35% tem uma licenciatura, e os restantes concluíram o mestrado/doutoramento. Como critérios de inclusão, os indivíduos deveriam ter mais de 18 anos e saber ler e escrever e ser portugueses.

Material

A Autenticidade foi medida através de uma tradução portuguesa da Authenticity Scale (Wood et al., 2008). A escala de 12 itens contém três dimensões (de quatro itens cada): viver autêntico, aceitação da influência externa e auto-alienação. A subescala viver autêntico mede o quanto o comportamento da pessoa é coerente com a consciência da sua experiência interna, a subescala aceitação da influência externa avalia em que medida o comportamento é influenciado pelas relações interpessoais e a subescala auto-alienação indica o grau em que a pessoa não está em contacto consigo mesma. Cada um dos itens é respondido numa escala de Likert que varia entre o 1 (não me descreve de modo nenhum) e o 7 (descreve-me muito bem).

O estudo de desenvolvimento da escala original de Wood et al. (2008) apresentou alfas de Cronbach de 0,78 para viver autêntico (VA), de 0,69 para aceitação da influência externa (AIE), e de 0,78 para auto-alienação (AA). Neste estudo, para a contribuição da validação da escala de autenticidade para a versão portuguesa, apresenta para todas as dimensões alfas de Cronbach dentro de valores aceitáveis, sendo este para o VA de 0,70, para AIE de 0,80 e para AA de 0,80. Para a escala de autenticidade total (EAT), obteve-se um alfa de Cronbach de 0,73.

Procedimento

Começámos por submeter o projeto do estudo à comissão de ética da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), tendo sido aprovado.

O estudo foi transversal e a recolha da amostra foi não probabilística, tendo sido recolhida em empresas, universidades, associações culturais e religiosas, do litoral norte e centro do país, no funchal, e através de um site de preenchimento online. Para a recolha da amostra, foram contactados os responsáveis das várias entidades para pedir autorização para a recolha da mesma. Obtida a devida autorização, combinou-se um dia e um horário para que o estudo fosse apresentado aos utentes/funcionários e foi feito o convite para participar no estudo. Depois de explicados os objetivos gerais da investigação e o tipo de instrumentos a utilizar, deixou-se espaço para perguntas, e apresentou-se o consentimento informado do estudo. Aos participantes que aceitaram colaborar foi fornecido o questionário para preenchimento, em salas tipo sala de aula, em condições de privacidade.

Foram respeitados todos os critérios éticos de acordo com o European Code of Conduct for Research Activity e a American Psychological Association. Foi fornecido um consentimento informado aos participantes, com informação sobre os objetivos gerais do estudo e todas as condições de participação. Os participantes foram informados de que o estudo seria voluntário, anónimo e confidencial e que poderiam responder apenas às questões que pretendessem. Foi fornecido um contacto de email da investigadora responsável para responder a quaisquer dúvidas ou questões dos participantes durante e após a sua participação.

Foram contactados os autores da EA, Dr. Alex Wood e Dr. Ingo Susing, para lhes dar conhecimento do nosso objetivo de validar a escala. Ambos consentiram e apoiaram a investigação. Após contatados os autores das escalas, iniciou-se o processo de tradução e retroversão. Ou seja, um psicólogo traduziu os itens e instruções do original em inglês para o português. Procurou-se que a tradução fosse o mais fiel possível ao original, acessível à compreensão da generalidade dos portugueses, optando-se pelos termos mais simples e com significados inequívocos. Em seguida, um segundo psicólogo fez a retroversão da tradução portuguesa para inglês e compraram-se as duas versões em inglês (original e retroversão). Ambas as versões inglesa e portuguesa foram analisadas por quatro psicólogos bilingues, até se chegar a uma versão de consenso na língua portuguesa. Esta primeira versão portuguesa, foi aplicada num pré-teste a 16 pessoas de diversas áreas geográficas e profissionais, para apurar eventuais dificuldades de compreensão, que conduziram a pequenas reformulações em cinco itens. Após as reformulações, voltou a aplicar-se a escala a mais seis voluntários que não manifestaram quaisquer dúvidas no preenchimento e considerou-se alcançada a versão portuguesa final da EA.

Quanto ao procedimento de análise dos dados, realizou-se uma análise fatorial exploratória, uma análise da consistência interna e a uma análise correlacional entre as três dimensões da EA, após terem sido assegurados os devidos pressupostos para cada análise estatística. Posteriormente, realizámos uma análise fatorial confirmatória através das análises de equações estruturais. As análises foram efetuadas com o software IBM SPSS Statistics for Windows, versão 24.0 e com o AMOS, versão 20.

Resultados
Começámos por realizar uma análise preliminar dos dados e o tratamento dos valores omissos, tendo-se em conta tanto a percentagem como a aleatoriedade, para cada dimensão da escala, através do MCAR little test. Valores omissos que apresentaram percentagens inferiores a 5% e que garantiram a aleatoriedade foram sujeitos à substituição, mediante a técnica Expectation Maximization. Aquelas variáveis que não garantiram a aleatoriedade dos valores omissos, mas em que estes foram inferiores a 5% foram substituídas pelo método da Média de Série.

Os resultados são apresentados de acordo com os quatro objetivos do estudo: a análise fatorial exploratória da estrutura dimensional da AE, a análise de consistência interna da escala global e de cada dimensão da AE, a análise das intercorrelações entre as três dimensões da EA e a análise fatorial confirmatória, cujo modelo testado, seguiu a estrutura fatorial proposta pelos autores da AE e pela análise fatorial exploratória.

Análise fatorial da estrutura dimensional da EA-Pt na amostra do estudo

Foi analisada a estrutura relacional para os 12 itens da EA de Wood et al. (2008) através da análise fatorial exploratória, por ser o método mais adequado para analisar a estrutura de conjunto de variáveis que explicam um fator latente. Na escolha do método para a extração de fatores, optámos pela extração em Componentes Principais com rotação Oblíqua. Com efeito, a dificuldade em garantir o requisito da distribuição normal multivariada exigida na extração pelo método da Máxima Verosimilhança, tornou o uso deste método não recomendável. Em consonância com o Scree Plot, os fatores retidos apresentaram um eigenvalue superior a um (Marôco, 2014). A adequação da matriz de correlações para usar a análise fatorial exploratória foi verificada mediante o critério de Keiser-Meyer-Olkin, sendo o KMO = 0,84 e o teste de esfericidade de Bartlett de c2(66) = 1436,669,p < 0,001. Tendo em conta a regra do eigenvalue superior a um, examinada em conjunto com o Scree Plot, os resultados mostram a formação de três fatores latentes a explicar a estrutura relacional dos itens. No Quadro 1 resumem-se os pesos fatoriais e as comunalidades de cada item, bem como, o eigenvalue e a variância explicada por cada factor.

 

 

No global, os três fatores explicam 60% da variância total. Os fatores latentes correspondem aos reportados na escala original, ou seja, os itens 3, 4, 5 e 6 correspondem à dimensão Aceitação de Influência Externa, os itens 2, 7, 10 e 12 correspondem à dimensão Auto-Alienação e os itens 1, 8, 9 e 11 correspondem à dimensão Viver Autêntico. A ponderação de cada variável nos fatores secundários variou entre 0 e 0,20 revelando, assim, que não compõem as demais dimensões. À exceção dos itens 1 e 11, todos os itens apresentam comunalidades superiores a 0,50, indicando o que os fatores retidos são apropriados para descrever a estrutura da matrix de correlações dos itens. Os itens 1 e 11, apesar do seu peso fatorial menor, não apresentam ponderação dupla noutros fatores, pelo que mantêm o seu poder discriminativo no fator em que se encontram.

Os resultados obtidos revelam que todas as dimensões apresentam alfas de Cronbach dentro de valores aceitáveis, sendo este para o Viver Autêntico de 0,70, para Aceitação de Influência Externa de 0,80 e para Autoalienação de 0,80. Para a escala como um todo, a EA obteve um alfa de Cronbach de 0,73. O Quadro 2 apresenta os resultados da análise de consistência interna, as medidas de tendência central e o valor das intercorrelações para as três dimensões da AUT.

 

 

Para a análise fatorial e da consistência interna foram removidos da amostra Global os participantes com escolaridade inferior ao 9º ano. Os valores psicométricos neste estrato da amostra revelaram valores inferiores. Esta opção teve por base a constatação de que a EA tem sido validada em amostras com escolaridades superiores, predominantemente, estudantes universitários, no sentido de promover a comparabilidade dos nossos resultados. As razões para os valores psicométricos inferiores, neste estrato da amostra, podem ter a ver com a dificuldade em compreender as escalas de Likert, alguns itens da EA (e. g. Não sei como me sinto? Não me sinto em contacto com o meu verdadeiro eu?) e na compreensão da palavra alheado. Estas foram dificuldades manifestadas por alguns participantes com escolaridade inferior no momento do preenchimento. Salientamos que estes participantes também eram adultos mais velhos e de zonas rurais do país. Excluindo os casos com escolaridade inferior ao 9º ano de escolaridade, os valores psicométricos da escala melhoraram (ainda que discretamente), sugerindo que as pessoas com menor escolaridade apresentaram maior heterogeneidade nas respostas aos itens da escala. Ainda que a AE se revele adequada para medir a autenticidade em indivíduos com todos os níveis de escolaridade, apresenta valores psicométricos mais elevados, e por isso será mais adequada, para medir a autenticidade em indivíduos com níveis de escolaridade superiores.

Análise intercorrelacional das dimensões da EA-Pt

As intercorrelações, tal como previsto, são significativas e negativas entre o Viver Autêntico e as outras dimensões da Autenticidade e positivas entre a Auto-Alienação e Aceitação de Influência Externa. Podemos verificar que a análise fatorial bem como a análise de consistência interna apesentam valores psicométricos adequados, dentro dos critérios da aceitação para a validade da EA-Pt. A correlação entre as dimensões da escala comporta-se como esperado. Assim, pode considerar-se este exercício como um contributo efetivo para a validação da versão portuguesa da EA.

Análise fatorial confirmatória da EA-Pt

Finalmente, para a análise fatorial confirmatória da EA-Pt, partimos da estrutura tripartida da escala, concebida por Wood et al. 2008, e de acordo com a análise fatorial exploratória prévia, testámos o modelo tridimensional (Figura 1). Os parâmetros foram estimados usando o algoritmo de máxima verosimilhança.

 

 

O modelo tridimensional apresentou, desde logo, valores de ajustamento excelentes (χ251=94,81, p < 0,001; CFI=0,97; RMSEA=0,05; SRMR=,04). Todos os pesos de regressão das variáveis observáveis estão acima de 0,50. As três dimensões da EA-Pt intercorrelacionam-se, tal como esperado, com correlações negativas significativas entre a dimensão de viver autêntico e as dimensões de auto-alienação (-0,30) e de aceitação de influência externa (-0,37). As dimensões de auto-alienação e influência externa correlacionaram-se positivamente (0,64). Assim, através da análise fatorial confirmatória, podemos confirmar a validade de constructo, a consistência interna e a estrutura tridimensional da EA-Pt.

Discussão
Na sequência de vários estudos anteriores, com vista à adaptação e utilização da Autenticity Scale de Wood et al. (2008), em diferentes línguas, o presente estudo analisou as caraterísticas psicométricas da escala e obteve bons resultados da validade e fidelidade da versão portuguesa da Escala de Autenticidade. Dos estudos referidos, reportamo-nos à adaptação, em 2013, para o turco de Ilhan e Özdemir (2013), em 2014, para o italiano de Di Fabio (2014), o holandês de Bosch e Taris (2014) e, novamente, o francês (Canadá) de Grégoire, Baron, Ménard e Lachance (2014), em 2015 para o sueco de Vainio e Daukantaite (2015) e, mais recentemente, para a língua sérvia de Grijak, em 2017.

O contributo para a adaptação da versão portuguesa da Escala de Autenticidade, na presente investigação, seguiu quatro passos. Começámos por realizar uma análise fatorial exploratória da estrutura dimensional da Escala de Autenticidade. Assim, verificámos que, tal como na versão original de Wood et al. (2008) e nas versões subsequentes, na versão portuguesa, os 12 itens revelaram-se adequados para medir a Autenticidade. Nos resultados deste estudo, a distribuição dos itens pela estrutura dimensional foi, tal como para Wood et al. (2008), Grégoire et al. (2014) e Di Fabio (2014): Viver Autêntico com os itens 1, 8, 9 e 11, a Auto-Alienação com os itens 2, 7, 10 e 12 e a Aceitação de Influência Externa com os itens 3, 4, 5 e 6. Concorre para a validade interna o facto de os itens não exibirem ponderação dupla nos fatores secundários, bem como, 10 das 12 comunalidades variarem entre 0,50 e 0,71. Em apenas dois casos verificaram-se comunalidades de 0,45 (item 1) e 0,47 (item 11), indicando menor precisão destes itens para a medição daquela dimensão da Autenticidade.

O segundo passo consistiu na análise da consistência interna das dimensões da Escala de Autenticidade. Os resultados obtidos no nosso estudo manifestaram valores de fidelidade (entre 0,70 e 0,80), semelhantes aos de estudos anteriores, como no de Grégoire et al. (2014), no Canadá, com alfas de Cronbach, entre 0,77 e 0,82 e no de Djurdja Grijak (2017), na Sérvia, com alfas Cronbach, entre 0,68 e 0,76. Para a escala global, para a versão portuguesa, obteve-se um alfa de Cronbach de 0,73, um pouco inferior ao obtido pelo estudo de Vainio e Daukantaite (2015), na Suécia, com α=0,86. Não obstante as diferenças, os valores obtidos revelaram-se robustos e significativos.

É interessante reparar que a dimensão Viver Autêntico é a sub-escala com menor consistência interna em todos os estudos psicométricos encontrados. Verifica-se uma maior associação entre os itens da Auto-Alienação (discordância entre a experiência organísmica e a sua simbolização consciente) e a Aceitação da Influência Externa, do que acerca da concordância entre a experiência organísmica consciente e a sua manifestação comportamental e comunicação (Viver Autêntico). A dimensão positiva e expositiva (comportamento e comunicação) da Autenticidade de Barret-Leonard (Wood at al. 2008) não revela a mesma robustez das outras dimensões, eventualmente, pela menor capacidade dos itens para medir o Viver Autêntico ou pelo facto do Viver Autêntico ser um constructo menos acessível enquanto tal, uma vez que aponta para um dinamismo de pleno funcionamento, de personalidade total (Ménard & Brunet 2012; Rogers, 1951). A ser assim, poder-se-ia considerar o nível de escolaridade como um fator associado à autenticidade ou à capacidade de compreender e responder ao questionário. Se não vejamos, no estudo original de Wood et al. (2008), os alfas para a dimensão de Viver Autêntico foram de 0,82 (Amostra 1), 0,70 (Amostra 2) e 0,79 (Amostra 3), bem como em outros estudos com os alfas da dimensão da Viver Autêntico mais elevados em amostras de população estudantil. Assim, na nossa investigação, o grupo de participantes que preencheu o questionário online, em que a maioria da população frequentava o Ensino Superior, obteve um alfa análogo para o VA de (α = 0,79), evidenciando os restantes grupos, com escolaridades inferiores, alfas menos consistentes, de 0,65. Isto sugere que a escala pode apresentar índices de consistência interna superiores para indivíduos com níveis de escolaridade superiores. Tendo a escala original sido construída com base em amostras de estudantes universitários (Wood et al., 2008), pode apresentar menor validade em populações menos escolarizadas, o que pode ser considerado uma limitação da escala.

O terceiro passo consistiu na análise correlacional entre as três dimensões da Escala de Autenticidade. As dimensões relacionaram-se como era esperado, evidenciando serem constructos relacionados, mas distintos. As dimensões mais fortemente correlacionadas foram a Auto-Alienação e a Aceitação de Influência Externa, no estudo atual (0,52), tal como nos estudos anteriores de Grégoire et al. (2014), com 0,45, e Grijak (2017), com 0,65. Quanto maior é a Aceitação de Influência Externa, maior é a Auto-Alienação e vice-versa. Já o Viver Autêntico revelou uma associação negativa significativa quer com a Auto-Alienação de -0,24 no estudo atual, de -0,16 a -0,32 no estudo de Wood, 2008, de -0,32 no estudo de Grégoire et al.2014; de -0,21 no estudo de Grijak, 2017), quer com a Aceitação da Influência Externa (-0,27 no estudo atual; -0,21 a -0,40 no estudo de Wood, 2008; -0,29 no estudo de Grégoire et al., 2014; -0,28 no estudo de Grijak, 2017).

A tomada de consciência das experiências organísmicas (Auto Alienação) e o facto de estar associada à Aceitação de Influência Externa, parece ter uma relação negativa com o que se expressa a nível comportamental do Viver Autêntico (Banks, 2013; Theodossopoulos, 2013; Vannini & Williams, 2009).

O quarto passo consistiu em testar o modelo tridimensional proposto por Wood et al., 2008, através da análise de modelos de equações estruturais, apresentando valores de regressão dos itens nas variáveis latentes, acima de 0,50, e um ajustamento global da escala excelente (χ251=94,81; p < 0,001; CFI=0,97; RMSEA=0,05; SRMR=0,04). Já em estudos anteriores, este modelo forneceu dados favoráveis, como no estudo original de Wood et al. (2008) e no estudo de Ilhan e Özdemir (2013), com bons índices de ajustamento (χ2/sd = 1,49; RMSEA =0,05; CFI =0,95; IFI =0,95; GFI =0,92).

Perante os resultados, a opção pela validação Escala de Autenticidade (Wood et al., 2008) parece ter sido uma boa escolha, garantindo um instrumento robusto para avaliação deste constructo para a língua portuguesa. Para muitos profissionais lusófonos envolvidos no trabalho de aconselhamento, orientação vocacional ou mentorização, em contexto organizacional, a existência de uma Escala de Autenticidade devidamente validada torna-se um instrumento útil para medir a consciência de si, a auto-regulação e o discernimento dos impulsos, motivações e valores, contribuindo para um melhor desempenho e clima organizacionais (Susing et al., 2011; Toor & Ofori, 2009; White & Tracey, 2011). Não menos significativa é a pertinência de medir a autenticidade na intervenção psicológica, psicoterapêutica e clínica (Grégoire et al., 2014; Pinto, Maltby, Wood & Day, 2012; White & Tracey, 2011), uma vez que teórica e empiricamente está associada a fatores de saúde mental e ao bem-estar. Finalmente, na área de investigação, e tal como refere Di Fabio (2014), a Escala de Autenticidade combina o rigor de um método científico com a perspetiva da psicologia humanista e de aconselhamento até aqui com poucos recursos de mensuração.

Quanto às limitações do estudo, começamos por afirmar que a amostra usada neste estudo é não probabilística e, por isso, compromete a generalização dos resultados para além da amostra recolhida. A distribuição de género com dois terços da amostra a pertencer ao sexo feminino também pode influenciar os resultados. Estes são aspetos a ter em conta na leitura dos resultados e, porventura, a superar na realização de futuros estudos. Para além das limitações, também podemos evocar aspetos favoráveis do estudo como ter uma amostra ampla, com uma população geral proveniente de várias cidades do país. A Escala de Autenticidade foi validada para a língua portuguesa (EA-Pt, Quadro 3), após as análises fatoriais exploratória e confirmatória e a análise de consistência interna, confirmando os valores psicométricos que apoiam as excelentes qualidades psicométricas da versão portuguesa da Authenticity Scale (Wood et al., 2008). Os resultados foram semelhantes à versão original da escala e a outras versões da escala, validadas em países como a Turquia, Itália, Holanda, Canadá, Suécia e Sérvia.

 

 

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Agradecimentos

Projeto financiado pela Universidade Autónoma de Lisboa - UAL

Agradecemos a todos os responsáveis e colaboradores das várias entidades onde foi solicitada a ajuda e que generosamente se dispuseram a participar.

 

Recebido em 31 de Agosto de 2018/ Aceite em 23 de Outubro de 2018

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