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Cadernos de Estudos Africanos
versão impressa ISSN 1645-3794
Cadernos de Estudos Africanos no.32 Lisboa dez. 2016
https://doi.org/10.400/cea.2130
ARTIGO ORIGINAL
O Campeonato do Mundo de Futebol de 2010 na África do Sul: Uma análise política e económica
The Football World Cup of 2010 in South Africa: A political and economic analysis
Rodrigo Silva
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal, endereço de correio eletrónico: rodrigo.rgqs@hotmail.com
RESUMO
Num mundo globalizado, organizar um megaevento desportivo representa para o país responsável uma oportunidade de visibilidade e promoção no estrangeiro. Para países emergentes, ganha ainda mais importância por permitir a sua integração junto dos países mais poderosos do sistema internacional. Para a África do Sul, organizar o Campeonato do Mundo de Futebol de 2010 permitiu-lhe utilizar o desporto como instrumento de afirmação e projeção de poder para o exterior. Tal materializar-se-ia pela maior atração de capitais e fluxos turísticos como consequência da organização desse megaevento. Contudo, os benefícios deste inovador instrumento de poder não são tão claros como previsto pelas teorias, dado que muitos indicadores relevantes cresceram em menor ritmo depois do Campeonato do Mundo de 2010.
Palavras-chave: África do Sul, Mundial de 2010, futebol, softpower, evento desportivo, potência emergente
ABSTRACT
In the current globalized era, organizing a sports mega-event represents for the hosting country a great opportunity of acquiring visibility, notoriety and promotion overseas. To emerging countries, this is of even greater relevance for it facilitates their integration together with their more powerful counterparts. For South Africa, accommodating the 2010 FIFA World Cup enabled it to innovate in this area by employing sports as an apparatus to reinforce and project its power to the outside world. Such a concept would eventually establish its profile through the attraction of capital investments and increasing tourism flows as a consequence of the mega-event. Nevertheless, the benefits of this instrument of power are not as clear as it was estimated. In fact, some relevant indicators have witnessed a decrease in growth rate in the period after the 2010 FIFA World Cup.
Keywords: South Africa World Cup 2010, football, softpower, sport event, emerging power
Em 2010, a África do Sul organizou o Campeonato do Mundo de Futebol (CM), tornando-se o primeiro país do continente africano a fazê-lo na história do desporto. Apesar de ter já albergado finais do mundial de râguebi, organizar um megaevento desportivo de dimensão internacional como o futebol transportou o país para um novo patamar das suas capacidades de afirmação e projeção.
O facto de ser um país africano a albergar um megaevento desta dimensão transporta em si um caráter político bastante vincado. A África do Sul é desde o início do novo milénio um país em ascensão no continente em que se insere, tendo inclusive sido adicionado ao acrónimo dos BRIC[1] e reconhecido como potência emergente no sistema internacional. O CM de 2010 deu ao país a oportunidade de promover o nome da África do Sul no exterior, atrair turistas, estudantes e investimento estrangeiro, e indiretamente de aumentar o prestígio nacional (Black & Westhuizen, 2004, p. 1198). O nosso objetivo neste artigo é compreender as consequências políticas e económicas na África do Sul do CM de 2010, e de que forma as previsões e expetativas dos principais líderes políticos coincidiram com os números finais verificados.
Este tema reveste-se da maior importância no estudo das Relações Internacionais, em especial em matéria de prestígio e visibilidade de um Estado no sistema internacional. Efetivamente, a instrumentalização política do desporto internacional por um Estado tem sido marginalizada no campo da Ciência Política, das Relações Internacionais, e inclusive da Economia Política ou Internacional (Black & Westhuizen, 2004; Grix & Lee, 2013). Ressalvamos, contudo, a existência de vários journals académicos especializados nesta temática. O Sport and International Politics publicou inclusive em 1998 uma edição completa reservada à instrumentalização política do desporto ao longo da história, em especial com artigos sobre os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 (Guttman, 1998), a política da União Soviética face ao desporto até 1947 (Riordan, 1998), ou a relação do fascismo espanhol com o desporto (Aja, 1998).
O nosso objetivo é assim dar seguimento aos trabalhos já publicados neste campo de estudo, enriquecendo-o ainda mais, e apresentar um novo olhar sobre a organização de megaeventos mundiais e as suas consequências para o país organizador. A África do Sul surge como o caso empírico melhor posicionado para nos ajudar a perceber mais a fundo esta temática, pois reúne os elementos necessários para responder à problemática: é uma potência regional e em ascensão a nível mundial, possui uma das economias mais fortes de África[2], e organizou o CM há mais de cinco anos, permitindo-nos perceber a evolução de algumas tendências políticas e económicas, adiante especificadas.
No seguimento da nossa introdução, apresentaremos os principais conceitos que servirão de fio condutor à nossa pesquisa, fazendo ainda um enquadramento teórico da importância do desporto internacional para os países que organizam megaeventos desportivos. Seguir-se-á uma análise do nosso caso empírico, a África do Sul, e apresentaremos os resultados da nossa pesquisa no capítulo subsequente.
No final do nosso trabalho, esperamos ter respondido à nossa pergunta de partida, revelando o verdadeiro impacto do CM de 2010 na situação política e económica do país. Esperamos ainda, como foi suprarreferido, contribuir para um debate académico que, embora com bastante literatura produzida sobre desporto e relações internacionais, carece de investigações viradas para a relação entre ambas as dinâmicas.
Metodologia
O nosso trabalho seguirá a teoria apresentada por Black e Westhuizen (2004) relativa ao papel político do desporto. No seu trabalho, os autores argumentam que o fenómeno da globalização permitiu aos países projetar-se com maior facilidade para o exterior, e que com isso a organização de um megaevento desportivo internacional garante o reforço do prestígio nacional pelas consequências positivas na atração de turistas, estudantes e investimento estrangeiro (Black & Westhuizen, 2004, p. 1198). Esta importância adquiriria, para além disso, uma importância superior nas regiões a que os autores dominam de semiperiferias[3], nas quais os Estados que as compõem promoveriam a sua imagem no exterior da mesma forma que empresas se promovem num mercado, usando como ferramentas a globalização da informação e o marketing político (ibid.). Outros autores como Grix e Lee falam de atração política (Grix & Lee, 2013). Seguiremos por isso, na nossa análise empírica, a metodologia apresentada por Black e Westhuizen, observando meticulosamente os fluxos de turismo, de investimento estrangeiro e de captação de estudantes estrangeiros para respondermos à nossa pergunta de partida[4].
Uma metodologia semelhante fora introduzida mais tarde por Cornelissen (2008), argumentando no seu artigo que eram essencialmente o crescimento económico, a redução da pobreza e o aumento dos índices de desenvolvimento que levariam um Estado a querer organizar um megaevento desportivo (Cornelissen, 2008, p. 486). O contributo de Cornelissen comprova as diferentes perspetivas que existem quando o objetivo é perceber as consequências da organização de um megaevento desportivo.
Trazemos também o contributo de Ambler (2003), que identifica três correntes académicas quanto à importância do lazer (desporto incluído) em África. A primeira corrente associa o aparecimento do lazer e do desporto como consequência do modernismo e do desenvolvimento da sociedade industrial nos séculos XIX e XX; a segunda corrente reconhece o papel do lazer como forma de controlo social dos Estados colonialistas sobre as suas colónias, mas também a capacidade dos grupos colonizados de se adaptarem às formas de lazer introduzidas na sua sociedade, utilizando-as como terreno de contestação e reivindicação dos seus direitos (Ambler, 2003, pp. 6-7). A terceira corrente, que importa para o nosso estudo, refere-se ao lazer e ao desporto mais do que instrumentos de controlo por um Estado e do que uma arena de contestação, refletindo já dinâmicas e processos sociais mais profundos (ibid., p. 7). A importância da vertente social foi já trabalhada por Spencer (2011), onde a autora relaciona a organização de eventos desportivos pela África do Sul e as consequências verificadas nas noções de identidade coletiva no país, e Höglund e Sundberg (2008), com o seu trabalho sobre o papel do desporto na reconciliação pós-apartheid na África do Sul. Desta forma, procuraremos mostrar a importância do Campeonato do Mundo de Futebol de 2010 na projeção de poder da África do Sul tendo igualmente em conta o contributo de Ambler.
Importa por último definir o que se entende por poder, e de que conceito falamos quando nos referirmos a ele neste artigo. Pelos fatores que nos propomos analisar, trouxemos o contributo de Brown e Ainley (2012) sobre as várias formas de poder de um Estado. Os autores identificam a dimensão e qualidade das suas forças armadas; base de recursos, medida em termos de matérias-primas; posição e dimensão geográfica; base produtiva e infra-estruturas; dimensão e competências da sua população; eficiência das suas instituições governamentais e qualidade da sua liderança (Brown & Ainley, 2012, p. 161). Para além do mais, os autores afirmam também proficuamente que estas variáveis apenas funcionam em proveito de um Estado quando as estruturas administrativas, as redes de comunicação ou transportes estão suficientemente desenvolvidas (ibid.). Devemos contudo aprofundar esta noção de poder e distinguir as suas tipologias. Joseph Nye (2004) distingue entre o poder que é exercido pelos instrumentos militares (o hardpower), e aquele que é exercido através do diálogo, da cooptação e da proximidade em termos de ideias e atitudes dos vários países o softpower (Nye, 2004, p. 5).
A metodologia adotada para responder à pergunta de partida será assim enquadrar a organização do CM de 2010 pela África do Sul na teoria de Black e Westhuizen sobre a preponderância política dos megaeventos desportivos, reconhecendo sempre o desporto como um fenómeno social bastante vincado nas sociedades, tal como argumentado por Ambler. O conceito de poder acompanhará sempre este estudo, em especial as variantes da posição e dimensão geográfica, infraestruturas, e qualidade das redes administrativas, de comunicação e transporte, todos estes elementos materializados enquanto ferramentas de softpower.
Enquadramento histórico
O contexto pós-apartheid
É necessário em primeiro lugar compreender de que forma o fim do sistema de apartheid no início da década de 90 do século XX se relacionaria mais tarde com a afirmação política e económica da África do Sul em pleno século XXI.
Quando em 1990 o Presidente sul-africano Frederik de Klerk anuncia ao país a intenção de dialogar com forças políticas marginalizadas com vista à sua integração no sistema político, o African National Congress (ANC), banido e no exílio, teve a oportunidade de se afirmar como a principal força política. O seu líder, Nelson Mandela, iniciou nesse ano as primeiras negociações com o National Party, o partido no poder que representara o sistema de discriminação racial na África do Sul.
Contudo, o período que vai desde 1990 até às primeiras eleições democráticas em 1994 é marcado pela incerteza e pela pouca clareza da política externa que o ANC pretendia implementar no país na eventualidade da sua chegada ao poder. Até 1992, o apoio que o ANC tinha no exterior[5] começara a esboroar-se, em parte por alguma ingenuidade da liderança do ANC ao considerar que esse apoio pré-apartheid seria o mesmo após a abertura política de De Klerk (Graham, 2012, p. 408). Por outro lado, a Presidência sul-africana aproveitava também a postura passiva e defensiva doANC para colher apoios externos, terminar as sanções impostas ao país e cimentar o seu poder. De 1990 até 1992, a abertura política beneficiara maioritariamente o Presidente de Klerk[6], e o ANC poucos resultados práticos ganhara durante esses anos (ibid., p. 413). O momento da viragem em favor do ANC viria somente em 1992 com o massacre de Boipatong[7]. O ANC, em protesto, abandonou as negociações, e a comunidade internacional virou-se para a África do Sul com vista à criação de rondas negociais que trouxessem definitivamente a paz ao país. Nelson Mandela aproveitou o reatar das negociações para criar uma comissão noANC responsável pela redação das principais linhas de política externa, percebendo finalmente a importância do apoio e reconhecimento da comunidade internacional (ibid., p. 414). O resultado final chegaria em outubro de 1993 com a apresentação de Foreign Policy in a Democratic South Africa: A Discussion Paper, baseado em seis pilares essenciais: direitos humanos, promoção da democracia, respeito pela lei internacional, apoio às iniciativas de resolução pacífica de conflitos, cooperação regional e económica, e importância do continente africano (ibid., p. 416). Ainda que sem desejar diretamente a hegemonia do país sobre o continente, Mandela reiterou quão importante seria para a África do Sul projetar os seus ideais para o exterior, argumentando que estes iam ao encontro dos ideais de outros países na região (Ogunnubi, 2015, p. 391).
Certo é que o posicionamento e importância da África do Sul começava a alterar-se gradualmente ao longo da década de 90, e vários académicos classificaram o país no contexto pós-apartheid de formas distintas: Habib (2009) afirma tratar-se de uma hegemonia regional, ao passo que Geldenhuys (2008) prefere o termo poder médio emergente. Ogunnubi (2015, p. 391) argumenta por outro lado a crescente influência do país na região, mas reiterando o facto de Pretória nunca reinvidicar explicitamente a liderança africana.
Não obstante as várias perspetivas sobre a efetiva posição do país no continente, as presidências de Nelson Mandela e do seu sucessor Thabo Mbeki refletiram esta ambição de afirmação crescente, embora reticente em afirmar o país como líder africano: a dupla representação do país no Conselho de Segurança das Nações Unidas[8], a integração no G20 ou a participação na resolução de conflitos como o do Sudão do Sul, República Democrática do Congo e do Burundi são disso exemplo.
Mas Thabo Mbeki foi mais à frente na afirmação externa da África do Sul, passando da simples representação do país como bastião da democracia, paz e direitos humanos, para o efetivo reconhecimento como líder regional e potência mundial em ascensão (Alden & Schoeman, 2013, p. 111; Landsberg, 2005, p. 731). Para tal, Mbeki serviu-se dos instrumentos multilaterais atrás referidos, mas também de outras plataformas menos convencionais para catapultar a nova África do Sul para o exterior. O desporto acabou inevitavelmente por ser uma dessas plataformas. Países em desenvolvimento e ainda com poucos recursos económicos e políticos para ombrear com as grandes potências mundiais recorrem por vezes à organização de megaeventos desportivos para ganharem um novo protagonismo internacional (Cornelissen, 2008, p. 482). A África do Sul acabou por optar igualmente por este método de afirmação do país, e tanto Mbeki como o Presidente Jacob Zuma[9] tinham a intenção de se servir do CM de 2010 para melhorar os indicadores nacionais e dar mais capacidade de projeção à África do Sul.
Os primeiros anos do novo milénio
Quando foi anunciado pela FIFA[10] em maio de 2004 que seria a África do Sul a organizar o CM de 2010, o país registava bons índices de crescimento económico. À época da escolha final pela FIFA, o país estava a crescer 4,6% ao ano, com um Produto Interno Bruto (PIB) avaliado em mais de 228 mil milhões de dólares (World Bank, 2015b). Os anos que se seguiram foram ainda mais auspiciosos para a África do Sul, que registou entre 2005 e 2007[11] uma taxa de crescimento média anual de cerca de 5,4% (ibid.). Comparativamente a outras economias do continente, o país estava melhor posicionado para suportar economicamente os custos da organização de um CM, não descartando ainda o facto de ter experiência na organização de megaeventos desportivos, como foi exemplo o Mundial de Râguebi de 1995.
Thabo Mbeki, presidente sul-africano desde 1999, reconheceria em primeiro lugar a importância que o evento teria para o continente africano num todo. Num discurso proferido em julho de 2006 na Alemanha[12], Mbeki reconheceria os esforços dos representantes sul-africanos e da FIFA em trazer para África o CM, depois de ter declarado o novo século como sendo o African Century[13]. O evento serviria, de acordo com o Presidente, para trazer África de novo para a arena internacional, e combater problemas crónicos do continente como a pobreza ou o racismo (Department of International Relations and Cooperation, 2006). A projeção sul-africana viria assim de mão dada com o reerguer africano.
De igual forma, Trevor Manuel, ministro das Finanças sul-africano de 1996 até 2009, reconheceria a importância e prioridade que a organização do evento suprarreferido teria para o país num discurso proferido a 23 de janeiro de 2005. Manuel afirmava que, no que dizia respeito ao investimento estatal, privado e misto, a prioridade seria sempre dada ao cumprimento dos requisitos necessários para as infraestruturas do CM de 2010 (Department of National Treasury, 2015, p. 22). E efetivamente, os dados comprovam esta prioridade governamental. Dos 10 estádios esperados para a realização do evento, cinco necessitavam ainda de ser construídos de raiz. Para além disso, a par com os novos estádios, teriam de ser investidos milhares de milhões de dólares em redes de transporte para permitir a mobilidade de equipas, adeptos e turistas dentro do país.
Os elevados números do investimento refletem a importância máxima do evento, e da forma como o país encarava a competição. Na totalidade, a África do Sul investiu cerca de três mil milhões de dólares para a organização do CM de 2010. A maioria desse investimento[14] destinou-se à construção das redes de transporte como estradas, caminhos-de-ferro ou aeroportos, indo por isso ao encontro do que esperara o ministro das Finanças ainda em 2005. Para além disso, cerca de 1,48 mil milhões de dólares destinaram-se à manutenção de cinco estádios já existentes, e à construção de raiz de outros cinco (Humphreys, 2010).
Seria somente em abril de 2010 que o Presidente Jacob Zuma traduziria este massivo investimento governamental em ambições de prestígio nacional e melhoramento da imagem do país no exterior. Num discurso ao país para marcar os 50 dias de contagem decrescente para o começo doCM, Zuma dirigiu-se desta forma à sua audiência:
We are also enthused by the contribution of the private sector in this tournament, particularly with their motley array of Proudly South African products, including in arts and culture activities, as well as crafts [ ]. With an estimated turnout of thousands of members of media, this country is sure to receive the publicity that it has never received before [ ]. We must remember that there is easy communication across the country. People will be visiting places far away from the host cities in between the games [ ]. We have made massive infrastructure upgrades and as it was indicated at the beginning of this year in Parliament, these projects will also continue beyond 2010 [ ]. This tournament will contribute R4.9 billion to real GDP this year 2010, with the impact on the wide range of industries. It is in industries such as tourism where consumption is expected to be at its pinnacle (The Presidency - Republic of South Africa, 2010).
Estava assim expresso pelo Presidente da República o desejo de utilizar a competição para promover a imagem externa do país. Antes do começo oficial do CM de 2010, Zuma tocava já em diversos aspetos que Black e Westhuizen apresentavam como sendo novos instrumento de poder da organização de megaeventos desportivos. Existia a certeza explícita de que o mediatismo em torno da África do Sul seria inigualável, que o país possuía capacidade logística para albergar e deslocar milhões de visitantes, e que a economia do país cresceria nos anos vindouros como consequência do CM de 2010. Os setores cultural, industrial, e em especial o turístico seriam os mais beneficiados com o megaevento. Zuma tocava ainda em elementos que comprovam à partida a teoria de Ambler do enraizamento social do fenómeno desportivo, quando afirmava que:
What is happening in the country at the moment is quite a marvel to watch. The nation is seized with exhilaration and great anticipation. The flags and the colours of the country are in display all over, in the cars, in our houses, and in the attire. Football Fridays have been so popularized that most wish they were a daily indulgence. Taxi ranks, cafes, streets and literally every corner of the country becomes bright yellow on Fridays, a nation crazy about football and determined to make this tournament succeed beyond expectations. It is heartening to see how the entire nation is united in support of our national team. This harmony should define us and resonate in a wide range of spheres even outside sports (The Presidency - Republic of South Africa, 2010).
A menos de dois meses do começo da competição, o país organizador do CM de 2010 previa já um clima de otimismo quanto ao impacto económico, social e de identidade e união nacional. Tal confirma até aqui na nossa investigação que era um objetivo claro da África do Sul projetar prestígio para o exterior através da organização daquele evento desportivo, procurando igualmente um impacto positivo nos indicadores sociais e económicos que pudessem cimentar ainda mais a crescente presença do país na arena internacional.
Legado do Campeonato do Mundo de 2010
A equipa anfitriã não teve o sucesso desportivo esperado. Apesar de ter sido a África do Sul a marcar o primeiro golo do CM de 2010 num jogo realizado contra o México, não chegaria a passar a fase de grupos, e a competição viria a ser ganha pela Espanha na final contra a Holanda. Fora a primeira vez na história do futebol que o país organizador de um CM não passava a fase de grupos.
Depois de observarmos que a África do Sul tinha a intenção de se servir do CM de 2010 para projetar poder e reafirmar a sua emergência no sistema internacional, cabe agora analisar os três elementos que Black e Westhuizen definiram no seu estudo como consequências benignas da organização de um megaevento desportivo: a melhoria dos fluxos de turismo, e da captação de investimento e estudantes estrangeiros.
Turismo
No que ao turismo diz respeito, o consenso é que o CM de 2010 foi um enorme sucesso. Num relatório publicado pelo Ministério do Turismo, em parceria com o National Department of Tourism e o South African Tourism, a 8 de novembro de 2011, o turismo foi classificado como o grande vencedor doCM de 2010 (Ministry of Tourism, 2011, p. 1), merecendo por isso ser o primeiro nível de análise em observação no nosso estudo.
O mesmo relatório afirma que 309.554 pessoas se deslocaram para a África do Sul propositadamente para assistirem ao CM de 2010, sendo a sua maioria provenientes de países africanos, em especial limítrofes do país organizador, como Moçambique, Suazilândia e Botswana. Dos países europeus, o Reino Unido, Holanda e Alemanha foram os principais pontos de origem dos visitantes (ibid., p. 2). Em termos de receitas turísticas, estas terão alcançado os 3.600 milhões de rands, o que ao câmbio de 30 de junho de 2010, significou um encaixe avaliado em mais de 470 milhões de dólares[15]. A maioria das receitas (25%) proveio dos turistas de origem europeia ( ibid.).
O relatório do Ministério do Turismo dava ainda indicações claras de que os elevados números de visitas e receitas turísticas se manteriam nos anos subsequentes. O ministro Van Schalkwyk apontava no relatório que:
Tourists were highly satisfied with their visits, and 72% rated their experience as extremely good. More than 90% of tourists said their experience of the country was better than they had expected before arriving. Very importantly, almost 90% (89%) of tourists said they would consider visiting South Africa again in the future, while 96% said they would recommend the country to their friends and relatives (ibid., pp. 2-3).
Os números apresentados pelos relatórios oficiais do Departamento de Estatísticas sul-africano vão ao encontro do que previra o ministro do Turismo em 2011. Em 2010, o país recebeu 16,7 milhões de chegadas, um aumento de mais de dois milhões comparativamente a 2009 e 2008, e dos quais 309.554, como referido, com o propósito único de assistir ao CM de 2010 (Statistics South Africa, 2014, p. 66; Ministry of Tourism, 2011, p. 1). A partir daí, o número das chegadas apresentou sempre uma tendência crescente: quase 18 milhões em 2011, cerca de 18,7 milhões em 2012, e mais de 20 milhões em 2013; a esmagadora maioria com o propósito de fazer turismo (Statistics South Africa, 2014, p. 68). Não obstante a tendência de crescimento verificada desde 2004 no número de chegadas ao país, um dos principais saltos é dado em 2010, quando a subida do número de visitas face ao ano anterior é de cerca de 2,2 milhões (ibid., p. 66), comprovando assim a importância do CM neste capítulo.
Ressalva-se contudo o facto de o incremento do número de visitantes não se ter traduzido em aumento de receitas turísticas. É certo que de 2009 para 2010 as receitas turísticas na África do Sul subiram perto de dois mil milhões de dólares, de 8.684 milhões para 10.308 milhões (World Bank, 2015a). Mas nos anos subsequentes as receitas turísticas mantiveram-se em valores próximos: 10.707 milhões de dólares em 2011, 11.201 milhões em 2012 e 10.468 milhões em 2013 (ibid.). Aparentemente, o esforço empreendido pelo governo sul-africano no aumento do turismo só se traduziu com notória força no número de turistas, dado que as receitas se mantiveram relativamente constantes desde 2006, oscilando entre os 9.211 milhões de dólares em 2006, 8.684 milhões em 2009, e 11.201 milhões em 2011 (ibid.).
Investimento Direto Estrangeiro (IDE)
O segundo fator apresentado por Black e Westhuizen e que trazemos para a nossa investigação é o impacto de um megaevento desportivo nos números do IDE. O IDE na África do Sul foi condicionado nos últimos anos pela importância das matérias-primas no país, dimensão da população, estabilidade política, capacidade reguladora do Estado e condições/evolução das infraestruturas nacionais. Num cenário global, e atendendo exclusivamente ao IDE aplicado na África do Sul[16], os valores registaram uma subida extraordinária entre 2006 e 2013, de mais de 623 milhões de dólares para 8.232 milhões respetivamente (World Bank, 2015c). Os principais pontos de origem desse investimento são o Reino Unido e a Holanda[17], seguidos pelos Estados Unidos da América. O grosso desse investimento é canalizado para os serviços financeiros, e de seguida para o setor mineiro (Santander, 2015).
Quando estudamos mais meticulosamente estes números, temos acesso ainda a outras leituras importantes. Os pontos mais fortes da economia sul-africana são a potencialidade do seu mercado, uma economia doméstica competitiva, e o desenvolvimento das suas infraestruturas (ibid.). Observámos já como o ministro das Finanças Trevor Manuel apelara em 2005 ao investimento massivo em infraestruturas, e como foi este o principal setor destinatário dos investimentos no contexto de preparação do CM de 2010 (Republic of South Africa, 2010; The Washington Times, 2012). Esta poderá ter sido uma das razões que explica o crescimento global do IDE no país entre 2006 e 2013.
Mas esta questão falha em explicar por que razão a partir de 2010, data da organização do CM, o IDE para a África do Sul regista crescimentos mais baixos de ano para ano: 3.639 milhões de dólares em 2010, 4.139 milhões em 2011, 4.626 em 2012, um salto extraordinário em 2013 para os 8.232 milhões, para voltar em 2014 para os 5.740 milhões de dólares (World Bank, 2015c). Desta forma, globalmente falando, desde a organização do CM de 2010 até 2014, a África do Sul viu o IDE aplicado no seu país subir perto de dois mil milhões de dólares, abaixo do verificado nos anos precedentes ao CM (cerca de três mil milhões de dólares entre 2006 e 2010).
Atração de estudantes estrangeiros
A última variante de Black e Westhuizen que trazemos para a análise é a capacidade de um megaevento de atrair estudantes estrangeiros para as universidades do país organizador. Neste contexto, depois das primeiras eleições democráticas em 1994 e com a eliminação subsequente de todas as leis discriminatórias é que a África do Sul abre verdadeiramente as portas à entrada de estudantes estrangeiros, especialmente oriundos de outros países africanos (Mwaba & Kayitesi, 2014, p. 1128).
Em 1994, existiam no país apenas 12.557 estudantes estrangeiros (MacGregor, 2007), mas a subida foi de tal forma exponencial que em 2005 já chegavam aos 52.703 estudantes (Project Atlas South Africa, 2015). A partir desta altura, registar-se-á uma constante subida, mas de forma menos acentuada quando comparada com os primeiros 10 anos de democracia na África do Sul. Em 2006 estudavam no país 53.733 estudantes estrangeiros (MacGregor, 2007), 60.856 em 2009 (Project Atlas South Africa, 2015), mais de 68.000 em 2011 (ICEF Monitor, 2013), uma pequena descida para os 66.119 em 2012 (SARUA, s.d.), para voltar ao crescimento em 2013 com 73.856 estudantes estrangeiros (Department of Higher Education and Training, 2015, p. 13), mantendo-se o número estável desde então (South African Government, 2015).
Acentua-se por isso, pelos números oficiais apresentados, o facto de a África do Sul registar uma subida constante do número de estudantes estrangeiros. Contudo, o principal salto é dado nos primeiros 10 anos de democracia, período em que o número de estudantes estrangeiros sobe perto de 40.000. Quando observamos o crescimento do número de estudantes de fora do país em universidades sul-africanas por altura do CM de 2010, esse crescimento é bastante mais esbatido, mantendo-se na casa dos 60.000 a partir de 2009 e só chegando aos 70.000 em 2013. Se globalmente podemos considerar que o número de estudantes estrangeiros subiu depois do CM de 2010, como previsto por Black e Westhuizen, e também pelos discursos dos líderes políticos supracitados, o seu impacto não foi tão grande como, por exemplo, fora a abertura política verificada em 1994.
Discussão
Tendo em conta os números apresentados pela África do Sul, a organização deste megaevento desportivo internacional trouxe efetivamente benefícios para o país nas três áreas que Black e Westhuizen previram na sua teoria. No turismo, o número de visitas atingiu valores nunca antes vistos, e o principal salto é dado em 2010 com o CM, que representou um acréscimo final de visitantes de perto de 300.000 dos 16,7 milhões totais. Apesar do crescente número de visitantes não se ter traduzido em receita crescente, as previsões do Ministry of Tourism revelaram-se acertadas. Quanto ao IDE, os valores são também positivos desde o CM de 2010, no qual a subida do investimento foi canalizada para setores essenciais para o país enquanto ator mundial emergente, como os serviços financeiros, telecomunicações e extração mineira. Para tal, poderá inclusive ter contribuído o massivo investimento público e privado em infraestruturas no contexto de preparação para o CM em curso desde 2004. Por fim, nos últimos anos tem-se verificado um aumento do número de estudantes estrangeiros em universidades nacionais, em especial estudantes africanos, provando que a África do Sul se tornou um país capaz de integrar indivíduos de várias etnias e nacionalidades, e revelou o potencial gerador de oportunidades académicas e profissionais.
Podemos assim considerar a organização como uma experiência positiva para o país. Todos os indicadores analisados subiram na sequência do CM de 2010, e a teoria de Black e Westhuizen que trouxemos para a investigação encaixa no caso da África do Sul e do seu CM de 2010. No continente africano, e em especial no cone sul de África, estes instrumentos de poder foram frutíferos para a África do Sul, que ao ver o número de visitas, investimento e frequência universitária originários do exterior aumentar, efetivou ainda mais o seu papel de potência regional. Para além do mais, a África do Sul teve a habilidade de conjugar o fator desportivo com outros instrumentos de poder e projeção internacional, em especial o investimento militar[18] e a participação como membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas entre 2011 e 2012.
Contudo, outra leitura possível da nossa investigação diz respeito ao verdadeiro impacto ou eficácia da utilização da vertente desportiva como instrumento de poder. Não questionando o argumento de Black e Westhuizen da representação do desporto enquanto ferramenta de softpower, nem o facto de o CM de 2010 ter proporcionado ao país uma subida dos seus indicadores económicos gerais, é possível questionar porém se representa uma forma viável de projeção de poder. No caso da África do Sul, esta questão tem uma importância considerável se olharmos com mais atenção para os números apresentados na nossa análise empírica. Das três variáveis apresentadas, apenas o número de turistas registou um crescimento mais acentuado depois de 2010. Se entre 2006 e 2009 o número de visitantes cresceu 1.760 milhões, a partir do CM até 2013 o acréscimo foi de 2.320 milhões de visitas. Mas o IDE não registou um crescimento tão acentuado como se esperava. Como referido na nossa análise, desde a organização do CM de 2010 até 2014, a África do Sul viu o IDE aplicado no seu país subir perto de dois mil milhões de dólares, abaixo do verificado nos anos precedentes ao CM (cerca de três mil milhões de dólares entre 2006 e 2010). Da mesma forma, a chegada de estudantes estrangeiros depois do CM de 2010 não revelou números superiores àqueles verificados anteriormente. Neste contexto, a grande porta de entrada para os estudantes oriundos de outros países abriu-se com a democratização do país em 1994, altura em que estudavam no país pouco mais de 12.000 estrangeiros. Em 2005, esse número quase que quadruplicara. Em contraste, depois da organização do CM, o número só em 2013 entra na casa dos 70.000, depois de estar na casa dos 60.000 aquando da organização daquele evento desportivo.
Assim sendo, se deixarmos de lado o número de turistas a visitar a África do Sul, observamos que as variáveis que analisámos tiveram um crescimento mais acentuado antes da organização do CM de 2010 do que depois. Remetemos por isso para outra investigação o facto de o crescimento do IDE ter sido mais baixo depois de 2010, bem como o crescimento anual do PIB ter sido inferior depois do CM[19]. Razões como o pouco empenho do governo sul-africano em aproveitar o legado do CM, o enorme otimismo das projeções estabelecidas pelos líderes políticos, ou o impacto maior ou menor da crise económico-financeira de 2008 poderão ajudar a compreender este fenómeno. Da mesma forma, no que à atração de estudantes estrangeiros diz respeito, remetemos para outra investigação se o CM de 2010 teve um impacto assim tão visível, em especial quando comparamos com outros fenómenos importantes na história da África do Sul, como o processo de democratização e abertura ao exterior, ou a inclusão do país no grupo dos BRIC, frisando o seu papel como ator regional e mundial emergente, com potencial de criação de novas oportunidades.
A investigação deixa igualmente de fora outros indicadores que poderão ser importantes para se perceber o verdadeiro impacto de um megaevento desportivo no cenário político e económico de um país. A redução dos níveis de pobreza, apresentado por Cornelissen (2008) seria igualmente relevante para uma investigação do tema. Também outra dinâmica de Black e Westhuizen (2008), deixada fora da nossa investigação pela complexidade da sua análise, diz respeito à atração de mass media responsáveis pela projeção de vídeos e imagens das cidades, culturas ou gastronomia nacionais. Outra dinâmica relevante, em especial se utilizarmos a África do Sul como caso empírico, é o efeito do desporto ao nível das consciências e no reforço da união nacional dos indivíduos (Bairner, 2015; Iorwerth, Hardman, & Jones, 2014).
Reiteramos também o facto de a nossa investigação deixar de fora eventos realizados recentemente, bem como outros a acontecerem futuramente contribuirão para o estudo desta matéria. Em 2008 realizaram-se os Jogos Olímpicos em Pequim, uma região considerada semiperiferia pela teoria de Black e Westhuizen. Tendo passado sete anos desde a sua realização, existem já indicadores capazes de comprovar se a organização desse megaevento contribuiu, e de que forma, para a melhoria geral do país. Também no Brasil se realizaram o CM de futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Já em 2018 haverá outro CM, desde vez na Rússia. A evolução dos principais indicadores destes países das semiperiferias aquando e depois da organização desses eventos, bem como a postura dos líderes políticos e da comunidade internacional serão essenciais para se perceber a verdadeira importância da organização de um megaevento desportivo na realidade política e económica, e de que forma as expetativas dos governos se concretizaram.
Conclusões
Com esta investigação, concluímos ter respondido à nossa pergunta de partida. O CM de 2010 que a África do Sul organizou foi indubitavelmente um instrumento de softpower, e permitiu ao país melhorar alguns dos seus indicadores e efetivar o seu papel de ator emergente a nível regional e mundial. Reforçamos igualmente o facto de a nossa investigação ter contribuído para um debate académico que, embora com literatura produzida, carece de um debate mais alargado que relacione a política, a economia e o desporto.
Reiteramos ainda o facto de a investigação precisar de uma análise mais detalhada nos próximos anos. Não obstante a melhoria dos indicadores da África do Sul após o CM de 2010, a maioria registou subidas mais acentuadas antes do que depois do evento, e fica por se perceber o real impacto da organização de um megaevento desportivo nas consideradas semiperiferias em ascensão. É necessário compreender se a África do Sul é um caso excecional, se a teoria precisa de ser repensada, ou se outro quadro teórico precisa de ser adotado quando relacionamos o desporto com a política e a economia.
Com a nossa análise do CM de 2010 na África do Sul, e com as propostas de investigação futuras, esperamos ter contribuído para o aprofundamento de um campo de investigação nas Relações Internacionais introduzido por Black e Westhuizen. Esse campo de investigação centra-se na organização de um megaevento desportivo como forma de melhorar os indicadores económicos e sociais de um país, e adquirir com isso uma maior capacidade de projeção de poder para o exterior. Para um país emergente como a África do Sul, o estudo e análise das consequências da organização de um megaevento desportivo afiguram-se cruciais para o seu futuro planeamento político.
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Recebido: 31 de outubro de 2015
Aceite: 25 de maio de 2017
Notas
[1] Acrónimo criado em 2001 pela Goldman Sachs para identificar as principais potências emergentes no sistema internacional, sendo elas o Brasil, a Rússia, a Índia e a China. A África do Sul viria mais tarde a ser adicionada a este conjunto.
[2] A África do Sul era a economia mais forte do continente em que se insere até cerca de 2011/2012, quando a recontagem do PIB nigeriano quase duplicou o Produto Interno Bruto deste último, ultrapassando os 500 mil milhões de dólares em 2014. No mesmo ano, a África do Sul ficava pouco abaixo dos 350 mil milhões de dólares (World Bank, 2015c).
[3] Países com economias em desenvolvimento, ou com economias desenvolvidas mas relativamente marginalizadas no seio da comunidade internacional, em busca de maior visibilidade e projeção internacional (Black & Westhuizen, 2004, p. 1196).
[4] Black e Westhuizen fazem ainda referência a uma quarta consequência, mas que pela complexidade não introduzimos na nossa análise, que diz respeito à atração de mass media responsáveis pela projeção de vídeos e imagens das cidades, culturas ou gastronomia nacionais (Black & Westhuizen, 2004, p. 1198).
[5] Em especial da parte de outros países africanos.
[6] De Klerk conseguira o apoio do Quénia em 1991 e da Nigéria em 1992, bem como o fim das sanções pela Comunidade Económica Europeia e dos Estados Unidos da América em 1991.
[7] Em Boipatong, no verão de 1992, mais de 40 pessoas foram mortas alegadamente pelo Inkatha Freedom Party, rival do African National Congress. As forças policiais afetas ao governo sul-africano foram posteriormente acusadas de colaborar no massacre com o Inkatha Freedom Party.
[8] A África do Sul faria parte deste órgão entre 2007 e 2008, e posteriormente entre 2011 e 2012.
[9] No poder desde 2009.
[10] Fédération Internationale de Football Association, organismo que regula o futebol a nível internacional.
[11] De 2008 em diante, os valores do crescimento económico foram inferiores, acompanhando a desaceleração económica mundial consequência da crise internacional desse ano.
[12] País que organizara o CM de 2006.
[13]No discurso de vitória em 1999, Mbeki afirmaria: The people of our country have given an unequivocal directive that we must work together for the African renaissance, for the emergence of the 21st century as the African century (BBC, 1999).
[14] Avaliado em cerca de 1,3 mil milhões de dólares (The Washington Times, 2012).
[15] A 30 de junho de 2010, a taxa de câmbio entre o dólar e o rand era de 1:7,6549 (Exchange Rates, s.d.).
[16] Em termos de balança de pagamentos, a situação da África do Sul é mais complexa.
[17] Países com relações histórias com a África do Sul.
[18] O investimento militar na África do Sul manteve-se à volta de 1,2% do PIB desde o CM de 2010 (SIPRI, 2015).
[19] De 2006 a 2009, o crescimento anual médio do PIB sul-africano foi de 3,18%, e de 2011 a 2014 foi de 2,28% (World Bank, 2015c).