“Psicologia e saúde em tempo de crise” é o foco do 14º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde. O tempo é de crise. O Dicionário da American Psychological Association apresenta várias definições de crisis, entre elas,
“a situation (e.g., a traumatic change) that produces significant cognitive or emotional stress in those involved in it; a turning point for better or worse in the course of an illness; a state of affairs marked by instability and the possibility of impending change for the worse, for example, in a political or social situation”.
As pessoas passaram recentemente por uma grande recessão e subsequentes medidas de austeridade, por uma pandemia com escolaridade interrompida, por confinamento e isolamento social, por uma crise económica com inflação imprevisível, por uma guerra na Europa, e por alterações climáticas com impactos grandes (seca e incêndios) em todo o mundo e em Portugal. No momento em que decorre este congresso é um dos aspetos mais marcantes deste verão.
Este último e novo aspeto, as alterações climáticas, têm contribuído para o aumento das doenças. Em 2021 a World Health Organization atualiza as recomendações sobre o impacto da poluição do ar para as principais causas de morte, afirmando que se estima que ela causa milhões de mortes e perda de anos de vida saudável (Healthy Life Years, HLY), salientando que esta está no mesmo plano que outras causas há muito aceites como sejam uma má dieta e fumar. Reconhece ainda neste documento que a poluição do ar é, também, um fator de risco para as doenças não comunicáveis, tais como doença cardíaca isquémica, acidente vascular cerebral, doença pulmonar obstrutiva crónica, asma e cancro, doenças que, em Portugal, estão entre as principais causas de morte.
A par da pandemia que nos tem afetado nos últimos dois anos, os acontecimentos atuais também constituem crises importantes como a seca e os incêndios, efeito mais manifesto das alterações climáticas que têm atingido Portugal e, também, toda a Europa e o mundo em simultâneo com o oposto como sejam chuvas e cheias que ocorrem, seja na europa seja nos outros continentes. Este é um dos aspetos do futuro da Psicologia da Saúde a que já se referiu noutros textos (Leal & Pais-Ribeiro, 2021).
O tempo é de mudança para a psicologia da saúde. Leal e Pais Ribeiro (2021) indicam que este século, trouxe ou acentuou algumas novidades como o acentuar das alterações demográficas, nomeadamente o envelhecimento da população e alteração da estrutura familiar, os movimentos migratórios, a acelerada alteração tecnológica, e as já referidas alterações climáticas.
O índice de envelhecimento é a relação existente entre o número de residentes com 65 ou mais anos por 100 residentes com menos de 15 anos. Este valor era, no virar do século idêntico, ou seja, o número de idosos (indivíduos com mais de 65 anos) era idêntico aos dos indivíduos com menos de 15 anos. Em 2020 era, segundo a Pordata, de 165,1, constituindo-se Portugal como o segundo país da europa com um índice de envelhecimento mais elevado só atrás da Itália (média da UE=137,2). Esta organização demográfica tem impactos fortes na saúde e no sistema de saúde, dado os mais velhos serem mais vulneráveis, como foi visível nos indicadores de morbilidade e de mortalidade associados quer à pandemia quer ao calor. O impacto é também grande nas famílias.
A crise é má? É uma oportunidade para melhorar. A Psicologia da Saúde é um domínio do conhecimento recente. Afinal só se formalizou na década de 70, ou seja, tem cerca de 50 anos. Referindo-se à revolução científica, Thomas Kuhn (1970) salienta o papel da crise no modelo teórico existente que leva a avançar para a procura de um novo modelo. Aproveitemos a crise para avançar o conhecimento da Psicologia da Saúde.
Neste número da revista Psicologia, Saúde & Doenças, apresentam-se as publicações que foram submetidas ao congresso para prémio de investigador e jovem investigador de mérito. É uma contribuição para o avanço da Psicologia da Saúde.